𝟎𝟏. ATAQUE AO CAPITÓLIO

Estados Unidos, 2023.

— E OS sonhos? você ainda os tem?

Aquela voz calma e ponderada perguntou com um tom complacente, como se já soubesse da resposta e lamentasse por ela. Bucky odiava àquela voz. O tom baixo, calmo, aquilo o incomodava, soava como algum tipo provocação considerando sua situação. Não é como se ele a odiasse, a pessoa em si, isso não. Com o tempo ele acabou percebendo que era apenas a maneira como a mulher falava com todos.

— Alguns sim – James respondeu sem a olhar diretamente para ela. Ele não conseguia sustentar seu olhar perfurador. Ao mesmo tempo que sua voz era suave, seus olhos não. Bucky sentia como os olhos dela fossem capazes de ler sua alma da forma mais profunda.

A Dra. Bonaventura era a psicóloga determinada pelo governo ao qual Bucky deveria visitar diariamente durante as tardes. Essa era uma das cláusulas mais importantes de sua liberdade condicional. Caso ele não fosse as sessões, seria declarado novamente um fugitivo e voltaria para a prisão. Por mais que ele odiasse sentar diante dela todos os dias e falar coisas que o deixavam desconfortável, ele estava começando a se acostumar com a mulher de cabelos cacheados escuros e óculos redondos de aros dourados que o observava atenciosamente. Afinal, ele não tinha muita escolha mesmo e nem muita companhia.

— Gostaria de me falar sobre eles?
Ela perguntou suavemente. Bucky se recostou no sofá e suspirou.

— É difícil lembrar - Falou, boa parte era mentira, mas outra metade dele só não queria tocar no assunto. - Eles costumam ser confusos. Eu continuo naquele lugar... algum buraco de Berlin. Eles me levam a uma sala branca e me amarram, mas isso nem chega a ser a pior parte.

— E qual é o problema, você consegue me dizer?
Bucky desviou o olhar novamente e balançou a cabeça.

— Eu sempre vejo um rosto, é o mesmo rosto - Continuou, sem perceber que as palavras estavam fluindo com mais facilidade agora. – É a médica que tentou me ajudar a escapar da H.Y.D.R.A alguns anos atrás.

A doutora anotou brevemente em seu caderno e então voltou a encarar Bucky.

— Uma médica? Você nunca falou sobre ela. Quer falar agora?

Bucky suspirou. Ele não queria, mas sabia que precisava. Ele só falou a respeito de Lilyan para uma única pessoa, seu melhor amigo Steve Rogers, o qual Bucky não tem mais ao lado.

— Durante um tempo a H.Y.D.R.A. trouxe cientistas e todas as partes do mundo, eles queriam encontrar alguém que fosse capaz de criar a lavagem cerebral perfeita, algo que nunca precisasse de manutenção ou coisa do tipo - Bucky começou.- Eles trouxeram essa doutora... Lilyan, ela era russa, mas não fazia ideia de onde realmente estava se metendo.

A mulher ouvia com atenção e não o forçou a continuar quando Bucky hesitou.

— Quando se deu conta do que tudo àquilo significava, tentou reverter, tentou me ajudar...

Ele não conseguia falar. Naquele momento Bucky sentiu algo em sua mão de metal. Não era nem se quer o mesmo braço de metal, no enquanto ele ainda conseguia sentir a resistência do pescoço da mulher contra o metal frio. Algum tipo de memória que ele não conseguia lutar contra.

A doutora o olhou e então balançou a cabeça.

- Tudo bem, senhor Barnes, podemos deixar isso para o próximo encontro – Finalmente ela disse, fazendo com que ele suspirasse internamente de alívio.

Ela sabia que o homem de olhos azuis tristes não voltaria a falar tão cedo.

BUCKY DEIXOU o prédio comercial onde seus atendimentos aconteciam. Apesar da psicóloga não trabalhar em uma base militar, ele sabia que ela era do exército. James ficou minimamente satisfeito por não precisar ir até algum prédio militar para fazer suas sessões diárias. As sessões já eram desconfortáveis o suficiente, ele não precisava estar dentro de uma caixa branca do governo para se sentir aínda pior com aquilo.

Assim que o Soldado Invernal deixou o prédio e estava prestes a atravessar a rua, ouviu as sirenes. O homem virou o rosto em tempo de ver o enorme carro vermelho com sirenes acessas e barulhentas virar a esquina e seguir pela rua em alta velocidade. Bucky viu uma criança que não deveria ter mais do que sete anos correndo atrás de uma bola que estava presa em baixo de um carro estacionado do outro lado, naquele momento ele percebeu que precisaria ser rápido ou presenciaria uma tragédia.

O homem correu, muito mais rápido do que alguém comum poderia fazer. Ele cruzou o caminho do caminhão de bombeiros puxando a criança consigo nos braços. Atrás do caminhão vinham outros dois e ainda uma ambulância.

"Que merda...?" –, ele pensou enquanto deixava a criança na calçada. Uma mulher ofegante, a mãe do menino, aproximou-se com uma mão no peito e olhos arregalados. Ela o agradeceu energicamente, visivelmente abalada pelo que poderia ter acontecido com seu filho. Bucky balançou a cabeça, alegou que não fizerá nada demais. A verdade é que sua cabeça estava em outro lugar, o homem não conseguia parar de olhar para os lados, para cima e por toda parte buscando entender o que estava acontecendo.

Foi só quando ele viu alguém muito, muito conhecido cruzando o céu na direção do centro da cidade que ele compreendeu que algo realmente ruim havia acontecido. Sam Wilson, em seu novo traje branco, vermelho e azul, cruzava o céu como uma bala.

Bucky voltou rapidamente e subiu de uma vez em sua moto que estava estacionada na lateral do prédio. Talvez ele não fosse o melhor herói, em sua mente ele não chegava nem próximo de um herói na verdade. No entanto, ele não se importava com isso, Bucky estava disposto a fazer o que pudesse sempre que pudesse e ele não poderia simplesmente dar as costas e ir para seu apartamento depois de presenciar todos esses indícios de que uma tragédia havia acontecido. Não importava se ele sabia ou não que Sam poderia cuidar de tudo.

A moto era veloz e ele estava indo ao máximo, ele percebeu que os carros de emergência seguia todos pela avenida na direção do Capitólio no centro de Washington DC. Ao erguer os olhos, Bucky registrou a imagem do enorme prédio, um dos maiores símbolos de democracia já existente na América completamente em chamas.

O prédio inteiro queimava. Haviam muito mais ambulâncias e carros de bombeiros além do que ele havia visto no caminho. Pessoas saim ofegantes, chorando e sujas de fuligem. Bucky apertou os olhos e buscou entender melhor o que poderia ser. Era claramente algum tipo de atentado terrorista, mas qual?

Ele se lembrou imediatamente ao ataque no prédio das Nações Unidas anos atrás quando ele foi responsabilizado pela explosão. As imagens que ele estava presenciando ao vivo eram assustadoramente parecidas com aquilo que ele viu pela TV no outro ataque.

"Mas... Zemo está preso... ele não poderia..."

Bucky saltou da moto, depois ele pensaria nisso.
Haviam pessoas que precisavam de ajuda naquele momento. O Soldado correu em direção as pessoas, checando aqueles que saiam carregados, ele seguiu imediatamente para dentro, arrastando vigas e paredes caídas para resgatar qualquer um que pudesse.

SAM POUSOU EM frente ao homem com o braço de metal. Bucky estava auxiliando os bombeiros a remover escombros e retirar pessoas de debaixo deles.

— O que foi isso?
Foi a primeiro coisa que James perguntou ao novo Capitão América que simplesmente balançou a cabeça.

Sam carregava um olhar sério, seu semblante era uma máscara rígida de preocupação.

— Ninguém faz nem idéia de que merda pode ter acontecido – Respondeu, seu tom de voz refletindo as emoções estampadas em seu rosto. - Cara... foi de repente... sem aviso, sem ameaças... o lugar só foi pelos ares.

— Como aconteceu com o prédio das Nações Unidas quando Zemo explodiu e me incriminou.

Sam negou com a cabeça.

— Ai é que tá! - Ele exclamou agitando os braços. - Ele incriminou você, havia algo, havia um suspeito, aqui... não tem nada além de destruição e morte.

Bucky olhou envolta. Muitas mortes.

— Por que o prédio estava tão cheio? – Ele perguntou, sua mente tentando juntar as peças e compreender o que aconteceu.

— Era algum tipo de reunião ou parlamento, eu não faço idéia – Sam coloca as mãos na cintura. – Mandei esquadrilharem a área. Todas as câmeras, todas... Alguma precisa ter alguma coisa. Quem quer que tenha feito isso deixou algo para trás.

Bucky concordou silenciosamente e se virou quando ouviu um bombeiro solicitando auxílio de outros para erguer uma parede. O Soldado prontamente seguiu na direção deles, pediu que se afastassem e ergueu com apenas o seu braço mecânico.

HAVIA SE PASSADO quarenta minutos, o trabalho continuava árduo, mas com a presença dos dois heróis e a Defesa Cívil, a maioria das vítimas vivas haviam sido resgatadas. Bucky se aproximou novamente de Sam, o mesmo estava concentrado analisando as imagens que havia recebido das câmeras de segurança responsáveis por todo aquele quadrante.

— Como conseguiu acesso a essas imagens tão rápido?
Bucky pergunta. Ele não sabia como essas coisas funcionavam, mas ele imaginou que fosse demorar um pouco mais.

— Eu conheço um cara – Sam respondeu sem desviar seus olhos da tela do tablet. Ele via as filmagens das últimas horas com atenção, evitava até mesmo piscar, não poderia perder nada, muito menos tempo. Ele sabia que se precisasse ficar revendo as imagens, o responsável teria cada vez mais vantagem de tempo para simplesmente desaparecer.

— Viu isso? – Bucky perguntou. Ele estava ao lado de Sam, os olhos atentos a tela.

— Isso o quê? – Sam perguntou franzindo as sobrancelhas.

Bucky apontou para a tela:

— Volte alguns segundos – Pediu, Sam retrocedeu alguns instantes no vídeo. – Isso.

Bucky indicou o canto inferior próximo a esquina. Não passava de uma sombra, alguns chamariam de fantasma.

— Certo... e? – Bucky revirou os olhos para Wilson.

— É uma pessoa, e entrou em um carro.

Sam examinou com atenção e constatou que Bucky estava correto. Era impossível distinguir o que poderia ser aquela sombra, porém a mesma havia entrado em um carro. A placa não era visível, mas o modelo do automóvel sim.

— Será que é quem estamos procurando?
Sam questionou.

— Viu mais alguém nas filmagens?

— Não. É a primeira coisa que aparece em quase 4 horas de gravação.

— E foi quanto tempo antes da explosão?

Sam verificou nas imagens.
— Cerca de 5 minutos.

— Provavelmente acionou os dispositivos remotamente.

— É, provavelmente – Sam murmurou pensativo. – Certo, você pode até estar ligeiramente certo. Vou mandar o modelo do carro pra alguém e ver se conseguem identificar melhor.

Bucky concordou e então voltou a olhar as imagens. Aquela sombra borrada definitivamente era como um fantasma. E isso não saía de sua cabeça nem por um segundo.

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