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17 𝖽𝖾 𝖺𝗀𝗈𝗌𝗍𝗈 𝖽𝖾 2011

𝘰𝘪𝘵𝘰 𝘮𝘦𝘴𝘦𝘴 𝘦 𝘥𝘦𝘻𝘦𝘯𝘰𝘷𝘦 𝘥𝘪𝘢𝘴
𝘯𝘢 𝘦𝘴𝘵𝘳𝘢𝘥𝘢

Hannah Grimes

Após outra caça sem muito sucesso, Daryl e eu voltamos para o alojamento com três esquilos e um coelho. Seria algo bom, se fôssemos um grupo menor e não tivéssemos uma mulher grávida, uma criança de cinco anos e um garoto de treze. Toda a nossa comida tem sido regrada desde que os suprimentos acabaram. Se não temos nada, arranjamos algo para que apenas Lori e as crianças se alimentem.

Passo por T-dog na guarda, sorrindo para ele e o desejando bom dia. Meu namorado e eu saímos cedo para a caça antes mesmo do sol nascer, logo não fomos vistos por ninguém além do meu antigo melhor amigo, Glenn.

Assim que adentramos a porta dos fundos, Camila corre em nossa direção. Minha sobrinha vem se apegando demais a Daryl e eu realmente acho isso muito lindo.

— paradinha ai, pimentinha. – ele manda, levantando a mão em frente ao rosto da garota. Camila para, segurando o riso. Ele abaixa a mão, acariciando seu cabelo como se fizesse carinho em meu gato de estimação. — não pode nos abraçar, encontramos com podres e a sua tia fez a maior lambança outra vez.

Ainda estou aprendendo a usar facas para matar os podres, Daryl vem me ensinando há alguns meses. Sei que não preciso, já que eu normalmente uso o arco para isso, mas precisamos nos preparar para todas as ocasiões. A garotinha murcha o sorriso, abaixando os ombros lentamente enquanto sua feição se torna desapontada.

— ah, tia Hannah. Você precisa parar de fazer lambanças, poxa.

A falta do "l" em suas palavras me fazem falta, mas são compensadas por sua nova maneira de falar. Camila está crescendo e desenvolvendo melhor sua fala, mas não deixa de ser engraçadinha de se ouvir. Está na fase de gesticular a cada palavra dita, é hilário de se assistir.

— eu sei, amor. Desculpe, prometo que da próxima serei menos bagunceira. – digo, sorrindo para ela enquanto largava o arco sobre o balcão da cozinha. Ela dá de ombros, voltando para o sofá.

E outra vez a garota me deixa falando sozinha. Encaro Daryl, que dá de ombros ao soltar nossa caça sobre a pia.

— crianças são assim, você deveria saber. – ele responde, dando a volta no balcão para me encontrar. Ele sela nossos lábios rapidamente, tirando uma mecha de cabelo presa em meu rosto pelo sangue seco do zumbi. — suba para tomar um banho, eu vou até o riacho buscar mais água para bebermos.

— vai sozinho? É meio perigoso, não acha? Deveria levar alguém com você, se quiser eu posso ir.

— não precisa, Hannah. – ele responde de forma doce, me dando um sorriso tranquilo e passando o polegar na maçã de meu rosto. — está tudo bem, Glenn e Maggie vão comigo hoje. Pode subir e tomar um banho, quando descer eu já estarei de volta. Prometo a você.

Torço o lábio, não querendo topar com aquela ideia. Odeio quando Daryl precisa sair sem mim, é sufocante. Eu fico impotente, como se não conseguisse respirar direito até que ele atravessasse a porta da frente outra vez. Mas também sei que se meu namorado não for até o riacho agora e trazer baldes de água, nós morremos de sede e fome.

— é bom estar aqui quando eu voltar, Dixon. – ameaço, colando nossas bocas novamente. Ele sorri entre o beijo, finalizando com um beijinho rápido e outro na testa, como se aquilo fosse me proteger em sua ausência. — te vejo em breve.

— te vejo em breve, linda.

[....]

Hoje o dia não estava tão frio, mas também não estava quente. O tempo era nublado, ótimo para dormir depois de um almoço de segunda feira e acordar só depois das oito da noite. Mas é claro, isso se não estivéssemos em um apocalipse zumbi.

— por favor, tia Hannah. Eu quero muito aprender a usar um e você é a pessoa perfeita para me ensinar. – meu sobrinho choraminga. Carl quer que eu o ensine a usar o arco e anda me baijulanda para conseguir que eu tope sua ideia. — você sabe que é necessário, tia.

— não é a mim que precisa convencer, querido. Sua mãe já decidiu, você deveria ouví-la desta vez.

O interesse de Carl em armas brancas não é repentino. Ele vem tentando nos convencer de que é uma habilidade necessária para o currículo em um mundo pós-apocalíptico. Mas era de se esperar que Lori não aprovaria essa ideia tão facilmente, então depois de cinco meses tentando, ela topou com a ideia, contanto que ele esperasse até o aniversário de quatorze anos para começar a praticar.

— mas faltam dois meses, eu posso morrer em dois meses por não saber disparar uma flecha.

— é pra isso que a sua tia Hannah namora um caçador, querido. – Lori o respondeu, adentrando a cozinha com seus passos lentos. Dou um meio sorriso a ela e seu barrigão, mexendo a comida no panelão. — tenho certeza de que por não saber usar um arco, você não morre.

Beijo sua bochecha, acariciando a barriga arredondada e pontuda. O bebê anda saudável e forte, pelo ou menos é o que achamos dado aos chutes que ele dá em minha cunhada. Estou preocupada quanto ao meu novo sobrinho, pois não consigo saber o que se passa lá dentro. Invadimos sete farmácias dentro de dois meses só para retocar o estoque de pré-natais da grávida do grupo.

— mas, mãe, isso é muito chato.

— eu sei, querido. Mães são chatas o tempo todo, entendo sua dor. Agora sobe para o quarto e cuida da sua prima, tá bom?

Ele me dá um olhar piedoso, esperando que eu fosse contra as palavras da mãe.

— desculpe, amor, ela também manda em mim.

A cozinha é invadida por duas loiras e uma castanha em gargalhadas. Maggie trazia o comprimido de Lori em uma mão enquanto a outra lhe oferecia um copo de água. Meu sobrinho sai em passos pesados, totalmente revoltado com a situação em que se encontra. Ah, a magia da adolescência.

É normal que alguma pessoa do grupo lembre Lori de tomar os pré-natais, já que ela anda se esquecendo de muita coisa ultimamente. Lara beija meu rosto, voltando sua atenção ao sobrinho que caminhava enraivado.

— saiu bem cedo hoje, não vi você. – ela comenta, se acomodando na banqueta ao lado de Beth. — anda fugindo 'pra transar de novo?

— não seria a primeira vez. – Maggie murmura

— fala como se você não fizesse o mesmo quase todos os dias, não é?

— uau, você transa mais de uma vez por semana? Garota, agradeça aos céus por isso. – Laura volta a dizer, causando risada em minha cunhada.

— como se o Glenn ficasse tempo suficiente em casa para transarmos todos os dias, não é? ‐ ela devolve, no mesmo tom de voz que eu utilizei para farpá-la

O tempo fez com que nos tornássemos mais próximas uma das outras. Brincadeiras e zoações como esta são normais em nosso dia a dia, algo que acontece com mais frequência do que deveria. Enquanto ao Glenn... bem, ele passa a maior parte do seu tempo lá fora, deixando recados para a irmã enquanto ainda não a encontra.

— espero que as duas estejam usando proteção, tudo o que não precisamos agora é de vocês três querendo repopular o mundo. – Beth se pronuncia pela primeira vez, causando uma risada baixa em todas nós.

— ponto para Elizabeth por ser intelingente. – Lori comemora. — falando sério agora, garotas. Andam se prevenindo, não é?

Não é como se fosse a primeira vez que Lori perguntasse aquilo para mim, pois ela me faz esta pergunta desde os meus dezessete anos. Mas é a primeira vez que ela questiona isso fora do conforto e privacidade de um quarto fechado. Lhe dou um sorriso cansado, afirmando em um aceno.

Daryl e eu temos tendo muito cuidado para não unirmos nosso DNA e fazer uma mini cópia nossa para o novo mundo. Assisto bem de perto a dificuldade que Lori passa ao gerar uma vida no mundo em que vivemos e cheguei a conclusão de que não quero isso para mim.

[....]

A noite cai, e com ela vem a saudade. Todos os dias ao anoitecer, memórias alegres do belo trio que eu costumava participar junto aos irmãos Rhee, que agora parece ter sido em uma outra vida, invadem minha mente. Meu peito aperta como em todas as noites anteriores, me perguntando se a minha garota estaria bem neste momento. Se ela estava com frio, fome ou sede.

O vento frio balança as folhas verdes das árvores, assim como bagunça os fios loiros em minha cabeça. Me apoio na janela de vidro do quarto, observando a linda paisagem lá fora enquanto acariciava a única coisa que me restou da sobrinha sapeca que foi deixada para trás. Lá, no relento, Glenn se sentava sozinho na beirada da cerca de arame farpado. Outra vez estava de volta sem a irmã caçula.

Venho evitando qualquer contato com o meu melhor amigo desde que atiramos farpas um conta o outro no dia seguinte em que a fazenda caiu e Giulia ficou para trás. Compreendo que ele precisa de alguém para culpar e me sinto útil em saber que estou o ajudando de alguma forma, que todo esse ódio nutrido por mim o deixa menos depressivo e mais motivado a encontrá-la. Mas por outro lado, talvez eu não tenha me afastado apenas para que ele pudesse me odiar. Talvez eu é quem esteja me odiando demais para aceitar que Glenn e eu não temos culpa pelo o que aconteceu.

Me afastar de Glenn fez com que o sentimento da culpa e solidão se alojasse cada dia mais em meu peito. Em um momento eu tinha tudo e no segundo seguinte o meu império caiu. O nosso império caiu. Sem nem perceber, as minhas pernas já andaram até ele e eu acabo de me sentar ao seu lado, apertando o casaco macio contra meu abdômen.

— não pode ficar aqui fora sem um agasalho. – minha voz sai baixa, receosa.

Glenn fungou, limpando as lágrimas que se acomulavam na poça em seu olho. Ele encara a floresta, como se evitasse a qualquer custo me olhar nos olhos. Procuro qualquer resquício de Giulia com ele, encontrando a sequência de polaroid's tiradas na cabine de fotos do shopping em Atlanta. Giulia, Glenn e eu, todos com lindos sorrisos em seus lábios enquanto diziam "x" para o disparo da câmera.

Um suspiro cansado faz com que o sopro frio saia de minha boca. Era de se esperar que eu não tinha perdido essa foto durante a fuga, que ela não sumiu misteriosamente do meu porta-luvas e só deixou uma de dez fotos no painel do carro. No fundo eu já sabia que tinha sido ele.

— bom, pelo ou menos me deixou uma. – murmuro, também encarando um ponto específico.

— te deixei a que eu fiquei menos bonito. Não preciso ficar com uma foto que me lembre o quanto sou ruim em ângulos específicos.

A risada sai rouca e baixa, assustando tanto a mim quanto a ele. Nos encaramos por poucos segundos antes de voltarmos a olhar para o nada, como se tivéssemos feito algo de errado.

— até onde você foi hoje?

— os arredores da fazenda, ainda tá cheio de zumbi por aquelas bandas.

Glenn costuma sair todos os dias em busca da irmã perdida, com esperança de que a encontre com vida e não como um zumbi perambulando pela cidade. Ele já rodou toda a cidade a procura da asiática que possue seu sobrenome, mas nunca encontra nada. Em compensação, deixamos bilhetes em qualquer lugar com nossas assinaturas em baixo, esperando que algum dia ela os encontre e espere por nós naquele lugar.

— Rick e Daryl irão comigo amanhã, vamos cobrir a única parte da cidade que ainda não exploramos. Talvez a gente encontre um bom lugar ao norte.

— ele me contou. Vou ficar com Lara e Maggie para ajudar o T-dog com a segurança da casa.

Ele balança a cabeça em confirmação, fazendo um biquinho de quem não acredita no que ouve, como se aquilo parecesse mentira em outra época.

— ainda não me acostumei com a Hannah arqueira que atira primeiro e pergunta depois. – zomba, me causando um riso baixo. — fico feliz que tenha se tornado forte, Isa.

— pois é, namorar um caçador tem lá suas vantagens.

Glenn sorri, apoiando a cabeça em meu ombro. E então, depois de quase nove meses, eu pude respirar sem a preocupação de que meu melhor amigo me odiasse. Agora, a dor da saudade seria menos dolorosa e o peso da culpa não ficaria tão presente em minha cabeça. Tempos melhores virão.








































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001: hey lindos, finalmente sai da era flop no ttk.

002: me sentindo super produtiva por já ter postado três capítulos esse mês depois de tanto tempo. Aproveitem.

003: eu não aguentei ver a Hannah e o Glenn separados, tive que juntar eles de novo. E outra, próximo capítulo vem era prisão.🥳🥳🥳

004: preparem o coraçãozinho que é aqui que vocês choram e eu sorreio.

Beijos da Malu💋

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