²⁶|A caça e o caçador
Tento não ficar olhando por cima do ombro durante o caminho para casa.
Depois que meu perseguidor foi embora, eu peguei meu celular e fiquei encarando a tela. O botão verde zombou de mim. Não consegui ligar para a polícia. Ele vai voltar. Estou começando a aprender que ele sempre volta.
Poderia ter atirado nele.
Verdade. Se desse merda, eu diria a polícia que foi legítima defesa.
Mas você não atirou.
Não. Não costumo andar armada, mas senti a necessidade hoje. É reconfortante de uma forma estranha. No entanto, quando precisei usá-la, não consegui. Não importa o que aquele psicopata falasse, eu tinha o revólver, ele teria sido obrigado a fazer qualquer coisa que eu mandasse, mas fui burra e vacilei.
Ainda estou me xingando por isso quando uma mão aparece na minha frente e aperta o botão para chamar o elevador por mim.
Dou um passo para o lado, um pouco assustada, e encaro Brody.
— De onde diabos você saiu? — questiono, percebendo que coloquei minha mão dentro da bolsa, procurando minha arma.
Brody sorri para mim.
— Você está tão distraída que não me ouviu quando te chamei.
Ele me chamou? Deus, não é atoa que não percebi meu perseguidor na academia. Estou aérea demais, descuidada demais. Costumo relaxar quando estou na presença de amigos – por isso sempre sou surpreendida quando Khalil surge do nada –, mas em situações cotidianas não consigo abandonar aquele meu lado que foi treinado para estar sempre atento.
— Tive um dia cheio. Estou apenas cansada — digo ao Brody.
— Eu comprei o jantar. — Ele me mostra uma ecobag de onde está saindo um cheiro delicioso. — Tá a fim de comer um pouco?
Hesito. Eu quero aceitar porque a comida cheira bem e porque Brody é vegetariano como eu. É perfeito, certo?
Seria, se fosse apenas dois amigos jantando, mas já notei os olhares de Brody antes. Eu não quero que ele pense que estou lhe dando abertura para tentar alguma coisa.
Brody deve ver isso em meu olhar, pois abaixa a cabeça, dando um sorriso sem graça.
— Talvez outro dia.
— Talvez.
A subida de elevador é envolvida em um silêncio constrangedor, mas eu me despeço dele mesmo assim quando cada um entra em seu apartamento.
Não estava mentindo para Brody sobre estar cansada. Tudo o que quero agora é descansar.
E esquecer as últimas setenta e duas horas.
☠️
No sábado, acordo cedo. A última semana foi caótica e isso reflete no meu apartamento: roupas espalhadas no meu quarto, poeira acumulando nos móveis da sala e nenhuma comida na minha geladeira.
Dormi relativamente bem comparado aos outros dias, o que me dá um pouco de ânimo. Até ouço um pouco de música enquanto limpo a casa. Às 10h, já lavei roupa e limpei a casa. Vou à casa de campo depois do almoço, então ainda tenho um pouco de tempo para ir ao mercado.
Após as compras, estou colocando minhas coisas no carro e pensando se faço meu almoço em casa ou como na rua, quando alguém se aproxima de mim.
Ao erguer os olhos, encontro Alexander.
— Pensei que seus subordinados faziam compras por você — digo, voltando a ajeitar minhas compras no porta-malas do meu Corolla.
— Achei que encontraria algo interessante se eu viesse dessa vez.
— O desinfetante está na promoção.
Fecho o porta malas e finalmente viro para ele, cruzando meus braços. Sem surpresa, Alex está vestindo um terno branco, como um cafetão dos anos 90.
— Precisamos conversar — diz.
— Não irei a nenhum outro jantar.
— Eu estava pensando em um almoço.
Deveria recusar. Ele já me contou tudo o que eu queria saber, pelo menos as coisas mais importantes. Sim, ele é meu tio, mas não tenho nenhum sentimento afetivo por ele e não quero ter.
Mas mesmo assim, me vejo concordando.
— Só tenho quinze minutos.
Segui o carro de Alex até um restante a dois quarteirões do supermercado. Ele me espera do lado de fora do restaurante e nós estamos juntos.
Uma moça nos conduz até uma mesa e eu finjo não notar seu olhar para Alex. Quando eu era uma adolescente perdida e sob a proteção dele, muitas vezes sentia ciúmes das mulheres com quem ele saía. Eu constantemente tinha medo que ele casasse com uma delas e então me mandasse embora. Nenhuma namorada dele gostava de mim. Elas não entendiam por que ele me mantinha por perto. Muitas chegaram a insinuar que havia algo entre Alex e eu. Eu sentia vontade de vomitar toda vez que ouvia isso.
Sentados em uma mesa nos fundos, cruzo minhas mãos sobre a mesa.
— O que você quer?
Vendo que não estou interessada no menu, Alex deixa o dele de lado.
— Dei a você tempo para pensar, mas agora precisamos conversar sobre o Cedric.
Tento não me encolher com esse nome.
— Por quê?
— Ele matou seus pais. Você não quer vingança?
Sim. Eu quero esfolar o desgraçado enquanto ele ainda estiver vivo e depois jogá-lo aos cães. Mas não é assim tão fácil.
— Mais de vinte anos se passaram. Por que você não fez nada a respeito? — pergunto, então. É muito simples para ele exigir vingança de mim quando tudo o que ele fez foi ficar sentado no seu trono por vinte anos.
— Eu queria. Sonhei com isso todos os dias desde então. Mas prometi que só me vingaria com você ao meu lado. Essa vingança é tanto minha quanto sua, Kate. E chegou a hora. Somos uma família e devemos…
— Eu já tenho uma família. — Ele começa a me interromper, mas continuo falando. — E eu não devo nada a você ou…
— Ele matou Yuna.
Tudo ao meu redor para.
— O quê?
— Você acreditou mesmo naquela história de assalto, Kate? Nunca parou para pensar que havia algo mais por trás disso?
Balanço a cabeça. Não. Não pode ser.
— Você está mentindo.
— Por que eu mentiria?
— Para me deixar com mais raiva. Para que eu aceite me vingar. — Aperto minhas mãos juntas, único sinal que demonstra a confusão de sentimentos dentro de mim. — Se isso for verdade… Por que você está me dizendo só agora? Por que não disse quando fui ao complexo?
Alex tenta tocar minhas mãos, mas eu recuo. Novamente, eu não quero a porra da sua pena.
— Estava tentando te proteger. Saber das mortes dos seus pais já tinha sido demais. Fiquei preocupado…
— Que se foda sua preocupação, Alex! — Fico de pé, mais uma vez meu temperamento levando o melhor de mim. — Sabe o que eu acho? Que isso tudo parece muito conveniente. Meus pais estão mortos. Yuna está morta. Não há ninguém além de Cedric que possa confirmar as coisas que você diz. Talvez eu devesse ir perguntar a ele.
— Eu não mentiria sobre isso. — Ele parece tão calmo, apenas sentado lá me olhando como se eu fosse uma pirralha insolente. — Você é minha sobrinha, Kate, queira você ou não. Mas se não quer fazer justiça pelos seus pais, por Yuna, não irei obrigá-la. É uma decisão sua.
— Como se você respeitasse minhas decisões — murmuro, então pego minha bolsa e saio do restaurante.
☠️
Passei em casa apenas para deixar as compras e colocar ração para Warrick. Lembrei de pegar algumas barras de cereal e uma maçã antes de sair, mas estão intocadas na minha bolsa desde que estou dirigindo há uma hora.
Antes de encontrar Alex essa manhã, achei que seria bom a viagem de duas horas até a casa de campo, ouvir um pouco de música e relaxar, mas não está sendo como planejei. As palavras de Alexander ficam voltando e rodando em minha mente.
Ele matou Yuna. Ele matou seus pais. Você não quer vingança? Fazer justiça. Somos uma família.
Disse a Alex que achava tudo muito conveniente, mas fui eu quem foi atrás dele em busca de respostas. Eu quem começou a remexer no passado. Odeio pensar assim, mas acho que teria sido melhor se eu não tivesse tido porcaria de flashback nenhum. O que eu ganhei com isso? Noites sem dormir, pesadelos, chorar em momentos inoportunos… Nada de bom veio de remexer meu passado.
Quando faltam mais ou menos 4 km para chegar na casa, acontece algo que eu deveria ter previsto: meu carro quebra.
— Não, não, não… — murmuro, girando o volante para parar no acostamento quando uma fumaça negra começa a sair do capô.
Saio do carro, me encolhendo em minhas roupas por causa do vento frio e vou ver qual é o problema. Quando levanto o capô, mais fumaça negra sai, me fazendo tossir.
Lembro de pedir a Anthony para dar uma olhada no meu carro, mas esqueci de lembrá-lo de fazer isso. Tantas coisas aconteceram desde a manhã de anteontem.
Busco meu celular no carro, mas obviamente está sem sinal aqui e meu celular está com seus últimos resquícios de bateria.
Olho em volta, mas não tem nenhum outro carro passando na pista. Eu poderia ficar esperando, mas prometi a Genevieve que daria uma olhada na casa. Não é tão longe, pensando bem. Talvez meu celular não descarregue totalmente e tenha sinal lá na casa, ou misericordiosamente um telefone.
Pego minha bolsa e meu casaco, e depois tranco meu carro, rezando para que ele ainda esteja aqui quando eu conseguir ligar para o reboque.
Suspirando, começo a caminhada.
Meus pés e pernas estão cansados quando chego na casa, mas não reclamo muito porque consegui ser mais rápida que a tempestade que está se formando. Sinceramente, essa dia não pode ficar pior.
Pelo menos você está segura.
Isso é verdade. No entanto, é a única coisa boa acontecendo porque quando pego meu celular para ver se tem sinal, descubro que ele descarregou.
— Que maravilha — murmuro.
Tudo bem. Estou sem carro, sem bateria e em uma casa vazia. Apesar de rimar, não é nenhum pouco legal.
Antes de surtar, decido fazer o check in da casa. Felizmente, eu anotei tudo o que Genevieve disse que precisava ser checado e passo a próxima hora andando pela casa, conferindo tudo e riscando coisas da minha lista.
Conforme faço isso, percebo como a casa é bonita. Claro, Eros e Genevieve não escolheriam nada menos que isso para realizar o casamento, porém estou encantada mesmo assim. A construção vitoriana é encantadora. Acho impressionante como por dentro ela está perfeitamente restaurada, o que significa que meus amigos não têm com o que se preocupar: a casa está em perfeito estado para a cerimônia. No grande campo que se estende lá fora, onde, de fato, acontecerá a coisa toda, também está tudo perfeito.
Vejo também o lago que Genevieve citou quando me contou dos preparativos. Imagino que num bom dia, a paisagem deve ser ainda mais encantadora.
Com tudo checado, me sento nas escadas na sala e analiso minhas opções.
Genevieve sabe que estou aqui e eu prometi ligar para ela quando chegasse, algo que eu obviamente não fiz. Conheço minha amiga e sei que ela vai estranhar se eu não ligar, afinal, mandei mensagem para ela quando eu estava saindo de casa. Quando ela me ligar – caso ainda não tenha feito –, vai achar ainda mais estranho quando eu não atender.
Ou seja, estou contando com a sua preocupação. Não há telefones aqui – imaginei que não teria, mas procurei mesmo assim –, nem um carregador perdido.
Não tenho horas também, mas pelos meus cálculos, deve estar quase perto do fim da tarde. Eu realmente não queria ficar até o anoitecer, principalmente com a tempestade que começou a cair, mas estou de mãos atadas.
Como uma maçã e uma barrinha de cereal para passar o tempo, mas já estou quase enlouquecendo quando o sol se põe.
Irritada, subo para o segundo andar. Essa casa tem muitos quartos e eu entro em um deles. Graças a Deus todos têm camas também. Esse tem uma cama de casal. Perfeito. Passei horas andando para lá e para cá e estou morta de exaustão. Posso muito bem dormir enquanto espero alguém me resgatar.
☠️
Acordo confusa e sem saber onde estou. O quarto em que me encontro não tem cortinas, possibilitando que eu veja a chuva caindo e os raios no céu. Não tem árvores na minha rua.
Porque você não está em casa.
Droga. É verdade. Estou esperando alguém…
Um baque me faz sentar no colchão. Tenho certeza que o barulho não veio do lado de fora. Será Genevieve e Eros?
Eu teria corrido até lá embaixo com essa possibilidade, mas como eu disse, conheço minha melhor amiga, ela estaria gritando meu nome.
Com cuidado, desço da cama. Minha arma está na minha mão desde que ouvi o barulho e saquei da bolsa que eu estava usando como travesseiro. Eu sei que é perigoso andar com uma arma não registrada, pois eu poderia ter sido parada por uma viatura e estaria muito fodida, mas levando em consideração o meu último encontro com meu perseguidor, não consegui deixar o revólver em casa.
Não calço minhas sandálias para evitar o máximo de barulho possível e saio do quarto. Ando na ponta dos pés, tentando ouvir mais alguma coisa, porém com o barulho da tempestade, é praticamente impossível. E como se isso não bastasse, a casa está escura. Não chequei se tinha eletricidade mais cedo e não vou começar agora.
Quando chego na sala, não vejo ninguém. Será que o barulho que ouvi não era mesmo…
Falando em barulho, um ruído baixo de botas batendo no piso me faz virar, minha arma já apontada para o invasor.
Semicerro os olhos para a figura alta na minha frente.
— Khalil? — sussurro, um pouco hesitante.
Mas quando ele dá um passo à frente e a luz entrando na janela ilumina seu grande corpo, fica claro que é ele mesmo.
— Jesus! Eu poderia ter atirado em você, seu idiota! — Abaixo a arma, então, olhando furiosa para ele.
— Tenho certeza que você sonha com isso todas as noites — diz com sua voz inexpressiva.
Ignoro seu comentário.
— O que você está fazendo aqui?
Khalil passa por mim, indo até a janela. Não consigo ver muito dele, mas parece que seu cabelo está molhado.
— Genevieve me ligou. Você não deu notícias e ela ficou preocupada. Mas nem ela nem Eros puderam vir porque Freya está tendo algum ataque de pânico por causa da tempestade.
Agora que ele falou, me pergunto como pude esquecer. Freya odeia tempestades e tem sérias crises durante um mal tempo como esse, eu mesma já presenciei uma vez. Estava com a mente tão aérea que esqueci completamente disso.
— Sabe dizer se Freya está bem? — Guardo minha arma em minhas costas, cruzando os braços.
— Deve estar. Eu vi seu carro. O que aconteceu?
— Quebrou.
— E você não pensou em ligar pra ninguém? — Ele está falando sério?
— Não. Nem me passou pela cabeça. Eu estava adorando ficar aqui nessa casa escura no meio de uma tempestade. — Reviro os olhos e lhe dou as costas. — Vou pegar minhas coisas.
— Nós não vamos voltar agora.
Viro de volta para ele.
— Por quê?
— A pista está muito escorregadia por causa da chuva. Não dá pra enxergar quase porra nenhuma. Vamos ter que esperar amanhecer.
Por fora, eu apenas anuo, mas por dentro estou surtando. O que poderia ser pior do que ficar sozinha em uma casa escura no meio de uma tempestade?
Ter que ficar com o homem que você detesta em uma casa escura no meio de uma tempestade.
☠️
— Está sem luz em toda a cidade? — pergunto depois de voltar do quarto. Fui guardar minha arma e calçar meus pés.
Khalil continua na janela, olhando lá para fora como se isso fosse fazer a tempestade passar. Ele tirou sua jaqueta enquanto eu estava lá em cima, confirmando minha suposição de que estava molhada da chuva.
— Sim.
Depois de alguns segundos encarando suas costas, me aproximo da janela também, parando ao seu lado.
Não há realmente muita coisa para olhar além do céu cheio de nuvens e raios, por isso acabo me distraindo e encaro o reflexo de Khalil na janela. Seu rosto esculpido está tomado por uma expressão séria enquanto encara a tempestade como se fosse sua inimiga. Seus braços estão cruzados sob a camisa preta, mas não olho para seus músculos por muito tempo. Ok, só um pouquinho.
Nem parece que estávamos no meu apartamento ontem ou que ele estava fodendo minha boca com seu pau. A lembrança me faz expirar. Desvio minha atenção para as árvores, agradecendo a falta de luz, assim Khalil não pode ver o tom forte de rosa em minhas bochechas que a lembrança deixou.
— Eu vou procurar velas — digo de repente. Começo a me afastar de Khalil, mas parece que minhas pernas deixaram de funcionar pois tropeço. A mão de Khalil já está lá para me equilibrar, no entanto, me encolho. — Sua mão está gelada.
— Está fazendo frio.
Sim, mas ele está congelando. Faz sentido, claro, já que ele veio de moto e sem proteção nenhuma contra a tempestade. Até me sinto mal por ele, principalmente porque está aqui por minha causa.
— Acho que tem lenha em algum lugar lá fora. Vou peg…
Antes que eu termine de falar, Khalil passa por mim. Tudo bem. Não estou nem aí se ele quer bancar o cavalheiro pela primeira vez na vida e sair no meio da chuva para pegar lenha.
Mesmo assim, vou atrás de velas na despensa da cozinha. E acho algo melhor que isso: uma lamparina. Eu não via uma dessa desde… Ok, talvez eu nunca tenha visto uma lamparina em outro lugar que não fosse filmes e séries.
Agora que pensei nisso, sinto um arrepio ao perceber que a nossa situação atual daria um ótimo episódio de CSI.
Ouvi os passos de Khalil voltando para sala e vou para lá também com a lamparina. Se ele não conseguir acender a lareira…
Mas ele conseguiu. Agachado na frente da lareira, o fogo ilumina a expressão cruel de Khalil conforme ele usa um atiçador para mexer na lenha. Quero perguntar a ele como conseguiu, mas não é do nosso feitio ter conversas casuais, então apenas me aproximo e sento de frente para a lareira.
Parece que será uma longa noite…
— O quê? — Encaro Khalil depois de prometer que o ignoraria. É difícil, porém, quando posso senti-lo olhando para mim.
— Vamos jogar um jogo.
Inclino a cabeça para o lado. Ele enlouqueceu?
— Não. — Volto a encarar as chamas que estão consumindo a lenha. Se não fosse pelo fogo, eu estaria no quarto.
— Se chama A Caça e O Caçador — Khalil continua. Pelo canto do olho, vejo-o tirar alguma coisa do bolso. — É decidido pela moeda. Como eu tenho uma, eu escolho.
— Que conveniente — murmuro.
— Coroa é o Caçador e cara é a Caça. Se eu jogar e cair Cara, eu serei a Caça, mas se cair Coroa… — Ele não termina, mas não precisa. Eu seria a Caça. Mas não estou jogando.
Ainda olhando de soslaio, observo quando ele joga a moeda para cima, que logo em seguida cai na sua palma. Ele vira nas costas da outra mão, revelando a moeda.
Não percebo que virei totalmente minha cabeça até ser tarde demais.
Encaro a moeda. Coroa.
Encontro o olhar de Khalil e um arrepio corre pela minha espinha. Seus olhos estão escuros. O brilho perverso neles me causa uma sensação no estômago e a pequena inclinação dos seus lábios me faz querer engolir em seco.
— Eu não estou jogando — lembro-o outra vez.
— Vou te dar uma vantagem de dez segundos para correr. Mas se eu pegar você, Kathryn… Farei dessa, uma noite inesquecível para nós dois.
— Eu não est…
— Um.
— Khalil…
— Dois.
Meu orgulho está dizendo para eu não correr, que ele só está sendo um idiota, mas meu instinto grita para eu correr. Para fugir do seu olhar sombrio e não deixar ele me pegar.
— Três.
Khalil mal termina de pronunciar a palavra e eu já estou correndo.
Meus pés são tão rápidos quanto as batidas do meu coração enquanto eu ponho o máximo de distância entre nós. A adrenalina enche minhas veias. Mordo o lábio quando percebo que estou sorrindo, mas é inútil. Eu deveria estar brava e me sentindo idiota, afinal, estamos basicamente brincando de pega-pega. Mas alguma parte minha, aquela que eu mantenho escondida, está começando a se deliciar com isso.
Depois de correr por alguns segundos, desacelero para uma caminhada rápida, tentando o máximo ser silenciosa. Virei alguns corredores que me trouxe até uma sala aleatória, na qual eu entro. A parte ruim de estar em uma casa vazia é que não tem muitos móveis e você precisa improvisar se estiver fazendo essa brincadeira.
Khalil não disse exatamente o que iria fazer se me pegar, mas eu não quero descobrir.
Não quer? Você pode mentir para ele, Kate, mas não precisa mentir para si mesma.
Ignorando a voz da minha cabeça e entro dentro de um armário. Ele é bem pequeno e eu preciso ficar sentada enquanto abraço minhas pernas. Graças a Deus não tem cortina nessa sala também e a luz dos raios entra pela janela, iluminando parcialmente o cômodo e permitindo que eu enxergue através da frecha entre as portas do armário. Tenho uma visão perfeita da porta da sala, mas duvido que Khalil possa me ver aqui.
Quando minhas pernas começam a doer pela posição que estou, também começo a me sentir uma idiota. Já se passaram pelo menos dez minutos que estou aqui e nenhum sinal dele. Por que diabos eu concordei com essa estupidez mesmo? Está na cara que ele estava apenas tirando sarro de mim.
Faço menção de sair do meu "esconderijo", quando ouço o som suave das suas botas acima do bagulho da tempestade. Eu nunca percebi como conheço bem esse som. Khalil sempre sabe chegar de fininho, mas agora me pergunto se na verdade eu sempre soube que ele estava chegando e apenas ignorei porque ele não apresentava riscos. Bom, além de me causar um ataque cardíaco.
Alguns segundos depois de eu ouvir o som dos seus passos, ele surge na entrada da sala. Meu coração dispara novamente com a adrenalina. Tapo minha boca com medo que ele ouça minha respiração.
— Tenho que admitir, você é boa — Khalil diz, agora adentrando a sala. — Mas essa porta estava fechada quando eu fui buscar a lenha. Então a não ser que tenha fantasmas, eu sei que você está aqui, Kit Kat.
Fecho meus olhos. Burra, burra, burra! Você deveria ter fechado a porta!
Não sei como isso passou despercebido, mas é tarde demais para lamentar.
Abrindo os olhos, observo pela frecha enquanto Khalil olha em volta. Minha atenção vai para o fogo em sua mão. É um isqueiro que ele fica acendendo e apagando. Eu já vi antes pois ele é um fumante assíduo e está sempre com esse isqueiro. Ele é de prata, se bem me lembro, com iniciais de um lado e uma caveira do outro. Típico de um bad boy.
— Enquanto eu procurava por você, olhei em todos os lugares pequenos. — Khalil some da minha vista quando se aproxima da janela. Meu estômago embrulha. — Deve ser bom ter essa vantagem. Quem diria que ser do tamanho de uma criança serviria de alguma coisa?
Fecho minhas mãos em punhos. Idiota. Essa é sua estratégia? Tentar me irritar? Tão original…
— Você pode se esconder onde quiser. — Os pelos dos meus braços se arrepiam com o quanto sua voz ficou próxima. Prendo a respiração. Não tem como ele saber que eu… — Em qualquer lugar…
Minha visão da sala é bloqueada pelas suas pernas quando ele para na frente do meu esconderijo. Engulo em seco.
— Debaixo de mesas. Camas. Dentro de uma banheira. Armários.
Meu coração bate tão alto que tenho medo que ele ouça. Mas já é tarde demais. Khalil se abaixa e eu encaro seu rosto pela fresta.
— Te peguei.
☠️
Eita eita eita👀
Só queria ficar sozinha numa casa com o Khalil...🤭🤭
Enfim, AMANHÃ TEM MAISSSSSSS.
E SÓ DIGO UMA COISA: DEDO NO CU E GRITARIAAAAAAAAAAAA.
Preparem seus paninhos pra passar p Khalil, viu🤭🤭👀
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2bjs, môres♥
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