Capítulo 16
— Para onde iremos? — pergunto já dentro do carro.
— Nem adianta tentar arrancar essa informação dele, já tentei e não tive sucesso. — Emily responde do banco de trás, sem deixar a animação de lado. Essa aí ama uma surpresa.
— Não custa nada tentar, não é? — olho para trás e dou uma piscadinha cumplice para minha cunhada.
— Podem até tentar, mas eu não me rendo facilmente. — Roy responde com os olhos fitos na pista.
— Tem certeza? Posso ser bem persuasiva... — levo a mão até seu cabelo, fazendo leves carícias.
— Assim é jogo sujo. Não vale, Clara! — comenta com um sorriso nascendo nos lábios.
— O que acha, Em? Devo ser mais malvada? — Pergunto em um falso sussurro para a garotinha atrás de nós.
— Dê o seu melhor, Clarinha! — ergue positivamente o polegar direito.
— Você quem manda, pequena! — dito isso, aproximo o meu rosto com o do Roy, porém não é preciso fazer muita coisa, visto que ele não se sente confortável com certas demonstrações de afeto diante de sua irmã. E neste momento, esse está sendo o seu pondo fraco.
— Tudo bem! Só darei uma dica, e isso será o suficiente.
— Por enquanto! — Emily responde.
— Piquenique. — diz apenas.
— OBA! EU AMO PIQUENIQUES! — a mais nova comemora a descoberta. Eu abro apenas um sorriso lateral.
— Isso me traz boas lembranças. — Roy pisca para mim. Continuo o cafuné em seu cabelo, fazendo-o relaxar ainda mais.
O restante do percurso é feito ao som de Hillsong e muitas gargalhadas da parte de Emily, tamanha era a felicidade da minha pequena. Em poucos minutos chegamos ao Champ de Mars, para a nossa felicidade.
— Um piquenique na torre Torre Eiffel! — exclamo.
— Eu sei que não é algo muito original, mas pensei que iriam gostar. — Roy comenta ao estacionar o carro.
— Será maravilhoso! — digo acariciando sua bochecha.
— Sim! Será perfeito, Ro! — minha cunhada bate palminhas.
Emily e eu o ajudamos a descarregar as coisas do carro. Ele nos guia até uma área próxima às árvores, um pouco mais afastada das outras pessoas. Organizamos todas as delícias preparadas por Roy e Dul na toalha quadriculada vermelha.
— Louvado seja Deus! — brada Roy deitando-se na toalha com os braços debaixo da cabeça — Estar reunido com as mulheres da minha vida, desfrutar do ar livre, interagir com a natureza e, é claro, comer! — diz pegando algumas uvas sem caroço e enfiando na boca — Isso não tem preço!
Emily e eu trocamos olhares e começamos a rir.
— O que fez com o meu irmão? — a pequena coloca a mão na testa do homem deitado, e o mesmo a prende em seus braços. Emily começa a gritar e gargalhar, chamando atenção alheia — ROOOO! ESTOU... COM FALTA... DE... AAAAR — Roy a solta, colocando-a sentada ao seu lado — Faz tempo que não te via assim!
Acaricio as madeixas loiras da minha cunhada, que pega uma tira de cenoura e se aproxima de mim.
— Isso é tão francês! — digo para ninguém específico.
— O quê? — os dois perguntam ao mesmo tempo.
— Piquenique no gramado, aos pés da torre mais famosa do mundo... Só faltou o duelo de baguetes.
— Não seja por isso, mon amour! — Roy ameaça segurar um dos pães, mas eu o impeço, segurando seu braço.
— Estou brincando, Roy Carter!
— Mas eu não! — sorri de lado — A sua sorte é que o meu primo não está aqui, ou esse duelo já estaria acontecendo.
— Não quero nem imaginar! — solto-o e me aconchego em seus braços.
— O piquenique faz parte da cultura francesa e de sua arte de viver, o que costumamos chamar de convivialité. Nós basicamente inventamos o piquenique.
— E qual o significado dessa palavra? — pergunto com curiosidade. Tentava prestar atenção na explicação de Roy, mas seu perfume me desconcentrava cada vez que se mexia.
— Significa pegar pequenas porções, ou seja, petiscar.
— Uau! Super interessante. — nunca escutara falar sobre isso.
— Sim! Logo após a Revolução Francesa, os diversos parques e jardins da realeza francesa, aqui em Paris e ao redor, foram abertos ao público. Assim, não demorou muito tempo para que o piquenique se tornasse uma atividade popular. — comenta. Em seguida deposita um beijo delicado em meu ombro.
Olho para Emily e percebo que ela fitava um grupo de meninas que corriam para lá e para cá próximas de nós, brincando de algo desconhecido por mim.
— Acho que tem alguém querendo brincar... — a pequena me encara com confusão, mas logo compreende, dando-nos um sorriso envergonhado.
— Por que não vai fazer novas amizades, Em? — o irmão pergunta.
— Eu posso, Ro? — seus olhinhos brilham de expectativa.
— É claro, pequena! Vá se divertir. Só não saia do nosso campo de visão, ok?
— OK! — ela levanta e corre. Em poucos segundos já está interagindo com as outras meninas.
O silêncio toma conta de nós. Nada falávamos, apenas aproveitávamos a companhia um do outro, ouvindo o som dos pássaros e as risadas de alegria vindas das pessoas próximas. Roy fecha os olhos e desfruta da brisa que nos atinge.
— Roy...
— Hum... — pergunta sem abrir os olhos.
— Eu quero te pedir perdão por ontem! — ele solta um suspiro e me fita sem dizer nada — Acho que te magoei.
— Não me magoou. — acaricia minha mão — Na verdade, me incomoda o fato de você não entender que daqui a pouquíssimos dias, você será minha, e eu serei seu. Seremos um para a glória do Senhor.
— Eu sei! — aperto suas mãos.
— Eu preciso cuidar de você, de nós. Não por obrigação ou mandamento, mas por prazer. Porque eu quero fazer isso. Eu amo você e para mim não faz sentido fazer qualquer coisa sem que você esteja presente, Clara. Eu sinto essa necessidade! Precisamos ser parceiros, estamos juntos nessa, meu amor. — assinto e uno nossas testas.
— Sobre o jantar...
— Por favor, não me force a ir àquele jantar sem você, porque eu não irei! — pede em tom de súplica. Seu polegar roça em minha bochecha.
— Não! Eu irei com você. — Roy se afasta um pouco para me fitar.
— Tem certeza? Já disse que não precisamos ir. — diz calmamente.
— Tenho certeza! — sorrio sem mostrar os dentes — Não sei o que nos espera, mas nós iremos a casa do Alain.
Ele assente e sorri, ainda me olhando com admiração.
— Roy, você me conhece. Sabe toda a minha história e passado. Infelizmente eu não tenho uma referência de como ser uma boa esposa, porém estou disposta a aprender. Eu prometo que darei o meu melhor. Essa semana eu até comprei alguns livros com base bíblica sobre o assunto. Você também sabe que eu não gosto muito de ler, mas... — sou interrompida pelos lábios de Roy colado aos meus.
— Você será uma excelente esposa! Tenho certeza disso! Eu creio que o Senhor irá nos ajudar.
— RO! CLARINHA! — Emily vem correndo em nossa direção, acompanhada das outras meninas — Quero que conheçam minhas novas amigas!
Ao total, contando com Emily, é um grupo composto por cinco garotas, bem diferentes umas das outras. A primeira que chama minha atenção é alta e acabava se destacando dentre as demais. Seus olhos são redondos e enormes; cabelo castanho avermelhado e pele alva. Outra que também se destacava era o oposto desta, devido sua estatura baixa, até demais, e cabelo loiro claro. Havia uma menininha asiática que aparenta ser a mais envergonhada, pois se escondia atrás da maior. A quinta garota, que está ao lado direito da minha cunhada, tem a pele negra e cabelo escuro, enrolado até a cintura. Devido ao enorme sorriso branco e a animação, ouso dizer se tratar da mais extrovertida.
— Oh! — ajeito-me no lugar e observo as meninas ao lado da pequena Em — Olá, meninas! — cumprimento-as.
Alguns "olás" e "ois" foram falados ao mesmo tempo.
— Como vão, garotas? — Roy saúda com sua voz grossa e charmosa.
— Uau! — uma delas deixa escapar, a extrovertida. Em resposta ganha cotoveladas e pequenos sermões — Desculpe! — diz abaixando a cabeça.
Emily revira os olhos e nos encara.
— Como disse, estes são o Roy, meu irmão, e a Clarinha, minha cunhada. Eles estão noivos! — frisa a última palavra com animação.
— Que demais! — a loira comenta com os olhos brilhando — eu também quero ficar noiva.
Roy começa a tossir ao meu lado. Tento prender o riso enquanto bato em suas costas.
— Mas você não acha que é nova demais para pensar nessas coisas? — pergunta após se recuperar da crise.
— Não disse que quero isso agora, — dá de ombros — são planos para o futuro.
Roy e eu trocamos olhares incrédulos.
— Bom, é um plano muito bom! — comento — Mas para um futuro ainda distante.
— Eu sei! Minha mãe diz que eu preciso estudar para ser alguém na vida. E também preciso orar muito pedindo ao Papai do céu um homem segundo o Seu para cuidar de mim e me amar muitão. — abre um largo sorriso.
— A Clarinha e o Ro também oraram! — Emily comenta com certo orgulho.
— Eu nunca orei! — diz a maior de todas, chamando nossa atenção — Meus pais são ateus. — une os braços atrás do corpo e fita o chão.
— Se você quiser eu posso te ensinar! — Em toca o ombro da nova amiga.
— Eu também! — a loirinha faz o mesmo.
— Minha religião é o xintoísmo, mas eu também quero aprender! — a garotinha asiática fala baixo, mas conseguimos entender.
— Que religião é essa? Nunca ouvi falar, Yoko? — a extrovertida, que ainda desconheço o nome, pergunta a tal da Yoko. Confesso que também nunca tinha ouvido falar sobre.
— O xintoísmo é uma religião de origem japonesa cujo objetivo é estabelecer a harmonia entre o homem e a natureza. — diz encarando a amiga.
— O xintoísmo é considerado um modo de vida do povo japonês, que diferente de outras entidades religiosas não possui um fundador, nem um livro sagrado, mas baseia-se em textos antigos chamados de Shinten. — Roy complementa, ganhando um sorriso de admiração da Yoko.
— Isso mesmo!
Olho para ele com o cenho franzido.
— Como sabe tanto? — pergunto baixo, para que apenas ele escute.
— Eu gosto de ler. — pisca para mim antes de voltar a prestar atenção na conversa das meninas.
— Então, vamos aprender sobre religiões! — a mais extrovertida diz sentando ao meu lado na toalha. As demais fazem o mesmo e em poucos segundos estávamos sentados em círculo.
— Vocês conhecem os nossos nomes — aponto de mim para Roy — mas não conhecemos os de vocês. Quer dizer, sabemos o da Yoko. — sorrio para ela, que retribui o gesto.
— Sou a Lola — diz a menina sentada ao meu lado — esta é a Mila — aponta para a loira baixinha — e aquela é a Camille — a maior de todas acena com a mão.
— Belos nomes! Todas nasceram na França? — suspeito que Yoko tenha nascido no Japão, devido seus traços e sua religião.
— Sim! Inclusive a Yoko, se essa é a sua curiosidade. — responde Lola com um sorriso brincalhão no rosto.
— Apenas os meus pais são japoneses. — explica a menina.
— Que interessante! Então a única estrangeira sou eu. — ergo os braços.
— De onde você é? — Camille, a maior das 5, inclina a cabeça e pergunta com curiosidade.
— Sou brasileira.
Após descobrirem minha nacionalidade, virei o centro das atenções e recebi diversas perguntas e questionamentos sobre meu país e cultura. As meninas são incrivelmente inteligentes e um tanto maduras para a pouca idade.
Comemos e conversamos bastante. Neste meio tempo os pais de algumas vieram até nós, com a finalidade de conhecerem os estranhos com quem as filhas conversavam. Apenas quando o crepúsculo estava chegando ao fim que levantamos acampamentos e começamos a nos despedir.
— Foi um prazer conhece-las, meninas! — digo dando a mão ao Roy e ajeitando a bolsa no ombro.
— Nós amamos ter conhecido vocês! — Lola nos abraça pela cintura. Em seguida as outras meninas, inclusive Emily, fazem o mesmo.
Sem saber o que fazer, olho para Roy pedindo socorro, e ele me encara com o mesmo olhar. A mãe da Mila grita seu nome, e logo as quatro se despedem de nós e vão ao encontro de seus pais.
— Nossa! — exclamo durante o percurso até o apartamento — Isso foi... — tento encontrar a palavra certa.
— Diferente! — Roy me ajuda.
— Muito! — olho para trás e sorrio ao ver a bela adormecida desmaiada no banco de trás — Parece que alguém esgotou toda a energia.
Roy olha pelo retrovisor interno e nega com a cabeça.
— Isso não é nada bom! Quando chegar em casa não vai querer tomar banho. Já estou vendo o estresse...
— Deixa comigo! — toco sua perna — Afinal de contas, tenho muita experiência com minha irmã, ela era exatamente assim.
— Está preparada para passar um tempo com a sua sorella, senhorita Bianchi? — acaricia minha mão.
— Para ser sincera, nunca estou, mas darei conta! — dou risada e Roy me acompanha.
>>>><<<<
Uma Emily é bom, mas cinco... é demais!!!! 😂😂😂
Animados com a chegada da Sofi?? Confesso que estou morrendo de saudades dessa turma reunida outra vez!!!! 😍🥰♥️
Não esqueçam de clicar na estrelinha, please!! 🌟
Att.
NAP 😘
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