Algumas semanas se passaram desde a nossa volta para a França. Roy continuava com sua rotina de trabalho e a Emily com sua rotina de estudos e ensaios. Eu, bom, continuava com a minha rotina incerta e angustiante. Todos os dias eu buscava fazer algo diferente para ocupar a minha mente. Como diz o provérbio brasileiro, mente vazia, oficina do diabo.

A situação estava na mesma, permanecia em casa enquanto Alain juntava as provas para desmascarar a pilantra da Lina e toda essa corja. Para ser sincera, ao meu ver, a cabeça não era a ruiva x9, e sim a mais velha das irmãs Miller. Kate.

Meu coração, porém, estava sendo cuidado e tratado por Deus. Boa parte das minhas madrugadas eu passava em Sua presença buscando direção, alento e renovação. Estava sendo um tempo maravilhoso de conhecimento, intimidade e paz, aquela que excede todo entendi.

Esperava Roy dormir para pegar minha bíblia e seguir até a sala, acompanhada por Cookie, lugar onde amava conversar com meu Pai no silêncio noturno. E foi em um desses momentos que ouvi a voz de Deus dizendo ao meu coração que o tempo estava chegando.

— Amor?

Assusto-me com a voz do meu esposo atrás de mim.

— Oi! — fecho a bíblia e sorrio para ele — Sentiu minha falta ao seu lado?

— Eu sinto a sua falta todas as vezes em que você espera eu pegar no sono e sai do quarto. — beija o alto da minha cabeça e senta ao meu lado no sofá.

— E eu achando que estava passando despercebida. — coloco o livro na mesa de centro e viro, ficando de frente para ele — Está tudo bem? — pergunto, pois poucas eram as vezes que Roy acordava durante a noite.

— O senhor me incomodou esta noite. Posso me juntar a você em oração? — pergunta segurando minhas mãos.

— Não precisa nem perguntar. — sorrio abertamente.

— Eu sei que esse é um momento especial entre Pai e filha, mas eu realmente...

— Querido, está tudo bem! — seguro suas mãos com as minhas — Eu quero fazer isso com você.

— Que bom! — abre um sorriso genuíno antes de fechas os olhos e começar sua oração — Querido Deus, eu me uno à sua filha nesta madrugada para te fazer um pedido especial. Eu sei que o senhor já sabe o que pedirei, pois antes mesmo que as palavras saiam da minha boca tu já conheces cada uma. — alguns segundos passam antes de ele continuar — Mas eu quero colocar, mais uma vez, a vida da minha esposa diante de ti. Só o senhor sabe como anda o seu coração e sua mente. As preocupações que às vezes tem tirado o seu sono junto com a ansiedade. — enxugo uma lágrima do meu rosto — Eu sinto que, como seu ajudador, eu tenho falhado na missão de cuidar da sua filha. Não sei o que fazer para ajudá-la e eu te peço que me dê a estratégia certa.

Nessa hora eu abro os olhos e fito o homem a minha frente. Focando em minha dor, mal percebia a aflição de Roy em achar que não estava conseguindo cuidar de mim. Se ele soubesse como eu me sentia amada, cuidada e segura ao seu lado... 

— Eu sei que tens tratado com ela no particular, e isso aumenta ainda mais minha gratidão e fé. Nunca duvidei do seu cuidado e do seu amor conosco ao passarmos por esse vento. Mesmo que pareça impossível enxergar a luz no fim do túnel, eu creio que o Senhor está no controle dessa situação caótica e um pouco estressante. Continue nos sustentando a cada dia, até que o senhor se levante em nosso favor, em nome de Jesus! Te amamos, Pai! E te agradecemos por estar aqui, escutando o nosso clamor. Amém!

— Amém! — digo já com os olhos abertos — Roy, você acha mesmo que não tem cuidado de mim?

— Não como eu gostaria. — dá um sorriso sem humor antes de repousar a cabeça em meu colo.

Acomodo-me no sofá para ficarmos confortáveis.

— Eu nunca me senti tão cuidada ao lado de outra pessoa como eu me sinto com você. — faço-lhe cafuné enquanto abro meu coração — Não está sendo fácil, realmente, mas é o processo que Deus quer que eu passe neste momento. Como sempre, não entendemos, na maioria das vezes, o agir de dEle. Mas nós não temos que entender nada, e sim confiar. — suspiro — Tenho aprendido tanto com Deus nesse tempo de intimidade.

— Você é uma mulher forte, Clara! Eu tenho muito orgulho de você! — diz entre bocejos.

— Vamos subir, amor, você precisa descansar. Daqui a pouco estará de pé para mais um dia de trabalho.

— Estou confortável aqui. — abraça minha cintura e enterra ainda mais o rosto em meu peito.

— Mas eu não! — solto uma leve risada — Vamos, senhor Carter! Há uma cama enorme e muito mais confortável lá em cima.

— Ok! — ele se põe de pé e em seguida me ajuda a fazer o mesmo. Subimos a escada em silêncio até Roy se virar do nada e me encarar com o cenho franzido — Por que você não pode ser chamada de senhora e eu tenho que ser chamado de senhor? Também sou novinho, querida!

É inevitável rir de sua cara sonolenta e olhos questionadores.

— Acho que você não está em condições de discutir sobre isso no momento. — empurro-o com as mãos.

— Amanhã iremos conversar melhor sobre isso, senhora Carter! — frisa as últimas palavras com um sorriso zombeteiro nos lábios.

— Se você não estivesse bêbado de sono eu te beijaria — sussurro, mas ele acaba escutando e me pegando em seu colo com agilidade, fazendo-me soltar um gritinho e tapar a boca com a mão para não acordar minha cunhada — Me coloca no chão, Roy!

— Você acabou de me despertar, terá que arcar com as consequências.

***

Acordo na manhã seguinte com um pouco de dor de cabeça. Resultado de uma noite mal dormida. Olho para o lado e vejo a cama vazia. O relógio na cabeceira marca meio dia e vinte. Arregalo os olhos e pulo da cama quase esmagando o bichano deitado em cima das minhas pantufas.

— Sinto muito, Cookie! — pego o gato no colo e faço carinho em seu corpinho peludo. Escolho uma roupa qualquer e sigo para o banho. A essa altura não me importaria em ser uma assassina da moda.

Pego a bolsa, celular e corro para fora de casa. Chego em frente à escola de Emily dez minutos adiantada. Os óculos de sol conseguiram disfarçar bem minha cara de sono. Mexia distraidamente no celular quando um carro luxuoso, preto, para há poucos metros de mim. Ergo o olhar ao mesmo tempo em que a porta é aberta, revelando Alain no interior.

— Senhor Wertheimer! — Exclamo surpresa.

— Olá Ana! — sorri — Quanto tempo!

Guardo o aparelho no bolso e me aproximo.

— É... — brinco nervosamente com a aliança em meu dedo.

— Podemos conversar rapidamente? — olho para traz, a fim de ver se as crianças já foram liberadas e o silêncio reina no interior da escola.

— Creio que sim. — ele chega para o lado do carro e indica o local agora desocupado. Entro no veículo e fecho a porta, mas atenta a qualquer movimento do lado externo — Pois não!

— Serei direto. Não conseguimos provas suficientes para desmascarar a senhorita Dixon. Porém temos provas suficiente para comprovar sua inocência. — assinto — Como você sabe, a Chanel tem um sistema de segurança de ponta, e existem diversas delas espalhadas por toda a empresa. Os únicos lugares que não possuem câmera são as salas de reuniões principal, diretoria, presidência, a da Louise e a sua, é claro. — nada de novo até agora.

Após te mandar para casa, a primeira coisa que vi foi o sistema de segurança. Estava nervoso e um pouco alterado, confesso, mas não foi difícil descobrir onde você estava no exato momento em que o e-mail foi enviado.

— E onde exatamente eu estava? — por algum motivo fiquei curiosa.

— Passando pela recepção. Você chegou atrasada naquele dia.

— Sim, é verdade! — lembro-me do fatídico dia — Acabei dando uma grande brecha para que algo do tipo acontecesse.

— De qualquer forma, sabíamos que a informação vazada foi enviada pela sua conta, diretamente do computador que fica em sua sala. — assinto — Louise não deu o braço a torcer e disse que você poderia muito bem ter programado um determinado horário para o envio do e-mail.

— Me desculpe, Alain, mas a sua filha acha mesmo que eu sou idiota ao ponto de fazer algo tão estupido a fim de me incriminar? — acabo me exaltando um pouco — Seria uma grande burrice da minha parte!

— Eu não sei o motivo da Louise não gostar de você, Ana, — mas eu sei. Penso comigo mesma — mas peço perdão por isso! — apenas nego com a cabeça. — Enfim, tive que agir com cautela para não levantar suspeitas aos demais funcionários, dentre eles a Lina. Principalmente quando descobrimos que no momento do envio ela estava em sua sala.

— Acho que ela já sabe que eu desconfio dela. Não aguentei e soltei algumas piadinhas em nossos últimos encontros — suspiro.

— Um dos meus detetives presenciou a vez em que você conversou com as irmãs Miller e a Lina. Ele estava sentado ao lado da mesa delas e ouviu tudo. Fique tranquila, pois logo sua farsa chegará ao fim — abre um sorriso reconfortante — Voltando aos assuntos da empresa. Na quarta-feira, revendo algumas imagens da câmera, vimos o momento em que uma das funcionária da limpeza entra em sua sala.

— Todos os dias eles entram para limpar, de manhã e à noite. Onde quer chegar?

— Essa funcionária entrou enquanto a Lina estava lá dentro. — arregalo os olhos — De acordo com a filmagem, a funcionária entra, mas sai rapidamente. Ontem ao chama-la para conversar, a mesma confessou que ao entrar em sua sala, encontrou a senhorita Dixon mexendo em seu notebook. Desta forma, temos uma testemunha para prosseguirmos com as acusações contra a Lina. Mas parece não ser o suficiente.

— Sério? — sinto meus olhos arderem — Isso quer dizer que em breve poderei voltar ao trabalho?

— Se para você o "em breve" for na próxima segunda-feira, poderá sim. — sorri formando rugas em torno dos olhos.

Levo as mãos à boca e tento controlar minha emoção a todo custo. Fecho os olhos e respiro fundo.

— Estarei lá! — balanço a cabeça em afirmação — Com certeza estarei lá, senhor Wertheimer.

— Ótimo! — seu olhar mira para algo atrás de mim — Acho que as crianças já começaram a sair. — sigo seu olhar e concordo — Dê um beijo na minha neta por mim fazendo o favor, Ana. — assinto — Até semana que vem!

— Até! — saio do carro com um sorriso enorme no rosto.

Não conseguia acreditar que as coisas estavam voltando ao seu lugar. Logo lembrei de uma das madrugadas com o Senhor.

— É, Pai, o tempo chegou!

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Quatro capítulos em uma semana. Meu humor está muito bom, ou é muita oração das minhas leitoras. Acho que está valendo um voto 😬 kkkkk

Att.
NAP 😘