𝐂𝐡𝐚𝐩𝐭𝐞𝐫 : 𝟎𝟑
. . .
Por alguma razão, eu estava aqui mais uma vez. Tudo em volta daqui parecia um maldito imã o qual eu não era capaz de controlar, visto que quando me dei conta das minhas próprias ações, já havia vestido a jaqueta de couro que sempre ficava estendida sobre o sofá e saído pela porta da sala sem sequer tomar o café da manhã. Por que eu insistia em voltar para cá, de qualquer maneira?
O silêncio da rua pacata foi logo interrompido pelo barulho do motor assim que virei a curva para estacionar em um local não tão distante da biblioteca, a única que existia nas redondezas em um raio de mais de 100 km, o que tornava praticamente impossível errar sua localização. Desliguei a moto em um movimento rápido, apoiando o peso do meu corpo na extensão do veículo para esperar o início de mais um dia enquanto elevava o meu olhar para os arredores.
Porra, o que estou fazendo?
Não existia nada de especial naquela garota para começo de conversa, e muito menos na biblioteca. Eu sempre ficava desocupado nesse horário para tirar um descanso da banda, então não fazia tanta diferença como gastava meu tempo agora, mas era completamente inútil continuar a vigiando quando poderia estar treinando ou correndo em alguma aposta idiota com os caras.
Assim que ela descobriu meu verdadeiro nome, entrei em um estado automático de sobrevivência, e pensei que seria necessário fazer uma checagem para neutralizá-la caso fosse necessário - embora eu tivesse odiado realizar essa tarefa.
Pensando nisso, fiz questão de ficar como um cão de guarda para traçar todos os seus movimentos durante a luz do dia como um tipo de stalker doente, pois poderia ser mais fácil encontrá-la se alguma notícia escandalosa a meu respeito aparecesse na internet no momento em que eu acordasse no próximo dia.
Era uma questão de segurança, para falar a verdade. Possuir milhões de seguidores nas redes sociais e ser reconhecido internacionalmente não é muito interessante quando se trata de admiradores, e isso realmente acaba com minha sanidade aos poucos. Todo mundo te reconhece em qualquer lugar a qualquer momento, e quando sabem que você tem a atenção deles, te tratam diferente das outras pessoas ao seu redor e te mimam como se fosse um deus. Eu estava apenas... Cansado.
No entanto, havia uma estranha sinceridade naqueles olhos que avistei a alguns dias atrás pela primeira vez. Ela realmente não ligava para mim. Eu, aquele ao qual as pessoas colocavam tanta expectativa e se matavam para receber pelo menos um segundo olhar, não era nem um pouco importante para aquela garota.
Ela poderia estar mentindo sobre isso para receber créditos, claro. Mas fazia algum tempo desde que consegui ficar perto de alguém que me tratava normalmente e tinha coragem de rebater de volta, então sua presença era um pouco reconfortante.
Além disso, ela era uma mulher. Esse fato pode não significar muita coisa, mas para mim era um ponto extremamente importante a se considerar, já que não me aproximava de uma mulher desde o fatídico incidente com o meu irmão.
Talvez tenha sido por esse motivo que eu parecia um completo imbecil fugindo daquelas meninas do outro dia, como um covarde. Porque eu realmente era um covarde. Não havia mal nenhum em aceitar algumas fotos e um autógrafo, mas apenas a imagem delas me tocando em um abraço ou coisa parecida me causava arrepios nada bons, e eu não queria machucá-las fazendo elas pensarem que o problema era elas quando na realidade eu que era o culpado.
Bom, apesar de tudo, pelo menos não posso negar que estar na situação atual de perseguição é bem melhor do que estar lidando com a ressaca prolongada de Satoru.
Falando no diabo, o meu celular vibra em meu bolso para sinalizar a chegada de uma nova mensagem. Ele havia enviado alguns áudios que eu nem me daria ao trabalho de ouvir e apenas uma mensagem de texto no final, uma que me chamou a atenção.
"Espero que não tenha se esquecido de hoje a noite."
Imediatamente juntei as sobrancelhas após ficar longos segundos encarando a tela. Claro que eu não havia esquecido. Hoje seria o momento em que nos acertaríamos com Sukuna para resolver os problemas da banda, problemas estes que envolviam muito mais sua vida pessoal do que a nossa como um grupo.
Soltando um suspiro frustrado, eu finalmente avisto o motivo da minha vinda se aproximar. Observei sua figura caminhar lentamente pela calçada e parar na frente da porta da biblioteca para retirar um molho de chaves de sua mochila, se enrolando para destrancar a fechadura com uma expressão concentrada. Aproveitei sua distração para dar uma boa olhada em seu corpo dos pés à cabeça, não para julgar sua beleza ou algo assim, mas para fazer uma pequena análise.
Ela era apenas normal. Normal como qualquer garota universitária deveria ser. Nada de penteados elaborados, nada de roupas chamativas e nada de elementos extravagante como as mulheres que eu estava acostumado a ver com certa distância em meu círculo social. Sinto que se ela pudesse vir da maneira como acordou, com certeza viria.
Sem pensar muito, um sorriso surgiu em meus lábios e apertei a buzina algumas vezes para provocá-la. E essa ação deu mais do que certo do que eu esperava, pelo visto. A garota se assustou e deixou cair as chaves no chão, se virando imediatamente para trás e estreitando os olhos para mim como uma ameaça. A esse ponto, ela era capaz de me reconhecer mesmo que eu estivesse de capacete, então consegui sentir sua raiva borbulhar por mim quando continuou me encarando.
─ Qual é, isso é algum tipo de pegadinha de mal gosto? ─ ela resmunga irritada, se abaixando com murmúrios de protesto para pegar sua chave e seguir para dentro da biblioteca sem me dar um pingo de moral.
Deixei escapar uma risada baixa e tirei o capacete, levando o objeto comigo para o interior do local para poder acompanhá-la.
─ Não seja exagerada, não é como se eu fosse fazer alguma coisa com você. Também tenho uma reputação a zelar, e você nem vale o esforço.
Ela finalmente se vira para me olhar e respira fundo, afastando uma mecha de cabelo de seu rosto e cruzando os braços em uma posição defensiva logo em seguida.
─ Exagerada? Já faz quatro dias que você continua com essa sua pira de me seguir. Eu deveria no mínimo ter o direito de reclamar, não concorda?
─ Eu acho que-
─ Poupe seu fôlego, foi uma pergunta retórica. Eu não quero saber se você concorda ─ ela simplesmente me corta antes que eu possa terminar.
Caramba, isso. Só Satoru tinha a audácia de falar assim comigo, me interrompendo no meio das minhas frases. Contudo, não perco a oportunidade para zombar de sua declaração, ainda com um sorriso no rosto que não melhorava nem um pouco seu humor.
─ Não sei se você sabe, mas perguntas retóricas não funcionam assim.
Ela paralisa, franzindo o cenho enquanto parece pensar sobre isso. Então, a realização logo bate em sua porta e ela estala a língua em um claro sinal de derrota, finalmente marchando para o balcão ao colocar a mochila que carregava em uma cadeira qualquer.
─ Ah, cala a boca.
Apesar de não ter gostado da resposta breve, apenas imitei o seu gesto e coloquei o meu capacete na mesma cadeira. Então, segui em direção ao balcão e sentei no meu lugar habitual. Não era o local mais incrível em que já estive, mas ainda assim era bem confortável. A falta de luz solar direta tornava o ambiente agradável, e a brisa fresca da manhã vinda da janela proporcionava uma boa sensação.
Desviando meu olhar para o balcão, percebo um elemento diferente posicionado embaixo de um pequeno vaso de plantas. Um crachá. Pela distância que eu estava, ele parecia bem velho e as informações que deveriam estar visíveis já se encontravam borradas. Então, presumi que provavelmente ela faria uma substituição muito em breve para que pudesse ser identificada pelos visitantes. Pensando nisso, o detalhe me fez lembrar de algo importante.
─ Ainda não sei o seu nome, aliás ─ informei, me recostando na cadeira, enquanto a observava organizar seu espaço de trabalho.
─ E nem vai saber, tenha um bom dia ─ ela me entrega um sorriso forçado e coloca o fone de ouvido, ignorando minha presença como normalmente fazia ao se concentrar no computador.
Zombei de sua reação e me inclinei para pegar o crachá, puxando-o com cuidado para que o vaso não caísse. Tentei ler o que havia ali, mas apenas a sua foto estava evidente e ainda era bem antiga, o que não me ajudou em nada no meu principal objetivo. Quando estava prestes a desistir disso, um rapaz que provavelmente não passava dos vinte anos caminha animadamente até o balcão com um livro na mão e apoia o corpo para cutucar a mulher que continuava concentrada em suas tarefas.
─ Senhorita [Nome]!
Finalmente. Um grande sorriso presunçoso cresce nos meus lábios, e acho que ela também percebeu minha descoberta quando massageou a têmpora. Belíssima hora. Belíssima mesmo, garoto.
─ Vim devolver o livro que peguei ontem ─ ele estende a mão com a ficha e desliza o livro sobre o balcão para que [Nome] pudesse alcançar.
─ Mas já, Haibara? Você não gostou ou...? ─ ela recolhe os itens, conferindo a ficha antes de marcar alguma coisa nela e devolvê-la.
─ Não fique tão impressionada, foi você que me deu esse exemplo quando terminou uma saga completa em uma semana.
─ Bom, isso é...
Confesso que me senti tanto surpreso quanto assustado. A leitura em si já não é tão cativante quando não existe um propósito muito bom por trás, mas finalizar uma saga de fantasia - ou seja lá o que fosse - em pouco tempo parecia loucura.
─ Você e tão fascinada assim? ─ me intrometo na conversa, não me importando com a presença do rapaz e nem com sua possível resposta.
─ Você não? ─ ela rebate, arqueando a sobrancelha como se desconfiasse de mim.
─ Eu não gosto de livros ─ declaro dando de ombros, desviando meu olhar para as prateleiras recheadas de histórias inventadas que eu não tinha nem um pouco de vontade de conferir ─ Eles são apenas uma escapatória para quem não consegue enfrentar a realidade por conta própria, e acho que não sou muito fã de fugir.
Era verdade. Eu simplesmente odiava livros desde o colégio, onde era obrigado a ficar estudando e estudando por horas para uma baboseira que eu nem queria para minha vida. Uma a qual a minha mãe se esforçava tanto para que eu aprendesse apenas para que não precisasse assumir os negócios da família, mas ainda sabia me virar sozinho e realmente não precisava daquilo.
Além disso, os livros de outras categorias também não eram muito diferentes, e quando experimentei pela primeira vez, me dei conta de que estava evitando as responsabilidades assim como minha mãe queria. Acho que é por causa disso que não me sinto muito acolhido em bibliotecas.
─ Uau, não precisava me humilhar também. Não estou fugindo de nada.
─ Não foi uma humilhação, princesa, é só uma questão de preferência. Eu não te julgo se você gosta.
─ Você me parece familiar... ─ ele pondera, descendo o olhar para a minha jaqueta característica.
─ Ele é meu primo ─ [Nome] interfere rapidamente, não pensando duas vezes em mentir outra vez para tirar aquela atenção de mim.
─ Você tem primos na cidade? ─ o rapaz pergunta com suspeita, ainda parecendo duvidoso.
Tive que me segurar muito para não soltar uma risada sincera. O melhor que ela conseguiu pensar foi isso? Um primo? Não consigo imaginar o motivo para que ela tenha mentido agora, já que eu poderia facilmente resolver essa situação. Essa não era a primeira vez que saía de casa sem acessórios para me ocultar, e também não seria a primeira vez que eu teria que convencer alguém de que sou apenas uma pessoa parecida com o famoso guitarrista.
─ Sempre tive, Haibara. Agora, tem mais alguma coisa que eu posso fazer por você hoje?
─ Ah, não! ─ ele exclama, coçando a nuca, enquanto analisa se deveria acreditar naquilo ou não ─ Era só o livro mesmo... Mais tarde eu venho para buscar outro. Por favor, reserva aquele que te contei para mim ─ ele solicita animado, desistindo de me identificar e finalmente se preparando para ir embora, ainda dando uma última olhada em mim antes de partir.
Vendo ele se distanciar, [Nome] solta um suspiro de alívio e se aproxima de mim para sussurrar com uma expressão divertida no rosto.
─ Essa é a segunda vez que te salvo, eu não mereço uma recompensa?
─ Permanecer viva já não parece uma boa recompensa para você? ─ devolvo sua entonação, arqueando a sobrancelha com um meio sorriso.
Não demorou para que o clima entre nós rapidamente mudasse, mas foi quando o rapaz passou ao meu lado que as coisas ficaram estranhas. Enquanto respondia a garota, consegui avistar a sombra de uma tatuagem de dragão descendo pelo braço exposto de Haibara, um dragão peculiar demais para não possuir nenhum significado. De início, não pensei em nada conforme ele seguia para a saída, mas então arregalei os olhos em reconhecimento. O dragão da minha família.
Minha respiração ficou presa na garganta, e eu fiquei paralisado por um instante. Meu pai já tinha me alertado de que estava de olho em mim, quer eu quisesse ou não. Ele tinha seus homens atentos espalhados por toda a cidade, o que tornava fácil para ele me controlar, mesmo quando eu não percebia.
─ Geto, você está bem? Parece branco como um papel... ─ [Nome] sussurrou, cutucando meu ombro para me tirar dos devaneios.
Sua voz cheia de preocupação me chamou pelo meu verdadeiro nome, e estaria em apuros se existisse alguém aqui para ouvi-la, mas isso pouco importava agora. Não consegui controlar a raiva que tomava conta de mim e simplesmente a ignorei, me obrigando a seguir o garoto pelas ruas ao sair em disparado pela porta da biblioteca. Eu precisava encontrá-lo.
Na verdade, não foi tão complicado, pois ele tinha acabado de sair e estava bem perto, a apenas duas esquinas de distância. Corri na sua direção, fazendo uma pausa rápida para pegar o canivete que guardava na minha bota - uma pequena proteção extra, já que era proibido andar com uma arma de fogo pela cidade. Droga, eu não queria guarda-costas ou espiões; essa não era a vida que eu tinha escolhido para mim. E por breves momentos, pensava que havia deixado isso bem claro a alguns anos atrás.
O movimento de pessoas pela manhã era um pouco escasso, e por essas redondezas sempre existiu muitos atalhos de becos e vielas, então não hesitei em me aproveitar desse fato para puxá-lo para um desses becos quando o alcancei.
Meu físico era mais forte e mais robusto do que o dele, logo pressioná-lo contra a parede e colocar a lâmina afiada do canivete em seu pescoço não foi uma tarefa difícil também.
─ Beleza, amigo. Eu sei o que veio buscar, então apenas confesse quem foi que te mandou.
Seus olhos se abrem amplamente, e percebo que ele está assustado pela forma como seu corpo fica rígido e a respiração acelera. Uma clássica reação de medo.
─ E-espera, deve ser algum mal-entendido! Eu não sei do que você tá falando ─ ele gagueja, levantando os braços para cima, enquanto encosta ainda mais na parede em uma tentativa de desviar da lâmina.
─ Resposta errada ─ sigo sua movimentação e pressiono o canivete com mais firmeza em sua pele, demonstrando que aquilo não era brincadeira.
A esse ponto, eu estava realmente disposto a matá-lo ali mesmo se fosse necessário. Já havia passado por diversas experiências em que deixei as pessoas se explicarem primeiro antes de fazer qualquer ação precipitada, e acabei sendo traído em todas as situações.
Depois de tantos fracassos, resolvi começar a agir de uma maneira mais crítica. Sem conversa fiada, sem riscos. Apenas o que deveria ser feito e pronto. Se eu tinha suspeita de algo, então o melhor seria eliminar o mais rápido possível.
Escuto passos apressados se aproximando de nós assim que estava prestes a fazer meu próximo movimento. [Nome] passou direto pelo beco, mas logo voltou ao ver nossas figuras. Claro, era idiotice achar que ela não viria atrás de mim quando a deixei confusa com meu comportamento a alguns minutos. Mas não esperava que ela teria coragem de me interromper durante minha ameaça enquanto estava desarmada.
─ Hey, calma aí! O que você pensa que tá fazendo? ─ bradou com urgência, tentando segurar meu braço para afastar o canivete da garganta do garoto ─ Ficou maluco?
─ Sei que ele estava me vigiando, assim como ameaçaram que iam fazer ─ afirmei, puxando meu braço facilmente para longe de seu toque.
─ O quê? Claro que não! Eu o conheço a muito tempo, e foi apenas uma coincidência que ele tenha te encontrado lá hoje.
─ A tatuagem ─ declaro rispidamente ao puxar o pulso do rapaz para expor seu braço para nossa visão, recebendo um sibilo da parte dele ─ Eu a reconheceria a quilômetros de distância, e isso não é uma coincidência.
─ Tá falando desse desenho de canetinha? ─ [Nome] passa o polegar na ponta da língua e desliza ele sobre a pele do garoto, revelando que não passava apenas de um desenho muito bem-feito, digno de um verdadeiro tatuador.
─ E-Eu... Eu peguei um exemplo na internet, mas não pensei que fosse ofender alguém ─ o rapaz se pronuncia, olhando de maneira apreensiva para nós, enquanto espera que eu o solte.
Com uma mistura de surpresa e confusão, eu relutantemente me afasto dele e franzo o cenho ao dar uma boa olhada novamente. Se o que ele disse for verdade, que tipo de imbecil faz um desenho tão complexo sem pesquisar fontes confiáveis para saber sua origem?
─ Você o escutou, não é nada demais ─ [Nome] segura meu braço por garantia, me impedindo com uma súplica silenciosa ─ Haibara é só um estudante normal, deixa ele ir.
Passei a mão pelo cabelo para jogá-lo para trás e respirei fundo, alternando meu olhar entre os dois. Será que fui muito precipitado dessa vez? Eu havia feito um julgamento completamente errado, e por sorte ele não sabia quem eu era para reclamar - ou pelo menos esperava que não soubesse. No entanto, não tinha mais nada que eu pudesse fazer agora que existia uma espectadora.
Finalmente decidi liberá-lo e indiquei com a cabeça para que ele fosse embora. Assim, o garoto não precisou nem refletir para sair correndo dali na direção oposta.
Um silêncio desconfortável preencheu o beco, enquanto [Nome] me soltava lentamente, colocando uma mão sobre o próprio peito ao avistar o colega livre. Eu podia sentir que ela também estava um pouco tensa.
─ Você realmente ia matar aquele cara por nada? O que você é, um assassino?! ─ ela se vira furiosa para mim, estreitando os olhos como se estivesse me acusando.
─ Nós nos conhecemos a literalmente quatro dias. Por que você tá tão chocada? ─ dou de ombros diante de sua indignação, me abaixando para guardar o canivete de volta na minha bota.
─ Eu só pensei que poderia ter conhecido alguém normal, pelo menos uma vez.
─ O que você quer dizer com "pelo menos uma vez"? ─ arqueei a sobrancelha, genuinamente curioso sobre qual seria sua resposta.
Ela nem se deu ao trabalho de me olhar de novo, e pareceu se lembrar da nossa dinâmica enquanto saía do beco.
─ Esquece.
Apenas observei ela começar a fazer o caminho de volta. Mesmo que Haibara tenha sido um alarme falso, eu ainda tinha muito medo do que poderia acontecer pela frente se continuasse tão exposto, e como estava perto dessa mulher, não queria que... Espera, mulher. Eu deixei ela me tocar. Talvez tenha sido por causa do calor do momento, mas eu definitivamente deixei ela me tocar.
Rapidamente olhei para o local onde ela havia me tocado e uma estranha onda de choque percorreu meu corpo com o pensamento de seu toque recente misturado com o meu passado.
Porra, eu não conseguia fazer isso. Em outras circunstâncias, eu não ia querer nada além de simplesmente arrancar meu braço fora agora, mas não senti que deveria rejeitá-la. Aquilo foi quente e confortável. Por quê? Minha vida atualmente se resumia a muitos porquês dos quais eu ainda não tinha nenhuma explicação.
Havia só uma maneira de descobrir a causa, e eu precisava que ela estivesse segura para que isso acontecesse. Eu a segui novamente e parei em sua frente, bloqueando seu caminho. Ela tentou desviar de mim, mas fui rápido em puxar um cartão que eu geralmente entregava para os locais interessados em meus shows, onde continha minhas principais informações para contato.
─ Pega meu telefone para caso você precise de ajuda ─ estendi o papel, esperando que ela tivesse algum número de emergência caso os homens do meu pai resolvessem mexer com ela.
─ Não, eu não sou nem doida ─ ela balança a cabeça e recusa o cartão, afastando-o de seu alcance ─ E além do mais, que tipo de ajuda eu iria precisar? Estou muito bem sem seu contato.
─ Só pega isso logo, merda! ─ resmunguei sem paciência, e quase pensei em forçar o cartão na mão dela, mas eu não ia a tocar de novo.
─ Se eu pegar, ─ ela começa, se inclinando com um grande sorriso ─ você promete que me deixa em paz e para de visitar a biblioteca?
Soltei uma risada com total descrença. Ela sabia muito bem o que estava fazendo.
─ Sim, eu prometo. Mas apenas me prometa de volta que se acontecer alguma coisa, qualquer coisa, você vai me ligar.
─ Tá, tá. Passa isso pra cá ─ ela finalmente pega o cartão e o guarda no bolso, passando por mim enquanto balança a mão em um sinal de zombaria ─ Adeuzinho.
Sorri vitorioso diante da reação dela, cruzando os braços. Essa garantia foi definitivamente uma boa estratégia, mas eu ainda não estava totalmente tranquilo. Minhas outras preocupações retornaram e ainda precisava resolver o problema com Sukuna essa noite, e isso estava me dando nos nervos antes mesmo do real confronto.
Me lembrei da mensagem de mais cedo e procurei o celular no meu bolso, conferindo se não havia ligações no histórico. Como não existia nenhuma, resolvi eu mesmo fazê-la. Satoru e eu tínhamos métodos diferentes de comunicação, e eu não gostava muito de ficar enviando mensagens. E pelo tanto de mensagens que me enviou, acredito que ele também estava bastante focado no assunto de Sukuna.
─ Alô, Satoru? ─ ele atendeu e fui capaz de ouvir sua voz prestes a dizer algo, mas não esperei uma resposta para prosseguir ─ É bom você ficar sóbrio rápido porque nós ficaremos ocupados essa noite, então nem pense em beber mais uma gota de álcool. E avise aquele idiota para não se atrasar de novo, eu não gosto de esperar.
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