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~ Um sim ao matrimônio ~

Curtam e deixem comentários.

—— Essa cor não, quem usa isso?

Era tarde da noite, talvez fosse exagero dela dizer isso, mas estava com fome, então tudo se tornava mais cansativo e chato. Até mesmo escolher tecidos para o vestido de casamento de Do-hee, que nem noivo tinha.

—— Absurdo! —— se revoltou, jogando ao chão uma amostra off White com renda —— um crime...

Apesar de ser um terror na vida de muitos, especialmente quando se é mulher, o matrimônio é uma das coisas mais bonitas e complexas que existem. É como se duas pessoas decidissem embarcar em uma jornada juntas, compartilhando não só os momentos felizes, mas também os desafios e as dificuldades.

É onde cada um se torna um pilar de apoio para o outro.

Assim como os guardiões têm a missão de proteger e cuidar daqueles que estão sob sua responsabilidade, os cônjuges assumem um papel semelhante. Eles se tornam guardiões um do outro, cuidando do bem-estar físico, emocional e espiritual do parceiro.

É como se estivessem sempre atentos às necessidades do outro, prontos para oferecer suporte e compreensão. Ao menos em teoria, nas palavras ditas e assinadas, nos olhares que compartilharam, e não esperava depositava naquela relação.

Respeitar é valorizar as diferenças, honrar os sentimentos e opiniões do parceiro, e manter a integridade e a confiança no relacionamento. E proteger... bem, proteger é criar um ambiente seguro onde ambos possam crescer e prosperar, livres de medo e insegurança.

No fim das contas, tanto no papel de guardiões quanto no de cônjuges, o objetivo é criar um vínculo forte e inquebrável, baseado no amor, na confiança e no compromisso mútuo.

Uma parceria sagrada onde ambos se tornam guardiões do coração e da alma um do outro, dedicando-se a cuidar, respeitar e proteger, dia após dia.

Kiki gostava de dizer ser casada com seu trabalho, usando das palavras de Do-hee quando se conheceram. Não era ironia afinal, havia de casada com Gu-won realmente, mesmo que tal parceria estivesse sobre ameaça. Havia aceitado um compromisso quando se tornou guardiã, e mesmo antes dos Sim, ela já havia aceitado ele em sua vida.

Mesmo em momentos em que desejava ser os que a morte os separe. Como quando ele decidiu, sozinho, que Do-hee e ela iriam acompanhar ele no jantar de boas-vindas.

—— Você o que?

—— Confirmei nossa ida com a equipe...

Si-young sentiu a pálpebra tremer, seu nariz se empinando, enquanto ouvia Do-hee rir ao fundo, afinal a humana achava engraçado quando os dois discutiam.

—— Deus —— choramingou dramática, olhando para o céu —— Eu sou tão boazinha, porque me faz passar por isso?

Seu momento de drama foi interrompido, quando Do-hee uniu seus braços, ambas sendo guiadas por Gu-won, que ainda sorria animado em fazer parte de algo.

Kiki cogitou se jogar do carro em movimento.

Kiki estava muito feliz. Seus olhos quase fechando de tanto rir, bochechas rosadas, e sorriso brilhante.

Enquanto Si-young ria das piadas idiotas dos humanos a mesa, Do-hee se sentia incomodada com o demônio ao seu lado, que tentava a todo custo pegar seu pulso, sendo que ele já mantinha uma de suas mãos no joelho de Si-young, vez ou outra apertando para sinalizar que deveria beber com calma.

—— Vocês estão tão quietinhos... estão com medo da Senhora Do?

Si-young riu alto, ainda mais quando viu como Do-hee parecia sem graça. Para ela, era estranho que houvesse pessoas com medo da humana, a achava tão adorável, que se esquecia que para a maioria das pessoas, ela era uma CEO inalcançável.

Seus olhos pararam em Do-hee, enquanto o grupo se divertia em encher mais seus copos de bebida. Ela se inclinou sobre Gu-won, que elogiava o dom de alguém, assustando a humana que a encarou confusa, ela mal entendia os seres que cuidava de si, estavam estranhos.

—— Fico feliz em ter vindo, gosto de passar mais tempo com você...

Gu-won puxou a amiga, a obrigando a se sentar novamente, e afastando de Do-hee, que sentia suas bochechas vermelhas.

—— Já bebeu de mais —— o demônio reclamou, vendo Si-young engolir mais uma dose de bebida —— Vou ter que te carregar de novo.

—— Finge que não gosta, finge mais...

O Jeong revirou os olhos, bufando como uma criança ao vê-la pegar mais uma garrafinha na mesa, segurou um sorriso ao vê-la aparentemente alegre.

Mas Si-young estava feliz, ele não sabia o que estava acontecendo nos últimos dias, mas sentia que havia algo de errado com sua melhor amiga. Ela usava azul, se afastava as vezes, ficava silenciosa em momentos aleatórios, Gu-won passou muitos anos ao lado dela, sabia que sua guardiã escondia algo, e estava a deixando lidar com aquilo em seu próprio tempo.

—— Ela está bem?

—— Vai ficar  —— ele respondeu, sorrindo levemente para a mulher que ria de uma piadinha da gerente assistente. —— Ela sempre fica.

■■■

—— Fora!

Kiki comemorou, quando sua nova amiga deixou a cabeça deitar na mesa, indicando que não beberia mais.

Certamente, a guardiã era a que mais havia bebido ali, impressionando os demais, fora Gu-won é claro, com sua capacidade de beber álcool. Acontecia que apesar das perdas de poderes, ele estar segurando Do-hee a ajudava a se manter minimamente sóbria. Até o momento.

—— Porque recusou ela?

Kiki fez uma careta, e levantou a mão pedindo outra bebida. Vendo como Do Do-hee estava vermelha, e os outros estavam curiosos.

Havia algo de errado com seus sentimentos naquele momento. Havia, talvez, um buraco em seu coração? Ou talvez fosse o estômago...

—— Já podemos encerrar o dia...

Si-young acenou para a fala da humana, quase se levantando de onde estava, suas pernas quase cedendo com o movimento rápido.

—— Não, eu gosto da Do-hee. —— Gu-won sorriu, uma de suas mãos na cintura de Kiki, a mantendo de pé.

A guardiã se sentou novamente, uma onda de sobriedade esmagando sua alegria falsa, a trazendo para uma grande confusão.

Se Do Do-hee estava confusa, com todos aqueles sinais e mudanças, ela se sentia pior.

—— Caralho...

Si-young sentiu uma dor no coração, conseguia ouvir a voz de BlackTurion a dizendo para se livrar daquilo. Ouvia Moon dizer que deveria seguir em frente, e até Saelin a confortar.

A sensação era nova, diferente. Não gostava daquele gosto amargo, sensação de sufoco.

Ela se lembrava de todos os momentos que havia compartilhado com Gu-won, de como ele sempre fora seu porto seguro e companheiro. A conexão entre eles era forte, construída ao longo do tempo com amor e confiança. No entanto, a presença de Do-hee parecia lançar uma sombra sobre essa segurança, fazendo Si-young questionar se o amor de Gu-won por ela ainda era o mesmo.

Ridícula. Sua mente chiou, a fazendo observar seus dedos, ignorando a curiosidade e conversa ao redor, seus ouvidos pareciam zumbir.

Si-young tentava racionalizar seus sentimentos, lembrando-se de que o papel de guardiã também envolvia confiar no outro e respeitar seus sentimentos. Ela sabia que o cuidado e a proteção que Gu-won oferecia a Do-hee não diminuíam o amor que ele sentia por ela. Mas, mesmo assim, a insegurança persistia, como uma sombra que ela não conseguia afastar.

—— Vou ao banheiro...

Kiki estava no banheiro do barzinho, as luzes fracas refletindo seu rosto no espelho. Ela havia deixado Gu-won e Do-hee para trás, incapaz de suportar a visão dos dois juntos por mais um segundo. Agora, sozinha, encarava seu próprio reflexo, os olhos cheios de dúvidas e inseguranças.

—— Será que sou ciumenta demais? —— pensava, mordendo o lábio inferior, se balançando em tique nervoso. —— Ou talvez... talvez eu devesse aceitar a proposta de BlackTurion e me divorciar de Gu-won. Seria mais fácil assim, não seria?

Estou louca. Falando sozinha. Louca.

Jogando água no rosto, a mulher se obrigou a passar as mãos no cabelo em seguida, tentando acalmar a mente.

A verdade era que Gu-won não precisava dela. Ele era forte, capaz de se cuidar sozinho. Mas Si-young... Si-young não sabia viver sem ele. O medo de existir sem tê-lo ao seu lado era esmagador. Gostava de ter Gu-won em sua vida, de sentir sua presença reconfortante.

Era cômodo, tranquilo e rotineiro. Até mesmo quando irritada ou brava, seu coração se preocupava em deixa-lo feliz, e saber estar seguro.

—— Talvez eu seja egoísta demais —— sussurrou para si mesma, a voz quase inaudível. —— Talvez eu esteja segurando Gu-won por medo, por não saber como ser sem ele.

As lágrimas começaram a escorrer pelo rosto de Kiki, e ela fechou os olhos, tentando encontrar uma resposta dentro de si. O barulho do bar lá fora parecia distante, como se estivesse em outro mundo.

—— Eu amo Gu-won —— admitiu, sentindo o peso dessas palavras. —— Mas será que isso é suficiente? Será que meu amor é suficiente para justificar tudo isso? Esquecer meu juramento, deixar de ser uma guardiã?

Ela abriu os olhos novamente, encarando seu reflexo com uma nova determinação. Talvez fosse hora de tomar uma decisão, de enfrentar seus medos e descobrir o que realmente queria para si mesma e para Gu-won. Afinal, o amor verdadeiro não deveria ser uma prisão, mas uma libertação.

—— Eu estou tão cansada —— sussurrou para si mesma, quase sentindo pena de seu reflexo —— tão esgotada...

Com um suspiro profundo, Kiki se afastou do espelho, pronta para enfrentar o que viesse a seguir. Seja qual fosse sua escolha, sabia que precisava ser honesta consigo mesma e com Gu-won. E isso, por si só, já era um passo importante.

Estou te esperando aqui em frente, me sinto mal. Tudo bem?

Kiki, tem algo acontecendo...

Ki?”

—— Merda!

—— A gente deixa eles por cinco minutos! Só uns minutos de paz, e conseguem estragar tudo...

Os becos ao redor do bar eram tão escuros, que Si-young quase deu meia-volta e deixou eles lidarem com o problema sozinhos. Mas se lembrou que o ser sobrenatural era ela, e se obrigou a seguir andando mais um pouco.

Quando finalmente os avistou, a cena que se desenrolava diante de seus olhos era tão surreal quanto cômica: Gu-won e Do-hee estavam lutando contra um grupo de gangsters enquanto dançavam tango. A combinação de movimentos graciosos e golpes precisos era ao mesmo tempo impressionante e hilária.

A guardiã franziu o cenho, sentindo o álcool evaporar de seu sangue, e o formigar familiar de seus poderes.

—— Vocês querem inovar para uma dança a três? —— Kiki gritou, tentando ser ouvida acima da música e da confusão.

Gu-won e Do-hee trocaram um olhar rápido e, sem hesitar, puxaram Kiki para a dança. Agora, os três estavam unidos, seus movimentos sincronizados em uma coreografia improvável de luta e dança. Kiki sentia a adrenalina correr por suas veias enquanto usava seus poderes de guardiã para desviar dos ataques e proteger seus companheiros.

—— Olhos em mim Do-hee —— pediu graciosamente, seus dedos entrelaçados aos dela, enquanto fazia dois homens tropeçar em seus calçados e caírem.

Gu-won, com seus poderes demoníacos, lançava rajadas de energia que derrubavam os gangsters um a um. Do-hee, no centro, mantinha o equilíbrio do trio, seus movimentos fluindo com uma graça quase sobrenatural. Juntos, eles formavam uma equipe imbatível, cada um complementando as habilidades do outro.

Talvez fosse uma ironia do universo uni-los. Alguém deveria estar acompanhando aquilo aos risos, como uma novela.

Kiki, Gu-won e Do-hee giravam e se moviam com uma precisão letal, seus braços entrelaçados enquanto enfrentavam os inimigos. A música do tango parecia ditar o ritmo da batalha, cada nota marcando um golpe, um desvio, uma vitória.

Finalmente, com um último movimento dramático, os três derrotaram o último gangster. Pétalas de rosas caíam do teto, cobrindo-os em uma chuva de vermelho e branco. Kiki, Gu-won e Do-hee se encararam, ofegantes, seus rostos uma mistura de confusão, desejo e estranheza.

Kiki olhou para Gu-won e Do-hee, tentando entender o que sentia. A proximidade deles, a intensidade da luta e a dança, tudo parecia criar uma conexão inexplicável entre os três. Ela percebeu que a situação era muito mais complicada do que imaginava.

—— Isso foi... interessante...

Talvez, apenas talvez, essa confusão fosse exatamente o que eles precisavam para entender melhor a si mesmos e uns aos outros. E, por enquanto, isso era o suficiente.

Aquilo poderia ser um sim, ao matrimônio.


Feliz Natal 🎅

Kiki:


Ela também:

Vocês para mim:

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