𝗢 𝗠𝗮𝗽𝗮 𝗽𝗮𝗿𝗮 𝗼 𝗣𝗮𝘀𝘀𝗮𝗱𝗼

Oi, povinho, tudo bom??

Então, é o seguinte: faço parte do Recanto dos Escritores e, para esse finalzinho de ano, foi realizado um amigo oculto entre os participantes. E tive o prazer de tirar a diva da ligia_alencarr!! 💜💜
Você me deu ótimas opções, e por isso tive muitas dúvidas. Até mesmo cogitei fazer do Law, hahaha.

Visitei seu perfil diversas vezes, o que influenciou, no fim, a minha escolha pelo Suguru.

Me desculpe se tiver algum erro, prometo revisar mais uma vez e deixar tudo certinho!! 💜

Espero que você gosteeeee!!! Apesar de estar um pouquinho só... Deprê 💋

6354 words

Era tarde, e o céu começava a tingir-se com tons de laranja, como pinceladas apressadas de um pintor indeciso, enquanto Suguru Geto repetia os mesmos gestos de sempre. A água morna da torneira escorria pelos pratos acumulados na pia, enquanto ele, quase mecanicamente, esfregava a louça, sua expressão tão inexpressiva quanto o vazio ao seu redor. O cheiro do café recém-passado preenchia o ambiente, tentando trazer alguma sensação de acolhimento que ele sabia que jamais sentiria ali. Pela janela, as luzes de Natal da vizinhança piscavam em cores vibrantes, contrastando cruelmente com o interior sombrio e sem vida de sua casa.

Suguru havia trocado os natais cercados de pessoas queridas por desculpas esfarrapadas e noites solitárias em frente à TV. Ele dizia a si mesmo que era melhor assim, que merecia essa solidão. As paredes da casa pareciam absorver seus pensamentos, refletindo de volta apenas silêncio e arrependimento. O único som que quebrava a monotonia era o barulho abafado de um filme qualquer na televisão, mas nem isso conseguia mascarar o peso esmagador da culpa que carregava.

De repente, o som do filme foi interrompido por uma propaganda natalina. Um coro infantil começou a cantar "Noite Feliz" com vozes doces, penetrantes, quase etéreas. Cada nota parecia cortar o ar como uma lâmina afiada. Suguru congelou, a esponja ainda em sua mão, enquanto seus olhos se fixavam na tela. A melodia arrancava memórias que ele tinha se esforçado tanto para enterrar.

Desligando a torneira abruptamente, ele ficou parado por alguns segundos, como se tentasse, com a força do pensamento, silenciar aquelas vozes. Mas quando isso não funcionou, ele caminhou até a TV e, sem hesitar, puxou o cabo da tomada. O som cessou de imediato, deixando um silêncio quase ensurdecedor em seu lugar.

Ele afundou no sofá com um suspiro pesado, as mãos cobrindo o rosto em um gesto carregado de frustração e cansaço. Mas havia algo mais profundo ali, algo que ele não admitiria nem para si mesmo: arrependimento. Não era apenas o Natal que o incomodava; era tudo o que ele havia perdido por suas escolhas.

O silêncio, agora ainda mais palpável, parecia amplificar as memórias que ele tanto temia. Ele tentou afastá-las, mas as lembranças vinham como ondas implacáveis. O som do riso, o brilho nos olhos dela, o calor de uma presença que ele nunca mais sentira desde que decidiu se afastar... Ele apertou as têmporas com os dedos, como se quisesse expulsar aquelas imagens de sua mente.

O Natal, com todas as suas luzes, músicas e sentimentos, era um lembrete cruel de sua falha mais profunda. Desde que tentou erradicar os humanos, acreditando que estava criando um mundo melhor apenas para os feiticeiros, tudo desmoronou. Seu plano não só fracassou como também custou sua humanidade. Mesmo depois que seus entes queridos garantiram que o perdoavam, ele não conseguiu se perdoar. Especialmente ela - a única pessoa que ele realmente quis proteger. Mas o que ele fez? Escolheu se afastar, acreditando que a distância seria um castigo merecido.

Levantou-se abruptamente do sofá, afastando os pensamentos como quem tenta varrer poeira para debaixo de um tapete. Dirigiu-se à pia, onde terminou de lavar os últimos pratos com movimentos metódicos. A água escorrendo e o tilintar da louça no escorredor eram os únicos sons preenchendo o ambiente vazio.

Ao perceber que o cesto de lixo estava cheio, ele pegou a sacolinha com cuidado, tentando evitar que o líquido acumulado escorresse. Amarrou as alças em um laço firme e caminhou até a garagem. O espaço, desorganizado e empoeirado, era um reflexo fiel de sua mente caótica. Ferramentas enferrujadas estavam espalhadas, caixas empilhadas aleatoriamente, e o cheiro de umidade pairava no ar, incômodo, mas suportável.

Ele pegou o controle do portão, pendurado em um gancho improvisado, e pressionou o botão. O som mecânico do portão se abrindo ecoou pela garagem, enquanto Suguru se aproximava, carregando o saco preto de lixo. Lá fora, a neve caía em flocos suaves, cobrindo tudo com uma camada branca e silenciosa. As luzes das casas vizinhas piscavam em uma dança de cores vibrantes, e risos infantis podiam ser ouvidos ao longe. Ele ergueu o olhar, e a visão das famílias felizes pelas janelas iluminadas o atingiu como um soco no estômago.

Parado no meio da entrada, segurando o saco de lixo como um fardo, ele sentiu uma onda de desgosto. Sua própria casa, escura e desprovida de qualquer decoração, parecia gritar sua solidão. Respirando fundo, ele caminhou até o local onde os sacos de lixo se acumulavam e os jogou ali, observando-os por alguns segundos como se esperasse que aquilo resolvesse algo.

Enquanto retornava, algo chamou sua atenção: uma pequena caixa repousava próxima à caixa de correio. Ele franziu o cenho e bufou, murmurando um "Tsc" de frustração. Pegou a caixa com indiferença e, ao ver que seu nome estava rabiscado no topo, não pôde evitar a sensação de incômodo. Sem remetente aparente, o objeto parecia tão enigmático quanto inconveniente.

De volta à sala, ele largou a caixa sobre a mesinha de centro, que já estava repleta de cartas não abertas. Muitas eram da família que ele havia bloqueado e afastado de sua vida, lembranças físicas de um passado que ele insistia em ignorar.

Ele se jogou no sofá, esticando as pernas sobre a mesinha. O som do noticiário preencheu o ambiente, mas ele não prestava atenção. Ficou olhando para o teto, mergulhado em pensamentos que o arrastavam ainda mais fundo na espiral de arrependimento. Enquanto as horas passavam e a noite de Natal se aproximava, Suguru não pôde deixar de pensar que o maior castigo que poderia ter era exatamente esse: estar sozinho, rodeado por lembranças que jamais o deixariam em paz.

Oito da noite.

Em quatro horas, seria Natal.

Suguru Geto fitava o vazio da sala com a TV ainda ligada, mas o som baixo mal fazia diferença. Tudo ao seu redor parecia pesado, como se a própria casa absorvesse sua melancolia e a refletisse de volta para ele. Natal. Ele odiava essa época do ano. Não pelos enfeites ou músicas, mas pelo que ela representava: família, calor humano, perdão... coisas que pareciam inalcançáveis agora.

Ele suspirou, desligando a TV com um clique seco do controle remoto. O silêncio que se seguiu era quase opressor, mas ele o preferia assim. Levantou-se e caminhou até a porta da frente para trancá-la, girando a chave com firmeza, como se isso pudesse manter do lado de fora não apenas intrusos, mas também as lembranças que teimavam em invadir sua mente.

Quando se virou, seus olhos recaíram sobre a caixa que estava sobre a mesinha de centro. Ela estava ali há horas, ignorada em meio à pilha de cartas e bilhetes que ele nem se dava ao trabalho de abrir. Mas agora... agora, algo dentro dele, uma pequena e incômoda fagulha de curiosidade, o fazia hesitar. O que poderia ser? Por que alguém a deixaria ali, sem remetente, sem aviso?

Suguru soltou um suspiro profundo, como se tentasse sufocar essa curiosidade crescente, mas seus pés já se moviam em direção à mesa. Ele pegou a caixa, sentindo o peso leve do objeto em suas mãos, e a analisou por alguns segundos antes de se dirigir à cozinha.

No armário, pegou uma tesoura. Com gestos firmes e precisos, começou a rasgar o papel marrom que envolvia a caixa. O som do papel se desfazendo preenchia a cozinha, quebrando o silêncio absoluto. Quando finalmente terminou, tudo o que restava era uma simples caixa de papelão. Sem marcações, sem nada que a tornasse especial.

Ele franziu o cenho, puxando a fita adesiva transparente que selava a caixa. Era uma tarefa desajeitada, e ele quase desistiu, mas finalmente conseguiu abri-la. Quando olhou para dentro, viu algo cair diretamente sobre seus pés.

Suguru abaixou-se e pegou o objeto: um pedaço de papel antigo, suas bordas amareladas e desgastadas pelo tempo. Ele o desdobrou com cuidado, os olhos estreitando enquanto lia as palavras e traços que estavam ali.

Era um mapa.

Os traços marcavam lugares da cidade que ele conhecia bem, conectados por linhas que levavam a um "X" bem no centro. Ao lado do "X", uma anotação escrita com letras quase ilegíveis dizia: "Seu presente de Natal está aqui."

Ele soltou uma risada seca e sarcástica, inclinando a cabeça para trás. Só havia duas possibilidades passando por sua mente naquele momento: ou alguém estava zombando de sua cara, tentando pregar-lhe uma peça, ou... aquilo era sério.

Mas, se era sério, quem poderia ter feito aquilo? Quem teria pensado nele, justamente nele, e escolhido preparar algo assim?

A curiosidade queimava mais forte agora. Ele passou os dedos pelo papel, sentindo sua textura áspera, e fitou o mapa por mais alguns segundos. Suguru odiava admitir, mas algo dentro dele queria acreditar que aquilo não era apenas uma brincadeira. Algo em seu interior - aquela parte de si que ele se esforçava tanto para ignorar - queria pensar que alguém ainda se importava.

Respirando fundo, ele dobrou o mapa e o colocou sobre a mesa. Não sabia se sairia naquela noite para seguir aquelas pistas, mas pela primeira vez em muito tempo, a monotonia parecia ter sido quebrada. E isso, por si só, já era suficiente para fazê-lo hesitar entre o cinismo e a esperança.

Entre ir atrás de um mapa que eu nem sei se é real, ou ficar em casa tentando dormir enquanto escuto baboseiras, qual é melhor? Suguru se perguntou, a voz da própria mente carregada de sarcasmo.

A resposta não demorou a vir, e ele sabia exatamente o que faria. Permanecer ali, naquele ciclo de pensamentos e vazio, era insuportável. Suspirando profundamente, ele foi até o quarto, movendo-se como um homem que carregava o peso de um mundo inteiro nos ombros.

No guarda-roupa, ele pegou um moletom preto, combinando com a camisa larga branca que já usava e uma calça preta. Era um conjunto simples, mas que escondia bem o estado deplorável em que se encontrava. Enquanto vestia o moletom, seus movimentos eram mecânicos, como se o ato de se preparar para sair fosse uma tarefa que exigisse toda a energia que lhe restava.

Antes de sair do quarto, ele parou em frente ao espelho. A luz fraca refletiu sua imagem, e Suguru sentiu um aperto gigante no coração. Era como olhar para um estranho.

Sob os olhos, olheiras profundas marcavam sua pele, os tons arroxeados quase tão escuros quanto as sombras que ele carregava dentro de si. Seus olhos, outrora vivos e determinados, agora pareciam poços infinitos de cansaço e arrependimento. Um abismo refletido de forma cruel em sua própria imagem.

Ele apertou as mãos em punho, sentindo as unhas pressionarem levemente contra a palma. Ficou ali, encarando o espelho por um tempo que parecia interminável, ponderando se realmente era uma boa ideia sair naquela noite. Sua mente travava uma batalha feroz entre a apatia e uma faísca de curiosidade que ele não conseguia apagar.

Era ridículo, ele pensava, sair de casa nesse estado. O rosto cansado, o corpo pesado, e a alma... mais ainda. Mas, ao mesmo tempo, ficar ali o devoraria vivo.

Suguru soltou o ar lentamente, tentando acalmar o turbilhão dentro de si. Não era sobre estar pronto, porque ele sabia que nunca estaria. Era sobre fazer algo, qualquer coisa, para quebrar o ciclo em que estava preso.

Desviou o olhar do espelho, como se o reflexo não valesse mais sua atenção, e deu um passo em direção à porta. Ele não sabia o que encontraria naquela noite, nem mesmo se o mapa era real ou se estava sendo vítima de uma piada de mau gosto. Mas naquele momento, simplesmente sair parecia a única escolha que fazia algum sentido.

Suguru afastou os pensamentos de autossabotagem com um suspiro pesado. Ele saiu do quarto, o som de seus passos ecoando pelo apartamento silencioso, enquanto pegava as chaves penduradas no chaveiro próximo à porta. Após girar a tranca, ele fechou a porta atrás de si, o clique do metal soando como um ponto final para seus pensamentos.

Caminhou até a garagem, onde seu carro esperava sob uma fina camada de pó branco. O ar gelado era quase cortante, e o vapor de sua respiração criava pequenos fantasmas que se dissipavam rapidamente no frio. Ele deslizou para dentro do veículo, ajustando o banco com um movimento automático, enquanto seus olhos se perdiam por um instante no reflexo do retrovisor.

Quando girou a chave na ignição, o motor ronronou baixinho, quebrando o silêncio glacial ao seu redor. Suguru esperou pacientemente enquanto o portão da garagem começava a se abrir, os mecanismos metálicos gemendo contra o peso da neve acumulada. Nesse momento, uma ideia indesejada cruzou sua mente, um pensamento tão incômodo quanto inevitável.

"Será que foi ela?"

A lembrança dela era um nó apertado em sua garganta, algo que ele não conseguia desfazer, por mais que tentasse. "Eu a machuquei... Mesmo tentando protegê-la", pensou, a culpa pesando em seu peito como uma âncora.

O portão finalmente se abriu por completo, revelando a estrada escura à frente, uma trilha quase engolida pelo manto branco que caía lentamente do céu. Ele respirou fundo, ajustando o volante sob as mãos que agora suavam frio, apesar do aquecedor ligado. Do lado de fora, a temperatura era implacável, e pequenos flocos de neve começavam a se acumular no capô do carro, formando um mosaico delicado.

Quando deu partida e começou a dirigir, a tela de seu celular acendeu brevemente ao lado, exibindo o horário: oito e quarenta. Suguru notou a hora como quem percebe uma marcação distante - importante, mas sem significado imediato.

Os faróis iluminaram a estrada deserta, a luz refletindo de forma quase mágica nas camadas de neve. As árvores ao longo do caminho estavam cobertas de branco, seus galhos curvados sob o peso do inverno. Ele dirigia em silêncio, o som dos pneus esmagando a neve sendo o único ruído constante, enquanto sua mente vagava por lembranças fragmentadas.

O rosto dela parecia surgir em cada sombra projetada pela luz do painel. Ele não conseguia afastar a imagem dos olhos que um dia o olharam com confiança e depois se apagaram em mágoa. Suguru apertou os lábios, tentando sufocar as emoções, mas o vazio no peito parecia impossível de ignorar.

O mundo lá fora estava silencioso, quase opressor, mas dentro do carro, a tempestade de pensamentos era ensurdecedora. Ele não sabia exatamente o que encontraria naquela noite, mas, de alguma forma, sentia que estava sendo levado a algo inevitável.

Um tempo depois, Suguru havia passado pelo último local antes de chegar ao ponto final, e sua ansiedade estava a mil. As mãos suavam, úmidas e frias, enquanto ele apertava o volante, tentando controlar os próprios pensamentos. Tudo isso, porque, no fundo, ele não conseguia parar de pensar nela. Ela estava em sua mente a cada segundo, e ele não sabia o que aconteceria se, por algum motivo, não fosse ela lá no final, aguardando-o. Se não fosse ela, a realidade o atingiria como uma bala atravessando seu peito, rápida e sem misericórdia.

Desde o momento em que arriscou tudo - as escolhas, as amizades, até mesmo sua própria humanidade -, perdeu tudo. Ele se afastou de todos, isolando-se, acreditando que a redenção viria com esse sacrifício, com o castigo autoimposto. Mas, no fundo, o que ele mais desejava, mais do que qualquer perdão, era estar ao lado dela, ter sua amada de volta. O desejo de estar com ela superava qualquer ideia de culpa ou de redenção que pudesse ter.

Ficar sozinho não era um dos piores castigos que ele poderia imaginar, ele sabia disso. Estar distante dela, sentir sua ausência como um buraco vazio e doloroso no peito, isso sim era o verdadeiro castigo. Ele se perguntava, enquanto as luzes da estrada se refletiam em sua visão embaçada pela neblina e a ansiedade, se ela ainda o esperava. Se, no final, ele realmente tivesse uma chance de reconstruir o que destruiu.

O silêncio do carro, quebrado apenas pelo som do motor, parecia mais pesado a cada metro percorrido. Suguru estava quase imerso em sua própria cabeça, em uma espiral de arrependimento e esperança. Cada respiração que ele tomava parecia pesar ainda mais, o coração batendo forte, como se estivesse prestes a explodir. Ele mal conseguia pensar em outra coisa que não fosse ela. A sensação de sua falta, o vazio que ele sentia quando pensava em todos os momentos que perderam juntos, era uma dor aguda e constante.

A estrada parecia não ter fim, cada curva levando-o mais perto de algo que ele não sabia definir. Mas uma coisa ele sabia com certeza: a pior coisa do mundo não era a solidão em si, mas a solidão sem ela.

Geto virou em uma rua sem saída. Ele consultou o mapa, observando as casas ao longo do caminho. As fachadas eram simples, com luzes tênues iluminando as varandas. Ao levantar o olhar, percebeu que seu destino era a casa no final da rua, bem no centro, destacando-se com um pequeno jardim à frente e uma luz amarelada na janela.

Ele estacionou o carro ao encontrar uma vaga próxima. Desligou o motor, mas permaneceu imóvel por alguns instantes, sentindo a tensão crescer em seu peito. Seus dedos tamborilavam nervosamente no volante enquanto ele tentava reunir coragem. Finalmente, com um suspiro pesado, ele saiu do carro e seguiu em direção à porta.

Chegando à entrada, suas mãos hesitaram antes de tocar a campainha. Ele ficou ali, olhando para a pequena placa com o número da casa, como se aquilo fosse um teste final. Por que hesitar? Já estava ali, não podia voltar atrás.

Com um último respiro profundo, ele apertou a campainha. O som ecoou no interior da casa, e ele esperou. E esperou. A ansiedade crescia a cada segundo, enquanto o silêncio parecia zombar de sua presença. Suguru olhou para os lados, tentando afastar a sensação de que talvez tivesse cometido um erro. Após alguns minutos, sem nenhuma resposta, a decepção tomou conta dele.

Com um movimento pesado, ele se virou para ir embora, murmurando para si mesmo:
"É claro que era só uma piada... Que idiota."

Ele deu alguns passos na direção do carro, o coração afundado em frustração, quando ouviu uma voz atrás de si:

- Suguru?

Aquela voz. Ela fez seu coração disparar em uma fração de segundo, como o de um adolescente apaixonado ao reencontrar o primeiro amor. Ele sentiu o corpo inteiro reagir, o nervosismo subindo em ondas enquanto se virava lentamente.

E lá estava ela.

Ela parecia ainda mais bonita do que na última vez que ele a vira. Seus cabelos escuros estavam um pouco mais longos, a franja caindo suavemente sobre a testa, presa atrás das orelhas. Agora, ela usava óculos, algo que ele nunca havia visto antes, mas que de alguma forma a tornava ainda mais encantadora. Ela vestia um suéter vermelho grande que quase escondia a saia curta por baixo, e suas pernas estavam cobertas por uma meia-calça escura que destacava sua elegância simples.

Lily...

Seu nome ecoou em sua mente, como uma prece silenciosa. Suguru sentiu o peso do nervosismo em cada músculo enquanto tentava controlar as batidas aceleradas de seu coração. Ele inspirou profundamente, percebendo a fumaça branca escapando de seus lábios devido ao frio da noite.

- O que está fazendo aqui? - A voz dela era suave, mas carregada de surpresa e uma pitada de emoção.

Suguru tentou responder, mas as palavras pareciam se perder em sua garganta. Ele simplesmente assentiu, seus olhos fixos nela. Era como se o tempo tivesse parado, como se aquele instante fosse tudo o que importava. Cada detalhe dela - o brilho nos olhos, o rubor sutil nas bochechas - gravava-se em sua memória.

- Desculpe. Entre. - Ela sorriu nervosa, um toque de timidez permeando suas palavras enquanto abria espaço para ele passar.

Ele entrou, tirando os sapatos para não sujar o chão impecável. Olhou ao redor, absorvendo o ambiente aconchegante. O cheiro de chá fresco misturado com biscoitos recém-assados pairava no ar.

- Eu recebi uma caixa mais cedo que me trouxe até aqui. Eu... eu não sabia que você morava aqui. Me desculpe se isso parecer invasivo. - Ele tentou explicar, suas palavras saindo rápidas, como se estivesse com medo de ser mal interpretado.

- Uma caixa? - Lily perguntou, franzindo a testa levemente. - Tinha um mapa dentro?

Suguru assentiu e retirou do bolso o pequeno mapa, mostrando para ela. Lily se aproximou, seus dedos tocando o papel por um momento antes de se virar para uma mesinha próxima. Ela pegou um papel semelhante, levantando-o para que Suguru visse.

- É exatamente igual - Disse ele, os olhos se estreitando ao observar o mapa nas mãos dela.

- Sim. Só que eu cheguei primeiro. - Lily deu um sorriso irônico, indicando a mesa onde uma bandeja com chá e biscoitos já estava arrumada.

Ele percebeu que ela estava ali há algum tempo. Era estranho, quase como se tivessem sido atraídos para aquele lugar por um plano maior.

- Então você não mora aqui? - Suguru perguntou, arqueando as sobrancelhas.

- Não. - Ela balançou a cabeça. - E você tem alguma ideia de quem pode ter feito isso?

Suguru ficou pensativo por um momento. Ele se sentou ao lado dela no sofá, a proximidade trazendo uma tensão leve ao ar. Enquanto ele processava a situação, só um nome vinha à sua mente.

Antes que ele pudesse falar, o celular de Lily, que estava sobre a mesinha, começou a vibrar. Ela pegou o aparelho e atendeu, confusa.

- Satoru? O que foi?

Suguru estreitou os olhos ao ouvir o nome familiar de seu velho amigo sendo pronunciado. Ele inclinou levemente a cabeça, curioso.

- Ah, claro! Eu deveria saber que isso era obra sua! Seu safado, você me paga! - A irritação na voz de Lily era clara, mas havia também uma leve risada escondida ali.

Ela desligou a chamada abruptamente, largando o celular sobre a mesinha novamente. Quando se virou para Suguru, percebeu que ele estava a observando. Ele desviou o olhar rapidamente, tentando disfarçar o leve rubor que começava a subir por suas bochechas.

- O que foi? - Perguntou ela, com um pequeno sorriso no canto dos lábios.

- Nada. - Ele balançou a cabeça, tentando recuperar a compostura.

Mas Lily não acreditava nele, e o jeito como ele mexia nervosamente as mãos denunciava sua tentativa falha de disfarçar. Ela sorriu suavemente, inclinando-se um pouco mais para perto dele.

- Então... Parece que Satoru resolveu brincar de cupido. - Ela brincou, com um brilho divertido nos olhos.

Suguru riu sem jeito, o som grave de sua voz ecoando suavemente pelo ambiente.

— Ele não muda nunca. — Respondeu Suguru com um sorriso leve, mas a tristeza que se escondia em seus olhos denunciava a profundidade daquilo que não podia ser dito. Por dentro, ele não conseguia se incomodar com a "brincadeira" de Satoru. Afinal, estava ali, ao lado dela, e isso fazia tudo valer a pena. Mas…

— Mas o quê? — Lily murmurou, sua voz suave, mas carregada de uma expectativa palpável, como se ela já soubesse o que viria a seguir, mesmo sem ouvir. Seu olhar era intenso, fixo em Suguru, como se tentasse desvendar os pensamentos mais profundos dele.

— Eu queria te pedir desculpas. Por tudo, Lily. — A voz de Suguru saiu baixa, quase um sussurro, como se estivesse carregando o peso do mundo em cada palavra. Seu peito estava apertado, cada sílaba soando como uma pedra pesada sendo empurrada para fora.

Lily inclinou levemente a cabeça, o movimento sutil, mas suficiente para que a melancolia que exalava dela fosse mais do que visível. Ela cruzou os braços, uma proteção contra algo que estava prestes a feri-la. Era como se estivesse se preparando para um impacto doloroso, algo que sabia que viria, mas que ainda não estava pronta para enfrentar.

— Desculpas pelo quê, exatamente? — Perguntou, tentando manter a calma, mas seu olhar, fixo e penetrante, denunciava a mistura de dor e curiosidade que se travava em seu peito. Ela queria saber, mas ao mesmo tempo temia a resposta.

— Você sabe… Pela burrada que eu fiz. — Ele desviou os olhos, como se a vergonha fosse algo físico, e ela o afetasse. A culpa estava estampada em sua expressão, mais pesada do que qualquer palavra poderia carregar.

— Qual delas? — Ela rebateu, a voz ganhando um tom mais grave, mas ainda assim vulnerável. As palavras saíam de seus lábios como lâminas afiadas, mas seu coração estava desmoronando, fragmentado por tudo que estava sendo dito. — Ter se afastado de todos? Ou ter se afastado de todos e de mim, mesmo sabendo que eu te amava?

As palavras de Lily atingiram Suguru como uma lâmina afiada, cortando mais fundo do que ele imaginava ser possível. Seu coração disparou e, ao mesmo tempo, apertou-se em um nó sufocante. Era como se o tempo tivesse desacelerado, e a dor da revelação de Lily preenchesse o silêncio entre eles. Ele piscou, tentando processar o que acabara de ouvir, e, por um momento, foi como se o chão fosse arrancado debaixo de seus pés. Nunca, nem nos devaneios mais desesperados de sua mente, havia imaginado que Lily o amava. Não ele. Não depois de tudo o que havia feito.

Seu olhar encontrou o dela, cheio de emoções conflitantes, como se ele estivesse olhando para o reflexo de sua própria alma. Lily estava firme, mas havia uma vulnerabilidade em seus olhos, uma fragilidade que ela nunca demonstrara antes. Era como se, ao falar aquelas palavras, ela tivesse exposto uma parte de si mesma que havia sido mantida guardada no silêncio, esperando que ele se importasse o suficiente para perceber.

Suguru passou uma mão trêmula pelos cabelos, o movimento ansioso e nervoso. Ele respirou fundo, tentando afastar a sensação de que tudo estava escapando por entre seus dedos, como areia.

— Eu… — Ele começou, a voz rouca de emoção, suas palavras como uma dança errante entre o arrependimento e a dor. — Nunca soube disso. Nunca imaginei…

Ele desviou o olhar, como se tentasse escapar do peso da verdade que ele não estava preparado para lidar. Sua mente viajou para o passado, para os dias em que eram apenas adolescentes, dois jovens exorcistas lutando contra maldições lado a lado, com seus companheiros: Nanami, Satoru, Shoko, Haibara. Ele se lembrou do sorriso dela, da maneira como ela o fazia rir, mesmo nos momentos mais tensos, quando a vida parecia estar à beira do abismo. Aquela leveza que ela trazia para a vida dele.

E então, as lembranças mais sombrias começaram a invadir sua mente. Quando ele, consumido por ideias distorcidas e por um medo irracional de machucá-la, se afastou de tudo e de todos. Ele acreditava estar fazendo o certo, acreditava que estava a protegendo ao mantê-la distante. Ao observá-la das sombras. Mas agora, olhando para ela, ele sabia. Sabia que aquilo havia sido a maior estupidez de sua vida, uma vergonha que ele não sabia como se livrar.

— Eu… sempre quis te proteger. — Ele finalmente murmurou, sua voz carregada de arrependimento, com uma tristeza tão profunda que parecia pesar mais do que ele poderia suportar. — Mas eu estava tão cego… tão consumido pelo que eu acreditava ser certo, que acabei te machucando.

Lily o observou em silêncio, seus olhos avaliando cada palavra, cada movimento que ele fazia. Havia tanto para ser dito, tanto que eles haviam guardado por tanto tempo, por tanto medo, que parecia impossível que as palavras fossem suficientes para expressar tudo. Ela se aproximou um pouco, sentindo um peso ainda maior tomar conta de seu próprio coração.

— Suguru… — Ela disse, suavemente, sua expressão suavizando um pouco. Mas havia uma dor ali, uma dor silenciosa que ela estava tentando controlar. — Você sempre foi tão teimoso.

Ele riu baixinho, mas era uma risada sem humor, apenas uma tentativa frustrada de aliviar a tensão. Era um sorriso melancólico, cheio de um alívio amargo. Pelo menos ela ainda estava ali, ouvindo-o. Isso significava algo, não significava?

— Eu sei. — Ele respondeu, as palavras saindo como um suspiro. — Mas… mesmo assim… eu nunca deixei de te amar. — As palavras escaparam antes que ele pudesse detê-las, cruas e honestas. Não eram palavras bem planejadas. Eram a verdade, nua e crua, que ele não conseguia mais esconder.

Lily piscou, surpresa, e por um momento, o silêncio entre eles foi ensurdecedor. Suguru prendeu a respiração, esperando por qualquer reação dela. Seus olhos estavam fixos nos de Lily, como se estivessem esperando por uma resposta que ele temia mais do que qualquer outra coisa. Mas decidiu que era hora de colocar tudo para fora, mesmo que isso significasse arriscar a última chance que ele tinha de ser feliz.

— Apesar de todos vocês, especialmente você, meu amor, terem me dito que me perdoavam… — Suguru começou, sua voz baixa e entrecortada pela emoção, enquanto seus olhos permaneciam fixos nos de Lily. — Eu sempre pensei que nunca seria digno o suficiente do seu amor. Nunca pensei que poderia ficar ao seu lado de novo. — Ele respirou fundo, suas mãos inquietas apertando os próprios joelhos. — Foi por isso que me tranquei naquela casa pequena, longe de tudo e de todos. Achei que merecia ser consumido pela solidão, que aquilo era o pior castigo pelo que fiz.

Lily inclinou levemente a cabeça, seus olhos marejados observando cada detalhe do rosto de Suguru. Havia uma dor profunda ali, uma confissão que ele parecia carregar há muito tempo, e ela sentiu essa dor ecoando dentro de si mesma. Era como se ela estivesse compartilhando aquela dor com ele, como se estivesse sentindo tudo o que ele havia guardado por tanto tempo.

— Mas, com o tempo… — Ele continuou, sua voz ganhando um tom mais grave, quase um sussurro. — Percebi que o pior castigo não era estar sozinho. Era estar longe de você.

As palavras de Suguru caíram no ar como uma chuva pesada, pesadas e carregadas de um sentimento tão intenso que parecia preencher todo o ambiente. Ele baixou a cabeça, seus ombros caídos como se todo o peso do mundo estivesse sobre ele, como se ele tivesse perdido as forças ao admitir aquilo.

Lily se aproximou lentamente, o coração batendo acelerado em seu peito. Sua mão hesitou por um momento, o medo de se entregar completamente tomando conta dela. Mas então, ela a colocou sobre a de Suguru, apertando-a com firmeza, como se isso fosse a única coisa que pudesse manter ambos no mesmo mundo.

—— Você acha que não merece meu amor, Suguru? — Lily repetiu, sua voz mais baixa, mas ainda firme. Havia algo no olhar dela, uma tristeza resignada, como se ela soubesse a resposta, mas precisasse ouvir mesmo assim. — E você acha que eu não tenho escolha? Que eu não tive escolha quando meu coração te escolheu... todas as vezes?

A pergunta dela era um golpe certeiro, rasgando os véus de dúvida e culpa que ele havia tecido em torno de si. Ele desviou o olhar, incapaz de sustentar a intensidade do olhar dela.

— Não sei se eu acredito nisso, Lily. — Ele murmurou, as palavras pesadas como pedras. — Não sei se mereço acreditar.

Lily se inclinou um pouco mais, sua mão subindo para tocar o rosto dele. Seus dedos eram quentes, delicados, e Suguru fechou os olhos ao sentir o toque.

— Você errou. — Ela admitiu, sua voz embargada, mas sem hesitação. — Machucou pessoas, se machucou... me machucou. Mas quem não erra, Suguru? Quem não sangra pelas próprias escolhas?

Ele abriu os olhos, encontrando os dela, que agora estavam marejados.

— Eu não sou como você, Lily. — Ele respondeu, sua voz quebrando no final. — Você é luz. Sempre foi. E eu... eu me perdi na escuridão. Perdi tudo.

Lily balançou a cabeça, apertando os dedos contra a pele dele.

— Você não perdeu tudo, Suguru. Eu nunca deixei você ir, mesmo quando você tentou me afastar. — Sua voz vacilou, mas ela continuou: — Você pode não enxergar, mas você ainda tem amor dentro de si. E isso é tudo que importa para mim.

Ele sentiu o nó na garganta apertar ainda mais, e antes que pudesse se conter, uma lágrima solitária desceu por seu rosto.

— Eu sinto tanto... — Ele murmurou, a voz rouca, como se cada palavra fosse um esforço hercúleo. — Por tudo. Pelo que fiz, pelo que não fiz. Por ter te deixado...

Lily o interrompeu antes que ele pudesse continuar. Ela se aproximou ainda mais, seus lábios roçando a bochecha dele ao sussurrar:

— E eu sinto tanto por você nunca ter entendido que eu te amava o suficiente para suportar tudo isso.

Sem dizer mais nada, Lily inclinou o rosto e o beijou. Foi um beijo suave no início, quase hesitante, mas rapidamente se tornou mais intenso, mais carregado de tudo o que eles haviam guardado. Suguru a segurou com força, como se temesse que ela desaparecesse a qualquer momento.

O beijo não foi apenas uma declaração. Foi um pedido de perdão, uma promessa silenciosa, uma ponte entre tudo o que eles haviam perdido e o que ainda podiam construir.

- Lily... - Ele murmurou, sua voz falhando, enquanto sua mão livre tocava o rosto dela com delicadeza, como se ela fosse algo precioso.

Ela sorriu, um sorriso pequeno, mas cheio de sinceridade.

- Você merece ser feliz... Você não precisa se esconder mais, Suguru. Não de mim.

Sem pensar, ele a puxou para mais perto, envolvendo-a em um abraço apertado. Lily correspondeu, sentindo o calor do corpo dele e o som abafado de sua respiração acelerada em seu ombro.

- Eu nunca vou merecer você. - Ele sussurrou contra seus cabelos. - Mas, se você me deixar ficar ao seu lado... eu prometo que nunca mais vou deixar você ir.

Lily não respondeu com palavras. Em vez disso, ela inclinou o rosto e o beijou, um beijo suave, mas cheio de amor, um beijo que dizia tudo o que palavras jamais poderiam expressar. Suguru retribuiu, deixando que todo o peso de sua culpa e solidão fosse lavado pela sensação de tê-la em seus braços.

Lily aprofundou o beijo, suas mãos delicadas deslizando pelo rosto de Suguru, como se quisesse memorizar cada contorno, cada detalhe. Ele a puxou ainda mais para perto, seus dedos trêmulos acariciando a base de sua nuca. Por um instante, o mundo ao redor deixou de existir, e tudo o que importava era o calor que compartilhavam.

Suguru desceu uma das mãos para a cintura dela, segurando-a com firmeza, como se temesse que ela pudesse desaparecer. Lily inclinou a cabeça, seus lábios explorando os dele com mais intensidade, enquanto suas mãos deslizavam até os ombros largos do homem à sua frente.

- Eu esperei tanto por isso... - Ela murmurou entre um beijo e outro, sua voz carregada de emoção.

Ele respondeu apenas com um toque mais suave, suas carícias descendo para os braços dela, enquanto a puxava ainda mais perto. A energia entre os dois era elétrica, carregada de anos de sentimentos reprimidos finalmente vindo à tona.

Horas depois, a neve caía suavemente do lado de fora, cobrindo o chão com um manto branco. Suguru e Lily estavam de pé em frente a uma casa iluminada com luzes natalinas. O calor emanava das janelas, onde se podia ver uma árvore de Natal repleta de enfeites coloridos.

— Tem certeza de que é uma boa ideia? — Ele perguntou, olhando para a porta. Sua voz ainda carregava um traço de hesitação, mas havia algo diferente nele agora. Algo mais leve.

— Não acho que Satoru nos daria escolha. — Lily respondeu, sorrindo levemente.

Antes que pudessem bater à porta, ela foi aberta com um estalo, revelando Satoru, com seu sorriso característico e um cachecol ridiculamente chamativo.

- Finalmente! Achei que iam ficar naquela casinha a noite toda! Sabe? Matando a saudade.- Ele exclamou, abrindo os braços para recebê-los.

- Satoru... sempre tão sutil. - Lily riu, entrando na casa enquanto Suguru lhe dava um olhar de leve reprovação.

- E você, velhão? Decidiu deixar o isolamento para aproveitar o espírito natalino? - Satoru brincou, dando um tapa amigável no ombro de Suguru, que revirou os olhos, mas acabou soltando uma risada baixa.

- Acho que não tive escolha. - Suguru respondeu, olhando para Lily, que já estava ajudando Shoko a organizar os pratos na mesa.

Satoru lançou um olhar de cumplicidade para o amigo, antes de murmurar:

- Sobre o tempo, hein? Mas fico feliz por você.

A casa estava cheia de risadas e conversas animadas. Quando o relógio marcou meia-noite, todos se reuniram em torno da mesa para fazer um brinde. Satoru, é claro, fez um discurso cheio de piadas, mas também de gratidão por terem superado tantos desafios e estarem juntos naquele momento.

Suguru observava tudo em silêncio, seu olhar pousando em Lily, que ria ao lado de Shoko e Nanami. Ele sentiu algo que há muito tempo acreditava estar fora de alcance: paz.

Enquanto os outros brindavam e trocavam histórias, ele se afastou por um momento, indo até a janela. A neve continuava a cair do lado de fora, e o reflexo das luzes da árvore de Natal parecia dançar sobre o vidro.

Lily se aproximou em silêncio, envolvendo os braços ao redor dele.

- Está tudo bem? - ela perguntou suavemente.

Suguru olhou para ela, seus olhos cheios de emoções conflitantes.

- Eu não sei se algum dia vou me perdoar completamente, Lily. - Ele começou, sua voz baixa. - Mas... talvez você esteja certa. Talvez eu mereça tentar ser feliz.

Ela sorriu, seus olhos brilhando com ternura.

- Você merece, Suguru. E eu estarei aqui para te lembrar disso, sempre.

Eles ficaram ali por mais alguns segundos, observando a neve cair, enquanto o som das risadas de seus amigos ecoava pela casa. Pela primeira vez em muito tempo, Suguru sentiu que estava exatamente onde deveria estar.

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