Em terra de cego, quem tem um olho é rei

Liam

Vim até a casa do meu pai para pegar algumas coisas do meu quarto que eu preciso, estou passando a maior parte do tempo no apartamento, então é melhor se eu tiver minhas coisas por lá também.

Eu não consigo dormir mais aqui na casa do meu pai desde a última vez que o agiota entrou aqui, eu não consigo me sentir confortável e muito menos seguro, até cheguei a comentar com meu pai uma vez sobre ele se mudar daqui, mas ele disse que não queria sair do bairro, então eu apenas respeitei a sua decisão.

Desde aquele dia eu tenho medo de algo assim acontecer de novo, as coisas estão muito quietas ultimamente, mesmo que eu já tenha pago toda a dívida do papai, o agiota disse que voltaria e até agora não apareceu, isso me deixa preocupado.

Se ele não voltou talvez ele tenha mudado de ideia, e se não veio cobrar nada até agora é porque o meu pai não fez mais nenhuma dívida e não pegou dinheiro. Isso é muito bom, comparado com que as coisas eram antes é bom ver que ele está parando com isso, se ele parar de uma vez com a bebida também, seria muito bom.

— Oi, filhão — meu pai aparece na porta do quarto — não te vejo faz tempo, tá com seu namorado?

Ele parece sóbrio, isso é bom.

— Sim, ele meio que me deu um apartamento — digo.

— Que maravilha!

— Sim… é… se o senhor quiser ir visitar uma hora dessas eu posso te levar lá.

— Com certeza eu quero sim.

Ele está diferente.

— Tudo bem, pai? — eu me levanto do chão onde antes eu estava sentado.

— Tudo bem… e você?

— Estou bem.

Ficamos em silêncio.

— Pai… eu tenho uma coisa pro senhor — digo, ele me olha curioso.

Vou até a minha mochila e pego o pequeno embrulho.

Eu trouxe caso eu encontrasse ele aqui hoje, não tinha certeza sobre isso, mas eu comprei porque me lembrei dele assim que vi na vitrine da loja. Me lembro que quando eu era menor, ele sempre quis comprar um relógio desses, mas nunca teve condições então sempre comprava os dois mais baratos, mas hoje eu posso comprar um desses pra ele, não sei até quando, mas eu quero tentar aproveitar um pouco desse dinheiro, mesmo que seja tão difícil pra mim.

— Feliz Natal — entrego para ele e vejo seus olhos se iluminarem.

— Caramba, filhão… não precisava.

— Relaxa, pai, eu nunca te dei um presente de Natal então achei que essa era a hora… abre pra ver se o senhor gostou.

Ele rasga o papel frágil embrulhado em volta da caixinha e sorri para mim assim que vê o relógio.

— Eu… eu não sei nem o que dizer — seus olhos estavam cheios de lágrimas.

— O senhor gostou?

— Eu adorei! Filho, isso é incrível, eu… muito obrigado.

— Imagina, fico feliz que tenha gostado, pai.

Vê-lo sorrir depois de tanto tempo é bom.

— Eu não comprei nada… a grana tá meio curta, sabe? — ele diz um pouco sem graça.

— Não se preocupe com isso, pai, o senhor estar com saúde é o que importa — sorrio para ele.

Me surpreendo quando ele vem até mim e me abraça. Eu não recebo um abraço do meu pai há muitos anos, eu nem me lembrava de como era a sensação… é aconchegante, eu queria poder ter mais vezes.

— Feliz Natal pra você também, filho.

Ele me abraça mais forte.

A sensação é diferente.

É como se fosse o nosso último abraço.

Mas eu quero aproveitar como se fosse…

Eu te amo, pai.

[ . . . ]

Voltei para o apartamento depois de passar um tempo com o meu pai, ele disse que iria pescar com alguns amigos amanhã, eu não sei quem pesca em plena véspera de natal, mas o papai disse que iria.

Então eu estava aqui pensando e tive uma ideia, mas é um pouco complicado conseguir isso.

Como dar um presente para alguém tão rico?

Ele deve ter de tudo, não consigo pensar em nada que ele gostaria de ganhar.

Talvez eu pudesse pedir ajuda para alguém próximo a ele, mas eu não conheço nenhum amigo próximo dele… tem o Gabe e o Stiles, mas eu nunca nem cheguei a conversar com eles.

Será que o Nolan ou a Lydia saberiam de algo assim?

Eles não são tão próximos do Theo, não devem saber o que ele gosta.

Já sei!

O assistente dele, o Edy. Edy está sempre com o Theo, ele não parece ser muito amigável porque todas as vezes que eu vou até a empresa ele me olha de um jeito nada bom.

Mas ele é a única pessoa que passa mais tempo com o Theo, deve conhecê-lo melhor.

Eu acho que tenho o número dele, no email que eu recebi tinha o número de algumas pessoas da empresa que estava como exigência eu ter aqui comigo caso por algum motivo eu precisasse.

Depois de um tempinho procurando pelo número eu encontrei, disquei e esperei chamar até que ele atendeu.

— Alô, Sr.Edy. Você está ocupado? Gostaria de pedir uma coisa — não ouço nada além de silêncio — Sr.Edy, você está aí?

— Sim, o que é?

Me ajeito no sofá enquanto mexo na almofada um pouco inquieto.

— Você sabe quais itens o Sr.Raeken geralmente usa? Ou o que ele gosta? Eu gostaria de dar um presentes para ele na próxima vez que nos encontramos, mas não faço ideia do que dar para ele. Achei que você saberia…

Ouço uma risada fraca do outro lado da linha.

— Você? Dar um presente para o Sr.Raeken? — ele tem um tom de deboche — se eu te disser, você teria condições de comprar?

— Eu…

— Acho que você entendeu tudo errado. Tudo o que você precisa fazer é seguir as instruções do Sr.Raeken. Para falar a verdade, acho que você vem cruzando a linha esses dias, o Sr.Raeken é gentil e é por isso que ele ouve seus pedidos ridículos, não subestime isso. E mais, eu preferiria que você não iniciasse contato com o Sr.Raeken de agora em diante, foque somente no que ele quer que você faça, que é manter esse relacionamento de fachada. Vou desligar agora.

Eu… estou fazendo tudo errado?

[ . . . ]

— O presente é para um homem na faixa dos 30 anos, certo? — A atendente da loja perguntou e eu assenti.

Eu decidi vir até o shopping para comprar um presente para o Theo, eu acho que o Edy foi um pouco rude, mas depois de pensar um pouco eu decidi vir até aqui.

— Nós temos aqueles relógios e também algumas pulseiras, o senhor gostaria de dar uma olhada?

— Quanto custa as pulseiras?

Será que ele gostaria de uma pulseira de ouro? Não é assim tão chamativa, é tão fininha e delicada. Será que é delicada demais para algo que ele goste?

— O preço depende do material, o preço desse bracelete está escrito bem aqui.

É mais caro do que eu imaginei.

O Edy tinha razão quando disse que eu não tinha dinheiro o suficiente…

Será que o Theo acharia bobo eu ter comprado um presente de Natal para ele?

— Vou escolher esse então.

[ . . . ]

No dia seguinte

— Você me pediu para arranjar tempo, então eu pensei que você tinha um grande plano em mente… mas você só queria ir para a minha casa? — Theo perguntou.

Estamos em seu carro, o Theo me pegou no apartamento e eu confesso que estou bem animado para esse Natal. Ele está dirigindo há alguns minutos, ele está diferente, o seu cabelo não está tão penteado como sempre, não está vestindo suas roupas sociais de sempre, mas ele fica muito bem vestindo preto.

— Sinceramente, é a minha primeira vez passando o feriado com alguém assim, então eu não sei o que devemos fazer — digo.

Olho pela janela do carro, as ruas estão cheias de pessoas andando para todos os lados com sacolas ou acompanhados.

— Tem algum lugar que você queira ir, Sr.Raeken?

— Theo. Me chame de Theo.

— Ah, é verdade… as vezes eu esqueço… — murmurei e ouço ele soltar uma risada baixa.

Ficamos em silêncio.

— Gostei do que fez nas unhas — ele diz de repente.

— Ah! A Lydia que fez pra mim, ela disse que combina comigo — sorrio um pouco nervoso.

— Fica bom em você.

Meus olhos voltam para a janela, o carro parou no sinal e eu vejo uma loja do outro lado da rua.

— Theo, eu já sei aonde eu quero ir.

Theo

— Você veio aqui para tirar uma foto de passaporte? — perguntei, vendo ele animado colocando sua digital no suporte da cabine.

— Agora parece bobo com você falando assim — ele fica ao meu lado.

— Não tem mais volta — puxo ele para mais perto de mim quando a máquina começa uma contagem regressiva.

Ela tira uma foto.

— Sorria, Theo.

Mais uma.

— Você está sorrindo?

— Claro.

Outra e em seguida outra.

Liam saiu animado da cabine e espera as fotos saírem do lado de fora.

— Elas ficaram muito boas — ele diz, pegando a tirinha de Polaroid.

Chego mais perto para poder vê-las.

O cheiro do shampoo dele é muito bom.

— Eu vou te dar uma — ele me entrega uma das fotos — você vai poder exibi-las quando eu me tornar um veterinário famoso — Liam ri.

Ele é adorável.

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top