005 • 𝗗𝗘𝗥𝗘𝗞 𝗛𝗔𝗟𝗘

Charlotte Delgado

O Jipe do Stiles ia em nossa frente, nos guiando até o local exato que paramos ontem a noite, no meio do nada.

- eu poderia estar tomando um banho quente ou comendo algo delicioso agora - murmurei - mas, ao invés disso, estou a caminho de uma floresta assassina com a minha família maluca.

- ei, mais respeito - pediu meu irmão, finalmente largando seu celular no banco do carro - sabe, os malucos também tem sentimentos.

É inútil tentar ofender estes garotos, eles nunca levam nenhuma das minhas reclamações a sério.

- relaxa, Lottie-Bug, a gente vai estar em casa antes do anoitecer.

- desde quando ainda me chama de Lottie-Bug? - franzo as sobrancelhas

- desde quando eu tinha parado? - responde com outra pergunta, me fazendo dar uma curta risada.

Stiles estacionou o carro na beira da estrada, fazendo meu primo imitar seu ato. Todos descemos do carro, indo de encontro ao Stilinski mais novo.

- e então, gênio - ironizo a última palavra - por onde vamos e pelo o que procuramos?

- pelo corpo.

- minha bombinha.

Scott olhou desacreditado para o melhor amigo e Stiles fazia o mesmo. Eu não sei como se dão tão bem, são um completo oposto, a única coisa que os dois tem em comum é a burrice.

- qual o seu problema?

- podemos procurar pela sua bomba de asma enquanto procuramos pelo corpo, não há nada de errado nisso - ele deu de ombros, adentrando a floresta.

Stiles nos guiava pelo lugar, mas o melhor amigo estava ao lado dele. Quanto mais adentrávamos a floresta, mais os assuntos iam se tornando aleatórios. Agora, conversávamos sobre a esquisitisse repentina do Scott.

- é estranho, eu posso sentir cheiros e ouvir coisas que eu não deveria.

- tipo o quê? - pergunta Stiles

Scott o olhou por um segundo.

- tipo o chiclete de menta no bolso do seu casaco.

Todos paramos de andar, pois o Stiles não consegue continuar a caminhada e procurar por algo em seu bolso ao mesmo tempo. Como eu disse, péssima coordenação motora.

- não tem nenhum clicl... - parou de falar ao puxar o chiclete de menta do bolso do casaco - eita, tinha sim.

Estreito os olhos, preocupada em como meu primo acertou sobre aquilo. Passo a mão pela de Stiles, confiscando sua balinha de menta.

- me dá, adoro menta - falo, já descascando o chiclete.

- e se for algo sério? - ele questiona preocupado - e se eu estiver com alguma infecção e o meu corpo está lutando contra ela e por isso os sentidos estão apurados?

- com certeza é uma doença - disse ele, ganhando nossa atenção, mas eu já sabia que seria alguma piada - se chama licantropia. Mas ela só ataca uma vez por mês.

Caleb e eu negamos, não dá para esperar algo sério vindo de alguém com o nome tão complicado.

- sério? Como?

- na noite de lua cheia - Caleb diz, entrando na onda do garoto em sua frente.

Então os dois começaram a uivar feito lobos desafinados, me fazendo questionar se foi mesmo uma boa ideia ter vindo até aqui outra vez.

- eu odeio vocês, idiotas.

- foi você quem ouviu um lobo. - ironizou Caleb.

Pelo visto o meu pior pesadelo está acontecendo, Caleb e Stiles estão se suportando mais do que o necessário, estão se tornando amigos.

- gente, eu tô falando sério, eu posso estar muito doente.

- eles estão brincando, Scott. - digo - mas, se começarem a derreter toda a prata que tem na cidade, é porque sexta é noite de lua cheia.

Andamos por mais um curto minuto, dando de cara com um lugar totalmente vazio. Scott olha para aquilo confuso.

- não faz sentido, ela estava bem aqui ontem à noite.

Olho em volta, não vendo nada além das árvores e as folhas secas no chão.

- vai ver o assassino levou - diz Stiles, dando de ombros.

- mais um motivo para irmos embora. Não morrer é um ótimo pretexto para ficar vivo.

- espero que ele tenha deixado a bombinha, custa uns oito dólares na lojinha perto de casa. - disse ele, revirando as folhas no chão

Decidi ajudar meu primo a procupar por sua bomba de asma, chutando algumas folhas para ver se a desgraçada aparecia, mas nada conseguimos. Me assusto com o grito fino que saiu da boca de meu irmão, me fazendo levar a mão ao peito e olhar na direção em que ele também olhava, para trás de nós.

- qual o seu problema, marica? - Stiles diz indignado para Caleb, que ainda lutava para voltar ao normal com sua respiração.

Havia um homem. Pele pálida, feição mórbida e barba rala, como se ele não a fizesse faz algum tempo. E ele nos encarava com as mãos enfiadas nos bolsos de sua jaqueta de couro preta.

- o que fazem aqui? - ele indagou, sua voz saiu mais forte do que eu imaginei que seria - aqui é propriedade privada.

Dei um pequeno passo para frente, me colocando na frente dos meninos. Por quê? Eu não sei, talvez seja o meu eu mãe protetora falando, mesmo ele sabendo que nunca ganharia numa briga com esse cara.

- desculpe, nós não sabíamos. - respondi, presa em sua beleza exuberante - só estávamos procurando por algo que perdemos ontem à noite.

Talvez eu tenha ficado reparando demais no homem que amedrontava os meus amigos. Mas como não reparar, não é mesmo? O cara é tipo um galã de série de televisão, aqueles caras maus que nos apaixonamos logo de cara. Que homem lindo. E quando eu me dei conta, já havia passado os olhos por todo o corpo do cara estranho.

- deixa pra lá - Scott diz, com a bombinha já nas mãos dele. Como é que ela foi parar ali tão rápido? E o que foi que eu perdi enquanto admirava o belo homem? E o mais importante, cadê ele?

- vem, vamos embora - diz Caleb, tocando em meu braço

Olho para Stiles, que estava totalmente eufórico com sabe lá o que.

- o que foi, carequinha?

- vocês por acaso sabem quem é aquele cara? - perguntou rapidamente, negamos em conjuntos - aquele é Derek Hale, é um pouco mais velho do quem a gente.

- mais velho quanto? - indago curiosa, ainda encarando o caminho que ele pegou - alguns longos anos ou pouquíssimos? Porque eu não me importaria de beijar aquele cara nem se ele fosse um vampiro e tivesse mil e seiscentos anos.

Os três me olhavam com os rostos franzidos, provavelmente me julgando por minhas palavras.

- garota, você é nojenta - disse Caleb fazendo careta - o que tem o cara, Stiles?

- a família dele inteira morreu em um incêndio à uns seis anos, aqui em Beacon Hills. Só ele e a irmã sobreviveram.

Ok, agora me senti mal.

- já temos algo em comum, nada de família - ironizo com um sorriso cínico nos lábios.

E outra vez eles me olharam, ainda se perguntando se eu realmente falei aquilo. Cruel.

- sabe, a sua maneira de lhe dar com a dor é bem peculiar, sabia? Eu acho melhor marcar uma terapia.

- eu vou falar para a mamãe marcar uma 'pra você, urgentemente.

- talvez a gente deva levar ela para a terapeuta da escola, sabem se ela atende agora?

Encaro Caleb com uma sobrancelha levantada. Talvez eu brinque sim com as minhas dores, mas é só uma maneira de fingir estar tudo bem. A minha maneira de continuar lutando contra ela.

- ou...- passo meu braço pelos ombros de Caleb e Stiles, me apoiando neles enquanto andamos para fora da floresta assassina - a gente pode ir 'pra casa e assistir Grey's Anatomy. - os três se entreolharam - vaii, por favor - faço beiço, como uma criança mimada - vocês me prometeram, meninos. Promessas em grupo não podem ser quebradas, dá azar.

Eu não sei se isso é verdade, mas foi algo que minha mãe me disse quando eu tinha seis anos e eu acreditei. Sempre acreditei em tudo que ela me dizia, parecia tão convencente quando era ela quem me contava qualquer fábula ou mentirinhas para crianças.

- tudo bem, mas eu não vou fazer a pipoca desta vez - Stiles diz, recebendo um beijo em sua bochecha.

Ele sorri animado com meu entusiasmo, me admirando dar pulinhos pela floresta enquanto passo por todos eles centenas de vezes.

- e eu escolho o sabor da pizza que vão pedir - meu irmão diz, me fazendo dar uma pausa nos pulinhos - o quê? Vocês sempre compram de calabresa, mas eu gosto mais da de frango com catupiri.

- eu prefiro um podrão com direito a tudo, é bem mais gostoso.

- desde que tudo isso não saia do meu salário, eu concordo. - disse Scott, tomando a frente do grupo.

Entrelaço meu braço ao de Stiles, caminhando em passos normais entre as árvores e as folhas secas.

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