Capítulo 14

Roy abre a porta do apartamento e me dá espaço para passar. O faço ainda em silêncio. Minha mente processa a conversa que tínhamos tido há pouco. Apoio a bolsa no aparador, retiro os sapatos e sigo até a cozinha. De soslaio percebo que o meu noivo permanece parado ao lado da porta observando meus movimentos.

Solto um suspiro e abro um pequeno sorriso para ele.

— Se ficar aí parado por mais tempo é capaz de criar raiz. — Roy sorri lateralmente e caminha até onde estou.

Encho dois copos com água. Ofereço um a ele, que aceita, e bebo o outro.

— Fiquei preocupado, você permaneceu calada o restante da noite. — desabafa antes de beber sua água.

Coloco o copo de vidro na pia e apoio o corpo na bancada.

— Apesar de conviver com a Sofi por boa parte da minha vida, ainda não consigo entender como o ser humano consegue ser tão cara de pau.

Roy se engasga com o restante da água que termina de beber. Coloca o copo ao lado do meu, na pia, e segura minha mão com carinho.

— Sua irmã ainda não está aqui para se defender, meu amor. — sorri, mostrando seus dentes brancos.

— Ainda! — friso e assinto — De qualquer forma, eu não entendo esse povo.

Ele me conduz ao sofá e senta ao meu lado.

— Compreendo o seu ponto de vista, Clara, mas talvez ele não tenha segundas intenções com esse jantar, ou em querer sua presença. — diz com cautela.

— Com certeza! E eu sou o coelhinho da páscoa. — digo sarcástica.

— Clara...

— Desculpa! — viro-me ficando de frente para ele — Mas eu não consigo acreditar nisso, Roy. Eu sei que vocês se conhecem há bastante tempo e o carinho que sentem um pelo outro é grande. Também sei que ele pode estar querendo preparar esse jantar para revê-lo, amor. — ele assente — No entanto, esse mesmo homem me acusou e duvidou de mim há poucos dias. Como ele faz questão que eu esteja presente?

— Eu realmente não sei, mas talvez ele tenha seus motivos. Talvez tenha descoberto algo.

— E aí decidiu preparar um jantar em sua casa para compartilhar as boas novas? Não seja tão inocente, Roy! Você viu o quanto eu me senti humilhada e fiquei mal com o que aconteceu. — fito as cortinas finas — Confesso que ainda não estou cem por cento com tudo isso, óbvio que não, mas também não quero passar por essa situação outra vez.

Sua mão toca o meu rosto e eu volto a encará-lo.

— Volto a repetir, meu amor, nós não precisamos ir nesse jantar. — diz suavemente.

— Eu não irei! — desfaço o contato e ponho-me de pé — Mas você sim!

Ele revira os olhos e pressiona o cenho.

— Já conversamos sobre isso. Eu não irei sem você! — sua voz sai firme e decisiva.

— Não é justo, Roy. O que aconteceu foi algo entre ele e eu, isso não pode afetar o relacionamento de vocês. Imagine como a Emily ficaria! — ergo as mãos, como se tivesse encontrado a justificativa perfeita. Roy, porém, ergue uma sobrancelha e cruza os braços.

— A Emily já passou tempo demais longe do Alain, e sinceramente, isso não mudou muita coisa na vida dela.

— Mas agora é diferente — dou de ombros — eles voltaram a se relacionar e estão mais próximos.

Roy se coloca de pé e segura minhas mãos.

— Eu sei o que está tentando fazer — sorri de lado — e isso não irá funcionar. Em breve estaremos casados, seremos um. Se você acha que deixarei você sozinha para ir a algum lugar, está muito enganada.

— Exatamente! Em breve. Ainda não estamos casados. — abro um largo sorriso, mas logo me arrependo.

Roy fecha os olhos e desfaz o sorriso que antes ornava seu rosto. Seu maxilar trava e quando volta a me encarar, sua expressão é de decepção.

Droga!

— Tenha uma boa noite, Clara! — beija o topo da minha cabeça e caminha até a porta.

A porta se fecha e poucos segundos depois ouço o som do elevador chegando. Bato palmas sem emoção alguma.

— Parabéns, Ana Clara Bianchi! Você é uma idiota!

Pego minha bolsa e subo a escada seguindo para a suíte. Tomo um bom e relaxante banho de banheira até meus dedos se enrugarem completamente. Saio do banheiro e visto um pijama bem confortável.

Confiro algumas notificações no meu celular e percebo que há ligações perdidas de minha irmã, mensagens no zap das minhas amigas, do nosso grupo de amigos, mas nenhuma do Roy...

Decido não responder nenhuma mensagem hoje. Coloco o aparelho no silencioso e fecho os olhos para tentar dormir. Porém o sono não vem. Viro de um lado para o outro, e nada. Sinto a cama se mover, e em poucos segundos os pelos de Cookie roçam em meu braço. Sorrio e viro-me para o bichano.

— Resolveu aparecer, meninão? — sussurro acariciando seus pelos macios. Recebo um miado em troca — Ouviu nossa conversa? Eu fui uma idiota não é? — questiono e um novo miado sai dele — Não precisava ser tão sincero assim.

Cookie apoia a cabeça em minha barriga e fecha os olhos.

— Ok, senhor grosseiro, já entendi que não quer ouvir minhas lamúrias. — sorrio — Mas não tem problema. Fique você sabendo que eu não estou desamparada, tenho um Pai que está atento as minhas lamentações. E mesmo estando um pouquinho distante, irritada, estressada e muito cansada, Ele continua atento a mim. — desvio os olhos do bichano e fito o céu negro através das grandes portas francesas — Não é, Papai?!

De forma lenta e delicada, retiro a cabecinha do bichano de cima de mim e levanto da cama. A noite está fresca. O céu escuro e bem estrelado, o que não é muito comum de se ver. Sento-me no banco balanço e começo a me balançar levemente. A brisa toca meu rosto e a sensação de calmaria invade o meu ser.

— Eu sei que estás aqui. — fecho os olhos e inspiro — Não foi no vento forte. Não foi no terremoto. Também não foi no fogo. O senhor não estava em nenhum deles, e sim na brisa suave. Assim como Elias quando estava na caverna, eu te sinto na brisa. — sorrio sentindo os olhos marejados — Elias, Elias...

Apoio a cabeça no encosto do balanço e fito o céu.

— Como eu tenho me identificado com Elias, Pai. Não com o Elias corajoso, aquele que confrontou o Rei Acabe, que desafiou os profetas pagãos e depois os matou diante da manifestação do poder do Senhor; que orou e voltou a chover em Israel após tantos anos de seca. Na verdade, não é com esse Elias que me identifico. — suspiro — Acho que assim como Elias, estou permitido que as investidas de Jezabel tenham mais poder em minha vida do que realmente deveria. Eu peço perdão por isso, mas eu continuo sendo um ser humano dependente da sua misericórdia e graça. É sério, eu não consigo sozinha! Eu me sinto frágil, assustada com tudo isso que está acontecendo, meu paizinho.

Nem tento conter as lágrimas que rolam incessantes em meu rosto. Reação da presença do meu criador.

— É incrível que mesmo após contemplar a sua provisão, a sua maravilhosa bondade e milagres na minha vida, as preocupações e os medos me perseguem. — fecho os olhos com força e inclino a cabeça — A verdade é que os milagres não mantêm ninguém de pé. O que realmente nos mantém é a comunhão com o Senhor na obediência a sua Palavra.

Levanto-me do banco e caminho para o guarda-corpo. Contemplo por alguns minutos a cidade parisiense antes de voltar minha atenção ao céu.

— Eu sei que o senhor nunca me desamparou em toda a minha vida, e não será agora que isso irá acontecer. Eu tenho plena certeza disso! Elias desviou os olhos da fé e os colocou sobre as circunstâncias. Seu comportamento foi tão irracional que ele, um homem caracterizado pela coragem, fugiu de um inimigo que já estava derrotado. Não quero fazer o mesmo. Não posso! — nego com a cabeça — Por isso eu estou aqui para te pedir socorro, meu Deus. Me de a sua direção. O que eu devo fazer enquanto espero? O que você espera de mim, Pai?

Parte de mim espera por uma resposta imediata, pois o anseio por ouvir sua voz pulsa forte em minhas veias. A outra, sabe que Deus também trabalha no silêncio, e esta parte tem certeza que o silêncio será a única resposta que receberei dEle nesta noite.

>>>><<<<

Volteeeei!! Dessa vez casadinha 💍🥰
Desculpem mais uma vez essa demora toda, mas como expliquei anteriormente, foi necessário tirar esse tempo para focar nas coisas do meu casamento. Só quem já passou por isso sabe como é o estresse e o prazer em organizar um casamento... (mas eu faria tudo outra vez 😂😂😂)

Até o próximo capítulo, pessoal!

Att.
NAP 😘

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