🜸 - 𝐜𝐡𝐚𝐩𝐭𝐞𝐫 𝐭𝐰𝐨 ²

❝ 𝑨 𝒎𝒖𝒊𝒕𝒐 𝒕𝒆𝒎𝒑𝒐, 𝒆𝒎 𝒖𝒎𝒂 𝒈𝒂𝒍𝒂́𝒙𝒊𝒂 𝒎𝒖𝒊𝒕𝒐, 𝒎𝒖𝒊𝒕𝒐 𝒅𝒊𝒔𝒕𝒂𝒏𝒕𝒆... ❞


Sua capa púrpura esvoaçava ao roçar os frios mármores dos corredores senatoriais, acompanhando-se de um andar resoluto, embora permeado por uma hesitação quase imperceptível. Padmé Amidala avançava entre as pessoas apressada, cujas silhuetas dispersavam-se em todas as direções, enquanto um sentimento de inquietação se aninhava em seu peito, crescendo como sombra que se estende ao entardecer. Seria mero devaneio, um capricho da mente extenuada? Talvez. Mas os olhares que se demoravam sobre ela, os murmúrios abafados que pareciam sussurrar-lhe o nome com um zelo conspiratório, conferiam-lhe a incômoda impressão de estar sendo observada – não como uma figura de proeminência, mas como uma presa encurralada por predadores furtivos. Havia no ar uma inquietação desmedida, uma curiosidade ardente, a roçar os limites do impertinente. E, além disso, os novos soldados clones, postos por Palpatine, agora guarnecendo o Senado como sentinelas de uma ditadura, desfilando pelos corredores como espectros do poder recém-consolidado, símbolos inamovíveis de que aquele recinto já não pertencia à República.

Ao transpor o umbral de seu escritório, Padmé fechou a porta bruscamente, girando a chave na fechadura como se esse ato singelo pudesse erigir um muro entre si e o fardo que a oprimia. Pela primeira vez naquele dia extenuante, permitiu-se um instante de alívio, ainda que fugaz.

— Padmé.

A voz grave e ponderada de Bail Organa rompeu o silêncio, arrancando-a bruscamente de seu recolhimento. Seu corpo reagiu antes que a razão pudesse contê-lo, e sua mão dirigiu-se, instintiva, ao ventre, num gesto de proteção primitiva, denunciando a fragilidade oculta que seu manto cobria. Contudo, em um átimo, recompôs-se, erguendo o semblante e adotando a postura digna que sempre a caracterizara, como se a compostura fosse escudo contra os tumultos de sua alma. Ainda assim, o ar lhe faltava, esmagado pelo peso das imagens que sua mente recusava-se a dissipar: o olhar pérfido de Palpatine, os aplausos ensurdecedores que selaram a queda da República, o brado jubiloso que anunciava o advento do Império... Um calafrio involuntário percorreu-lhe a espinha.

— Bail — respondeu, esboçando um sorriso contido, desprovido, contudo, de qualquer resquício de genuinidade.

A fisionomia de Bail Organa, embora marcada pela serenidade habitual, traía-lhe, nas sutilezas do olhar, um desassossego que se recusava a ser silenciado. Sentado a pouca distância, seus dedos tamborilavam ritmicamente sobre o braço da poltrona, denunciando o fluxo acelerado de seus pensamentos.

— Traz novidades? — inquiriu Padmé, esforçando-se por manter a voz impassível.

Bail hesitou. Levantou-se com lentidão e dirigiu-se a ela, inclinando-se ligeiramente, como se receasse que até mesmo as paredes pudessem conspirar-se com o segredo que carregava.

— Palpatine começou a movimentar tropas para os sistemas do Borde Exterior — murmurou, cada palavra pesando-lhe na alma. — Justifica-se sob o pretexto de eliminar os últimos resquícios separatistas. Mas... há algo nisso que me inspira receios.

Um aperto cruel abateu-se sobre o coração de Padmé. Sem forças para sustentar-se, deixou-se cair sobre uma poltrona próxima. Suas mãos, quase sem que percebesse, pousaram sobre o ventre arredondado, buscando nesse gesto inconsciente um alento para a tormenta que a envolvia. Sentia que aquela pequena existência, a pulsar dentro de si, era sua única âncora em meio ao caos.

— Ele sequer aguardou o tempo de um suspiro para consolidar seu domínio... — murmurou, mais para si do que para Bail, a voz embebida em amargura. — Não podemos cruzar os braços enquanto ele destrói o que resta de liberdade.

A firmeza em sua própria voz surpreendeu-a. Bail, contudo, limitou-se a assentir, o olhar imerso em inquietação.

— Concordo, Padmé. Mas agir com precipitação seria um risco desnecessário. Faltam-nos aliados, e Palpatine mantém olhos e ouvidos em toda parte. — Fez uma pausa breve, vacilando antes de prosseguir. — Mon Mothma sugeriu que você organizasse reuniões discretas. Ainda há senadores que nutrem nossas mesmas apreensões. Nem todos dobraram-se a este novo regime sem questioná-lo.

Padmé endireitou-se, entrelaçando as mãos no colo, enquanto se esforçava por domar a tormenta de sentimentos que lhe sacudia a alma.

— Não sei se encontros furtivos serão o bastante, — disse, a voz serena, mas tingida de um sombrio pressentimento. — Palpatine não é um adversário comum. Ele é astuto, incansável. Mais da metade do Senado já se prosternou diante dele, e ele não hesitará em esmagar qualquer um que ouse desafiá-lo. Se nossa conspiração vier à tona, estaremos todos condenados.

Bail sustentou-lhe o olhar por um instante, como se buscasse em suas palavras uma certeza que ele próprio não possuía. Seu olhar desviou-se brevemente para o ventre dela antes de retomar a sua expressão grave.

— Pode ser que tenha razão. Mas, se não iniciarmos algo agora, temo que, em breve, não haja ninguém para resistir.

Padmé fitou a vastidão da cidade além da janela, onde a vida prosseguia indiferente à tempestade que se avizinhava. E então, sentiu um movimento sutil dentro de si – um lembrete pungente do futuro que carregava no ventre. Era sua esperança derradeira... mas também sua prisão.

Mais tarde, ao deixar o Senado, uma nave aguardava-a. O piloto, enviado por Mon Mothma, saudou-a com um aceno discreto. Sabia que, ao retornar, encontraria Anakin. Mas, nos últimos dias, a mera expectativa desse encontro era suficiente para fazer-lhe gelar o sangue.

Ao adentrar seu apartamento, avistou-o de costas, a silhueta recortada contra a luz pálida do entardecer. Trajava apenas um roupão, deixando à mostra os ombros robustos e a musculatura retesada como a de um guerreiro prestes a desferir o golpe fatal. A visão a fez hesitar.

— Ani? — chamou, num murmúrio hesitante, aproximando-se. Sua mão deslizou pelo ombro dele, enredando-se nos cabelos loiros.

Anakin tardou a responder. Quando, por fim, voltou-se para ela, os olhos que a fitaram resplandeciam em um amarelo espectral, destituídos de humanidade. Padmé sentiu um calafrio.

— Estás bem? — indagou, receosa. Seus dedos percorreram a cicatriz que marcava-lhe o rosto, mas ele parecia distante.

— Apenas cansado. Palpatine designou-me uma nova missão. — A voz soou-lhe vazia, carregada de um peso invisível. — Devo comandar um destacamento no Borde Exterior.

— E aceitou fazer isso? — a inquietação transbordava em suas palavras. — Hoje ele declarou a criação de um Império, Anakin! Está sabendo disso?

— Por isso mesmo. Há resistência. Traidores que precisam ser contidos para o bem desse império que está a surgir. Não posso ignorar isso.

A naturalidade com que ele pronunciou "Império" fez-lhe o sangue gelar.

— Ani... Você consegue se escutar? Fala como se tudo isso fosse justo e normal.

Ele sustentou o olhar dela, com as feições inexpressivas.

— Faço isso por nós, Padmé. Por você e pelo bebê. Preciso garantir que nada os ameace. — Ela segurou-lhe o braço, tentando trazê-lo de volta a si.

— Não precisamos disso. Podemos voltar para Naboo. Minha mãe já está providenciando um lugar seguro. Podemos esperar o bebê lá, longe de tudo isso. — Anakin, no entanto, afastou-se com delicadeza, mas firmeza.

— Não é tão simples. Palpatine precisa de mim.

E, sem dar-lhe tempo de insistir, afastou-se, desaparecendo pela porta do quarto. Padmé ficou só na sala, sentindo o peso esmagador de sua realidade oprimir-lhe o peito.

(🌠)

As horas avançadas da madrugada derramavam sobre a Coruscant um manto de trevas e silêncio opressivo, como se até mesmo o próprio tempo hesitasse em prosseguir seu curso. Na penumbra da sala de estar, imóvel e absorta em seus pensamentos, Padmé não lograva reunir ânimo para buscar repouso no leito conjugal. A mera ideia de partilhar aquele espaço com Anakin fazia-lhe o coração pesar.

Sentada à mesa, a fronte levemente inclinada, deixava-se banhar pela luz fria e vacilante de um holocomunicador. O brilho azuloso, que tremulava tenuemente sobre seu semblante exausto, parecia refletir a inquietação que lhe corroía o espírito.

— Estou apreensiva, Bail. Creio que a situação seja ainda mais grave do que havíamos suspeitado. Palpatine dispersa tropas por toda a galáxia sob o pretexto de conter os últimos focos de revoltas separatista — murmurou, e sua voz, embargada por um pesar profundo, quase se dissipou no silêncio que a envolvia.

Do outro lado da transmissão, Bail Organa escutava em grave reflexão, a expressão tão carregada de preocupação quanto a dela. Após um breve silêncio, respondeu, escolhendo suas palavras com a cautela de quem pesa cada sílaba:

— Sei disso. No entanto, ainda não consigo discernir a verdadeira extensão da influência de Palpatine... — Uma pausa se seguiu, breve, mas densa, como se temesse dar forma ao que estava prestes a dizer. — Hoje, encontrei-me com Obi-Wan nos corredores de embarque. Creio que deveria tentar falar com ele.

O nome soou como uma nota dissonante nos ouvidos de Padmé, fazendo-a ajeitar-se sutilmente na cadeira, como se um turbilhão de emoções contrastantes a tomasse de assalto.

— Obi-Wan? — repetiu, em um tom baixo.

— Sim. Ele pode ser de grande ajuda. Se não puder agir diretamente, ao menos oferecerá conselho e orientação. Farei com que te procure — replicou Bail, sua voz imbuída de um resquício de esperança.

Padmé inclinou a cabeça em um gesto de assentimento, mas seu semblante, em vez de se aliviar, tingiu-se de melancolia ainda mais profunda. Quando a transmissão se encerrou e a imagem de Bail se desfez no brilho do dispositivo, o quarto mergulhou novamente na penumbra. Sozinha, sob a luz pálida e trêmula, permaneceu imóvel por um instante, os olhos vagando pelo vazio, como se buscassem um vislumbre de certeza entre as sombras. Então, um sutil movimento em seu ventre trouxe-a de volta à realidade. Sentiu o pequeno impacto contra a parte inferior do abdômen e, instintivamente, repousou ali a mão, como a proteger a frágil existência que se desenvolvia.

Uma sombra de preocupação atravessou-lhe o rosto. Se Anakin descobrisse os planos que, em silêncio, ela agora tramava, sua cólera seria implacável. Em que momento tudo se desfez? Em que instante o homem que outrora fora sua luz se transformou em alguém que ela mal reconhecia, alguém cujas crenças e ações caminhavam em sentido oposto ao seu?

Ergueu-se lentamente, como se um peso invisível lhe vergasse os ombros, e avançou sem pressa em direção ao aposento conjugal. Os dedos, hesitantes, roçaram a maçaneta, e a porta se entreabriu sem ruído, permitindo-lhe divisar a penumbra que dominava o interior do quarto.

Anakin estava deitado em um sono aparentemente sereno, o peito erguendo-se e abaixando-se em um ritmo pausado e regular. Por um momento, Padmé permaneceu imóvel à soleira, observando-o com um misto de ternura e tristeza. Sentiu o coração apertar-se, tomado por uma dor que palavras não poderiam traduzir. Entre ela e aquele homem, agora, estendia-se um abismo intransponível.

Sem ruído algum, caminhou até a cama e deitou-se ao seu lado, voltando-se para o lado oposto do marido.

( 🌠 )

Deitado sobre o leito de folhas que forrava o solo úmido da floresta de Endor, Kael Thorne erguia o olhar para a vasta tela preta a cima de sua cabeça, onde o manto negro da noite estendia-se, pontilhado de estrelas cintilantes, como um véu imperecível sobre os céus de Endor. Naquele recanto solitário, longe dos tumultos do mundo, encontrava refúgio e, por breves instantes, a ilusão de paz. O vento suave agitava as copas das árvores, levando consigo os sussurros da floresta, os murmúrios indistintos de criaturas escondidas, o farfalhar das folhas que se mesclavam ao ritmo pausado de sua própria respiração. Cada fibra de seu ser parecia fundir-se naquela serenidade quase etérea, tão rara quanto preciosa.

Foi então que a quebra de um galho seco rasgou a harmonia do momento. O som, breve, mas inconfundível, denunciava a presença de um intruso. Kael, em um reflexo instintivo, permaneceu imóvel, os sentidos aguçados, aguardando. Antes que pudesse voltar-se para identificar a origem do ruído, uma sombra projetou-se ao seu lado.

— Kael Thorne.

A voz, grave e marcada pelo peso dos anos, rompeu o silêncio como um trovão abafado. A tranquilidade que Kael julgara sua escapou-lhe como areia entre os dedos. Por um breve instante, fechou os olhos, como se pudesse assim reter os últimos resquícios da paz que lhe haviam sido roubados.

— Não. Está me ouvindo? Não. — Sua resposta veio cortante, impregnada de uma frieza intransigente. Num único movimento, ergueu-se do solo, o semblante rígido ao encarar a figura envolta nas sombras. — Vai embora. Agora.

— Kael... — insistiu a voz, carregada de uma gravidade que não admitia recusa. O encapuzado avançou alguns passos. — Sabe que não estaria aqui se não fosse estritamente necessário.

Kael fitou-o com desdém, mas a mágoa subjacente em sua expressão o traiu.

— Não me importa. — Sua voz, embora firme, continha algo de quebradiço. — Seus problemas não são mais meus. Estou em paz, não vê?

Fez um gesto amplo ao redor, como se quisesse demonstrar que aquele fragmento de mundo era tudo o que lhe restava e tudo o que desejava. Sem aguardar resposta, girou nos calcanhares e encaminhou-se para a cabana solitária que repousava junto ao lago. Adentrou-a com a presteza de quem busca, em vão, escapar d inevitável. Poucos instantes depois, surgiu novamente, agora envolto em uma capa que lhe caía sobre os ombros, e sem hesitar, dirigiu-se à floresta, decidido a abandonar tanto a sombra que o seguia quanto as palavras que ela proferia.

— Espera! — A voz do encapuzado tingiu-se de urgência, ao tempo em que tentava acompanhar os passos acelerados de Kael. — Eu preciso de você!

Kael ignorou-o, acelerando o ritmo, como se até mesmo o som daquela voz lhe fosse um fardo insuportável.

— Pela Força! Pare!

O brado ecoou na quietude da noite, repercutindo entre as árvores, forçando Kael a interromper sua marcha. Por um momento, o mundo ao redor pareceu recuperar seu fluxo natural. Os ruídos da floresta tornaram a encher-lhe os ouvidos: o sussurro do vento entre os galhos, o canto longínquo de uma ave noturna, o ondular brando das folhas secas sob a brisa. Era como se a serenidade que lhe fora arrebatada tentasse, em vão, reconquistá-lo.

— O que quer? — perguntou, enfim, sem voltar-se de imediato. Sua voz, embora baixa, encerrava um cansaço profundo, como se carregasse o peso de uma existência demasiadamente árdua.

Ao ouvir a pergunta, a sombra hesitou. Então, em um gesto pausado, abaixou o capuz, revelando as feições de Obi-Wan Kenobi. Um sorriso breve e quase aliviado desenhou-se em seus lábios.

( 🌠 ) Olá, pessoal! Espero que tenham gostado do capítulo e me perdoem pela demora!

( 🌠 ) Ficaria muito feliz em receber feedbacks de vocês e sugestões também para o desenrolar da história! Beijos 💗💗

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