𝟮𝟵. PRIMAVERAS DE PRATA
CAPÍTULO VINTE E NOVE.
'o tempo lançou um feitiço
em você, mas você não
me esquecerá.'
Thalia lembrava-se bem do tempo que passou cuidando dos preparativos, escondendo-se da triste realidade da guerra atrás do véu de seu casamento. Thalia Black e James Potter escolheram se casar em uma manhã de primavera, aproveitando as flores exuberantes e o clima ameno da estação. O local escolhido foi o jardim dos pais de James, um santuário verde com árvores espalhadas de forma estratégica, que ofereciam um cenário de tirar o fôlego para a cerimônia que fora tão meticulosamente organizada. Um vasto gramado servia como corredor, as folhas no chão brincando entre o verde e o amarelado tão distintos entre o chão, com fileiras de cadeiras brancas alinhadas ao comprido corredor ao qual os convidados assistiram a noiva passar. O arco de flores servia de altar. Na entrada do gramado, estendia-se uma trilha de pétalas de rosas, cujas pontas eram amarradas às cadeiras dos convidados, guiando-os até seus assentos. A decoração era discreta, porém elegante, com vasos de rosas e tulipas brancas espalhados pelas laterais, criando uma atmosfera de pureza e romance das quais os noivos eram merecedores.
Teria sido uma cerimônia linda, se tivesse durado até o fim. Infelizmente, a cerimônia do casamento de Thalia Black e James Potter se transformou em um pesadelo quando um grupo inesperado de Comensais da Morte interrompeu a celebração pacífica. Os encantos de proteção, nunca antes testados dessa maneira, surpreenderá os noivos e os presentes, abrindo brechas para a presença de uma quinzena de comensais da morte fiéis aliados de Voldemort. Eles sequer sabiam que Voldemort tinha consigo tantos devotos. A ordem vinha lutando com aliados deles mais do que com os próprios comensais da morte, entendiam agora a razão. A própria presença de Voldemort se fazia sentir no evento, levando pavor aos convidados, a maioria dos quais havia fugido desesperada.
O que deveria ter sido um dia de alegria e celebração deu lugar à tensão e ao medo. Os comensais da Morte se espalharam, assustando aqueles que ainda permaneciam lutando bravamente, enquanto Voldemort, agora presente, se divertia com o caos causado. O lugar antes repleto de flores e vestes leves agora encontrava-se manchado pela presença macabra dos aliados do cruel, e o clima de amor e alegria dissiparam-se, substituído pela escuridão e terror que a marca no céu carregava. Diante do caos e pavor, Thalia e James, vestidos com suas vestes de noivo e noiva, encontram-se em meio às tropas invasoras, lutando para salvar suas vidas, visto que não puderam fazer o mesmo com seu dia especial. Os feitiços e gritos ecoavam pelo local, as flores eram amassadas e as vestes eram manchadas de sangue e terra, enquanto a batalha entre a Ordem da Fênix e os Comensais da Morte parecia ter invadido o santuário antes pacífico.
O cenário era caótico e até um tanto melancólico. Os comensais da morte caminhavam pelo local, procurando vítimas e levando pavor aos poucos convidados que ficaram. Os sons de batalha se intensificam, enquanto Voldemort, de forma crua e sinistra, se colocava em um pedestal, observando tudo com um olhar maléfico. Banhado em sua própria arrogância, ele pensará que a vida de todos eles girava em torno dele, o bruxo viu a festa de casamento como uma afronta, como eles ousavam fazer cerimônias tão alegres quando o bruxo mais poderoso de todos os tempos se erguia perante eles?
Para Voldemort, o simples ato de celebrar o amor parecia inútil, desprezível. Por que alguém perderia tempo com a felicidade do amor quando ele, o grande lorde das trevas, reinava supremo? O casamento de Thalia Black e James Potter não era algo para ser comemorado, mas sim um insulto à sua poderosa presença. Ele contemplava com satisfação a desorganização e pânico que se espalhara entre os presentes. Aquilo era uma prova de seu poder e domínio, e ele se sentia imbuído de um orgulho sombrio de testemunhar o caos causado. Em sua glória, não podia permitir que essa alegria continuasse, pois ela era uma zombaria ao reinado que ele acreditava merecer.
Os sons de batalha e gritos de pavor continuavam ecoando pelo lugar, outrora pacífico, do casamento. Os comensais da morte se moviam rapidamente, espalhando maldição atrás de maldição, enquanto Voldemort, no centro, permanecia observando com um olhar de satisfação. Aquele era o caos que ele havia desejado, o medo que queria impor a todos eles. Foi fácil para Thalia encontrá-lo, seu vestido de noiva tinha as beiradas propositalmente rasgadas, algo que a própria fez durante a batalha em busca de maior agilidade. Não era intenção dela parecer tão macabra ao caminhar com a varinha em mãos, seu véu ainda colado na tiara em seus cabelos pretos, seu rosto e braços carregavam marcas da luta, o sangue manchou seu vestido e seus olhos foram desfocados de tudo se não o homem à sua frente.
Thalia trouxe suas origens de volta, mostrando ser uma Black quando atacou pelas costas, como uma cobra a fim de causar danos irreparáveis para aquele que a perseguia e destruía a todos que ela amava. Voldemort mal teve tempo de reagir quando Thalia Black ataca pelas costas, exatamente como uma traiçoeira. O bruxo mais temido não pôde impedir o inesperado ataque, e a maldição de Thalia colidiu com seu corpo, fazendo-o sentir toda a fúria e vingança acumuladas dentro dela durante aqueles longos meses. Os comensais do lado de Voldemort perceberam tarde demais a situação, e ficaram surpresos com o ataque inesperado. Eles rapidamente tentam reagir mas são impedidos pelos membros da ordem, enquanto Voldemort permaneceu momentaneamente atordoado com o golpe, tentando recuperar o controle da situação que ele mesmo criará.
A raiva de Thalia por aquele homem fora cultivada pelo mesmo a muito mais tempo do que ela lembrava, aos dez anos ou menos quando o nome dele surgiu durante o jantar, dividindo a mesa de sua família em desconfiança e medo. Mais tarde, aos dezessete anos, quando o incentivo dele revelou um Regulus que ela nunca procurou conhecer. Uma hora atrás, quando ele invadiu e a tirou dos braços de seu marido, a jogou no pandemônio que ele iniciou.
━ Crucio! ━ Sua fúria ultrapassou seus limites, levou seus princípios e enterrou seus sentimentos bons, havia apenas a raiva pura, o ódio e o desprezo, a vontade de matar aquele homem. Era o necessário, ele tombou como qualquer outro, estremeceu no chão como um fraco, mandou a ela um vislumbre de esperança inútil.
Não durou muito, de qualquer forma, ele levantou-se logo depois, imune aos feitiços, o ódio que ela sentiu uma vida inteira não se comparava ao ódio que ele tinha ao redor de seu coração. Ele levantou a varinha, o cabelo castanho perfeitamente preso para trás com algum tipo de gel, uma única mecha escura caiu sobre sua testa, seus olhos uma vez escuros brilharam em vermelho resplandecente, era apenas maldade e ela sabia que não seria forte o suficiente.
━ Thalia! ━ James berrou, correndo até ela, tirando os vultos de seu caminho, o desespero em suas mãos levantadas deixando a varinha cair, pensando apenas em alcançar a mulher que amava, livrá-la de sua condição.
━ Não! ━ Thalia tentou impedi-lo, virando-se, se distraindo do feitiço que vinha em sua direção.
O momento passou diante de seus olhos lentamente, como uma fita estragada de um filme muito velho e descuidado. James se lançou sobre ela, os braços fortes a girando enquanto eles caiam, fazendo com que ele atingisse o chão e a garota apenas caísse sobre ele. O feitiço porém, nunca chegou até eles, os dois se viraram vendo um Voldemort igualmente confuso e desarmado. No vislumbre cinzento do jardim, novos aurores chegaram, seus uniformes azuis pareciam brilhar entre as vestes escuras dos comensais e as roupas sócias sujas dos convidados, os fiéis ao bruxo das trevas se aproximaram, inteligentes sabiam que era hora de partir quando notaram ser o menor número.
Thalia, porém, apertou os olhos, vendo Regulus entregar de volta a varinha perdida de Voldemort, para só depois se juntar aos companheiros, mas não antes que a ━ agora Potter, pudesse notar a mão dele descansar calmamente na cintura da bruxa ao seu lado. Thalia notou como a garota escondeu a varinha, que a pouco usará secretamente para livrar os Potter de uma maldição da morte. A noiva se apoiou nas palmas das mãos, olhando para o grupo de comensais mas focando apenas em uma pessoa em especial. A mulher de cintura afinada, trajada com roupas escuras como seus companheiros, ela, porém, chamava a atenção pelo contraste das cores. Seus traços faciais eram suaves e pálidos, porém determinados, com olhos pretos que brilhavam com confiança e astúcia, mas também apreensão desconfiada. O cabelo ruivo, ondulado e selvagem, caía em cascata pelas suas costas, adicionando um toque de cor vibrante ao seu visual sombrio, uma morta-viva, uma miragem.
━ Betsy?
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