❁ೋㅤ, 𝟎𝟑. ━━ garotinho da mamãe.
𖡋 ̽ ᮫ ꪶ capítulo três. ܓ ❃ ᜴
𓂃 eu aposto que você
pensa que eu te odeio, mas
a verdade é que eu queria
poder correr para você. 𓂅
O frio trêmulo tomava conta do lugar mesmo em seus dias mais quentes, embora ainda fosse dia e todas as janelas estivessem devidamente abertas, o lugar sempre pareceria obscuro e solitário como qualquer sala de hospital poderia parecer. A garota abraçou o próprio corpo com a mão esquerda mantendo a outra sobre o braço do garoto, observando como a pele pálida que sempre parecia impecável, agora muitos cortes cobriam o rosto, ainda que nem mesmo com mil cicatrizes ele poderia parecer menos que uma obra admirável para ela.
━ Você não deveria estar aqui, Ebony. Ele não iria querer você aqui. ━ Nate finalmente voltou a falar, depois de quase quatro horas em silêncio na enfermaria.
━ Você não sabe o que ele iria querer. ━ Sirius defendeu, era possível segurar entre os dedos o ar pesado entre os garotos, aqueles que acreditavam ser bons o suficiente para Regulus, como o irmão que falhou e o melhor amigo que cuidou.
━ Sei mais do que você. ━ Nate respondeu na defensiva enquanto olhava para o mais velho dos irmãos Black, a cabeça baixa mais os olhos afiados como adagas, sempre usadas contra o grifino.
━ Não se esqueça que estamos falando do meu irmão. ━ Sirius enfatizou a palavra "meu" ao se virar totalmente para o garoto que parecia disposto a começar uma briga.
━ Não é como se isso significasse muito. ━ Nate disse com uma risada cheia de sarcasmo, fazendo Faith arregalar os olhos ao entender o que o garoto tinha a intenção de dizer.
A Ebony respirou fundo e voltou sua atenção para o que realmente importava ali, tocando a mão de Regulus já imaginando que a situação não ficaria boa dali pra frente. Nos anos em que o observou de longe mesmo que sem a intenção de fazer, Faith sabia que ele não era um grande fã de conflitos. Sempre o viu saindo entre a multidão quando um de seus amigos começavam uma discussão, e era sempre o primeiro relator a chamar um professor ao ver uma briga no corredor.
━ O que está querendo dizer? ━ Continuou Sirius, já sabendo a resposta para a própria pergunta ele fechou os punhos, era algo que estava na mente dele também, quando deitava sua cabeça no travesseiro e não conseguia evitar o pensamento, ouvir Nate Kearney dizer em voz alta atingia os nervos dele. Faith olhou de volta para os garotos, pensando no que poderia fazer para impedir que os garotos começassem uma briga no meio da enfermaria. Seus pensamentos foram felizmente interrompidos quando a única coisa que conseguiu perceber foi Regulus correspondendo ao seu toque gentil.
━ Regulus? ━ A loira perguntou baixinho, preocupada se a cabeça dele estivesse dolorida como a dela geralmente ficava quando a Ebony se machucava. Ainda assim, chamou atenção dos dois garotos que pararam a discussão e olharam na direção do dois.
Regulus abriu os olhos prateados com muita calma, as orbes brilhantes se moviam freneticamente até que seu cérebro terminasse de analisar o lugar, o lembrando dos últimos eventos e que aquele lugar era conhecido, embora ele nunca tivesse ido parar na enfermaria como um paciente, até ela acontecer. Pensando bem, era surpreendente que tivessem se passado seis anos desde que o garoto passou pelos portões de Hogwarts e só agora acabaria tendo de ficar em uma daquelas camas frias.
Os olhos dele caíram até a garota que segurava sua mão com muito cuidado entre as dela, Faith tinha seus cabelos presos em um rabo de cavalo baixo, como sempre, não importava o quanto ela tentasse pentear ainda haviam alguns fios soltos que caem sobre sua face corada marcando as maçãs do rosto, ele analisou os olhos azuis da garota e se perdeu em sua imensidão como se conseguisse encontrar a paz somente ao vê-los. Alguém entre os dois garotos ao fundo disse alguma coisa mas não importava, nada importava para ele agora. Os Ignorou com facilidade ao se focar apenas na lufana que olhava para ele com os grandes olhos preocupados, mas ainda havia um sorriso ao vê-lo sorrir levemente, seus nervos ainda fracos, era possível ver os dentes brancos e alinhados, aquele era o sorriso mais lindo que ele veria, não importava se ainda viveria muitos anos e veria outros milhões de sorrisos por seus olhos, nada nunca iria chegar perto de se comparar a isso, ninguém sorria como Faith Ebony fazia.
━ Essa escola está cada vez pior! ━ A voz de Walburga foi ouvida de longe, assustando os filhos, fazendo o garoto perder completamente a paz que tinha acabado de encontrar. ━ Onde já se viu? Meu filho foi atingido por uma bola de ferro e nenhum professor é capaz de fazer nada sobre isso!
━ Se esconda! ━ Sirius mandou, puxando a garota para longe de Regulus e a levando para a sala onde a Madame Pomfrey guardava as poções, mais rápido ao pensamento de fuga, ele sabia que seria impossível Faith sair pela porta sem esbarrar em Walburga.
━ O que há de errado? Por que tenho que me esconder? ━ A Ebony perguntou assim que entrou na pequena sala e notou que o garoto iria deixá-la ali sozinha.
━ Acredite em mim, você não vai querer conhecê-la. E muito menos quando ela descobrir que Regulus se machucou tentando defendê-la. ━ Sirius falou rapidamente fechando a porta de mal jeito e deixando para trás uma lufana boquiaberta.
A forma como Sirius confirmou com tanta confiança que era ela quem Regulus Black estava tentando salvar a fez ficar em silêncio, pensativa e confusa sobre o garoto, como se o episódio da biblioteca não houvesse sido o suficiente, agora ela teria mais o que pensar, acabaria ficando louca. Balançando a cabeça a garota se aproximou, espionando pela pequena fresta da porta e vendo a mulher vestida em tecidos escuros e da alta costura, o cabelo preso em um coque alto, parecia usar todas as suas jóias caras de uma só vez. Haviam algumas rugas de preocupação nos cantos de seus olhos azuis acinzentados e as marcas de um semblante sério e rígido eram visíveis mesmo de longe. A jovem Ebony se encolheu inconscientemente ao admirar a forma como a mulher andava como se estivesse flutuando em seus saltos pesados. Ela parecia ter acabado de sair de um dos grandes desfiles Italianos para os quais os pais de Faith a levaram quando criança.
━ Regulus Black! Como é que isso aconteceu? ━ A Sra. Black arrumou as vestes sujas do garoto e analisou os arranhões que ele tinha no rosto. ━ Você está horrível!
━ Eu estou bem mamãe. Não se preocupe. ━ Regulus respondeu desanimado, Faith percebeu como todos pareciam tensos com a presença da mais velha. ━ A senhora não precisava ter vindo.
Walburga passou a falar, analisando a conversa que acontecia não tão longe dela, a garota percebeu o timbre rude que acompanhava a mulher em todas as suas frases. Estava claro para qualquer um que prestasse atenção, Regulus não sabia o que fazer e Nate tentava desesperadamente chamar atenção para si mesmo, parecendo notar que estava falhando quando a bruxa continuava em suas longas reclamações da escola. Faith adorava o castelo, adorava os professores e os fantasmas, e gostava muito dos elfos, tudo ali parecia confortável para Faith e por essa razão ela queria ir até lá e defender Hogwarts, entretanto, achava que apenas um olhar torto daquela mulher seria o suficiente para que ela chorasse por três dias escondida de todo mundo.
━ Alguém vai me dizer como foi que isso aconteceu? ━ Walburga finalmente perguntou o que estava deixando os garotos aflitos desde sua chegada.
Regulus voltou seus olhos para Nate como se pedisse ajuda embora estivesse visível que outro não tinha ideia de como livrar o melhor amigo daquela situação. Faith conseguia ler suas expressões, eles não sabiam como contar para a orgulhosa bruxa supremacista que seu filho tinha defendido uma nascida trouxa da lufa lufa. Sirius não parecia preocupado com a explicação enquanto olhava para onde a garota estava, como em um pedido silencioso para que ela continuasse escondida, não era como se ela realmente tivesse coragem de sair dali justo agora.
━ Creio que tenha sido minha culpa. ━ Wendy surgiu na entrada, seus cabelos sobre os ombros enquanto ela sorria tão amigavelmente ao entrar com muita calma na enfermaria.
━ Ah, minha querida Wendy. Como você cresceu! ━ Walburga sorriu pela primeira vez desde que tinha chegado ali, Wendy abraçou a mulher de uma forma não tão carinhosa e depois se virou para Regulus que sorriu para ela como agradecimento.
━ É bom vê-la, Sra. Black, mesmo que seja em uma situação como esta. ━ A forma como Wendy estava falando tão comportada e controlada, fazia Faith sentir uma vontade enorme de rir.
━ Desculpe, minha querida, mas você poderia me explicar o que aconteceu? Esses dois estão enrolando desde o início. ━ A mulher olhou impaciente para Regulus e Nate que abaixaram a cabeça rapidamente.
Notando a indiferença de Walburga Black para com seu filho primogênito Sirius Black, a lufana sentiu uma enorme vontade de correr até ele e livrá-lo daquela situação terrível com sua própria mãe. Sirius porém, não parecia se importar nem um pouco com a situação, ele continuava com a mesma expressão entediada cada vez que ela falava e mantinha sua atenção no irmão mais novo, que não retribuía seus olhares e o evitava encarando apenas os sapatos trouxas que Sirius usava.
━ Acontece que hoje aconteceu um pequeno jogo não oficial e Bartolomeu tentou me acertar com um balaço. ━ A expressão dela mudou enquanto ela falava e Faith poderia facilmente cair na atuação da melhor amiga, se não a conhecesse tão bem. ━ Sorte minha que Regulus estava lá para me defender.
━ Sim, realmente muita sorte. ━ Afirmou a mais velha e mesmo de onde estava, Faith conseguiu ver o sorriso maldoso da mulher. ━ Se já estão se dando tão bem agora, imagino como será quando se casarem.
Faith assustou-se com a frase, com o coração acelerado a garota levantou-se muito bruscamente, sem notar a prateleira sobre sua cabeça, sentiu uma pequena dor ao bater o couro cabeludo contra a madeira derrubando diversos frascos vazios de vidro e causando um estardalhaço que chamou atenção de todos do lado de fora.
━ O que foi isso? ━ A Sra. Black perguntou ao se virar caminhando em direção ao barulho sem hesitar.
Sirius arregalou os olhos em preocupação, Nate passou a correr para atrasar a mulher enquanto Wendy encarava a cena com confusão até notar que Regulus parecia apto a se levantar e correr também. Não havia muito que pudesse preocupar Regulus assim, muito menos preocupar Regulus, Nate e Sirius ao mesmo tempo, Wendy juntou as peças rapidamente e passou a caminhar com os outros dois garotos, todos em pânico.
━ Deve ser uma ajudante da Madame Pomfrey que não sabe direito o que está fazendo, nada com que devamos nos preocupar. ━ Wendy tentou fazer a mulher parar. ━ Venha, nós podemos dar uma volta pela escola!
Walburga não parou, não importava o que eles tentassem dizer, era notório a preocupação deles e isso só a deixava mais desconfiada para o que quer que estivesse acontecendo atrás da pequena porta. Faith lá dentro conseguia ouvir os passos pesados que estavam se aproximavam cada vez mais da porta, olhando em volta ela notou que não havia lugar para se esconder, eram apenas muitas prateleiras e um único grande armário no fundo da salinha, ouvindo o trinco mexer ela não pensou em outra solução senão correr se esconder dentro do grande objeto de madeira, puxou sua varinha e sussurrou: ━ Alohomora.
Do lado de fora, Sirius correu e segurou a maçaneta com força, fingindo tentar abri-la e não estava tendo sucesso ao fazê-lo. ━ Eu acho que está trancado, é realmente uma pena.
━ Saía da frente, imprestável, você só está me atrapalhando como sempre! ━ Walburga empurrou o garoto para o lado e finalmente abriu a porta.
Os olhos frios analisaram a sala, não encontrando a causa dos barulhos, apenas uma quantia exagerada de frascos empilhados e vidro quebrado, ela deu um passo para mais perto e dentro do armário Faith Ebony cobriu os lábios com as mãos tentando não fazer nenhum barulho ao respirar. Foi quando o professor Dumbledore entrou na enfermaria, forçando Walburga a deixar a salinha para trás, antes da porta ser fechada a garota conseguiu ler os lábios de Sirius quando ele sussurrou: "Uau, essa foi muito boa."
Faith estava pronta para sair daquele esconderijo antes que Pomfrey a encontrasse escondida depois de destruir uma prateleira inteira de seus preciosos frascos, porém, antes que ela fizesse qualquer movimento algo chamou sua atenção, existia uma pequena alavanca dourada que chamava atenção entre a escuridão do amadeirado, ela se perguntou como não tinha visto aquilo antes, culpou seu nervosismo por isso. Faith lembrava bem de sua mãe repetindo o ditado "a curiosidade matou o gato", sempre que ela se machucava graças a sua curiosidade, a garota deveria ter ouvido, então talvez, só talvez, não acabaria naquela situação.
Faith Ebony, como em todas as outras milhares de vezes, deixou sua curiosidade vencer ao levar a mão até a alavanca e a puxar com cuidado, nada aconteceu dando a garota a sensação de alívio, permitindo que pequeno sorriso brotasse em seus lábios ao notar que não tinha se metido em ainda mais problemas. Tão rápido quanto o divertido sorriso enfeitou seus lábios, ele desapareceu no momento em que o fundo inferior do armário desapareceu a fazendo desabar entre teias de aranha e paredes de pedras. O grito foi ouvido até mesmo pelos alunos que estavam passando pelo corredor da enfermaria. Regulus, que até agora achou que tudo estava bem, assustou-se e tentou levantar para alcançar a garota, como em um movimento natural, infelizmente não conseguiu, já que ao se levantar acabou sendo atingido por uma dor terrível no estômago, que o forçou a se deitar novamente.
Faith tentou parar de gritar durante sua queda livre, mas o medo era demais para ela que pela segunda vez naquele dia, se preparou para a dor que sentiria assim que atingisse o chão. Foi, porém, surpreendida ao aterrissar sobre uma grande almofada fofa em um tom laranja escuro. Coçou os olhos se livrando dos ciscos antes de olhar em volta assustada com o lugar escuro e apertado, tocou as paredes um tanto desespera com a ideia de acabar presa ali onde ninguém conseguiria achá-la.
Acalmou-se ao conseguir abrir um tipo de passagem muito pequena, e se espremer para sair dali, sem nenhum tipo de cuidado ela caiu de cabeça para baixo no chão frio, olhando em volta demorou alguns segundos para perceber que tinha acabado na sala de poções antiga e empoeirada.
━ Srta. Ebony? ━ O homem não tão alto e de aparência jovial, que geralmente era deliciado em muitos assuntos exceto aqueles que se referiam a uma lufana despencando em sua sala, lançou-lhe um olhar questionador. ━ O que está fazendo aí?
━ Desculpe, Professor Slughorn. ━ A garota se levantou com a ajuda do mais velho e observou o que parecia ser uma pequena chaminé ao mesmo tempo parecia apenas um buraco na parede. ━ Mas aonde exatamente é aqui?
━ A sala de poções, minha criança. ━ Slughorn parecia realmente confuso agora, assim como seus alunos que estavam em seu clube depois da aula. ━ Se me lembro bem a senhorita esteve aqui hoje de manhã.
━ Sim, sim! ━ A garota balançou a cabeça ao notar que novamente tinha se confundido com as palavras. ━ Mas o que exatamente é isso?
━ Isso é apenas um elevador de poções, como gostamos de chamar. ━ Ele explicou se aproximando com um sorriso satisfeito pela pergunta, a invenção parecia ser um de seus feitos. ━ Uso um feitiço para que elas cheguem até o armário da Madame Pomfrey e quando elas acabam, ela joga os frascos de volta.
━ Ah, isso é muito útil. ━ Faith assentiu colocando uma mecha de cabelo loiro atrás da orelha, sem saber mais o que dizer.
━ Certamente que sim. ━ O professor concordou e voltou a olhar entre a garota e o buraco na parede. ━ Srta. Ebony, posso perguntar o por que a senhorita despencou no lugar dos fracos?
━ É uma história engraçada na verdade. ━ Faith deu a ele um sorriso amarelo, brincando com os próprios dedos sem saber o que responder. ━ Eu estava…bem, eu me inclinei para ver o que tinha aqui embaixo, acabei caindo e bom…é, foi isso.
━ A senhorita caiu...no armário? ━ O professor não parecia muito convencido e Faith já estava suando frio sem saber qual mentira inventar.
━ Pois é, eu disse que era engraçado. ━ A lufana deu um riso forçado e enrolou os dedos em seus cabelos dourados.
━ E como é que isso aconteceu? ━ O professor deu um sorriso divertido, parecendo acreditar na história da garota.
━ É, como aconteceu? Bom eu estava tent-…
━ Professor, será que podemos voltar pra aula? ━ Uma aluna da Sonserina interrompeu a garota que não soube se deveria agradecer por aquilo, ou se sentir ofendida com a forma como ela a olhava da cabeça aos pés com o nariz empinado como se estivesse na presença de uma lata de lixo.
━ Sim, sim, claro. ━ Slughorn pareceu lembrar que estava lecionando e estava em horário de aula. Ele então, se virou para os alunos que estavam ali esperando. ━ Snape, meu bom rapaz, você poderia acompanhar a senhorita Ebony até a enfermaria?
Faith não tinha percebido que haviam alguns arranhões nos braços e na bochecha esquerda também, agradeceu por andar sempre com a manga da camisa dobrada, caso contrário teria rasgado mais uma de suas roupas com algum desastre que causou a si mesma.
━ Como quiser. ━ Foi só o que o garoto sem nenhuma expressão respondeu.
Os dois saíram da sala em silêncio e andaram pelo castelo indo em direção à enfermaria, Faith só então se lembrou que a razão dela ter despencado na sala de poções era exatamente porque não podia ser vista na enfermaria, parou sobre os próprio calcanhares e olhou em volta procurando por uma desculpa para sair dali.
━ O que foi, Faith? ━ Severus questionou franzindo as sobrancelhas.
━ Nada, eu só não acho que preciso ir para enfermaria. ━ A garota respondeu com um sorriso forçado.
━ Tem certeza? ━ Snape puxou um lenço, cor se creme, de um dos bolsos e limpou a sujeira que tinha no rosto da garota.
━ Tenho, são só alguns arranhões. ━ Faith agradeceu com um sorriso enquanto passava as mãos pelos cabelos se livrando da teia de aranha e vendo o garoto pensar um pouco antes de finalmente concordar.
━ Tudo bem então. ━ O garoto deu de ombros virando-se em sua longa capa e voltando a fazer seu caminho para a sala de poções. Ele não era de todo mal com Faith, era muito calado e às vezes chegava perto de sorrir quando conversava com ela. Entretanto, Faith já o vira tratando muitas pessoas de forma muito dura, por essa razão mantinha pouco contato com ele.
━ Até mais tarde, Severus! ━ Faith se despediu acenando com a mão e recebendo um pequeno movimento de cabeça em resposta.
Em busca de permanecer o mais distante possível possível da enfermaria e por conclusão de Walburga Black, a garota continuou andando pelos corredores, estava subindo as escadas quando encontrou uma criatura conhecida, parou nas escadas amareladas assistindo seu velho amigo correndo desesperadamente em sua direção. Abaixou-se rapidamente e mostrou a ele seu melhor esconderijo, o bolso de sua capa, e notou como a pequena criatura sequer hesitou em entrar. Levantando-se, a garota ajeitou suas vestes e jogou o longo cabelo por cima dos ombros, voltando a andar de forma muito comum fingindo não ter nada de especial guardado ali tão perto. A jovem Ebony sorriu para um grupo de alunos da Grifinória que passavam por ali com suas varinhas em mãos parecendo buscar alguma coisa.
━ Ei, Ebony! ━ Um garoto de cabelos ruivos e cacheados a chamou a fazendo se virar para ele educadamente, ele sorriu para ela, embora parecesse preocupado como seus amigos.
━ Sim? ━ Faith perguntou, sentindo a criatura se mexer em seu bolso, em uma tentativa de disfarçar ela o cobriu com a mão o mantendo escondido e seguro.
━ Você não viu um bichinho meio estranho correndo por aí? ━ O ruiva perguntou parecendo confuso ao não saber como exatamente descrever a criatura.
━ Não, na verdade eu não vejo James desde que o jogo acabou. ━ A Ebony sorriu travessa enquanto os outros alunos caiam na risada. Ela balançou a cabeça falando um pouco mais séria dessa vez. ━ Desculpe, mas eu não vi nada.
━ Tudo bem então, obrigado mesmo assim. ━ Ele acenou antes de continuar seu caminho na direção contrária, procurando pela criatura.
Faith se virou e continuou andando até achar um pequeno lugar vazio no corredor onde conseguiu se esconder, colocou a mão no bolso e retirou de lá seu pequeno amigo de aparência extremamente fofa e diferenciada, ele tinha um focinho longo e fino, corpo esguio com uma grossa camada de penugem azul escura e brilhante, ela apontou para pequena bolsa que a criatura tinha na região do estômago e então viu ele segurá-la como se fosse protegê-la com sua vida. ━ Você precisa devolver tudo que roubou.
Por um instante, ela jurou que ele tinha lhe mostrado a língua em resposta, mas então se convenceu de que na verdade tinha batido a cabeça com muita força ao cair, balançando os cabelos loiros e franzindo as sobrancelhas, ela o pendurou de cabeça para baixo, um segundo mais tarde estava ouvindo o barulho de todas as pequenas coisas brilhantes que ele roubou, batendo contra o chão. Olhando em volta para procurar por alguma alma naquele corredor e suspirou de alívio quando percebeu que o lugar estava vazio, virou-se novamente para frente e seu alívio desapareceu.
━ Ai não... ━ Ela sussurrou mais para si mesma, obviamente o garoto também ouviu.
━ Não acredito nisso! ━ O loiro tinha um sorriso no rosto mas Faith sabia muito bem que aquilo não significava nada de bom.
━ Nate, eu posso explicar. ━ A lufana puxou o pelúcio para perto, pela primeira vez, ele também parecia assustado. ━ Ele não é meu, só estou cuidando para um amigo.
━ Ainda assim, isso é proibido, Ebony. Essas coisinhas só tem permissão para ficar com bruxos competentes. ━ O Kearney falou com os olhos na criatura e esticou a mão tentando tocá-lo, mas Faith o escondeu na capa. ━ E você claramente não é um.
━ Você não sabe disso. ━ Faith franziu as sobrancelhas claras em sinal de nervosismo. ━ O que você está fazendo aqui? Não deveria estar com Regulus?
━ É mas ele me mandou v-… ━ Nate se interrompeu tossindo como se algo estivesse instalado em sua garganta. ━ Eu só vim saber o que aconteceu.
━ Eu puxei uma alavanca e caí na sala de poções. ━ Faith respondeu tentando simplificar, mas pode notar pela expressão confusa dele que não havia adiantado de nada.
O garoto analisou os arranhões no braço dela e percebeu que também estava em sua bochecha. Bufando ele enfiou as mãos nos bolsos procurou algo por alguns segundos antes de finalmente ergueu a mão direita com um band-aid entre os dedos, ele rasgou a embalagem e com cuidado o colocou na bochecha da garota que sorriu antes de agradecer.
━ De quem é o pelúcio? ━ Ele perguntou jogando a embalagem de volta no bolso onde iria se misturar com outras dezenas de embalagens que ele tinha preguiça de jogar fora.
━ Não posso dizer. ━ Ela respondeu olhando para os sapatos extremamente limpos do garoto. ━ Isso poderia causar problemas pra ele.
━ Hagrid? ━ Nate tentou adivinhar sem sucesso quando a garota negou com a cabeça.
━ Não acho que você conheça, não pessoalmente. ━ Faith respondeu olhando para o livro que o garoto mantinha na bolsa. "Animais fantásticos e onde habitam" era o título e ela piscou para o garoto que não entendeu nada. ━ Precisa me prometer que não vai contar nada pra ninguém.
━ Depende. ━ O Kearney olhou ardiloso para as joias que ainda estavam no chão e Faith entendeu o que ele queria antes mesmo que as palavras deixassem os lábios dele.
━ Nem pensar! Eu tenho que devolver isso. ━ Faith respondeu puxando a varinha e com um aceno fez todas as joias voltarem para seus devidos donos.
━ Você é muito sem graça. ━ O loiro revirou os olhos encostando na parede parecendo entediado. ━ Tudo bem então, sugiro uma troca.
━ Que tipo de troca? ━ A Ebony inclinou a cabeça levemente para o lado, tentando entender as intenções do garoto.
━ Eu não conto para ninguém sobre o pelúcio e você me empresta ele algumas vezes.
━ 'Pra que você quer ele?
━ Para roubar os alunos da Sonserina. ━ O sonserino falou, dando de ombros como se não estivesse assumindo que gostaria de furtar seus colegas de casa.
━ Não posso emprestar, ele não é meu lembra? ━ A garota segurou a criatura que tentava roubar seu colar, mas acabou perdendo a pequena luta e deixou que ele pegasse o objeto brilhante.
━ Tudo bem, então, tenho certeza que Dumbledore vai adorar saber que a aluna mais desastrada do castelo tem um pelúcio. ━ O garoto disse começando a andar, não deu sequer três passos antes que a garota se pendurasse em seu braço.
━ Tudo bem! ━ Faith desistiu da discussão, se rendendo à condição do garoto. ━ Mas só uma vez por semana, e se acontecer alguma coisa com ele, eu vou contar para todo mundo o que aconteceu no terceiro ano.
━ Você não teria coragem. ━ O loiro falou com olhos arregalados enquanto a via se afastando com passos pequenos.
━ Então experimente. ━ Foi a última coisa que ele ouviu antes que a Ebony desaparecesse nas escadas com passos saltitantes.
𓂃 ❀ 𓂃
O resto do dia passou muito rapidamente, Faith aproveitou o tempo para finalmente organizar seu quarto bagunçado e demorou muito para juntar toda a bagunça de joias roubadas que o pelúcio trouxe para cada. Já era muito tarde quando ela terminou, deixando um beijo suave na penugem da criatura, a Ebony desceu as escadas para tomar regar as plantinhas de seu salão comunal, estava terminando a tarefa quando Lucky apareceu ali, os cabelos misturados entre os fios loiros como o do irmão e os castanhos como os do pai.
━ Onde esteve? ━ O garoto perguntou eufórico, parecendo surpreso em vê-la enquanto respirava fundo, parecia ter corrido até lá.
━ Eu estava arrumando meu quarto. ━ Faith respondeu e acariciou a pequena margarida que soprou pequenas borboletas às fazendo voar entre os fios de seu cabelo.
━ Como fez isso? ━ Wendy apareceu ali de repente, também estava respirando pesadamente, provavelmente apostaram uma corrida até ali, mas agora a mais baixa parecia fascinada pelo que a amiga tinha acabado de fazer.
━ Só fui gentil com ela. ━ A Ebony respondeu com um pequeno sorriso acenando para a planta que correspondeu de bom grado usando uma das folhas de seu tronco esverdeado.
━ Algo que Wendy não consegue ser. ━ Lucky sussurrou numa tentativa de fazer apenas Faith ouvir, mas a sonserina de cabelos curtos não deixou isso escapar, lançando um olhar mortal para o lufano que coçou a nuca se encolhendo de leve.
━ Viemos te buscar para o jantar. ━ A garota tentou ignorar a existência do Kearney ao voltar a falar com Faith.
━ Jantar? Mas que horas são? ━ A loira olhou para o relógio em forma de caldeirão que estava pendurado na parede ao lado da lareira, o relógio marcava nove e meia. ━ Por Mérlin! Quando foi que ficou tão tarde?
━ Uh, eu tenho uma teoria de que foi quando o sol desapareceu. ━ Lucky tentou fazer uma piada mas as duas garotas o encararam confusas. ━ Deixa pra lá, ficou melhor na minha cabeça.
Os três saíram em direção ao salão principal, Wendy observou como Faith corria na frente, como se estivesse em uma corrida com seres invisíveis, às vezes ela rodava no meio do corredor e então Wendy passou a entender porque as pessoas a chamavam de louca. Não que Wendy achasse que a melhor amiga era louca, a achava peculiar mas era de um jeito bom, ela era singular. Amava Faith, ela era uma dessas pessoas que você só encontra uma vez na vida, alguém com quem você pode conversar sobre qualquer assunto, desde suas maiores bobagens até os mais sérios problemas, ela também era a pessoa que a animava nos seus dias ruins, quem sempre tinha uma história que distraia a garota e a fazia rir. Faith era ótima e estava sempre feliz, mas Wendy sabia que ela escondia seus sentimentos muito fundo em seu mundo de conto de fadas.
━ Ei Wendy, você sabe como Regulus está? ━ Faith interrompeu a linha de raciocínio da melhor amiga com sua pergunta e ao vê-la tão tímida Wendy riu. ━ Do que está rindo?
━ Você tem uma quedinha por ele. ━ Wendy acusou cruzando os braços e estreitando os olhos vendo a expressão desesperada da amiga.
━ O que?! ━ A Ebony exclamou tornando-se tão vermelha que poderia ser facilmente confundida com um tomate. ━ Você está ficando maluca! É claro que não!
━ Olha, nesses últimos anos você até conseguiu disfarçar mas agora está bem óbvio. ━ Lucky entrou na conversa, a acusando em uma das poucas vezes em que ele concorda com Wendy. Faith deixou o queixo cair sentindo-se traída.
━ Eu não tenho quedinha nenhuma! ━ Faith tentou discutir, muito distraída tropeçou na própria capa e segurou-se nos amigos para não cair, quase derrubando os dois com ela, felizmente Lucky recuperou o equilíbrio pelos três, os dois amigos estavam rindo enquanto a garota cruzava os braços sobre o estômago. ━ Eu só estava perguntando.
━ É claro, só está perguntando. ━ Lucky concordou fingindo estar sério e falhando miseravelmente ao cair na gargalhada um segundo depois.
━ Ele vai passar a noite na enfermaria, tem que ficar em observação, mas amanhã ele poderá voltar para as aulas. ━ Wendy explicou entre as risadas, vendo a entrada do grande salão. ━ Depois vou levar sobremesa para ele, se quiser pode vir junto...
━ Eu adoraria! ━ Respondeu a lufana muito rapidamente fazendo o pouco autocontrole dos amigos ir embora, o jantar inteiro foi seguido por risadas entre Lucky na mesa da Lufa-Lufa e Wendy na mesa da Sonserina. ━ Vocês são dois idiotas.
━ Não acredito que disse isso. ━ Lucky deixou a mão cair contra o próprio peito em uma cena dramática. ━ Você está passando muito tempo com Snape, está aprendendo a ser mal educada.
━ Ele não é mal educado. ━ A Ebony tentou defender o amigo e os alunos em volta da mesa a olharam como se ela tivesse duas cabeças. ━ Tá, talvez ele seja um pouco.
Quando Lucky se cansou das risadas, o jantar seguiu calmamente, mas nada silencioso, todos falavam sobre o que aconteceu no quadribol e se perguntavam se Bartolomeu tentou acertar a Faith intencionalmente. O assunto acabou quando a sobremesa foi servida e eles perceberam que era sorvete dessa vez, aquilo era raro, geralmente era pudim ou um terrível doce de abóbora que não tinha gosto de doce. Fatih não estava reclamando, mas ficou feliz em tomar sorvete sem ter que roubar da cozinha depois do horário.
━ Vamos? ━ Wendy apareceu ao lado da garota, rindo ao notar que a fez saltar pelo susto.
━ Claro. ━ Faith disse terminando o sorvete rapidamente e se despedindo de Lucky antes de se levantar e seguir a garota para fora do salão de mãos dadas com a melhor amiga.
━ Você acha que Bartolomeu estava tentando te acertar? ━ Wendy perguntou chamando atenção de Faith enquanto as duas seguiram pelos corredores escuros.
━ Não, ele tentou acertar Sirius, mas ele desviou então a bola veio em minha direção. ━ Faith respondeu o que acreditava ser verdade e viu a expressão desconfiada da amiga surgir no rosto delicado. ━ Não precisa assassiná-lo.
━ Droga, eu já tinha planejado tudo! ━ A Sonserina sorriu e Faith a abraçou pelos ombros enquanto elas andavam sem pressa em direção a enfermaria.
━ Você acha que ele me odeia? ━ Faith perguntou depois de alguns segundos e a mais baixa olhou para ela confusa. ━ Regulus.
━ Faith, eu não entraria na frente de um balaço por alguém que eu odeio. ━ Wendy não acreditava que depois de seis anos a amiga ainda não tinha percebido.
━ Talvez ele não tenha feito aquilo por mim. ━ A Ebony se afastou levemente, colocando as mãos nos bolsos enquanto olhava para as paredes decoradas com desenhos antigos. ━ Haviam outras pessoas comigo
━ Bom, pelo que eu ouvi todas elas correram, você era a única lá naquele momento. ━ A Galloway tentou explicar e percebeu que talvez ela também não percebesse se estivesse no lugar da Ebony, Regulus nunca tinha deixado a garota se aproximar, a afastava tanto quanto falava dela para Wendy.
━ Sim, mas Lily estava do meu lado antes, talvez ele...
━ Você quer saber se ele gosta da Lily? ━ A mais baixa foi direta ao olhar para ela e ver Faith se afogar com o próprio ar.
━ Não, eu não disse isso. ━ Respondeu respirando fundo para se recuperar.
━ Ele não gosta dela, nem um pouco, na verdade. Não se preocupe. ━ Wendy respondeu e viu o pequeno sorriso que Faith deixou escapar. Começou a pensar em como Faith e Regulus nunca tiveram muitas oportunidades de conversar de verdade, e em como isso podia ter interferido para as coisas que poderiam acontecer, ou não acontecer. Foi quando uma ideia brilhou em sua mente. ━ Faith, eu esqueci de terminar o trabalho de Defesa Contra Artes Das Trevas, eu tenho que entregar amanhã. ━ Mentiu a garota, sabendo que o trabalho já estava pronto a dias, na verdade ela terminou no mesmo dia que o professor pediu. ━ Tenho que correr, para terminar, você precisa entregar isso para Regulus.
━ Mas o que é que eu vou dizer pra ele? ━ Faith segurou uma taça prateada que aparentemente estava enfeitiçada para o sorvete não derreter, a sonserina também entregou um caderno de capa vermelha e pediu que ela não abrisse. Faith analisou o objeto por alguns segundos e quando olhou de volta para a amiga, percebeu que ela já estava correndo para longe. ━ Wendy!
Lembrou-se que não deveria gritar tão perto da enfermaria, passou a andar mais rápido, tentando entrar na sala antes que Filch ou Madame Nora a encontrasse, a fazendo perder mais pontos da Lufa-Lufa. A garota entrou silenciosamente na enfermaria, caminhando na ponta dos pés ela percebeu a ausência de Pomfrey e a presença de somente dois alunos ali, um garoto do segundo ano da corvinal que dormia calmamente, e o outro garoto, do sexto ano da Sonserina, esse estava bem acordado e desenhava em um pedaço de pergaminho, no verso estava uma lista de remédios que ele deveria tomar pelos próximos dias, mas ele não parecia se importar.
━ Ebony? ━ Regulus notou a presença dela, os olhos acinzentados carregados de surpresa ao vê-la parada ali, ele desviou o olhar suavizou a semblante, ainda assim, mas diferente do que ela pensou ele não parecia querer expulsá-la. ━ O que faz aqui?
━ Eu trouxe sorvete. ━ Faith explicou caminhando até a cama e entregando a taça, rindo baixinho quando o garoto pegou sem exitar. ━ E também isso aqui.
Regulus pegou rapidamente o caderno e olhou para a garota que estranhou o comportamento apressado dele, mas nada disse. ━ Você não abriu, certo?
━ Não, Wendy mandou que eu não abrisse. ━ A Ebony respondeu e notou o quão aliviado ele pareceu depois de ouvi-la. ━ Não que eu fosse fazer isso caso ela não pedisse.
Ela desejou novamente ser sugada por um buraco negro, foi uma péssima ideia ir até lá sozinha, deveria ter dito que terminaria o trabalho da amiga, embora tivesse lutado muito para terminar o próprio. Isso a lembrou de que viu Wendy falando sobre já ter terminado esse trabalho a uns três dias atrás enquanto Lucky arrancava os próprios cabelos cansado de escrever. Só então entendeu o plano da garota.
━ Obrigado. ━ O garoto falou muito baixo, algo muito parecido com um sorriso surgiu nos cantos dos lábios dele enquanto ele olhava para a garota que ficou um pouco atônita no início antes de retribuir o sorriso.
━ Eu também queria agradecer, pelo que você fez hoje foi... ━ Ela começou mas foi interrompida quando o sorriso dele se desmanchou.
━ Não fiz por você. ━ Regulus falou voltando para o mesmo tom rígido e frio enquanto Faith pensava se o efeito das poções já tinham passado.
━ Tudo bem. De qualquer forma, obrigada. ━ A garota disse um pouco sem graça e pensou que ela deveria ir embora agora, ela deu dois passos para trás e acenou para ele. ━ Então, vejo você por aí.
Regulus assistiu quando ela se virou para ir embora, olhando em volta enquanto seu cérebro parecia funcionar em uma velocidade exagerada tentando consertar as besteira que ele acabou de fazer, se arrependendo de suas palavras ao mesmo tempo que se perguntou como ela poderia acreditar tão facilmente no que ele falava.
━ Wendy exagerou no sorvete. ━ Ele finalmente falou, sequer sabia exatamente o que estava fazendo.
━ O que? ━ Faith se virou, a confusão estava estampada em seu rosto redondo.
━ Você gosta de sorvete de chocolate? ━ Regulus perguntou inclinando a taça na direção da garota.
━ Gosto. ━ Ele viu o sorriso da garota voltar, Faith prendeu uma mecha do cabelo loiro atrás da orelha e se aproximou novamente sentando-se na cadeira ao lado da cama.
Ele usou a varinha para duplicar a colher com mágica e ela pegou uma delas rapidamente. Regulus analisou a garota por alguns instantes, viu os arranhões no braço dela, estavam limpos mas ainda visíveis, viu também o curativo em seu rosto e se lembrou do que Nate tinha dito mais cedo sobre ela ter se machucado quando escapou da enfermaria.
━ Como estão seus machucados? ━ Faith perguntou e ele notou que ela também analisava os arranhões no rosto dele, só então lembrou-se que também estava machucado.
━ Estão bem, eu só preciso limpá-los antes de dormir e a Madame Pomfrey disse que vão desaparecer em uns três ou quatro dias. ━ Ele apontou para um frasco com uma poção sem cor que poderia facilmente ser confundida com água.
━ Isso é bom, cicatrizes não ficam bem em você. ━ Faith provocou com um sorriso brincalhão e o garoto abriu a boca incrédulo.
━ Achei que eu era o rude aqui. ━ Regulus respondeu fazendo as bochechas dela se tornarem quase carmesim.
━ Eu acho que estou aprendendo com você. ━ Faith respondeu balançando os pés que não alcançavam o chão quando ela estava sentada.
━ Agora eu sou o mal exemplo? ━ Regulus perguntou e viu a garota não hesitar em balançar a cabeça assentindo, o fazendo rir sem poder evitar, foi uma risada rouca e durou alguns segundos, o suficiente para que ela o admirasse, os olhos azuis se tornando escuros quando a pupila redonda passou a tomar mais espaço das íris. A risada puxou um pequeno corte o fazendo deixar escapar um grunhido pelo incômodo.
━ Tudo bem? ━ Faith o olhou preocupada se inclinando para ver melhor o machucado.
━ Eu só preciso limpar isso. ━ O Black respondeu quando tocou o corte percebendo que ele tinha voltado a sangrar.
Regulus puxou o frasco de poção e também um pedaço de algodão que a medibruxa tinha deixado na mesa de cabeceira, molhou o algodão no líquido do frasco e então passou no rosto com mais força do que deveria, se arrependendo no mesmo instante quando sentiu uma dor duas vezes maior.
━ Eu posso tentar? ━ Faith perguntou pregando o algodão da mão do garoto lentamente,e se aproximando mais, hesitante esperando ele afastá-la, o que não aconteceu.
A Ebony tirou a própria capa e a deixou sobre a cadeira, dobrou as mangas da camisa branca e sentou-se no pequeno espaço na frente do garoto onde começou a passar delicadamente o algodão por cima do corte, ainda ardia mas era suportável e Regulus estava concentrado demais na garota para se importar com a ardência.
━ Parece saber o que está fazendo. ━ Regulus pensou alto e mordeu a língua, mas tudo que ela fez foi sorrir.
━ Quando você é um desastre ambulante tem que aprender a fazer essas coisas. ━ A garota explicou e se distraiu quando olhou para o garoto, acabou passando o algodão com um pouco mais de força e viu a careta de dor que ele fez. ━ Desculpe.
━ Isso não teria acontecido se você tivesse se movido e saído da frente da bola. ━ Ele deixou escapar sem gentileza em sua voz, fazendo o sorriso da garota crescer o suficiente para iluminar todo seu rosto, ele franziu as sobrancelhas em confusão.
━ Achei que não tinha feito isso por mim. ━ Faith disse com a língua entre os dentes quando seu sorriso se transformou em uma provocação divertida para ela.
━ Dá pra terminar isso logo? Eu quero dormir. ━ Regulus recorreu para sua última defesa; ser desagradável até que ela se afaste.
━ Dá pra parar de ser grosseiro? Eu estou tentando ajudar você. ━ Faith falou um pouco mais séria e viu ele revirar os olhos.
━ Eu não preciso de ajuda. ━ O Black cruzou os braços como um velho mal humorado e ela se esforçou para não rir dele outra vez. ━ Eu estou perfeitamente bem.
━ Eu terminei. ━ A lufana se levantou e guardou a poção antes de jogar o algodão no lixo e se virar para o garoto uma última vez. ━ Boa noite, senhor perfeitamente bem.
Faith se abaixou deixou um beijo rápido na bochecha do garoto e sem esperar por uma resposta, ela se afastou correndo em seus passos pequenos, saindo rapidamente da enfermaria deixando para trás um Regulus sem reação e de coração acelerado.
━ Por que uma garota bonita não vem me dar um beijo de boa noite? ━ O garoto da corvinal, que não estava tão adormecido quando eles pensavam, reclamou antes de cobrir a cabeça com travesseiro bufando muito alto em frustração.
Regulus arqueou as sobrancelhas mas antes que pudesse parar a si mesmo, se pegou sorrindo para as paredes vazias, deitou-se e olhou para as grandes janelas da enfermaria, como se o céu escuro e pouco estrelado fosse a coisa mais interessante do mundo, não soube quando pegou no sono, mas soube que estava sonhando quando viu Faith em um campo de margaridas, parecia o lugar ao qual ela pertencia, de onde ela veio, só podia ser. Ainda estava sorrindo enquanto dormia quando ela abriu um dos seus grandes sorrisos ao vê-lo, antes de correr até ele e abraçá-lo.
━ Bons sonhos, Regulus Black.
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