❁ೋㅤ, 𝟎𝟎. ━━ trens e margaridas.
𖡋 ̽ ᮫ ꪶ prólogo. ܓ ❃ ᜴
𓂃 você está na brisa, eu
estou na água, filho de
ninguém filha de
ninguém. 𓂅
𖡋 ̽ ᮫ 1967/1972
A história de Faith Ebony começa na França, onde a jovem ━ e desde sempre adorável garota, nasceu e passou os seus dias até a chegada de seus seis anos, quando o destino pregou uma peça em sua família e seus pais acabaram por se divorciar após treze anos de casamento. Sua mãe, Evalina Ebony, decidiu que o melhor a se fazer seria ir embora junto de suas cinco filhas para a antiga cidade de Londres. O pai das garotas, Hector Ebony, desgosto da ideia de ver suas filhas sendo levadas para tão longe, entretanto, Evalina não era uma mulher sábia e obedientemente perante as regras e não deixou que as palavras do ━ agora ex marido, a impedisse de levar as jovens para a grande e admirada Londres.
Evalina, embora não cumprisse ordens muito bem, vinha de uma longa linhagem de educadores, a mais velha de três irmãs acabou herdando diversas escolas em seu patrimônio, entre elas a ‘Etiquette School Or’, em Londres, essa passou a ser a mais nomeada escola trouxa depois que Evalina voltou a para a capital da Inglaterra e passou a administrar a escola por si própria.
Hector, era um estilista francês que desistiu de uma de uma vida segura na França para se aventurar atrás de sua família e também de seus sonhos, essa foi com certeza a melhor escolha de do Ebony que agora tinha seu nome e designers em todos os lugares do mundo, vivia uma vida contente após de ter construído o que muitos no mundo trouxa costumam chamar de império.
Faith, diferente de todas as irmãs, decidiu morar com o pai, em uma de suas grandes e luxuosas mansões de Londres. Não que a escola, também chamada de internato, em que suas irmãs moravam, não parecesse algo de extrema classe alta, elas eram prendadas desde muito novas para serem as garotas mais elegantes de Londres e se saiam muito bem nisso. Exceto quando sua irmã mais nova, Faith, aparece para visitá-las, a garota nunca teve o dom da elegância e nunca nem tentou aprender a ser uma dama.
A garota de cabelos dourados era alucinante, sempre foi, desde muito jovem, trazia em seu coração uma bondade que poucos teriam a chance de algum dia conhecer, tinha uma risada tão verdadeira e alegre que enchia salões e tomava multidões, era admirada, não por sua riqueza ou por sua maneira de se portar, mas sim por sua áurea que por muitas vezes foi considerada repleta por uma felicidade beatífica.
Ainda muito jovem, quando se mudou com o pai para a casa de Londres, a garota se divertia brincando no gramado ou correndo pela pequena floresta que existia atrás do lugar onde passaria muitos de seus dias, lembraria para sempre de todas as vezes do sentimento, como era correr livremente por entre as árvores, um pé na frente do outro, passando de seus limites várias vezes, os entrelaçando causado dia própria queda. Iria lembrar de sentir o vento em seu rosto, a brisa leve empurrando as ondas douradas para trás, os galhos arranhando sua pele pálida, alguns insetos tentando piorar o seu dia, mas nunca conseguiriam.
Faith adorava isso. Com o passar dos anos as viagens de seu pai tornavam-se mais frequentes e longas e a garota passou a se distrair sozinha criando um próprio mundo de fantasia que ela encontrava toda vez quando os pés descalços tocavam a grama. Ah, os empregados já sabiam, a garota Ebony sempre passava o dia todo lá fora e voltava toda desarrumada e descabelada, eles a limpavam e deixavam preparada para o jantar, para quando Hector voltasse e a encontrasse em perfeito estado.
Chegava a ser frustrante para os empregados quando todas as noites, repetidas vezes Hector não voltava para casa mesmo depois de suas promessas, eles traziam para a garota a melhor das refeições, perguntavam para ela sua sobremesa favorita e traziam seu sorvete de chocolate belga como um meio de fazê-la sentir-se melhor.
Era atencioso, e Faith apreciava isso desde muito cedo, mas não era preciso, mesmo se não houvesse nenhum doce para ela depois do jantar solitário, ela ainda encontrava algum refúgio, caminhando pela casa com suas cantigas decoradas, Faith Ebony costumava voltar para o mundo inventado por ela onde seus pais ainda moravam na mesma casa, onde suas irmãs ainda a vestia como uma boneca e elas ainda brincavam de princesa a tarde toda. Era assim que seu coração continuava alegre e suas lágrimas nunca escorriam, ela imaginava um novo mundo em sua cabeça, alguma vez em seus melhores dias depois de ler um livro ou apenas passar as imagens nas páginas, ela conseguia se imaginar como uma fada, como uma boneca de pano, como Alice lutando contra o jaguadarte, mas seu preferido era quando ela se transformava em uma bruxa e poderia jurar que conseguia fazer-se flutuar sobre os livros como uma pena, como Aladdin e seu tapete voador.
Entretanto, sua solidão costumava durar apenas por cinco dias de sua semana, na sexta feira, um carro grande estacionava em frente ao portão e quatro cabeças loiras eram enfiadas na janela, três delas acenando e chamando pela irmã mais nova, outra delas reclamando da demora e pedindo que ela acelerasse seus passos.
Faith descia as escadas, sua mochila amarelada nas costas, cheia de vestidos lá dentro, aos dez anos agora, Faith recusava-se a usar qualquer outra roupa se não um de seus belos vestidos desenhados por seu pai. A garota abria uma grande sorriso ao ser levada até a porta e quando um dos empregados abria o portão, Faith corria até o carro, com as portas abertas ela se jogava sobre os corpos das irmã, algumas vezes alguém batia a cabeça, uma língua era mordida ou uma pele arranhada, mas elas não se importavam porque estava abraçando Faith, e também esmagando sua irmã mal humorada, Caroline.
Embora não vivessem na mesma casa, as irmãs ainda cultivavam um amor incondicional uma pela outra, não importavam suas diferenças durante aqueles finais de semana, elas sempre dariam um jeito de fazer ser o melhor tempo, isso porque era curto e passava rápido demais, então era fácil.
Diana, a mais velha das irmãs parecia ser um tanto fria e considerada e às vezes meio mal rude com os demais, mas sempre era gentil com Faith, ou quase sempre, ela gostava de ler seus muitos romances porque acreditava que eram como livros de fantasia, que nada daquilo existia, aquele tipo de amor, aqueles tipos de pessoas. Embora vivesse com a cara enfiada em livros onde o romance impera, ela não era nem um pouco sensível e com certeza não seria como as moças dos livros que lia, aquelas que esperavam até que os príncipes chegassem para salvá-las, não, aquela não era Diana.
Olivia foi a segunda a nascer, era a mais engraçada das irmãs, era até difícil ter uma conversa com ela sem que ela fizesse piadas sobre todas as suas frases, Faith não conseguia ficar triste ou desanimada quando estava perto da irmã, ela era o ânimo da casa, sempre foi ela quem começava as brincadeiras e também costumava ser ela quem as metia em confusão, mas as garotas não se importavam, já que sempre davam um jeito de escapar juntas. A forma como Olivia parecia nunca levar nada a sério, irritava Diana, e por vezes Caroline também, embora soubessem que as piadas de Olivia eram uma forma de lidar com os problemas, ainda não conseguiam se acostumar.
Sophia, a penúltima a nascer, também era dona do carinho de Faith, entretanto era muito mais do que tímida, às vezes até um pouco medrosa, era difícil fazer com que a irmã saísse da própria bolha para ter uma boa e longa conversa com ela, a mais nova porém, sempre conseguia já que ficava horas insistindo até que a irmã falasse com ela. No início Sophia ficou irritada mas com o passar do tempo, ela passou a gostar da insistência da irmã mais nova, gostava de ter alguém com quem conversar, a irmã, por ser apenas um ano mais jovem, tinha bons assuntos que eram interessantes para ela, e Soph, gostava das histórias sobre o outro mundo do qual Faith imaginário da irmã, isso fazia com que as duas passassem muito tempo juntas.
Entre elas, havia uma garota que era diferente de todas as outras em relação a Faith. Desde muito jovem a mais nova sabia que as irmãs a achavam diferente, mas nunca a menosprezaram por isso, diferente da terceira a nascer, Caroline Ebony. A irmã desde sempre pareceu se incomodar com a existência da mais nova, a chamando de erro, a acusando de ser o motivo da separação dos pais. “Uma filha louca destruiu a nossa família” ela disse uma vez durante o jantar, Faith não chorou, não em frente a toda sua família, ela sorriu e fingiu não entender. Caroline era assim, amável, atenciosa com outras pessoas, mas nunca com Faith, o que sentia pela irmã era ódio e vergonha, nada mais.
Caroline foi a grande razão para a Faith de seis anos, tomar a decisão de deixar a mãe e as irmãs para morar com o pai. Sentia-se constantemente assustada e menor do que realmente era, quando morava com Caroline, como na vez em que Faith ganhou um presente maior que o dela no Natal e Caroline arranhou a porta dela de madrugada por semanas até que a garota jogasse o presente fora. Faith sentia-se também, avaliada em cada um de seus passos, podia ver que, mesmo sem querer, as irmãs a olhavam de um jeito diferente, como algo delicado, não como uma pena, mas sim como uma bomba. Faith nunca entendeu, mas passou mas a tentar parecer mais forte, menos estranha, deixando de lado a fantasia quando passava os finais de semana na casa da mãe.
As coisas mudaram, de certa forma, quando Faith recebeu a carta para Hogwarts. Foi uma experiência e tanto para Caroline, ser a primeira a saber da notícia. A de cabelos longos não gostou daquilo, sentiu raiva o suficiente a ponto de destruir o quarto onde a irmã mais nova dormia nos finais de semana, quando questionada, disse que agora Faith teria outro quarto e não precisaria daquele. Caroline não costumava receber punições, embora tentasse ━ e muito, Evalina nunca conseguiu ter real controle sobre a filha, Hector costumava zombar disso, como uma educadora não conseguia educar a própria filha.
Quando a carta chegou, Hector e Evalina deixaram de lado suas diferenças mais uma vez, passaram o dia inteiro na grande casa de mármore que pertencia a Evalina e ficava atrás da grande escola. Faith lembrava-se bem de seu vestido lilás e um pouco redondo demais, sentia-se como um bolo de aniversário enquanto a mãe a levava até a sala de estar, depois de horas discutindo com o marido como iriam explicar isso para quatro crianças.
━ Faith, venha até aqui, minha querida. ━ A voz de Evalina era calma e gentil ao apontar para o sofá escuro. A mais nova caminhou obedientemente e sentou-se encarando os olhos verdes da mulher preocupada.
━ Sim mamãe? ━ Faith perguntou e então os olhos azuis dela estudaram o outro lado da sala onde ela viu as irmãs todas reunidas perto de seu pai, e notou que Sofia tinha lágrimas nos olhos verdes assim como as outras irmãs pareciam cabisbaixas, exceto por Caroline, que tinha os punhos cerrados e orelhas vermelhas. ━ Eu fiz alguma coisa?
━ Não meu amor, você não fez nada. ━ Hector interveio, em uma voz suave e baixa, o sorriso nos lábios do pai fez com que Faith sentisse algum tipo de alívio.
A explicação durou muitas de suas horas, eles precisaram explicar, mencionando brevemente o tio de Faith, que era como ela também, assim como seu primo e sua tia. Hector explicou que era uma coisa da família dele, sempre acontecia, um dos irmãos sempre era diferente. Faith foi, como sempre, extremamente compreensiva, dessa vez sem precisar fingir, durante a compra de seu materiais escolares, a garota sentiu-se mais feliz, e quando abriu o livro: ‘Hogwarts, uma história’ sentiu que estava novamente em seu mundo de fantasia, sentiu que estava finalmente indo para um lugar a qual ela pertencia e no qual seria verdadeiramente feliz.
Com o passar dos dias, enquanto o primeiro de setembro não os alcançava, a família decidiu passar esse tempo juntos. Hector deixou de lado suas viagens, Evalina o deixou passar um tempo em sua casa para que Faith pudesse estar perto das irmãs por todo o tempo possível, e assim, no final de todas as tardes, as quatro irmãs estavam estudando a história de Hogwarts, envoltas em a uma manta cor de salmão e deitadas no chão da sala as garotas riam das coisas peculiares que existiam no mundo bruxo, quando já era tarde e a noite escura cobria a casa, elas se preparam para dormir e Faith dessa vez tinha companhia para jantar e não dormia sem ouvir uma das histórias que Diana contava para as irmãs todas as vezes. Olivia e Sophia tiveram a ideia de fazer companhia para Faith dormindo todas no quarto de Diana, estavam todas grudadas, e seriam quatro se não por Caroline, a garota sequer falou com ela, e os dias seguiram dessa forma, até o dia da despedida.
Era primeiro de setembro e ela estava tão ansiosa que não conseguiu dormir na noite anterior, prendeu o cabelo em um rabo de cavalo para os fios não a atrapalharem sua visão enquanto ela corria por meio da multidão que se encaminha apressadamente na estação, a mais jovem era seguida por suas irmãs, que embora estivessem tristes por pelo tempo em que não veriam mais a garota, estavam felizes por ela e todas ━ ou quase todas, torciam para que tudo desse certo.
━ Vamos, rápido! ━ Exclamou a de cabelos dourados puxando a mãe pela mão para que andasse mais rápido. ━ Eu vi pessoas desaparecendo em uma parede, mamãe!
Evalina sorriu e estava preparada para seguir a filha quando ouviu os gritos de Caroline, ambas pararam sobre os próprios pés e olharam para trás rapidamente, era um dia muito quente para setembro e o calor causou o adoecimento de Sophie, Olivia fez pouco disso a semana inteira, mas, parecia igualmente desesperada agora que a irmã tinha desmaiado em cima dela.
━ Temos que levá-la ao médico ━ Hector tirou Sophie do chão com facilidade.
Faith se aproximou estudando o rosto da irmã, completamente pálido, os cabelos grudando sobre a pele devido ao suor, a pele tão quente quanto uma noite de febre no inverno, era preocupante para todas elas. A mais jovem notou os olhares de seus pais, como se decidissem quem iria ficar ali, ambos pareciam preocupados demais, a garota sabia que nenhum deles queria realmente ficar.
━ Posso ir sozinha. ━ Faith sugeriu.
━ O que? ━ Hector se virou para ela confuso. ━ Nem pensar.
━ Vou ficar bem, só tenho que atravessar aquela coluna ━ A garotinha apontou. ━ Não vai ser tão difícil.
Evalina e Hector não pareciam adorar a ideia, entretanto, quando William Ebony e Freya Squires se aproximaram trazendo o filho de William, Alexander Ebony, com eles a família trocou algumas palavras preocupadas e tomaram a decisão de permitir que eles cuidassem de Faith. Evalina pareceu, mais do que qualquer um, aliviada.
━ Nós vamos sentir sua falta, Fafa. ━ A voz chorosa de Olivia surpreendeu a todos ali, a garota não costumava se despedir com choros e abraços, não era de fato carinhosa, mas o adoecimento da irmã e a partida de outra pareciam mudar algumas coisas.
━ Vou sentir falta de vocês também, todas vocês. ━ Faith sorriu abraçando todas as irmãs de uma só vez, sentindo cada uma delas corresponder. ━ Digam a Sophie que a amo muito.
━ Minha bebê... ━ Os braços magros mas sempre carinhosos e confortáveis de Evalina a envolveram apertando como se nunca quisesse soltar, e provavelmente não queria, mas fez mesmo assim. ━ Divirta-se meu amor, tenha cuidado, e saiba que sentirei sua falta todos os dias.
━ Não se preocupe mamãe, estarei de volta antes que você possa sentir minha falta. ━ A mais nova sorria para confortar sua família, sem deixar que pudessem notar que ela estava um tanto amedrontada, embora não visse a família o tempo todo, sabia que eles estavam por perto, além disso conhecia sua casa muito bem, mas tudo que sabia de Hogwarts e do mundo bruxo vinha daquele grande livro, que lembra do agora, talvez Faith tivesse esquecido em casa.
━ Nós amamos você. ━ O abraço coletivo demorou um pouco mais do que o esperado e a garota sentiu que seus ossos poderiam quebrar pelos abraços apertados, mas nunca poderia reclamar.
━ Vou sentir sua falta, Caroline. ━ Faith tentou uma despedida com a irmã que estava quieta desde que chegaram ali. Em vão, já que a garota nada respondeu, a mais nova se deu por vencida de virando para caminhar com seus tios e primo. Porém, antes que pudesse começar seu caminho, foi surpreendida pelos braços de Caroline que a apertaram em um abraço desajeitado, no mesmo momento em que Faith teve a chance de corresponder, a garota se afastou e avisou que esperaria no carro antes de correr para longe.
Faith sorriu uma última vez para sua família e então segurou firme sua bagagem e começou a correr em direção a parede de tijolos. Seu primo Alexander era um ano mais velho, era muito alto pra idade e assim como a maioria da família, era muitíssimo parecido com ela. Os dois corriam lado a lado e ao admirar os tijolos, por um momento imaginou o tamanho dos machucados se houvessem se enganado. A Ebony, porém, sequer teve a chance de concluir seus pensamentos antes de perceber que já havia atravessado entre seus mundos.
O som da corneta esfumaçante da grande locomotiva era muito alta, mas nunca o suficiente para cobrir a tagarelice, o timbre do riso animado, dos longos suspiros de saudade, dos não tão pequenos soluços de choro, haviam tantas pessoas ali, com suas vestimentas peculiares e chapéus pontudos que roubavam a atenção da garota. Faith andava entre eles, sem sequer olhar para frente, estava admirada demais, tudo ali era como ela, diferente.
Ah, ela nunca encontraria tamanha felicidade em nenhum outro lugar, nunca veria os mesmos detalhes, ninguém nunca daria um aviso ao filho sobre não deixar de polir a vassoura, não em seu mundo trouxa. A pequena Ebony estava encantada, sentia a magia em seu coração, como se todos os seus mundos de sonhos houvessem se tornado realidade.
Sentia-se como a garota Alice, dos livros de histórias que Diana leu para ela desde muito pequena. Faith continuou caminhando pela estação, com seu vestido que brincava entre os tons de amarelo e rosa salmão. A Ebony guardava em sua memória até mesmo o formato dos trilhos do trem, sentia a brisa quase quente demais contra seu rosto, fechando os olhos por alguns segundos para admirar os sons e o cheiro, não tão diferente de qualquer outra estação de trem, mas ainda assim, melhor.
Sentiu, de repente, uma pressão contra seu corpo e ao abrir os grandes olhos azuis, viu-se cair e sentir uma dor na em sua nuca, como alguém que tinha acabado de bater contra o chão de concreto.
━ Por Merlin! Eu sinto muito, mesmo. ━ Disse o garoto que estendeu a mão ajudando-a se levantar, ao encarar os olhos castanhos dele, viu a preocupação refletindo neles. ━ Você está bem? Se machucou?
━ Estou, não se preocupe. ━ Faith respondeu passando a mão com cuidado sobre a nuca, ao garantir não estar machucada, ela viu o garoto ━ que parecia ter sua idade, soltar ar dos pulmões dissipando suas preocupações.
━ Sou Lucky Kearney. ━ Ele estendeu a mão só então sorrindo amigável para a garota que não exitou em segurá-la rapidamente.
━ Faith Ebony. ━ A loira sorriu admirando os cabelos castanhos do garoto que pareciam estar completamente desarrumados, como se propositadamente espalhados para todos os lados.
━ É um prazer conhecê-la, Srta. Ebony. ━ Ele se manteve segurando a mão dela enquanto admirava os cabelos dourados e bochechas rosadas da garota.
━ Pode me chamar de Faith, se quiser . ━ Ela soltou a mão dele com cuidado, estava acostumada com pessoas muito educadas nos eventos, mas geralmente não crianças.
━ Quem eu devo chamar de Faith? ━ Um garoto loiro, um tanto mais alto e aparentemente mais velho também, apareceu ali de repente e apoiou os cotovelos nos ombros de Lucky que revirou os olhos.
━ Esse é o meu irmão, ele é burro e reprovou ano passado e agora nós vamos ter que aguenta-lo. ━ Lucky riu antes de levar um tapa na nuca que fez Faith soltar uma curta risada inalada e depois se arrepender quando viu que chamou a atenção do garoto mais velho.
━ Sou Nathaniel, mas pode me chamar de Nate. ━ O de olhos verdes sorriu de canto e segurou a mão da garota deixando um beijo rápido na mesma.
Faith lembrava-se de não saber direito como responder, por isso ficou agradecida quando a família Kearney encontrou os filhos fujões, afastando os dois irmãos da garota que acenou enquanto eles eram levados para longe. A garota também voltou-se para sua família, seus tios e seu primo que ficava na ponta dos pés como se esperasse encontrar alguém.
William era irmão gêmeo de Hector, mas de nada se pareciam de não fosse por aqueles grandes olhos azuis um tanto escuros que também eram divididos com Faith. A esposa de William era uma mulher muito doente, que morreu durante o parto de Alec, tanto William quanto Alexander nunca deixaram para trás a situação e viviam em termos muito ruins antes de Freya chegar. William era um bruxo, nascido trouxa como Faith, e estudou com Freya mas nunca mais a viu depois dos seus anos de escola, quando se reencontraram dois anos atrás ela estava em uma das boutiques admirando o trabalho de Hector, William e Freya estão juntos desde então.
Faith estava começando a ficar ansiosa, foi quando as portas do trem se abriram, Alec se despediu do pai e da madrasta com um aceno, e Faith fez o mesmo, mas não pode deixar de notar o olhar orgulhoso de William nos lábios, embora não demonstrasse, deveria mesmo gostar muito do filho.
Ao se aproximar do trem, Alec pareceu finalmente encontrar o que procurava, enquanto alguns alunos já se acomodavam lá dentro, o loiro correu até um grupo de quatro garotos e entregou a eles uma caixa, um deles ficou vermelho quando Alec deixou um beijo em sua bochecha, só então depois de alguns segundos de cochichos entre os cinco, houve uma explosão e múltiplas luzes muito parecidas com fogos de artifício invadiram o local, as luzes dançavam tomando formas, como estrelas, castelos, e até mesmo o próprio Dumbledore.
Admirada com o show de luzes, Faith tinha um sorriso enorme no rosto quando ergueu as mãos levemente, batendo palmas para o brilho mágico, esse que parecia segui-la, dançando em volta dela como magia pura. Distraída seguindo as cores com os olhos azuis, a garota Ebony que não notou quando a garota baixinha que devia ter a sua idade apareceu na sua frente e jogou para ela um buquê de margaridas.
━ A falsa da minha irmã comprou pra mim. ━ A garota explicou com uma careta enquanto amarrava os sapatos, e parecia ignorar as luzes que causavam tanta admiração na outra. ━ Você pode ficar, combinam com seu vestido. Sou Wendy, a propósito.
━ Faith. ━ A mais alta sorriu amigavelmente para a garota segurando as margaridas com cuidado, notando mesmo combinavam com seu vestido que carregava alguns desenhos de flores coloridas. ━ Obrigada.
━ De nada. ━ Wendy analisou a garota por alguns segundos como se estivesse decidindo alguma coisa, por fim, a careta se transformou em um grande sorriso. ━ Vamos, antes que todas as cabines sejam ocupadas.
━ Mas eu… ━ Ela não tem tempo para responder já que um aviso de que trem estava saindo foi ouvido e Wendy a puxou pela mão para dentro da locomotiva escarlate.
Mal entraram e o trem fechou suas portas, as garotas correram até a janela assim como muitos outros bruxos e bruxas que começaram a acenar para todos que ficaram na estação, parando somente quando perceberam que eles não conseguiriam mais vê-los. As duas garotas andavam pelo trem procurando um lugar para se acomodar, acharam por fim uma cabine com três garotos, dois deles Faith reconheceu como os Kearney que conheceu mais cedo, o outro era desconhecido.
Wendy também parecia conhecê-los, todos eles, ela pediu ao mais velho que guardasse a mala delas, revirando os olhos, Nate obedeceu, porque parecia impossível não obedecer a algo que a garota ditava. Enquanto isso, Faith sentou-se ao lado de Lucky, ficando de frente para o garoto misterioso para ela, esse que estava muito quieto e parecia congelado.
Os olhos azuis de Faith encontraram os cinzentos dele, a garota abriu um sorriso tímido e, surpreendentemente, ele correspondeu. As vestes escuras dele tinham mangas longas e uma gola alta demais para aquele dia de calor, o cabelo estava curto e formava algumas ondas, muito escuros aqueles fios, naturalmente pretos. A pele pálida dele corou levemente nas bochechas e ele engoliu antes de estender a mão para ela, um anel com brasão em seu dedo indicador.
━ Meu nome é Regulus Black. ━ Ele se apresentou, ainda estava sorrindo, mas havia aquele ar de superioridade que Faith nunca notou em ninguém de sua idade antes. ━ Da antiga e nobre Casa dos Black.
━ Eu sou a Fatih ━ A garota disse animadamente tocando a mão dele sem se importar com a pele fria, ela balançou algumas vezes antes de soltar. ━ Da minha casa, eu acho.
Wendy e Lucky riram alto, Nate mordeu os lábios tentando se conter antes de perguntar. ━ Seus pais são bruxos, né?
━ Não, eles são... é, como se diz mesmo? Ah! Trouxas, é, eles são trouxas. ━ Faith respondeu sem se importar com as reações, não sabia ainda como isso seria um grande dilema.
O sorriso no rosto de Regulus Black desapareceu, os olhos cinzentos a analisaram novamente antes de olhar para a própria mão, ele apertou o punho e se levantou, a capa escura sobrevoando atrás dele quando ele deixou a cabine para trás. Nate olhou para os três restantes no lugar, novamente parecia tentar se decidir, por fim, se levantou pegando o malão de Regulus e o de si próprio antes de sair também.
Faith sentiu como se houvesse acabado de revelar que tinha uma doença ruim, não pode evitar lembrar de quando era mais nova e as irmãs se escondiam dela, e depois a ouviam cochichando como não queriam brincar com ela. A Ebony olhou para Lucky e Wendy, esperando que eles fossem embora também, mas ao invés disso, Lucky tirou do bolso um pacote de jujubas e ofereceu a ela enquanto Wendy sorriu gentilmente.
A chegada da Faith em Hogwarts, foi com toda certeza uma das coisas que ela jamais esqueceria, lembraria para sempre de conhecer um homem muito alto que parecia tentar parecer autoritário mas sorriu para a garota assim que ela estendeu a mão para se apresentar. Iria lembrar da sensação de quando entrou no grande salão e viu o teto falso que dessa vez estava estrelado em sua noite escura. Lembraria de estar tão animada e ansiosa que abraçou uma garota desconhecida que estava ao seu lado, se desculpou ao soltá-la com suas bochechas vermelhas de vergonha e tentou fingir que nada tinha acontecido, mas seus dois novos amigos já tinham percebido e riam baixo da Ebony que escondia o rosto no cabelo agora solto, completamente constrangida.
━ Para qual casa vocês acham que vão? ━ Lucky perguntou ainda mastigando outra das muitas jujubas que ele carregava nos bolsos.
━ Sonserina obviamente. ━ Wendy respondeu e ajeitou sua postura. ━ A casa dos determinados, ambiciosos e astutos. É o meu lugar.
━ Também é a casa dos convencidos, talvez você se dê bem lá. ━ Lucky zombou e recebeu um olhar de repreensão da garota de cabelos curtos, Faith riu da situação antes que Lucky voltasse a falar. ━ Eu quero ir para a lufa lufa, disseram que tem umas plantas legais na comunal, e é a única casa com dormitórios individuais.
━ Acha que eu iria ficar bem na Sonserina? ━ Faith brincou erguendo o queixo e colocando o dedo na ponta do nariz para o deixar arrebitado fazendo os amigos rir, estavam se divertindo muito antes de serem interrompidos.
━ A sonserina é uma casa de sangue puro, alguém como você não é digno de estar lá. ━ A voz baixa mas ainda assim rude do mesmo garoto que parecia ser gentil com ela cedo, fez o riso cessar, silenciando Faith que tirou o dedo da ponta do nariz lentamente, sequer teve tempo de responder antes que o nome do Black fosse chamado.
Não haviam dúvidas de que ele iria para Sonserina, e assim aconteceu quando ele caminhou até a mesa dos verdes trocando alguns apertos de mão. Faith franziu o nariz irritada desejando que Regulus se afogasse com o suco, o que aconteceu porém, fora que todo o líquido de abóbora espirrou no rosto do garoto, causando o riso de algumas pessoas e a fúria de Regulus que olhou ameaçadoramente para ela.
━ Você fez isso? ━ Lucky perguntou rindo também.
━ Eu acho que sim. ━ Faith disse tentando segurar o riso.
━ Isso foi tão legal. ━ Wendy riu erguendo a mão para um 'toca aqui'.
A casa Lufa-Lufa foi o que o chapéu anunciou sem nem mesmo encostar direito nos fios de cabelo dela, andando sorridente até a mesa de sua casa, ela recebeu abraços e cumprimentos amigáveis de todos que estavam por perto e por fim, sentou-se sentindo a familiaridade começar a tomar conta dela, depois de alguns minutos ela se levantou novamente para aplaudir quando Lucky Kearney foi designado para a mesma casa que a sua.
Faith Ebony sabia agora, entendia porque sempre fora diferente, fazia livros flutuarem e maçãs caírem no pomar sem que ela se aproximasse das árvores, sabia porque via e ouvia coisas que ninguém mais parecia ouvir, entendia porque era tão diferente. Ela era como Alice, e aquele mundo era seu pai das maravilhas.
E ela nunca iria querer deixá-lo.
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