07 𝖽𝖾 𝗆𝖺𝗋𝖼𝗁 𝖽𝖾 2012

HANNAH DIXON

Minha casa amanheceu animada, eu conseguia ouvir as gargalhadas no andar de baixo enquanto tomava meu banho de todas as manhãs. Jeremy estava com os amigos lá, pude escutar a voz de Leo e Claire hoje mais cedo. Fico feliz que estejam se divertindo, principalmente após as perdas recentes que enfrentamos.

Como de costume, meu marido já não estava mais em casa e provavelmente deveria estar com Rick e Merle agora, repassando seus planos mirabolantes que bolaram para conseguirem afastar uma horda com mais de mil zumbis da nossa direção. Os enjoos matinais é o que mais me incomoda nessa gravidez, também está sendo difícil esconder tudo isso das pessoas que moram conosco. 

Após pensar estar me sentindo melhor e mais disposta, me levantei e desci para tomar café com a turma do barulho. Os garotos estavam na cozinha enquanto meus adolescentes prediletos se apossaram de minha sala, tendo Judith em meu tapete aveludado. Acordar com a casa cheia é acolhedor, sempre adorei isso. 

— Deixe isso pra lá, Giu, não precisamos deles conosco mesmo. - A loira diz, segurava seu prato entre as pernas enquanto apreciava um belo brownie. — O garoto acaba de perder o pai, é normal que seja temperamental para o nosso lado já que somos do grupo que ele considera inimigo nesse momento. 

Admiro o quanto Annie é racional, tendo seus pensamentos tão bem formulados enquanto seu amigo e a namorada só querem acabar com tudo e todos. Ela é a cabeça do grupo, agradeço por isso todos os dias. Carl me avista ainda nas escadas, retirando rapidamente os pés de minha mesinha de centro. 

— Bom dia, tia. Está uma manhã linda lá fora, a senhora precisa ver. - Diz ele, sei que está apenas me distraindo mas logo desistiu quando o encarei em desconfiança. — Desculpe, prometo limpar tudo mais tarde.

— Minha mesa de centro não foi feita para suportar o peso dos seus pés sujos, querido. Bom dia, crianças, por quê estão tomando café na sala?

— Judith ainda não se acostumou com Jeremy, ela chora demais então viemos para cá, onde ela fica livre e quietinha no canto dela. 

Annie contou em tranquilidade, ela sorri para a bebê quando a ouve balbuciar palavras engraçadas enquanto se arrasta para os pés do sofá. Minha sobrinha é uma criança muito amada por todos nós, mas ainda assim ela tem seus favoritos e aqueles que decidiu não gostar. Jeremy teve o azar de receber a desconfiança da prima. A garotinha foi pega no colo por Giulia, que também é uma de suas favoritas.

— Viram o Daryl? - Indago deixando um beijo no topo da cabeça da neném. 

— Deve estar na casa da Deanna com Merle e meu pai, soube que irão fazer outra reunião com os moradores para acertar tudo antes de iniciarem as coisas. – Balanço a cabeça em compreensão estando prestes a sair pela porta da frente para encontrá-los, mas Carl me lembra de algo. — Não vai tomar café antes de sair, tia?

— O garoto tem razão. – A voz de Carol ecoa a sala, se mudou recentemente mas passa a maior parte do tempo por aí, na comunidade. Desconfio que todos sabem que estou grávida e só estão esperando que eu os diga. — Venha, coma dois brownies e beba um suco verde.

Eu a acompanhei até a cozinha, deixando os adolescentes sozinhos outra vez para suas conversas paralelas que evitam comentar em minha presença. A risada de Claire ecoa a cozinha enquanto os dois recém-adultos também riam de algo que não fui capaz de ouvir e raciocinar o significado. A morena estava no balcão, aproveitando a forma de brownie recém tirado do forno.

A cozinha tinha um cheiro adorável de farinha de trigo, ovos e leite. Provavelmente o que está no forno é um bolo que eu adoraria comer um pedaço se Carol pudesse guardar para mim.

— Ah, vejo que estão todos muito animados hoje. – Comentei entre um sorriso. — Bom dia, sorridentes.

— Bom dia, Hannah, espero que não tenhamos acordado você com o barulho. – Jeremy deseja, mesmo se eu estivesse acordado com as risadas escandalosas, jamais poderia reclamar. — Não te incomoda que eu convide meus amigos aqui pra casa, não é?

— Ora, que coisa, eu não sou mesquinha. – Abano o ar, ocupando o lugar vazio ao lado de Claire. — Seus amigos são meus amigos também, não se esqueça disso.

Claire ri enquanto me estica a bandeja de massa deliciosa, Leonardo estava logo ao seu lado. Combinam como um casal, acho os dois a coisa mais fofa quando estão juntos.

— Soube que você desmaiou o Carter na dispensa outro dia. – A morena diz com um sorriso, muito orgulhosa de meu feito. Sorri também, mordendo o delicioso brownie. — O que aconteceu de verdade? Glenn não especificou, sabe.

— O cara é um idiota, apenas deixei claro para ele e os amigos que querer lutar com quem é experiente é bem mais difícil do que imaginam. Eu teria os matado, todos eles, não gosto de correr esse risco constante, mas meu irmão sabe o que faz.

Quando abri aquela porta e vi Carter apontando uma arma para a cabeça de Eugene e Annie enquanto seus amigos apenas assistiam eu quis matá-lo, com certeza teria feito se Rick e Daryl não tivessem chegado a tempo de me impedir. Meu marido foi muito claro quando disse a ele que a próxima vez em que apontasse uma arma para uma de suas crianças não estaria vivo para ver o sol nascer no dia seguinte.

— Tenho que ir, crianças, preciso ver como Denise está se saindo na enfermaria. – Anuncio deixando um beijo carinhoso na bochecha dos quatro ali presentes. — Je, não se esqueça de tirar as roupas da máquina de lavar antes de sair.

Me sinto como uma mãe velha quando peço favores domésticos para aqueles que moram comigo, mas Jeremy não se incomoda e afirma em um bom tom antes de me ver sair da casa. Me despeço das crianças na sala e finalmente pego o caminho do trabalho. Denise vem me ajudando com os cuidados da gravidez, estamos estudando juntas sobre tudo agora que passei a ser a principal médica da comunidade. Ela não precisa aprender nada cirúrgico por agora, mas alguém terá de fazer alguns partos daqui oito ou sete meses e esse alguém não serei eu.

Sou grata por tê-la por perto, é uma mulher de bom coração e que se preocupa em dar o melhor para seus pacientes mesmo tendo problemas para agir de forma rápida. Avistei Maggie e Lara no caminho mas nenhuma de nós paramos para uma conversa, apenas acenando uma para as outras e continuamos com nosso dia corrido. Era difícil ter tempo para a família agora que assumi o cargo de médica por aqui.

Ao chegar na enfermaria encontro minha colega de trabalho sentada atrás do balcão, lia livros e mais livros sobre medicina e gestação, se informando de tudo o que uma grávida pode passar enquanto gera seu bebê. Sorrio para ela antes que me aviste, fechando a porta suavemente até que finalmente erga seus olhos para mim.

— Oh, você chegou. – ela murmura entre um riso fraco e envergonhado. — Como se sente hoje? Os enjoos persistiram mesmo após os comprimidos que encontramos no estoque?

Denise e eu reviramos todo este lugar em busca de remédios que poderiam amenizar meus enjoos e finalmente encontramos, mas só tínhamos duas caixas então dei a outra para Maggie, que também sofre com o mesmo que eu.

— Estou bem melhor hoje, até consegui tomar café. – A respondo ao colocar o pote com brownies sobre o balcão e empurrar para ela. — Cortesia da Carol, está uma delícia.

— Oh, tudo o que essa mulher faz é divino. Você tem sorte de tê-la em sua casa, usando seu forno todos os dias para cozinhar coisas deliciosas. – Ela diz em empolgação e carisma, me tirando uma boa risada por isso. — Queria ela para mim.

— Não pense errado, ela pode ser bem malvada quando quer. Não se engane com seu rostinho bonito.

Carol conquistou a afeição de todos dessa comunidade apenas cozinhando e dando dicas de casa, mas passou apenas sua imagem meiga e amorosa para eles e deixou de fora aquela Carol que é impiedosa e ágil quando possui uma arma em sua mão. É uma mulher muito esperta, arrisco dizer que Carol Peletier é a mulher mais estrategista que eu já conheci em toda minha vida.

[. . .]

O dia estava relativamente calmo, nenhum morador precisando de cuidados médicos até agora. Daryl veio até mim para dizer que estavam de saída para o treinamento com os outros moradores há algum tempo, mas que voltaria para o jantar e eu não precisava cozinhar porque ele mesmo faria isso. Denise e eu não fazíamos nada além que reorganizar aquele lugar imundo quando nossa paz foi interrompida. Um som desconhecido seguido por gritos e um disparo. 

Me virei para a janela, atenta a tudo e por enquanto nada aconteceu. Cheguei mais perto ainda ouvindo gritos de desespero quando então avistei um homem desconhecido e louco atacando um morador idoso a facadas no estômago. Cubro a boca em razão ao susto, levando a outra para a arma em minha cintura enquanto Denise se afasta lentamente da janela de vidro. Abri a porta em uma ação de desespero, atirando contra o lunático assassino que nos ataca. 

Corri até o velhinho quando o corpo sem vida de nosso invasor caiu no chão, mas era tarde demais para tentar salvá-lo, com dor no coração eu feri seu cérebro e olhei em volta... Pessoas sendo atacadas a luz do dia, tendo suas vidas roubadas sem a chance de lutar por elas porque não sabiam ou não usavam uma arma de fogo. 

— Hannah, aonde você está indo? - Denise gritou na porta da enfermaria

—Denise, entre e feche a porta, só abra se forem dos nossos e se outro alguém forçar entrada você vai precisar usar a arma escondida atrás do armário. - A instrui em segundos, muito preocupada com o que acontecia. — As crianças, preciso saber se estão seguras. 

Corria entre as ruas fumacentas ouvindo suplicas que eu não conseguia identificar no momento quando uma mulher de pele negra entrou em minha frente, segurava uma machadinha e era dona do sorriso mais maníaco que já tive o desprazer de presenciar. Ela correu em minha direção como se eu fosse sua caça, desviando do disparo contra ela. Fui derrubada por ela, sendo arremessada para a grama alta enquanto minha arma permaneceu no asfalto, ela ergue o machado e o abaixou com força, mas o segurei fortemente, a impedindo de me matar naquele momento. 

— Você vai morrer, vamos te libertar. – A demente berrou em meu rosto, empurrando o Machado com mais força contra meu rosto.

Mas eu não sou nenhuma idiota, meu marido me ensinou muito bem e nunca me deixou sair de casa sem um truque na manga caso precisasse. Neste caso, uma faca na bota. Me estiquei, tentando fazer com quem meu pé ficasse o mais perto possível de minha cintura para que eu pudesse alcançar com facilidade, mas estava difícil conter a força daquela mulher. Com as duas mãos eu a empurrei para longe, tirando-a de cima de mim e recuperando minha defesa. Puxo a faca de minha meia, ofegante enquanto preparava meu ataque.

— Gosto de briga de faca, sorte a sua eu ter trago a minha. – Murmuro entre dentes e ofegos enquanto a psicopata sorria friamente para mim. No entanto, eu não sou tão maluca. Estou grávida, não brigo de faca com ninguém por enquanto. Saquei a segunda pistola das costas, onde sempre a guardei e disparei contra a cabeça da mulher, a acertando no centro de sua testa. — Mas eu gosto ainda mais de atirar.

Sinto a dor em minha lombar, me preocupando imediatamente com meu bebê e se eu teria o machucado quando cai, implorando para que nada tivesse acontecido com ele. Corri até minha arma, disparando contra outro lunático que se aproximava e corri pelas ruas outra vez, agora em direção a minha casa. Contudo, antes mesmo de chegar até ela tive o azar miserável de presenciar uma morte de perto. Eu reconheci seu grito estridente e suplicante, até mesmo tentei correr mais rápido para ajudar.

Houve um disparo, mas não fui eu quem o dei, esse veio de perto, veio do chão e o acertou no peito. Meu coração acelera ao finalmente me aproximar e ver que Claire era quem havia atirado no homem enquanto Jeremy estava ali, jogado na escada de alguém com uma faca presa em seu abdômen. A mulher com lágrima nos olhos me direcionou um sorriso vermelho enquanto cuspia seu próprio sangue para fora da boca.

— Ele correu com Camilla, eu o mandei ir. – ela me conta em um sussurro doloroso, me fazendo abaixar bem perto de seu rosto e o acariciar com pesar. Claire não sobreviveria aos ferimentos, suas vísceras estavam à mostra. — Está tudo bem... Só... cuide dos nossos garotos.

Uma lágrima solitária escorreu de meus olhos enquanto eu segurava seu rosto com carinho e ternura.

— Eu sinto muito, Claire, sinto muito. – Minhas súplicas em meio ao choro molham seu rosto ainda mais, mas mesmo assim ela sorriu para mim e segurou minha mão.

— Me mate agora, Hannah, preciso que faça isso por mim. – Seu pedido saiu em um sussurro.

Funguei novamente, soluçando ao beijar sua testa uma última vez. Eu odeio tudo isso.

— Desculpe, irmã. – As palavras saem em culpa e dor, disparei contra sua cabeça. Claire está morta agora, acabo de matar a namorada do garoto favorito de meu marido.

Mas não tive tempo para viver o luto, eu nunca tenho. Alcanço Jeremy ainda chorando, pressionando seu ferimento a fim de estancar o sangue. O garoto estava pálido, acabou de levar três facadas na barriga mas ainda consciente. Checo seu pulso, fraco mas ainda constante.

— Jeremy, consegue me ouvir? – o questionei, mas pela expressão em seu rosto, Jeremy não conseguia nem raciocinar corretamente. Olho em volta em busca de ajuda, não conseguiria levar meu sobrinho até a enfermaria sozinha, é arriscado demais carregar alguém tão pesado quando se já caiu ainda hoje. — SOCORRO, ALGUÉM POR FAVOR ME AJUDE.

Era um risco, poderia atrair tanto meus amigos quanto inimigos que iriam nos matar. Mas, para a minha imensa sorte, Rosita e Aaron passavam por ali naquele momento com suas armas engatilhadas e nos avistam. Continuei pressionando o ferimento, tentando manter o garoto acordado a qualquer custo.

— Ei, não durma, seu idiota! – estapeei sua cara, conseguindo o que eu quero com uma voz chorosa. — Não posso te perder de novo, não dá.

Rosita se agacha ao meu lado, me ajudando a voltar para a realidade. Ela segurou minha mão e me afastou de meu sobrinho enquanto Aaron o pegou no colo. Era tudo tão rápido e silencioso, eu estava em choque. Minha amiga latina avistou o corpo dilacerado de Claire ao nosso lado e minhas roupas sujas de sangue, me olhando com pesar enquanto segurava meu rosto entre suas mãos.

— Hannah, me escute! – Ela grita para mim, chamando minha atenção. — Nós vamos para a enfermaria agora, está bem? Não se preocupe com nada, nada mesmo. Estamos no controle agora. Agora você vai levantar e me acompanhar até o lugar onde trabalha, certo?

Balancei a cabeça em afirmação, fungando ao me levantar e seguí-la. Meu coração doía, mas minha lombar doía ainda mais. Tive medo por meu bebê, eu não quero perdê-lo. Quero poder ser sua mãe é o colocar para dormir todas as noites, quero acordar durante as madrugadas por ouvir seu choro no quarto ao lado. Eu o quero, não posso perdê-lo a essa altura.

Não consegui acompanhar o que acontecia ao meu redor, mas sabia que já estávamos na enfermaria e que Denise havia perdido um paciente.  Rosita me deixou apoiada no balcão enquanto corria para todos os lados, tentando ajudar minha colega de trabalho a salvar Jeremy. É por razões como essa que médicos são proibidos de tratar familiares, eles não conseguem enxergar de forma profissional quando se tem amor na mesa de cirurgia.

Me levantei, ocupando o lugar de Denise no paciente sobrevivente com cortes nos braços para que ela pudesse tratar meu sobrinho. Mas algo me incomodou no segundo em que fiquei de pé e dei início a sutura de seus cortes. Eu senti o sangue em minha perna esquerda.

— Aí meu Deus! – Exclamei, me afastando do paciente ferido. Meus olhos se arregalam e eu encaro Rosita com um rosto assustado. A latina me olhou em preocupação, dando um passo à frente.

— O que foi? Está sentindo alguma dor? Algo com ele? – Ela indagou imediatamente. Minhas mãos tremiam desesperadamente, fora de mim. — Hannah, responda.

Encaro o meio de minhas pernas, a calça jeans clara estava manchada de sangue que não era meu, mas eu podia sentir o meu próprio sangue em uma das pernas, eu tinha certeza de que estava sangrando.

— Acho que estou tendo um aborto. – As palavras saem rápidas, atingindo todos com minha dor. Jeremy me deu um olhar tristonho, não sabia sobre a gravidez.

Pessoas assustadas fazem loucuras. Soltei os equipamentos médicos ali mesmo e desabotoei os botões da jeans, a puxando para baixo com tudo sem me importar com os homens naquela sala. Esperneei a fim de me livrar de vez da peça de roupa ensanguentada, visualizando o sangue que ensopava minha calça. Aaron e Eric se aproximam de imediato, um deles trazendo com si uma toalha limpa.

Aaron tocou meu ombro com carinho enquanto Rosita suspirou, eu ainda parada e sem minhas calças, só de calcinha na frente de dois gays e dois pacientes doentes.

— Oh, querida, isto não é um aborto. – Eric me diz com tranquilidade, me guiando para uma terceira maca. — Você só está com um corte superficial  na sua coxa que sangra muito.

O acúmulo de dor em meu peito se ameniza e o ar é soltado com tranquilidade. Eu não perdi o meu bebê.

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001: oi, tô indo pro festejo que toca forró e tem índio pelado dançando. Amo.

002: Desculpem, mas eu amo mexer com a cabeça de vocês.

003: Provavelmente está semana não haverá capítulos, pois estarei em semana de provas parciais. Não tô a fim de repetir o último ano, apesar de seus benefícios.

Beijos da malu!💋🫶