Capítulo 11. Gojo
Dei as costas e saí pisoteando o chão, tentando conter minha frustração. Gojo estava certo, talvez eu continuasse a mesma. Já ele, estava completamente mudado, era outra pessoa.
— As pessoas notam sua postura a cada passo aqui dentro. — Ele passou meu braço pelo seu novamente, tentei me soltar, ele continuou e então me fez parar e prestar atenção. — As pessoas sussurram, cochicam coisas maliciosas. Por isso é bom se manter perto.
Uma música se iniciou e as pessoas começaram a se juntar ao centro do salão, era um evento formal, com direito à baile. Satoru me puxou pela cintura gentilmente e iniciou a sincronia de movimentos no ritmo da música.
— O que está fazendo?
— Improvisando. — Brincou, revirei os olhos e continuei dançando. Ele analisou meu pescoço e clavícula, e então engoliu em seco. — Você não mudou nada.
— Isso não é um elogio. — Repreendi, ele me virou de costas. — Trabalhei muito para mudar quem eu era, para me encaixar.
— Não precisa mais fazer isso. — Voltei a encará-lo, minhas mãos foram para a sua nuca. — Eu lidei com tudo.
— Você.
— Fiz isso pelos meus alunos. Me incomoda não poderem ter uma vida como adolescentes normais. — Ele explicou, a música parou e os casais se desfizeram. Me afastei e ajeitei meu vestido, Gojo pegou duas taças com champanhe e me entregou uma. — Não quero mais que um sistema quebrado acabe com a sanidade dos futuros feiticeiros Jujutsu.
Ele não mencionou nossas vidas no passado, como éramos tratados. E eu não queria ligar seus desejos de mudança à nós, mas Gojo entregava em seu olhar, respostas nas quais eu não precisei perguntar. Ele fez isso a partir do que aconteceu com todos nós... a partir da pressão que sofremos, desde a minha família, até Suguru Geto, seu melhor amigo.
Suguru sucumbiu ao mal depois de consumir muita energia amaldiçoada, ele desabou e se rendeu ao cansaço, aos pensamentos negativos e fora de sentido que começaram a afetar sua mente. Ele virou um assassino, e foi banido da academia Jujutsu até que Gojo, seu melhor amigo, o vencesse de vez.
— Você não me perguntou nada desde que voltei. — Perguntei e bebi um gole, ele não expressou reação.
— Você está viva, é tudo que importa. — Ele disse sem dar importância, franzi o cenho mas não o respondi.
Gojo ainda me surpreendia com suas respostas, não conseguia entender se ele estava demonstrando preocupação, ou se só estava respondendo de forma genérica. Deste modo, apenas bebi meu champanhe. Ele apontou com o queixo para um grupo de homens e mulheres, todos bem vestidos. Estavam conversando e trocando risadas enquanto aproveitavam o champanhe.
— Bem ali, pode tentar apresentar suas ideias para aquele grupo. É o secretariado do governo, eles são a verdadeira mente por trás das ideias. — Ele pegou nossas taças, agora vazias, e as entregou à um garçom. — Aprovaram mais de uma escola com acesso aos estudos amaldiçoados, isso secretamente, para parte dos alunos com essa habilidade.
— Sobre o quê está falando?
— O conselho tem pensado na ideia de tornar mais jovens, feiticeiros. Já que pessoas como nós, tem diminuído cada vez mais. Isso porque é difícil se revelar, a maioria pensa estar enlouquecendo e acaba não chegando à academia.
— Mas e Yuji Itadori? — Parei na sua frente, Satoru tocou o próprio queixo.
— Itadori foi uma descoberta interessante. Ainda estou tentando entender porque ele é o hospedeiro do Sukuna.
— Deve ser seu pupilo então. — Continuamos andando, Gojo riu.
— O garoto é legal.
— Eu imagino. — Acrescentei, ele não respondeu.
— Você conseguiu o que queria? — Ele me perguntou sem fazer contato visual, desviei o olhar.
— Sim.
— Bom.
— Não do jeito que eu queria. — Fui direta, Gojo afirmou, continuei em silêncio.
— Faria algo diferente? — Ele me pergunta, me viro e faço contato visual. Eu sei a resposta que ele quer... mas não é algo que poderia lhe dar.
Balancei a cabeça sinalizando negativamente, Gojo pegou mais uma taça de champanhe e a bebeu completamente, corei sem conseguir fazer contato visual.
— Aquele é o seu alvo, quero que vá e siga conforme o planejado. — Pediu e me guiou pelos ombros, ele alcançou uma taça no caminho e me entregou.
— O-o que? Pensei que nós dois faríamos isso. Satoru? Satoru!
— Você se vira, eu te encontro depois. — Ele disse e passou por mim, me senti desconcertada vendo-o se afastar. Me virei para o deputado e me aproximei, assim que cheguei perto o suficiente logo me apresentei.
— Me chamo Kaori Zenin. É um prazer conhecer o senhor. — Me apresentei, ele me analisou da cabeça aos pés. Meu sobrenome chamou sua atenção, ele franziu o cenho.
— Como está o seu pai? — Hesitei, a questão me fez quase engasgar com o ar.
— Cumprindo com suas obrigações, é claro.
— Bom. — Ele disse, cocei a garganta e me recompus. — Ele sempre sabe tomar boas decisões.
— O meu pai é... totalmente qualificado para cumprir com suas obrigações. — Completei, ele riu e levantou uma taça de champanhe.
— Fato. — Disse rindo como se fosse a melhor piada que já ouvira. — Seu pai fez muitos favores por mim e pela minha família. Gostaria de agradecê-lo algum dia.
— O senhor pode fazer isso agora. Na verdade, a vantagem será totalmente sua se nos ajudar.
— Do que está falando? — Ele se virou para mim, o encarei seriamente.
*
A noite se estendia cada vez mais, uma brisa fria soprava em minhas mechas arrepiando minha nuca completamente. O lado de fora do evento parecia muito menos agitado, silencioso o suficiente para organizar minhas informações e passar tudo ao Nanami.
— Então é aqui que você se escondeu? — Satoru saiu do evento e se aproximou, guardei o celular suspirando profundamente.
— Queria não ter que participar de todos esse diálogos inúteis de agradecimentos e pensamentos rasos.
— A vida dos humanos é bem mais simples, eles não tem que se preocupar com o "outro lado" como nós. — Gojo se aproximou da borda da varanda e se apoiou.
— Não são tão diferentes de nós. Vivemos no mesmo mundo, os direitos deveriam ser os mesmos para os dois lados. — Argumentei, ele se virou para mim, e notou meu olhar distante.
— Não pode estar falando sério.
— Claro que não. Eles são frágeis como porcelana. Mas queria que pudesse ser real algum dia. — Me virei e joguei a cabeça para trás para pegar ar, Satoru riu. — Quer beber?
— Fica por sua conta.
— Pelo visto perdeu seu senso de cavalheirismo. — Brinquei, ele passou por mim com as mãos em seus bolsos.
— Não misture as coisas.
Ele foi direto, revirei os olhos e o segui. Gojo pediu o carro e nos levou de volta ao hotel, fomos até o bar pouco iluminado naquela madrugada e pedimos alguns drinks.
— Por minha conta. — Segurei meu cartão entre meus dedos, o barman o pegou e afirmou com a cabeça.
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