Capítulo 15
Caminho ao lado de Roy. Sua mão segura com força a minha e um sorriso belíssimo preenche seus lábios. Sinto vontade de beijá-lo, e assim o faço. Uma mistura de sentimentos toma conta do meu coração apaixonado em uma explosão de sensações, todas boas. Era tão maravilhoso tê-lo ao meu lado, partilhar a minha vida com um homem incrível como ele.
Caminhamos por mais um tempo até que sinto minhas pernas perdendo as forças e os meus pés fixarem no chão. Fito os membros inferiores, sem compreender qual o problema. Olho para cima ao perceber que o aperto da mão do meu noivo, que antes era evidente, e bom, estava se afrouxando até me soltar de vez.
Aos poucos ele se afasta com um sorriso triste no rosto.
— O que está acontecendo? — questiono, mas Roy nada diz, apenas se afasta.
Tento forçar os meus pés a funcionarem. Sem sucesso. O desespero começa a invadir o meu ser. O que estava acontecendo? Por que ele estava me deixando?
— ROY! — grito, tentando chamar sua atenção. Mas a essa altura ele já estava distante.
Fecho os olhos e começo a clamar por socorro, até que sinto meus membros funcionarem novamente. E sem perder mais tempo, ponho-me a correr atrás do homem da minha vida.
Não sei quanto tempo se passou, mas foi o suficiente para perde-lo de vista. O cenário, que só agora pude perceber, parecia com um belo jardim florido. Entretanto, à medida que avançava para o possível caminho traçado por Roy, a vegetação se tornava maior e mais claustrofóbica.
Já sem fôlego, paro apoiando as mãos nos joelhos cansados. Controlo a respiração dentro de alguns segundos. Quando volto a olhar para frente, o vejo parado a poucos metros, olhando-me com o mesmo sorriso triste no rosto.
— Roy? — caminho devagar ao seu encontro, mas paro novamente ao ver duas mãos massageando seus ombros. Arregalo os olhos e tento focar no rosto da pessoa, mas tudo estava embaçado — O que pensa que está fazendo? — pergunto à mulher — Largue-o! Não vê que é comprometido? — ordeno com raiva, e ela ri.
— Clara, venha comigo! — Roy pede em tom suplicante — Preciso de você ao meu lado!
Assinto com rapidez. Corro ao seu encontro e retiro de forma brutal as mãos daquela mulher de cima dele, e algo chama minha atenção. As unhas perfeitamente afiadas, não muito grandes, pintadas em um vermelho sangue. Um arrepio percorre o meu corpo, mas o abraço que recebo do meu noivo me traz segurança e conforto.
— Obrigada! — ele sussurra em meu ouvido — Obrigada!
Sento-me assustada, e completamente suada, na cama macia do quarto. A respiração entrecortada e a dor no peito confirmam o sonho tão real e perturbador de agora pouco.
— Jesus, misericórdia! — fecho os olhos e encosto a cabeça na cabeceira.
Com a respiração normal, faço uma breve oração e pego o celular na mesa de cabeceira. Tiro do modo silencioso e ligo a internet. Mais notificações.
Respondo as mensagens da noite anterior com calma. Sorrio ao ver uma de Roy, há uma hora.
"Almoço com os Carter, o que me diz?"
Meus olhos brilham. Talvez ele não esteja tão chateado comigo...
Com uma rapidez, não tão fora do comum, digito minha resposta.
"Boca livre? Com toda certeza estarei aí! 😋"
Levanto da cama e vou para o banho. Após uma hora e meia estou na porta da casa dos Carter.
— Bom dia, Ana! — Dulce, a governanta da família, me cumprimenta com alegria.
— Bom dia, Dul! Como vai? — pergunto com educação.
— Muito bem! Venha! O senhor Carter e o Roy estão lá em cima, mas não demorarão para descer. — sigo-a até a sala — deseja alguma coisa?
— Não, obrigada! Na verdade, eu vou dar uma volta no jardim. — a senhora sorri em resposta antes de voltar às tarefas.
Passear pelos jardins da mansão do meu sogro costumava me lembrava o jardim de casa, sempre bem cuidado por dona Thelma. Apesar de tudo o que aconteceu, as recordações que vinham a mente eram tão gostosas e alegres. Como minha última viagem para São Paulo, ao lado do Roy e da Emily, e minha reconciliação com mamãe.
— Ana! — a voz do meu sogro me traz a realidade.
— Dom! — abro um sorriso singelo e o abraço.
— É bom te ver, minha filha! Creio que está esperando o seu noivo, certo? — questiona em tom brincalhão.
— Na verdade, vim para almoçar com vocês. — ele franze o cenho, mas logo sua expressão suaviza.
— Bom, não estou sabendo de almoço nenhum, mas fiquem à vontade. Estou de saída, tenho um almoço de negócios com possíveis clientes. — dá uma piscadinha.
Apesar da nossa intimidade e amizade, fico um pouco constrangida, afinal de contas, vim para almoçar com os Carter e o anfitrião nem estava sabendo disso.
— Bom dia, família! — Charlotte se aproxima com seu cabelo loiro esbranquiçado, muito bem penteados, e o costumeiro sorriso amável no rosto.
— Bom dia! — respondemos juntos.
— Não sabia que te encontraria por aqui, querida. — a última parte é direcionada a mim.
— Pois é, parece que ninguém sabia. — minha voz sai baixa e um pouco desanimada, porém audível.
— Desde quando você precisa anunciar sua presença? Faz parte da família, agora é minha terceira filha. — as mãos de Dom tocam meus ombros.
— E minha netinha. — completa Charly. Apenas sorrio.
— Vou aproveitar que Charlotte está aqui te fazendo companhia para sair, tudo bem?
— Claro, Dom! Sem problema. — sorrio.
— Ótimo! — vira para a sogra — E a Em?
— Subiu que nem um furacão para se arrumar. Quase caiu da escada. — nega com a cabeça.
— Essa escada é um perigo! Mas a arquiteta não me deu ouvidos quando estava fazendo o projeto — me lança um olhar cumplice e zombeteiro.
— A arquiteta tinha muito bom gosto e sabia o que estava fazendo quando projetou a sua belíssima escada helicoidal. — defende-se Charlote, fazendo-nos rir.
— Tenho que concordar. — Dominic responde entre risos — Agora eu preciso ir. Até mais tarde, meninas! — diz se afastando.
— Amei o "meninas"! — Charly grita em resposta, arrancando mais algumas risadas — Eu amo esse filho que Deus me deu! — apenas sorrio e assinto — Vamos nos sentar e bater um babo enquanto você espera os meus netos.
Sentamos em um sofá próximo à piscina, aproveitando o solzinho matinal. Dulce nos trouxe dois copos com suco de laranja sem gelo.
— Então, Ana, como estão as coisas com a Chanel?
— Bom... — encosto-me no assento e analiso a pergunta — infelizmente sem muitos avanços, Charly. Na segunda-feira eu me encontrei com a Lina, mas as coisas não saíram como eu desejava. — suspiro cansadamente — Ao longo dessa semana, em momento algum eles entraram em contato comigo, contudo ontem o Roy recebeu uma ligação do Alain.
— O Roy? — questiona com incredulidade.
— Sim! — apoio o copo na mesa de centro e cruzo as pernas — Parece que ele quer fazer um jantar em sua casa, e faz questão que eu esteja presente.
— Interessante... — comenta para si mesma.
— Interessante? Não vejo nada de interessante nisso. — resmungo emburrada.
— Não percebe, Ana? Caso não houvesse alguma parte dele que acredita em sua inocência, você não seria convidada. É a casa dele. Alain não leva qualquer pessoa para dentro de sua casa.
— Ele só está fazendo isso pelo Roy.
— Não seja tola, Ana! Para ser sincera, acredito que esse jantar é um pretexto para que ele tenha acesso a você longe da empresa.
— Se você diz... Mas eu não irei! — dou de ombros e tento acabar com o assunto.
— Por que não? — pergunta quase exaltada.
— Não me sentiria confortável estando na casa de uma pessoa que tem me acusado injustamente. — respondo como se fosse o óbvio.
— Filha, — segura minha mão sobre seu colo — na vida nós estamos sempre passamos por situações que nos deixam desconfortáveis, incomodadas, mas às vezes é necessário. — aperta minha mão sobre a sua — Já perguntou ao Senhor qual é o desejo dele?
— Na verdade, não! — fito nossas mãos unidas.
— Então você tomou uma decisão baseada no seu achismo e sentimentos? — assinto sem encará-la — Sabe o que isso se chama?
— O quê? — fito-a, finalmente.
— Medo.
— Por que isso não me surpreende? — abro um sorriso triste.
— Porque no fundo você sabe que esse sentimento está aí dentro — toca o meu peito — mas não quer acreditar.
— Mas eu sei disso. E infelizmente eu não suporto estar passando por essa situação. Me sinto uma incrédula covarde. — minha voz sai embargada.
— Não diga isso, querida! — toca meu rosto com compaixão — É normal que este sentimento esteja aí, principalmente pelo fato de estar passando por algo que nunca vivenciou antes. A questão é, você deixará esse medo te dominar ou você irá dominá-lo através da fé?
— Eu tenho tentado, juro! Mas não estou conseguindo, Charly! Eu tenho fé, eu creio que o meu Deus está comigo e não irá me desamparar! O problema é que em alguns momentos o medo e o desespero falam muito mais alto e vários pensamentos de incerteza passam pelo meu coração. Eu me sinto péssima!
Charlotte fica em silêncio por um bom tempo com seus pensamentos. Até acho que a conversa chegou ao fim, porém ela volta a falar.
— Você se lembra da passagem do jovem lunático? — pergunta.
— Lembro. Mas o que isso tem a ver? — questiono sem entender onde ela quer chegar.
— O pai daquele jovem, após pedir ajuda aos discípulos e não obter resultado, clama ao Mestre. Ele chega dizendo "Mestre, trouxe-te o meu filho..." — sorri olhando profundamente em meus olhos — Sabe o que isso significa?
— Que ele apresentou o seu filho a Jesus? — pergunto incerta.
— Exato, mas esse menino representa mais que um filho. Ele simboliza uma situação problemática. Imagine a condição desse pai, o jovem vivia assim desde a infância. Os demônios o lançavam no fogo, na água, faziam de tudo para o destruir. Tente imaginar a luta desse senhor para manter o filho vivo. Mas não importa o que fazia, nada mudava.
— Uma situação realmente complicada. — analiso.
—Mas o interessante é que ao ver Jesus, a primeira cosia que ele fez não foi se apresentar, mas sim apresentar o seu problema. Ele estava tão desesperado, que já chegou jogando aos pés do mestre as suas aflições. — sorrio, começando a entender seu discurso — Após uma breve conversa e algumas explicações, o homem finaliza dizendo "mas, se tu podes fazer alguma coisa, tem compaixão de nós e ajuda-nos". Creio eu que Jesus olhou bem no fundo dos olhos daquele homem e com um sorriso no rosto respondeu "se tu — frisa o "tu" — podes crer; tudo é possível ao que crê."
A cada palavra dita por Charlotte, eu conseguia imaginar perfeitamente a cena, como se estivesse presente naquele momento emocionante.
— O coração do pai deve ter ardido tanto de felicidade... Tenho certeza que no fundo ele sabia que os dois não sairiam de lá da mesma forma. — seus olhos começam a lacrimejar — Então o homem, com lágrimas nos olhos, clama a Jesus dizendo "Eu creio, Senhor! Ajuda a minha incredulidade!"
Abro um sorriso, mas ao perceber algo estranho, franzo o cenho e pergunto com curiosidade.
— Mas isso não faz sentido! Ele disse que acreditava, mas pedia ajuda pela sua falda de... — e minha ficha começa a cair, assim como as lágrimas em meu rosto — fé!
— Compreende? — pergunta com carinho.
— Sim! Acho que estou enfrentando o mesmo dilema, Charly.
— É isso que Deus espera de mim e de você. Uma resposta sincera. Como você disse anteriormente, Ana, você crê. E Deus sabe disso, pois conhece seu coração. Entretanto, quando reconhecemos que a nossa fé é imperfeita e dizemos isso a Ele, damos o primeiro passo para agradar a Deus. O segundo é clamarmos por socorro. Quando o fazemos, tenha certeza que o Senhor nos ajudará! Enquanto isso, é nosso dever afastar cuidadosamente os restos de infidelidade que nos aderem, lutar contra eles e orar a Deus para corrigi-los e, sempre que estamos envolvidos neste conflito, clamar a Ele por ajuda.
— Amém! — jogo-me em seus braços e sou recebida com amor — No início, quando me mudei para os Estados Unidos, eu sentia muita falta das conversas que costumava ter com papai. Ele sempre me dava os melhores conselhos à luz da palavra. Mas Deus ele me deu você, Charly, e eu sou muito grata por isso! — afasto-me para ela ver a sinceridade em meus olhos.
— Filha, Deus cuida de nós em cada detalhe! — concordo com um sorriso nos lábios — Agora mudando um pouco de assunto, acho que já está na hora de você me chamar de vovó!
Começo a rir de sua mudança repentina de assunto.
— É, acho que está na hora. — sorrio de lado.
— CLARINHA! — Viramos os rostos em direção à casa. No pavimento superior, estavam Emily e Roy na janela do quarto dele. A primeira acenava animadamente para nós. Aceno de volta e me ponho de pé. Sendo seguida por Charly, digo, vovó.
Tal pensamento me faz sorrir.
— Por favor, não esqueça da conversa que tivemos, querida. Pense com carinho e ore a Deus pedindo direção para o que você deve fazer.
— Acho que Deus já me deu instruções precisas do que fazer! — pego o copo de suco e caminhamos para dentro.
— Que bom, querida! E quando será o jantar? — os dentes brancos aparecem acompanhados de um enorme sorriso.
— Terça à noite.
— No mesmo dia em que sua irmã chegará. — afirma e eu assinto.
— Isso!
— Pronta? — A voz de Roy derrete meu coração.
— Prontíssima! — digo me aproximando dele e o envolvendo com meus braços — Eu amo você! — digo baixo.
Ele acaricia meu cabelo solto e responde com um beijo em meus lábios.
— Muito bem, crianças! Acho que já está na hora do passeio. — Charlotte diz batendo palmas, nos fazendo rir.
Seguro firme a mão de Roy e, juntos, caminhamos para fora da casa.
>>>><<<<
Oii, genteee! Trago mais um capítulo para compensar minhas faltas nas últimas semanas 😁
E aí, alguém se identifica com os confrontos que a Ana está passando, mesmo que seja em áreas diferentes? Eu me identifico com certeza, e Deus tem trabalhado muito em mim através desse livro.
Outra pergunta, vocês já em seguem no Instagram?? Estou fazendo algumas mudanças por lá e tentando deixar o insta mais dinâmico. Segue lá: @escrevacmg 🌷
Att.
NAP 😘
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