Capítulo 16
- Anda, responde! - Estava quase gritando, mas uma crise de tosse me impediu.
- Ana Clara? - Questionou com um pouco de receio em sua voz.
- Não, a rainha a Inglaterra - Respondi com ironia me levantando, ignorando toda a dor no corpo.
- Eu... É que... - Ela estava nervosa, era nítido.
- "É que" o quê? Não bastou todo o mal que fez ao meu pai? - Sinto uma mãozinha segurando a minha, olho para baixo e vejo Emily me olhando com preocupação e medo. Eu estava bem alterada. Respirei profundamente e olhei para o outro lado. - O que você está fazendo aí?
Nesse momento escuto a campainha do meu apartamento tocar. Reviro os olhos e vejo minha vizinha indo em direção a porta. Sem querer saber o visitante, vou direto para o quarto.
- Minha filha, eu e...
- NÃO ME CHAME ASSIM! - Gritei - NUNCA MAIS ME CHAME DESSA FORMA! EU NÃO SOU NADA PARA VOCÊ E PELO VISTO NUNCA FUI! - Mais uma crise de tosse, dessa vez muito pior.
- Fil... Ana, você está bem? - Perguntou preocupada. Precisei rir diante de sua "preocupação".
- Poupe-me de sua preocupação! - Respondi amarga - Apenas peça ao papai que me ligue quando você não estiver mais aí. - Digo finalizando a ligação e colocando o celular na mesa de cabeceira. Pego o porta retrato com uma foto minha, de Sofia e nosso pai, que fica na mesma mesa, e o lanço longe - COMO VOCÊS PUDERAM?
A raiva me consumia, eu me sentia traída pela minha própria família. Como eles puderam perdoá-la? Questiono-me.
Me lanço na cama colocando a cara no travesseiro abafando os gritos, mas sinto uma mão tocando em meu ombro. Lembro-me de Emily que, há pouco, estava ali comigo. Viro-me depressa.
- Desculpe-me, peque... - Mas paro logo em seguida ao contemplar Thom me olhando com o rosto aflito - O que você... - Não consegui terminar, pois ele me sufocou em um abraço.
Aquele abraço, como sentia falta daquele abraço. Por tantas noites, durante os últimos 3 anos, tudo o que eu desejava era tê-lo ao meu lado, ajudando-me e consolando. Estar longe do meu amigo foi uma das coisas mais difíceis para mim.
Não resistindo, me derramei em seus braços. Chorei tudo o que precisava chorar enquanto sentia suas mãos acariciando meus cabelos. Ele tinha o dom de me acalmar. Era sempre assim!
Nos sentamos em minha cama, ainda abraçados. Thom começa a orar intercedendo pela minha vida, meu coração e pela minha família. Sua oração é profunda e verdadeira, fazendo-me chorar ainda mais. Não era preciso dizer o que tinha acabado de acontecer, pois ele já sabia. Ele me conhecia bem, e também tinha ciência do que se passava com minha família.
Após finalizar sua oração, ele nos afasta me encarando. - Aninha, você sabia que uma hora ou outra isso iria acontecer. - E ele tinha razão, eu sabia, mas não queria acreditar. Desvio o olhar para a janela negando com a cabeça freneticamente.
- Eles... Eles... - Levantei-me e comecei a andar de um lado para o outro - Eles me enganaram, Thom! Esse tempo todo! E só agora tudo faz sentido! - Coloquei as mãos na cabeça - Eu tenho certeza que eles voltaram! Eu já desconfiava enquanto ainda estava lá. - Ele levantou e veio em minha direção. Balançava negativamente a cabeça, inconformada - Eu só não consigo entendo o porquê.
Ele pega o meu rosto fazendo com que eu o encare - Ninguém está contra você ou te enganou, Aninha! - Acariciou meu rosto - Eles apenas escolheram fazer o que é certo. Liberar o perdão.
- Perdão... Tudo se resume a isso, não é? - Já estava revoltada novamente - Mas perdoar é difícil! Não sei se consigo fazer isso!
- Mas você precisa, Ana! - Disse firme - Não é questão de escolha, é ordenança do Pai! - Afastou-se de mim - Além do mais, você sabe que isso só está te fazendo mal, não é? - Fecho os meus olhos e concordo com ele - Vamos trabalhar juntos nisso! Mas isso não depende apenas de mim, você precisa querer!
- Eu sei - Minha voz saiu como um sussurro.
- Vamos voltar para a sala, tem pessoas preocupadas com você...
- Emily! - Não espero ele terminar, corro em direção ao cômodo onde a pequena deve estar. No entanto, ao chegar lá não a vejo, apenas Roy, que está sentado no sofá com os braços apoiados nos joelhos e de cabeça baixa - Onde ela está, Roy? - Questiono. Ele ergue a cabeça em minha direção e se levanta, também preocupado...
- Ela foi para casa. - Olhou de Thom para mim - Como você está?
- Vou ficar bem! - Exclamei - Posso vê-la? Por favor! - Aproximei-me do meu vizinho.
- Claro! - Assentiu indo em direção à varanda e eu o segui.
- Aninha! - Thom me chamou - Eu soube que você não estava bem e por isso passei aqui, mas parece que está sendo bem cuidada - Olhou para Roy com... um pequeno sorriso? - Dessa forma, eu já vou, mais tarde nos falamos, ok? - Assenti e ele se aproximou.
-Obrigada! - Sussurrei. Deu um beijo em minha testa e saiu. Virei para o meu vizinho, que encarava o horizonte pensativo - Vamos? - Ele me olhou e confirmou com a cabeça.
O segui em direção ao seu apartamento. Quando entramos no loca, estava um silêncio fora do comum, até Roy estava um pouco estranho. Agarrei os braços do meu vizinho o fazendo olhar para mim.
- Roy, me desculpe por fazer a Emily presenciar o meu escândalo. Eu vi como ela ficou quando eu... - Olho para baixo por alguns segundos, mas logo ergo minha cabeça e o fito - Quando eu comecei a me descontrolar. - Ele me encarou.
- Tudo b...
- Não, não está tudo bem! - O interrompi - Eu vi medo em seu olhar, Roy! Eu sinto muito, mesmo! Ela é apenas uma criança. - Meu vizinho desviou seus olhos dos meus e sacudiu a cabeça em confirmação.
- Vamos, ela está no quarto. - Disse me direcionando ao corredor.
Ao chegar na porta, que supostamente era do quarto da pequena, reparei que estava fechada e tinha uma plaquinha escrito o seu nome e um desenho de bailarina. Sorri.
Roy abriu devagar a porta e logo me deu passagem - Vou deixá-las a sós. - Sussurrou e saiu.
Arfei ao contemplar o quarto. A decoração era beje com detalhes em rosa, No meio estava a formosa cama em formato de castelo. Ao redor tinham alguns mobiliários como poltronas, penteadeira, mesa de estudos, mesinha de chá, diversos brinquedos e um lindo guarda roupa seguindo o estilo do quarto.
Ao caminhar em direção a cama estatalei e meus olhos encheram de água. No lugar, onde deveria estar o closet, a arquiteta criou um mini studio de ballet. Assim como no meu antigo quarto, uma parede inteirinha era só de espelho com uma barra.
Estava encantada com o que via, tudo muito clássico, elegante e infantil. Era digno de uma verdadeira princesa, perfeito para a sua pequena dona.
- Uau! - Exclamei chamando a atenção da criança deitada em minha frente. Dei mais alguns passos em sua direção - Será que a princesa poderia deixar uma humilde plebeia entrar em seu castelo? - Ela sorriu, foi até a ponta da cama e fez um gesto como se estivesse abrindo uma porta.
- Fique à vontade! - Disse retornando ao seu lugar.
Deitei ao seu lado encarando as estrelas que haviam no teto do castelo, assim como ela.
- O seu quarto é perfeito, Em! Acho que não quero voltar para o meu. - Comentei fazendo a garota gargalhar ao meu lado.
- Minha vovó que fez! - Olhou para mim - Você pode dormir comigo, eu deixo!
Virei-me para ela e acariciei seu rostinho pequeno e ela fechou os olhinhos.
- Desculpe-me por te assustar, princesa! - Ela me encarou.
- Você estava brava, assim como o papai! - Arregalei os olhos assustada.
- Como assim, Em? - Questionei.
- O papai gritava assim quando brigava com a gente... - Pensou por um momento - Na verdade ele ficava pior. Mas você me lembrou ele. - Sorriu tristemente.
- Eu não queria te deixar com medo, meu amor! - Puxei ela para os meus braços e ela veio - Prometo que jamais farei isso! - Beijei seus cabelos - Você me perdoa?
- Claro, Clarinha! - Olhou para mim e sorriu - Eu amo você!
Aquelas palavras me pegaram desprevenidas, tamanha a sinceridade. - Eu também amo você, Em! Muito! - Sussurrei olhando em seus olhinhos. E era a mais pura verdade. Há menos de 3 meses eu conheci pessoas que jamais quero abandonar, uma delas era a Emily.
Com o seu jeitinho meigo e simpático, ela conquistou o meu coração de uma forma que eu não saberia explicar. Desenvolvemos uma conexão que desejo para o resto de nossas vidas.
Ela se aconchegou mais em mim enquanto eu acariciava seus cabelos. Ficamos assim por um bom tempo, até que eu me lembrei de algo um pouquinho importante. Minha gripe. Droga! Percebi que a pequena dormia tranquilamente em meus braços, então devagar eu ajeitei seu corpinho na cama me levantando em seguida. Coloquei o edredom sobre ela e fiquei a observando por um tempo.
- Parece um anjinho, não é? - Pulei com o susto ao ouvir a voz de Roy atrás de mim. Mas logo sorri ao olhar para ele. Meu vizinho observava a irmã com tanto amor e admiração em seus olhos. Caminhei em sua direção e fiquei ao seu lado.
- Parece que você não precisará ler para ela hoje. - Cruzei meus braços o encarando. Ele se virou para mim com um sorriso de tirar o fôlego de qualquer uma. Por favor, controle-se, Ana Clara!
- Pois é! - Ele me encarou por um tempo. E foi o suficiente para me deixar envergonhada - Vamos! - Disse me indicando a porta.
Demos uma última olhada na pequena e saímos. Ao chegarmos na sala senti o vento gelado que entrava vela porta da varanda. Roy, percebendo o meu estado, fechou imediatamente a mesma.
- Como está a sua garganta? - Questionou, me indicando o sofá.
- Doendo. Acho que eu a forcei demais. - Dei de ombros. e ele tocou minha testa - Nada de febre também, doutor!
- Preciso conferir se está tudo bem com minha paciente. - Disse piscando para mim.
- Falando nisso, até hoje não sei com o que trabalha, Roy! - Ajeitei-me no sofá. Ele fez o mesmo.
- Bom, não seja por isso! Eu trabalho em uma seguradora.
- Interessante! Qual empresa? - Questionei.
- Você não deve conhecer... - Comenta envergonhado.
- Por que acha que não irei conhecer?
- Porque ela não é daqui. - Ergui uma sobrancelha.
- Não? - Ele negou com a cabeça - É de onde então?
- Da França. - Meus olhos brilharam.
- França? Sério? Que incrível, Roy! Meu sonho é conhecer esse lugar... - Digo dando um suspiro. Quando olho para ele, vejo-o me olhando atentamente com um sorriso no rosto. - Conte-me mais, vai! Como é trabalhar para os franceses? Eles são chatos? E você não respondeu, qual o nome da empresa? - Meu vizinho ria da minha animação.
- Acredito que seja bom trabalhar para os franceses. - Ele esfrega a nuca, sinal de que está constrangido - Eles são como qualquer outro, Clara - Deu de ombros.
- Falta a última pergunta! - Sorri.
- Ah! - Suspirou e olhou para frente - Eu trabalho na Assurance Carter.
- Hum, acho que eu não conhe... - De repente minha mente deu um estalo. Assurance Carter. Carter. Roy Carter... Arregalo meus olhos o encarando - Roy Carter, você é dono da empresa?
- Ainda não - Ele realmente estava desconfortável com esse assunto, e eu não estava cooperando - O meu... O meu pai é o dono.
Assenti o observando.
- Está me deixando constrangido. - Disse em tom de brincadeira, enquanto eu tentava juntar coragem para saciar minha curiosidade.
- Posso perguntar algo? - Digo séria, o que fez o pequeno sorriso em seu rosto desaparecer.
- Pode.
- Hoje em minha conversa com a Em, ela disse algo que me chocou bastante. - Ele se mexeu no sofá, acho que já sabendo aonde eu ira chegar - Disse que eu estava brava e gritava, assim como o pai de vocês. - Ele continua me encarando sem expressão - Disse na verdade, que ele ficava muito pior... - Digo o observando atentamente - Roy, eu sei que tem algo errado na relação de vocês, e sinto que isso tem a ver com... com a morte da sua mãe. - Seguro suas mãos com firmeza - O que aconteceu?
Ele fecha os olhos e puxa uma de suas mão colocando em sua têmpora.
- Não precisa me contar se esse assunto te incom...
- Eu vou te contar. - Roy me corta, deixando-me surpresa - Eu não sei o porquê, mas Deus estava me incomodando para que eu conversasse com você sobre isso, e parece que chegou a hora! - Diz me encarando seriamente.
- Sou toda ouvidos!
>>>><<<<
Queeee capítulo foi esse, meus queridos!!! Fortes emoções!!!
Só eu que fiquei com vontade de consolar a Em??
O que o Roy contará para nossa protagonista hein??
Quarta tem mais...😉
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Att. NAP 😘
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