𝓔𝓶𝓶𝓪.

RESPIREI FUNDO.

Eu me encontro na sua porta, como todas as outras vezes antes. Não tenho certeza de como cheguei.
Todas as estradas, elas me guiaram até aqui.
Eu imagino você em casa, em seu quarto, completamente sozinho. E você abre seus olhos na direção dos meus. E tudo parece melhor.
E bem diante dos seus olhos, estou desmoronando.
Sem passado, sem motivos. Apenas você e eu.

Essa era a hora, minha última vez, minha última chance de, depois de acabar com tudo, pelo menos deixar uma pequena chama acesa.

Bati duas vezes na porta, nervosa. Encarei minhas malas sendo postas no carro pelo meu pai. Depois encarei o moletom preto de Walker, junto de minha saia vermelha. Será que era ousadia demais querer embora com esse moletom?

Eu finalmente passei na escola dos meus sonhos, a escola em que eu sonhava quando era pequena. Não era mais só por causa do cancelamento do filme, eu estava indo me reecontrar.

Mesmo sabendo que uma parte de mim mesma sempre estaria com ele.

Bati mais uma vez. Minha ansiedade queria me matar e eu não sabia se minha faixa vermelha estava começando a apertar minha cabeça ou eu estava tendo uma enxaqueca.

A noite já estava me deixando deprimida.

Finalmente a porta foi aberta. Lá estava ele. Calça de moletom cinza, blusa preta e olhos azuis nos meus olhos castanhos.

━ ... Oi.

━ Emma. ━ perdi o fôlego com ele pronunciando meu nome. Seria a última vez?

━ E-eu... Hã... ━ Droga! Eu havia esquecido tudo o que queria falar. Era impossível com ele bem aqui, na minha frente, apoiado no batente da porta.

Walker deu uma espiada atrás de mim, vendo minhas malas sendo colocadas no porta-malas. Um lembrete de... adivinha só?! Estou indo embora. Haha.

━ Então você passou? ━ ele cruzou os braços e eu não tinha ideia de quanto iria sentir falta deles me abraçando.

━ Passei.

Ele assentiu.

━ E você está aqui...?

Enfim tomei coragem:

━ Por favor não me ache egoísta, mas eu não consigo embarcar no avião se você não for até o aeroporto.

Minha fala pareceu completamente estúpida. Já haviam dias que não conversávamos, eu nem sabia mais o que nós éramos.

━ Isso foi completamente errado. ━ balancei a cabeça ━ Me desculpa, não deveria ter vindo.

Quando me virei, Walker segurou meu braço e disse:

━ Emma, espera. ━ e me virou para ele.

Seus olhos azuis me encararam de um profundo que, depois de muito tempo, ainda não pude descrever como foi... e então ele me beijou. Um beijo inesperado. Um beijo desesperado. Senti cada detalhe, querendo guardar o gosto dos seus lábios contra os meus e eu sabia que ele estava fazendo o mesmo.

━ Me desculpa, isso é o melhor para você, deveria ter ficado feliz. ━ sua mão queimou sobre minha bochecha, eu fechei o olhos sentindo o toque.

━ Emma, o táxi! ━ meu pai gritou, me avisando.

Quase esqueci que não poderia ficar ali para sempre. Para variar, meu carro havia quebrado, teria que ir de táxi.

Encarei Walker, esperando uma resposta.

━ Eu vou. ━ ele entrelaçou nossas mãos.

Eu sorri, estando triste e feliz ao mesmo tempo. Era uma sensação melancólica e esquisita.

Caminhamos até o carro e eu parei em frente a minha família. Aqui eu já estava me despedindo de minha mãe e Morgan (que, infelizmente, estava bem doente e não poderia ir até o aeroporto).

Dei um abraço bem apertado em minha mãe, que tentava não chorar, mas falhou miseravelmente. Peguei Morgan no colo e a pequena me agarrou e não queria me soltar.

━ Por favor, não esquece de mim.

Eu ri.

━ Óbvio que não. ━ beijei sua bochecha.

Enquanto meu pai se sentava no banco do carona, do lado do motorista, e Walker ia atrás, eu encarei minha casa pela última vez. Senti a história de uma vida sendo deixada para que eu pudesse começar uma nova.

Quando olhei para minha casa ao lado da casa dos Scobell, mais mil memórias me consumiram, momentos que estava colecionando há dois anos.

Suspirei e entrei no carro, vendo o bairro que eu cresci ser deixado para trás. Me reconfortei lembrando: "Você não precisa se desculpar por ir embora e crescer".

Walker apertou minha mão três vezes atrás do táxi, eu o olhei e sorri, sabendo o que significava e o que significa para nós.

E, quando eu pedi para que passasse devagar, cheguei mais rápido do que pude perceber no aeroporto.

Assisti com melancolia minhas malas sendo levadas, minha passagem sendo entregue e eu na fila para decolar até Nova York. Em momento algum, Walker soltou minha mão.

━ Passageiros do vôo 764, essa é a última chamada. ━ ouvi as caixas de som do aeroporto.

━ Tchau, pai. ━ me virei para ele e o abracei.

━ Você é meu orgulho, filha. ━ ele encarou meus olhos e eu soube que estava fazendo o que é certo.

Ninguém nunca entenderia o alívio que eu sentia quando esse homem me chamava de filha. Meu pai de verdade nunca entenderia.

━ Vai se despedir do seu namorado. ━ ele sorriu.

Parei em frente a Walker, não parecia real, não mesmo.

━ Acho que é agora. ━ disse baixo.

━ É, é agora. ━ ele respondeu.

Nos abraçamos, um abraço que fazia meu coração arder e o aquecia ao mesmo tempo.

━ Eu amo você. ━ ele disse.

━ Eu amo você. ━ respondi.

Nos beijamos, não ligando para quem estava em volta. Finalmente, aquele beijo de levantar o pézinho (ou a minha bota). Nosso último beijo.

Assim que nos afastamos, tirei minha mochila do chão.

━ A gente se vê, Ariel.

━ A gente se vê, princesa.

Sorri e me obriguei a seguir até a área de embarque. Antes de entrar, me virei e acenei para os dois.

Entreguei minha passagem para a aeromoça e fui procurar meu assento no avião. "Assento 13" o mesmo que peguei da última vez, mas dessa vez, Walker não estaria no 14.

Observei a paisagem da minha cidade natal ir embora da janela do avião, me lembrando de uma conversa que tive com a minha mãe quando eu tinha 6 anos.

"Mamãe. qual o tamanho de um sonho? perguntei enquanto estava deitada em seu colo, na sala, enquanto ela passava a mão pelos meus cabelos.

"Do tamanho de uma vida." ela respondeu.

Isso ficou na minha cabeça por muito tempo, e sempre que queria desistir, eu me lembrava disso.

Foi ali que soube que estava fazendo a coisa certa.

💌 Amar é deixar ir, né galera?  🤙