Capítulo 40

Abro os olhos no momento em que a porta do quarto se fecha. Roy acabara de sair, provavelmente para conversar com Sofia. Viro de barriga para cima e fito o teto branco. Em meio aos pensamentos e preocupações, escuto a voz da minha irmã e o seu choro vindo do andar inferior. É inevitável pensar em qual seria a reação dos meus pais e do restante da minha família, mas principalmente de uma pessoinha.

Levanto devagar, visto um roupão e calço as pantufas. Caminho até a porta, quando estava prestes a abri-la um miado baixo chama minha atenção.

— Oi, bolinha! — Cookie se esfrega entre minhas pernas. Abaixo-me para pegá-lo e sinto uma pontada na cabeça — Ai! — resmungo — Acho que não vou poder ficar me abaixando para te pegar daqui para frente — acaricio seus pelos macios.

Abro a porta do quarto sem fazer barulho. O gato em meu colo solta um miado baixo.

— Shhh! — coloco o dedo na boca pedindo silêncio. Como se ele fosse me compreender.

Os ânimos lá embaixo já tinham diminuído, mas ainda podia ouvir a voz dos dois conversando. Cogito me aproximar da escada e ouvir a conversa. Porém opto pelo que já estava prestes a fazer.

Entro no quarto da pequena e sorrio ao sentir seu perfume. Fecho a porta atrás de mim e aproximo-me da estante onde estavam sua coleção de livros, Barbies e porta-retratos. Cookie começa a se mexer querendo descer, e eu o coloco em cima da poltrona de leitura.

— Como você irá reagir, querida? — meu coração se aperta só de imaginar — Eu sinto tanto em trazer mais dor e sofrimento. — sento em sua cama, tendo uma visão geral do quarto — Em compensação, espero que se alegre com a ideia de ter um sobrinho, ou um irmãozinho... — inevitável sorrir ao recordar das palavras de Jeanne quando achou que eu era sua mãe.

Toco meu ventre, completamente plano, e sinto as lágrimas brotando. Desta vez eram lágrimas de alegria.

— Eu sei que você ainda é bem pequenininho, — pela primeira vez, desde a descoberta da gravidez, falo com o meu bebê — mas como o seu papai disse, você já é muito amado e desejado! Uma descoberta maravilhosa em meio ao caos. — minhas mãos vão de uma extremidade da minha barriga a outra fazendo leves carícias — Foi Papai do céu que nos presenteou com a sua vida, e eu confio em Seu agir! Não temerei o futuro. — sorrio — Não fique com medo, tá bom? Estaremos aqui o tempo todo para te proteger. E já vou logo te avisando que o seu papai é bem protetor. — dou risada do meu próprio comentário — Nossa família é incrível, tenho certeza que todos irão te amar!

Respiro fundo, ainda com o sorriso nos lábios, e apoio a cabeça na cabeceira da cama de Emily.

Uns barulhos no corredor me faz levantar e caminhar até a porta. Encosto a orelha na madeira e escuto som de passos indo e voltando.

— Sofi... — sussurro e abro a porta com cautela.

Minha irmã estava parada em frente a porta do meu quarto. Sua mão toca a maçaneta, mas logo solta, desistindo da ideia de entrar. Prefiro acabar de uma vez com a angustia da coitada. E como confirmação, Cookie passa por mim, indo para o corredor.

— Sorella? — chamo. Na mesma hora ela se vira com os olhos arregalados.

Sem dizer nada, vem correndo em minha direção. Mas antes de me envolver em seus braços, segura minhas mãos.

— Eu sinto muito! — diz com a voz chorosa.

— Eu também! — sorrio sem mostrar os dentes. Então ela me abraça.

Ficamos assim por um bom tempo, até que a conduzo ao meu quarto. Estava precisando descansar mesmo.

— Sabe para onde o Roy foi? — pergunto deitando-me no espaço onde meu esposo costuma dormir.

— Ele disse que precisava resolver algumas coisas. — toco no espaço vago na cama, e ela senta. Ponho minha cabeça em seu colo fechando os olhos em seguida.

— Entendi. — murmuro. Estava quase dormindo, mas uma fungada de Sofi me desperta — Esta chorando, sorella?

— Sim. — diz envergonhada — Estava lembrando de quando fazíamos a mesma coisa em nossa infância. — assinto com um sorriso no rosto — Mas as posições estão invertidas agora.

— Eu costumava acariciar seu cabelo. — completo.

— É! — silêncio — Eu te amo tanto, minha irmã! Todos estaremos ao seu lado!

— Obrigada! — digo antes de cair no sono.

***

Desperto sentindo um leve incomodo na parte de trás da cabeça.

— Roy? — pergunto ao escutar o som da descarga no banheiro.

— Sou eu, irmã! — Sofia aparece na porta do closet — O Roy ainda não voltou.

Olho a hora no relógio e percebo que já são quase seis da tarde. Pego o celular ao meu lado na cama e disco o número dele.

— Quer comer algo? Você só comeu aquele sanduíche no almoço.

— Não, obrigada! — a ligação chama até cair na caixa postal.

— Certo. Vou tomar um banho rapidamente, se precisar de alguma coisa é só me chamar ou gritar. — apenas assinto. Estava começando a ficar preocupada com o meu esposo.

— Vamos! — sussurro após ligar novamente e começar a chamar. Caixa postal. — Droga! — apoio o celular na testa e tento pensar para onde ele deve ter ido — Dom! Ele deve estar com o pai. — ligo para o meu sogro, que atende no segundo toque.

— Ana! Como vai, filha? — Percebo um pouco de preocupação em sua pergunta.

— Oi, Dom! O Roy está com você? — questiono.

— Não! Segundo Lise e David ele saiu com você. — fecho os olhos e nego com a cabeça antes de contar o que aconteceu.

Conto apenas sobre o tumor, escondendo a parte da gravidez, assim como Roy fez com Sofia. Já tínhamos conversado sobre isso em seu escritório. Decidimos não contar nada a ninguém até sair o resultado da biópsia e a conversa com o médico.

Dom fica um pouco abalado com a descoberta. Tenta me consolar com palavras de força e encorajamento. Oferece ajuda e diz que entrará em contato com os melhores médicos que ele conhece da área de neurocirurgia. Agradeço pela preocupação e carinho. Porém ainda não sabia o paradeiro do meu esposo.

— Não se preocupe com o Roy, acho que sei onde ele pode estar. Entro em contato em breve, filha.

— Obrigada, Dom!

Desligo a ligação e me coloco de pé. Dou alguns passos antes de erguer o olhar e ver a poltrona de leitura, do meu esposo, duplicada. Assim como as portas francesa e as cortinas. Fecho os olhos com força e volto a abri-los. Suspiro aliviada ao enxergar apenas um de cada, desta vez.

— Por favor, me ajude, Pai! — saio do quarto andando devagar, apoiando-me na parede. Não me sentia fraca, mas não correria o risco de uma possível queda — Sofi? — chamo do alto da escada.

— Estou na cozinha! — grita de lá.

Desço bem devagar, degrau por degrau.

— O cheiro está bom, acho que vou comer também. — sorrio para ela, que me entrega um prato.

— Não cozinho como seu digníssimo esposo ou você, mas está gostoso. — sentamos na bancada e começamos a comer em silêncio — Aninha...

— Pois não! — olho para ela com curiosidade.

— Quando irá contar aos nossos pais? — pergunta com receio.

Apoio o garfo na lateral do prato e inalo profundamente o ar antes de responder.

— Só irei esperar o resultado da biópsia para saber o que acontecerá depois. — sou sincera — Pretendo contar pessoalmente. É algo muito sério para ser avisado de qualquer jeito. Se eu tiver condições de viajar para o Brasil, o farei.

— Ok. — volta a pôr o sorriso no rosto — O que acha de assistirmos um filme da Barbie?

— A princesa e a plebeia? — ergo a sobrancelha e ela assente animada.

Nos aconchegamos no sofá juntinhas. Sofi fechou todas as cortinas da sala, deixando o ambiente perfeito para uma sessão de cinema e fez um panelão de pipoca, mesmo eu tendo dito que não comeria. Consegui assistir o início do filme sem muito problema. Porém comecei a sentir uma pressão nos olhos. Preferi, então, fechá-los e apenas escutar.

Em determinado momento do filme, sinto Sofia se ajeitar um pouco mais no sofá. Abro os olhos e percebo que ela dormiu. Sorrio e me afasto um pouco. Minha irmã se mexe, mas não acorda.

A porta da sala é aberta, no momento em que me ponho de pé. Roy entra, carregando o capacete no braço. Seus olhos caem em mim.

— Oi! — sussurro, para não acordar a mulher adormecida no sofá da sala.

— Oi! — aproximamo-nos, um observando o outro. Abro um sorriso sincero e abraço sua cintura. Roy relaxa um pouco em meus braços e retribui o abraço — Conseguiu descansar? — pergunta em baixo tom, ao ver a cunhada desmaiada no sofá.

— Sim! — afasto-me e toco seu rosto — Está gelado.

— Lá fora está muito frio, e eu acabei esquecendo de levar o casaco. — dá de ombros e aponta para o andar superior — Podemos subir?

— Claro! — seguro sua mão e fazemos o percurso em silêncio.

— Você contou ao meu pai sobre o resultado. — diz ao entrarmos no quarto.

— Contei. — respondo, mesmo não sendo uma pergunta. Sento-me na cama e sigo cada movimento do meu esposo, que começa a se despir — Fiquei preocupada com você.

Roy suspira e se aproxima. Agacha em minha frente e toca meus joelhos.

— Estamos muito preocupados um com o outro. O que acha de tomarmos um banho relaxante de banheira? — abre um sorriso torno, que me faz agarrar o seu rosto e beijá-lo com vontade.

No fim, fomos para a banheira e permanecemos por lá até a água esfriar completamente. Depois retornamos para a cama, onde permanecemos um nos braços do outro, trocando carícias.

— Está nervosa? — ele pergunta quando o silêncio se instala.

— Em relação a biópsia? — ele confirma — Um pouquinho. Mas o doutor Galen disse que a partir de amanhã um oncologista especializado em tumor cerebral, assumira o meu caso e nos explicará tudo o que precisamos saber.

— Que bom! — pressiona os lábios em minha testa. Sinto a tensão de mais cedo voltar.

— Ei! — ergo o tronco e miro em seus olhos — Vai dar tudo certo! Deus está preparando tudo. — sorrio — A biópsia já foi marcada, as coisas estão fluindo.

— Você tem razão! Vamos enfrentar um dia de cada vez. — balanço a cabeça em confirmação e me aproximo de seu rosto com segundas intenções.

Toc toc toc

— Aninha? — Sofia pergunta do outro lado da porta — Está tudo bem?

— Estou bem!

— Quer que eu fique com você até o Roy voltar?

— Não será necessário, já estou aqui, cunhada! — meu esposo responde com um sorriso torto.

— Ah! Sim! Perdão! — sua voz vai se distanciando — Boa noite, pombinhos! — grita.

Começo a rir, e Roy me acompanha.

— Sua irmã é hilária!

— Não posso negar! — deito de barriga para cima, fitando o teto. Ele se ajeita, ficando de lado. Seus dedos contornam meu rosto, e vai descendo até chegar ao meu abdômen. Roy aproxima a cabeça do meu ventre e espalha vários beijos pelo local.

— Oi, bebê do papai! Acredita que já estava com saudades? Pois é, acho que não vou conseguir ficar mais tanto tempo longe de você e da mamãe. — sorrio, emocionada com a cena. Uma das minhas mãos penteiam seu cabelo, em uma espécie de carinho — Você sabia que ela é a mulher mais incrível desse mundo? — diz olhando em meus olhos rapidamente, antes de voltar a fitar minha barriga — Não sabia? Pois está sabendo agora! Ela é linda, forte, encantadora, virtuosa, temente a Deus... O papai foi muito abençoado! — uma lágrima rola, e eu não me importo.

Estava em paz, aproveitando um momento único e especial. Totalmente nosso, concedido por Deus como alento e conforto. Prova de sua bondade e misericórdia. Amanhã seria um novo dia, novos desafios. Talvez venham notícias boas, talvez não. A única coisa que importa é que Ele continuará cuidando de tudo. E isso é mais que o suficiente!

>>>><<<<

Pessoal, por favor me desculpem pelo atraso. Esses dias foram corridos, tivemos muitas atividades na igreja e fora dela, mas consegui descansar rs, mas foi uma benção 😍

Como foi o "feriado" de vocês??

Não esqueçam de clicar na estrelinha 🌟 Nos vemos em breve!

Att.
NAP 😘

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