Nós saímos da enfermaria depois que tomei um remédio, mas antes de sair a enfermeira nos deu uma marmita com macarronada.

Foi a melhor refeição que eu tive desde que cheguei nesse lugar.

A minha cabeça não dói mais, mas meu nariz está dolorido, por pouco aquele gigante não quebrou meu lindo narizinho.

Agora estamos deitados, ainda não estou com sono.

— A quanto tempo você está aqui? — pergunto ao Theo

— Três — ele responde

— Anos?

— Uhum

— Nossa… você já pensou em fugir? — pergunto

— Seria burrice

— Por que?

— Precisa ter um certo poder aqui dentro pra conseguir fazer isso, coisa que eu não tenho

— Olha o seu tamanho, você vive andando de cara fechada por aí, devem ter medo de você aqui — digo e ouço ele soltar um risinho baixo

Odeio conversar sem poder ver o rosto dele, eu nunca o vi sorrindo.

— Não é assim que funcionam as coisas aqui — diz

Nós ficamos em silêncio.

Me ajeito em minha cama e uma coisa vem em minha mente novamente.

O sonho que tive com ele…

— Como você se sente? — pergunto, tentando me distrair

— Melhor, e você?

— Estou bem, ainda não acredito que desmaiei por causa do sangue

— É bem a sua cara, na verdade — ouço ele dizer

— Posso te perguntar uma coisa?

— Você faz muitas perguntas

— É a última, prometo

— Você mente muito mal também

Bufo.

— Tá, tá… posso perguntar ou não?

— Se eu disser não, você vai perguntar da mesma forma

— Não vou não — digo

— Ok. Então não — disse simples

Cruzo os braços e as luzes se apagam.

Eu odeio essa rotina.

— Você tem namorada? — perguntei

Theo ficou em silêncio.

Não é como se isso fosse mudar alguma coisa, eu só estou curioso.

— Por que quer saber? — ele pergunta

— Porque sou curioso — digo

— E ainda admite

— Tem ou não?

— Não, Liam

— Hum… ah… legal — digo brincando com meus dedos — e você já… já teve?

— Não

— Você é virgem?

— Você é muito invasivo, cara — Theo disse

— Somos amigos, eu quero saber mais sobre meu quase amigo

— Vai sonhando — murmurou

— Você aceitando ou não, essa é a verdade — dou de ombros

— E você é virgem? — ele me pegunta

— Não — respondo — mas se você é, não precisa ter vergonha de dizer, isso é completamente normal e-

— Eu não sou virgem — Theo me interrompeu

— Legal — digo — e você…

— O que? Vai perguntar como foi a minha primeira vez também? Já chega de perguntas, Liam

— Tá bom, seu bruto — digo — saiba que ainda não terminamos essa conversa, mocinho

Ouvi Theo rir, dessa vez de verdade.

É a primeira vez que ouço isso.

Eu gostei

— É melhor você dormir, sua pancada na cabeça te deixou ainda mais esquisito — Theo falou

— Eu sou completamente normal, agora eu vou dormir porque eu quero e não porque você mandou. Então, boa noite

Eu digo, me virando para o outro lado e fechando os olhos.

[…]

Gosto da forma que o cabelo do Theo cai em seu rosto, ele tem um cabelo bonito, ele parece ser macio mesmo que o sabonete do banho seja péssimo.

— Perdeu alguma coisa? — Theo pergunta e caio na realidade, percebendo que estou olhando pra ele a tempo demais

Nego com a cabeça e me levanto indo até a mesa e me sentando nela. O alarme já tocou, nós escovamos nossos dentes e agora estamos esperando os policiais.

— Você podia me contar sobre o lance do Isaac né?

— Alguém queria que eu desse uma surra nele — Theo fala

Estou surpreso por ele ter falado tão rápido, sem que eu insista como sempre acontece.

— Quem? Por que?

— Ele entregou para os policiais um cara que tinha uma faca na cela, o cara descobriu e me pediu pra dar uma surra

— Mas por que você?

— Eu devia um favor a ele

— O que ele fez por você?

— Está me interrogando? — Theo olha para mim e cerro os olhos

— Não tem muito o que fazer aqui, essa é a maior fofoca que eu posso ter agora — Theo nega com a cabeça

— Você já sabe demais, diz pro seu amiguinho ficar de boca fechada porque na próxima eu não posso garantir a segurança dele

— E o que você fez pra fazer esse cara mudar de ideia?

— Eu retribui o favor de outra maneira — o olhei incrédulo

— Você usou seu corpo? — pergunto

— O que? Claro que não. Eu consegui uma mercadoria pra ele — explica

— Como assim?

— Drogas, Liam, eu consegui drogas pra ele

— Ata…

O policial chegou, nos tirou da cela e repetimos o mesmo caminho para o refeitório.

Mas hoje tinha algo diferente, uma movimentação de policiais em frente a uma cela no mesmo bloco, mas em uma cela afastada da minha.

Quando passamos em frente eu vi um filme de terror bem em minha frente.

Tudo bem, eu não vou desmaiar dessa vez

Eu acho.

A cela está toda suja de sangue, nas paredes tem marcas de mãos feitas com sangue também. O pior de tudo é que tem algo no chão coberto com um lençol branco, parece muito ser um corpo.

Puta merda…

Alguém foi morto

Aqui dentro.

Nós chegamos no refeitório e eu permanecia em choque pelo que vi, vejo os presidiário murmurando entre eles.

Assim que pego minha comida e saio da fila eu vejo Theo vir ao meu lado.

— Só tenta não pensar naquilo — ele diz

— Impossível! Tinha sangue pra toda parte e tinha um corpo no chão. UM CORPO!! — eu acho que falei um pouco alto a última parte, algumas pessoas estão me olhando

— Desencana, só não desmaia de novo — disse se afastando, indo para a sua mesa de sempre

— Vocês ficaram sabendo? — Stiles veio correndo se sentando na mesa junto com Scott e Isaac

Isaac e Scott pelo jeito já se acertaram.

— Infelizmente — digo

— Disseram o companheiro de cela dele o esfaqueou até a morte — Isaac comenta

— Quem era ele? — pergunta Scott

— Eu não sei muito bem, mas disseram que ele fazia aviãozinho aqui dentro — Stiles diz

— E por que mataram ele? — Scott pergunta

Me pergunto como eles sabem de tanta coisa se nem são daquele bloco.

O Scott é o desinformado, Stiles que sabe de tudo e Isaac só acrescenta os detalhes.

Enquanto eu estou quase vomitando.

— Vocês podem parar de falar sobre isso, por favor? — digo — ver àquela cena já foi demais pra mim

— Você viu?? — os três perguntam juntos

— Eu vi a cela suja de sangue e o corpo coberto com um lençol e isso é horrível. Uma pessoa foi assassinada do dia pra noite e a única coisa que estão fazendo é procurar mais informações pra passar em diante… vocês tem noção do quão assustador isso é? — eu digo e os três recuam

— Ele tá certo — Isaac diz

— Foi mal, Liam — disse Scott

— Então, é melhor mudarmos de assunto… — Stiles sugere — como você está depois do que rolou ontem?

— Estou bem, depois que eu tomei um remédio para a dor, me senti como novo — digo — Aliás, a comida da enfermaria é muito melhor do que a daqui

— Essa é a parte boa de ir pra lá — Isaac diz com um pequeno sorriso

— Você e o Theo estão se dando bem agora? Ele apanhou por você ontem — Scott falou

— Mais ou menos… ele tem um jeito meio difícil, mas não impossível — digo

— Que sorriso é esse? — Scott pergunta com um sorrisinho

— Você viu? Liam, seu safado — foi a vez de Stiles

— O que? O que foi? — pergunto

— Você sorriu enquanto falava dele — Isaac me provoca também

— Que? Nada a ver — falei — vocês estão viajando

Eu não sorri.

Não mesmo.

Quando a área externa foi liberada, eu Scott e Stiles fomos para a arquibancada enquanto Isaac foi jogar basquete com alguns caras. Hoje faz sol, é bom poder sentir o sol depois de tanto tempo lá dentro.

Do outro lado posso ver Theo, ele está sentado em outra arquibancada aproveitando o sol que bate em seu rosto.

— Vocês acham que seria bom se a gente tentasse andar com esses caras? — Scott pergunta ao que um grupo de presos mal encarados passam por nós. Com certeza um deles tem uma faca — depois do rolou nós precisamos ficar espertos, o Liam apanhou ontem e hoje alguém morreu, sabe lá qual vai ser a próxima ameaça

— Então você quer ficar do lado dos vilões pra não apanhar? — Stiles pergunta

— Não quero ficar com os vilões, quero apenas ter alguém que possa nos deixar fora de tanto conflito — ele diz — tem muita gente aqui que é respeitado por outros detentos

— Nós somos novatos, ninguém vai querer deixar a gente fazer parte da panelinha deles — Stiles diz

— Então vamos fazer a nossa — digo

— Gostei da confiança, cara — comenta Stiles

— Eu já volto — me levanto

Ando pelo local até chegar do outro lado onde Theo está.

— Oi — me sento ao seu lado

— O que quer? — ele pergunta sem nem me olhar

— Dizer oi — digo

— Tchau

— O seu rosto dói? — pergunto

— Não — disse

Mesmo com o rosto machucado ele ainda consegue ser bonito. Sua barba está um pouco maior do que quando cheguei aqui, mas isso não o faz feio, pelo contrário…

— Theo, eu queria falar com você sobre algo — ele finalmente me olha, mas somos interrompidos

— Olha só o que temos aqui — Parrish se aproximou de nós juntamente com mais dois caras

— Não temos mais assuntos pendentes, o que você quer aqui? — Theo pergunta ríspido

— Não vim falar com você, vim dar oi pro seu amiguinho — ele aponta para mim com um sorriso falso — ainda não fomos apresentados, eu sou Parrish — ele estende a mão para mim

Eu estava prestes a fazer o mesmo quando Theo afastou minha mão e se levantou, ficando na minha frente.

— Diz logo o que você quer, esse joguinho de bom moço não combina com você — Theo diz

— Está com medo que eu machuque seu garoto? Relaxa, dele eu vou cuidar muito bem — Parrish disse com um sorrisinho de canto e os outros dois caras riram

— Se encostar um dedo nele eu te mato, e você sabe que eu não brinco em serviço — Theo falou se aproximando dele o encarando como se fosse realmente mata-lo

— Quer tentar a sorte, Raeken? — o outro desafiou e vi Theo cerrar o punho

— Espera, espera — me levanto segurando o braço de Theo — não precisa disso. Você queria se apresentar, então é um prazer conhecer você mas nós temos que ir — forcei um sorriso de desespero e depois olhei para Theo — vamos, eu… eu quero que me ajude a jogar basquete, vem

Inventei qualquer coisa e o puxei pelo braço e ele se afastou e começou a andar comigo para o outro lado.

— Ficou doido? Quer apanhar de novo? — pergunto

— Apanhar do Parrish? — ele riu debochando

— Por que você ficou tão bravo quando ele disse aquilo sobre mim? — pergunto

Percebo que ainda estou segurando em seu braço e logo solto.

— Aquele cara é um babaca, ele só disse aquilo porque sabia que eu me irritaria

— Como ele saberia? — pergunto

— Ele só está tentando me atingir — diz

— E por que você se irritaria?

— Não fode, Liam — Theo falou se afastando e indo para o lado oposto

Chato.

Volto para onde os meninos estavam e eles me olham e depois começam a rir.

— O que?

— Seu amigo parece não ser muito amável — Stiles diz

— O Theo me irrita as vezes — digo — uma hora ele conversa comigo e em outra ele simplesmente me deixa falando sozinho, depois ele vem e diz que eu sou irritante — cruzo meus braços

— E foi assim que eu nasci — Scott falou e os dois começaram a rir

Eu não entendi.

[…]

— Então o Stiles disse que a gente deveria correr, mas não deu tempo porque a polícia chegou bem na hora — termino de contar a história do roubo para Theo, que ouviu tudo com uma expressão de tédio

— Vocês foram muito burros — ele diz

— Então como você faria, Sr.Espertão? — desço da mesa onde eu estava sentado e vou para a minha cama

— Primeiramente eu não roubaria uma joalheria — disse como se fosse óbvio — vocês não tinham experiência nenhuma, como isso daria certo?

— A gente precisava de dinheiro, era isso ou continuar vivendo para trabalhar muito e não ganhar quase nada — digo

Nós ficamos em silêncio.

Eu odeio esse silêncio.

— Theo, o que vão fazer com o cara que matou o companheiro de cela?

— Talvez ele vá para a solitária, ou seja transferido pra outro lugar, provavelmente

— Isso acontece com muita frequência?

— É a terceira vez — diz

— Eu achei que esse lugar era seguro — digo

— O inferno é mais seguro — Theo diz

— Por que você não fica com a gente? Sei lá, podemos proteger um ao outro — sugeri

— Só está dizendo isso porque você e seus amigos estão com medo e não sabem a quem pedir ajuda se fizerem alguma merda de novo

— Nada disso, digo isso porque todos nós sairíamos ganhando se você estivesse do nosso lado, além de protegermos uns aos outros, você ganharia amigos — eu digo

— Por que você acha que eu preciso tanto de amigos?

— Antes você não tinha opção, você não confia em ninguém aqui então sua única saída era ficar sozinho. Mas agora é diferente

— Por que é diferente?

— Porque eu estou aqui — falei

— E o que faz você pensar que eu confio em você? — Theo pergunta

— Você está sempre me defendendo desses caras, isso já é um começo

— Mas eu não vou andar com vocês

— Tá bom, sei que uma hora vai mudar de idéia — eu digo

— Nos seus sonhos, talvez — debochou

— Não fode, Theo — eu digo e ouço ele rir baixo

Mesmo que ele não ande com a gente eu sei que ele vai estar lá quando eu precisar, da mesma forma que eu também estarei aqui quando ele precisar.

Mesmo que ainda seja complicado, estamos nos dando bem.

Do nosso jeito.

..

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Vejo vocês no próximo capítulo, beijoss💓