Capítulo 22. Discussão
Um bebê. Eu esperava por tudo, menos por uma criança... não sabia como contaria ao Gojo, ou o que faria para lidar com essa situação. Toji também não saía da minha cabeça, meu pai conseguiu me deixar aflita em imaginar que Satoru realmente o matou, era mais uma situação na qual eu teria que lidar.
— Inumaki, Panda. Vocês voltaram.
— Salmão. — Disse Inumaki, sorri gentilmente e o cumprimentei.
— Estávamos procurando pelo Sensei, mas a Jujutsu hoje não parece estar muito movimentada. — Ele olhou em volta, afirmei.
— Vou tentar encontrar o Satoru e aviso que estão procurando por ele.
— Seria de grande ajuda, obrigado. — Ele disse, ambos passaram por mim. Senti meu estômago roncar, percebi que não havia me alimentado direito antes de sair de casa, me senti culpada por não alimentar o bebê.
Peguei um casaco e fui até a minha cafeteria favorita. O local estava um tanto esvaziado, mas o cheiro continuava agradável. Parei em frente a vitrine buscando algo delicioso para comer, estava na dúvida entre bolo de chocolate com morango e chantilly ou torta de maçã.
— Queria que esse fosse meu único problema. — Resmunguei e toquei a barriga, a balconista parou na minha frente esperando pelo meu pedido. Apontei. Ela retirou a fatia e me entregou.
Levei até uma mesa reservada no fundo. Comi um pedaço e suspirei profundamente, sentir o açúcar na minha boca repôs todas as minhas energias em um único instante.
— Então você ainda vem aqui. — Ele se sentou bem na minha frente, segurei o garfo com mais firmeza.
— Não fale como se você viesse aqui também. — Retruquei, ele sorriu e cruzou as pernas. — Você não é ele.
— Agora, suas memórias são minhas. Você sabe. — Me respondeu com naturalidade, senti um embrulho no estômago.
— Por que está aqui? Por que se expor desse jeito?
— Precisava verificar você. Nosso último encontro não foi tão... amigável. — Me respondeu, não expressei reação.
— Vou acabar com você.
— Não vai. — Ele parecia calmo demais diante da situação.
— O que te faz pensar que não? — Apertei o garfo entre meus dedos imaginando onde poderia acertá-lo.
— O que está dentro de você. — Suas palavras me pegaram desprevenida, senti meu coração disparar.
— Que merda você está falando?!
— Ela não está sozinha aí dentro. — Hesitei, queria poder matá-lo ali mesmo, na frente de todos.
— V-você.
— Ela é minha agora, e será linda.
— Verme nojento. — Cuspi as palavras, ele desviou o olhar. — Não vou deixar que encoste nesta criança.
Ele riu e levantou, me levantei no mesmo segundo e o encarei. Me imaginei pulando por cima da mesa e o enforcando repetidas vezes. Ficamos estáticos por um momento, um atendente se aproximou com um bloquinho em mãos.
— Vocês estão de saída? Posso recolher os pedidos?
— Não. Ela precisa comer. Está grávida. — Ele disse, o funcionário me olhou com surpresa e me parabenizou. Não me movi, continuei o encarando. — Um presente para a humanidade.
— Eu vou te matar. — Repeti, ele continuou sorrindo, deu as costas e saiu. A porta da cafeteria bateu, e o estridente do sininho foi o único som que soou em meus ouvidos.
Senti um embrulho no estômago, meu pedido quase voltou pela minha garganta. Paguei e deixei a cafeteria.
*
— Tsumiki não é mais motivo de preocupação. Entretanto, devemos voltar nossa atenção para o verdadeiro problema. — Nanami dizia quando notou minha falta de atenção, ele se apoiou na mesa. — Está comigo? Zenin, aconteceu algo na minha ausência?
— E-eu to grávida. — Sussurrei com a voz falha. Nanami tirou os óculos e me encarou. — N-Nanami. Ele disse que colocou algo no meu bebê, d-disse que é o bebê dele.
Senti meu rosto ferver, meus olhos se encheram de lágrimas, comecei a chorar feito criança. Nanami se aproximou e me abraçou, segurei seu braço e continuei chorando. Ele sabia que a única coisa que poderia fazer era me reconfortar, mesmo sendo apenas colegas de trabalho.
— Eu sinto muito. O Satoru sabe?
— Não. — Respondi, ele continuou me abraçando tentando me dar o mínimo conforto. — E-eu não consigo. E-eu não sei o que fazer.
— Tudo bem. Não precisa contar agora. Conte quando se sentir confortável. Mas... ele precisa saber.
— Eu sei. Eu sei. Precisa.
— Quem precisa saber do que? — Satoru entrou pela porta, Nanami se afastou e ajeitou seu paletó. — Estava chorando? Quem te fez chorar?
Satoru se aproximou e ajeitou meu cabelo, limpei as lágrimas mas meu rosto ainda estava avermelhado.
— Ninguém. Está tudo bem.
— Não é o que parecia. Nanami não é de abraçar. — Ele olhou para o Nanami e retirou seus óculos. — O que aconteceu?
Satoru me encarou com tanta profundidade que me senti culpada em não contar, me virei e cobri a boca, voltei a chorar.
— Então você foi... o que ta acontecendo? — Maki entrou na sala e veio na minha direção, ela virou-se para mim. — Você foi vê-lo? Está muito ruim?
Aproveitei a deixa e afirmei, ela me abraçou, Satoru e Nanami trocaram olhares. Implorei para ele acreditar em minha atuação, para acreditar que estava chorando pelo meu pai. Mesmo que nunca o fizesse, nem em meu último suspiro.
— Sinto muito. — Ele disse. Me senti aliviada, mesmo com culpa. Não estava pronta para contar a verdade.
— Deveria ir, descanse. Passou por muita coisa. — Nanami pediu, Gojo segurou minha mão e me guiou para fora. Olhei para Nanami uma última vez, deixei a sala.
Gojo me guiou pela mão até a saída, pediu um taxi. Esperamos em completo silêncio, ele não fez contato visual, entramos no táxi. O motorista nos levou para casa, para o seu Loft no centro. O percurso até o prédio, e depois até o elevador foi em completo silêncio.
— Está irritado. — Sussurrei, ele negou, meus olhos foram ao chão. — Você está.
— Não estou.
— Não somos crianças. — Sussurrei novamente, notei que Satoru cerrou os punhos.
— Você podia ter me contado que seu pai estava doente. — Ele disse, quebrando o silêncio desconfortável.
— Vocês se detestam, que diferença faz?
— Faz toda diferença Zenin. Eu me importo com você. Como acha que me senti quando vi Nanami te consolando ao invés de mim? — Virou-se para mim, arregalei os olhos incrédula.
— Está com ciúmes?
— Quantos anos acha que tenho?
— O que é então? — Perguntei, Satoru passou a mão entre suas mechas platinadas e se inclinou na minha direção.
— Eu me senti um idiota, um estúpido. Senti vergonha.
A porta do elevador se abriu, senti uma lágrima escorrer pelo meu rosto. Satoru segurou meu rosto e limpou a lágrima com seu polegar.
— Desculpa. — Sussurrei, ele me puxou e me envolveu em seus braços.
— Tudo bem. Não se desculpe.
O abracei com toda a força que pude, Satoru retribuiu. Comecei a chorar com rosto abafado em seu peito. Ele sabia que minha tristeza não vinha unicamente da situação em que meu pai se encontrava, mas não queria insistir, não queria gerar ainda mais discussão.
Assim como Nanami havia recomendado, apenas descansei pelo resto do tempo que passei em casa. Satoru ficou ao meu lado e me ajudou a lidar com a situação. Cogitei contar da gravidez diversas vezes, mas Kenjaku no corpo de Geto ainda era um empecilho, e um fato desencadeiaria outro como um efeito cascata. Deste modo, minha vontade permaneceu na minha cabeça.
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