Capítulo 12
Entro no restaurante controlando os meus ânimos. Há dois dias não durmo direito pensando em como será a tão esperada conversa entre Lina e eu. Cumprimento o maître com um aceno de cabeça e um Bon après-midi. Ao longe vejo a mesa onde ela está sentada e dispenso a ajuda do funcionário.
Respiro fundo e caminho até lá a passos firmes. Ela olha para a direção oposta a minha, até que do nada se vira com um sorriso no rosto, como se já soubesse que eu estava ali.
— Ana! — Levanta-se e me envolve em um abraço. Estaria ela achando que somos velhas amigas?
Paraliso no mesmo lugar. Não sou o tipo de pessoa falsa. A verdade é que eu não suporto falsidade, mas neste momento preciso me controlar para conseguir as informações necessárias e não enfiar a mão na cara dessa mulher.
Percebendo que não retribuo o cumprimento caloroso, ela se afasta com rapidez.
— Perdão! Achei que poderíamos deixar a formalidade de lado quando estivéssemos fora da empresa, senhorita Bianchi. — frisa a última parte.
— Olá, Lina! — digo me sentando — Para ser sincera, achei curioso o seu convite.
Toma o assento a minha frente. Ajeita o guardanapo de tecido no colo e me fita com os olhos brilhando.
— Como disse, não começamos muito bem, não acha? — apoia o cotovelo na mesa sustentando o queixo com a mão.
— Pode-se dizer que sim. — desvio o olhar e chamo um dos garçons. Faço o pedido, assim como ela e o silêncio paira entre nós quando o funcionário deixa a mesa.
Pigarreio antes de falar.
— Então, há quanto tempo você trabalha na Chanel?
— Fará dois anos em agosto. — beberica um pouco do seu Canard Duchêne. E eu acompanho o movimento da taça com o olhar — Mas e você?
— O que tem eu? — questiono com cuidado.
— O que tem achado da Chanel? Trabalhar em uma empresa como esta é incrível, não? Ainda mais em um cargo como o seu! — ajeita o cabelo para frente do corpo.
— Sim, foi uma oportunidade maravilhosa. — digo apenas.
— Você parece tensa! — debruça sobre a mesa e sussurra — Não bebe, Ana? Digo, senhorita Bianchi — sorri de lado.
— Não. — fito seus olhos verdes.
— Não sabe o que está perdendo! — bebe mais um gole e volta ao lugar — Isto é divido! — ergue a taça.
Precisava relaxar um pouco mais, ou ela começaria a desconfiar, se é que já não fazia. Encosto-me na cadeira e cruzo as pernas, apoio os antebraços na mesa e sorrio sem mostrar os dentes.
— Essas últimas semanas na Chanel estão me deixando de cabelo em pé. — dou uma pequena risada antes de continuar — Toda a preparação para a Paris Fashion Week, os demais eventos e... — olho com intensidade em seus olhos — lidar com a senhorita Leroy, não tem sido nada fácil.
— Eu disse para você que aquela lá era difícil! — sorri debochada — Mas não se preocupe, será por pouco tempo. — pisca para mim.
Estava prestes a perguntar o motivo de seu comentário, porém o garçom chega com nossos pratos.
— Isso está com uma cara ótima! — admira seu prato, enquanto não consigo desviar meus olhos do seu rosto, ainda incrédula.
Respiro fundo, mais uma vez, e foco na comida.
— Gostaria de saber o real significado desse seu último comentário. — pego os hashis e como um dos meus temakis.
Olho para ela, que arregala os olhos e os desvia dos meus.
— Foi apenas um comentário! — solta uma risada nervosa — Mas acredito que em breve poderá se livrar da senhorita Leroy e ser sua própria parceira. Trabalhar sozinha... Quem sabe?! — dito isto, enfia um sushi na boca — Hum, muito bom!
— Sabe, Lina, — aproximo-me dela sobre a mesa e falo baixo — esse seu joguinho não funciona comigo! Você não me engana!
A mesma começa a tossir após se engasgar com a comida.
— Não estou entendendo! — diz ao se recuperar.
— Você sabe exatamente sobre o que estou falando! — meu tom de voz é firme e duro — Acha mesmo que conseguirá me incriminar pelo que fez?
Seus olhos ardem de raiva, não muito diferente dos meus, e as mãos se fecham sobre si.
— Por que fez isso?
— Fiz o quê? — rebate no mesmo tom.
— Você...
— Ana Clara Bianchi! — olhamos para o lado ao mesmo temo que duas mulheres se aproximam da nossa mesa — Que surpresa maravilhosa encontra-la aqui!
Era só o que me faltava.
Levanto-me e cumprimento as duas irmãs.
— Kate, Elizabeth! — sorrio forçadamente — Como vão?
— Estamos bem, querida! — Elizabeth, a mais nova, responde sorridente.
— Vejo que está acompanhada — olha para Lina, que fita a mesa como uma estátua.
— Está é a Lina Dixon, uma colega de trabalho. Lina, estas são as irmãs Kate e Elizabeth Miller, das empresas Style Miller. — apresento-as, ainda com o tom de voz duro.
Elizabeth pigarreia chamando minha atenção.
— Acabamos de chegar no restaurante quando te vimos. Não queríamos atrapalhar o almoço de vocês, apenas passamos para saber como está...
— Não! — Lina diz se colocando de pé e mexendo na bolsa — Fiquem à vontade, não estão atrapalhando nada. Já conversamos o que tínhamos para conversar — diz a última frase olhando diretamente para mim — Foi um prazer conhece-las! Até mais, Ana! — Vejo um sorriso sarcástico em seus lábios.
Joga alguns euros na mesa e nos dá as costas.
— Acho que ela não gostou muito de nós... — Kate comenta ainda observando a ruiva sair do restaurante.
— Não, está tudo bem! — suspiro e volto minha atenção para as irmãs — Sentem-se.
— Se não for um incômodo.
— Imagina! — ofereço um sorriso cansado.
— Está tudo bem, querida? — a mais velha pergunta tocando minha mão.
— Sim, apenas alguns problemas que serão resolvidos em breve. — volto a comer.
— Esperamos que tudo se resolva mesmo. — responde com um olhar de pena — E como está a adaptação na Chanel?
— Está acontecendo... — coloco mais um temaki e demoro a mastigar, para evitar mais assuntos.
Conversamos por pouco mais de dez minutos, antes de eu me despedir e ir embora. Pego o celular e ligo para o Roy.
— Oi, meu amor! — diz do outro lado da linha. Sua voz tem o dom de me acalmar — Como foi o almoço?
— Não saiu como eu planejava. — suspiro.
Estava cansada. Era o estresse do trabalho, as palavras duras de Louise, as acusações e a frustração de não ter recebido uma confirmação concreta de que Lina tinha armado tudo para me incriminar.
— Onde você está agora?
— A uma quadra da Chanel, em frente ao restaurante de comida japonesa — ajeito a bolsa no ombro.
— Ótimo! Chego em cinco minutos. Me espere onde você está.
Desliga a ligação, e em menos de cinco minutos um veículo, não muito agradável, para em minha frente. Roy tira o capacete e ergue uma das mãos.
— Eu sei! Eu sei! Você não gosta de motos, mas o meu pai precisou usar o carro agora e como você sabe, o meu ainda não chegou.
— Tudo bem! — pego o capacete de suas mãos e dou um selinho em seus lábios — Já andei nesse troço uma vez com o seu primo, nada mais justo do que andar com o meu noivo.
— Você andou de moto com o David e negava todas as vezes que eu te convidava para um passeio? — Roy me olha com decepção.
— Não foi bem assim, meu bem. — defendo-me — Foi uma questão de necessidade. — coloco o capacete na cabeça e subo no veículo — Só não corra como o louco do seu primo, por favor!
Agarro sua cintura com força e ele ri. Logo a moto estava saindo da rue Cambon e correndo pela Av. du Président Wilson.
— Para onde estamos indo? — grito contra o vento.
— Você verá! — grita de volta e eu prefiro não forçar mais a minha voz, sabendo que ele não me contaria até chegarmos. E não demorou nem três minutos para chegarmos ao topo de uma colina. Roy estaciona a moto e me ajuda a descer.
Ele une nossas mãos e nos conduz por uma praça. Em seguida, até um lugar amplo e totalmente livre, com um grande lago artificial, se é que aquilo poderia se chamar de lago, chafarizes e a bela vista para a torre.
— Uau! — exclamo ao pararmos de frente ao chafariz.
— Bem-vinda aos jardins do Trocadero! — diz me abraçando por traz e apoiando o queixo em meu ombro — Daqui você tem uma das melhores vistas para a torre Eiffel.
— É realmente incrível! — minha voz sai em um sussurro.
Roy nos conduz a uma escadaria, onde senta e me convida a fazer o mesmo. Apoio minha cabeça em seu ombro e ele me envolve em um abraço lateral.
— Hoje as coisas estão tranquilas por aqui, mas normalmente esse lugar fica lotado. — diz acariciando meu braço.
— As vezes eu fico pensando em como o ser humano consegue se tornar tão cego para algumas coisas. — rio sem humor — Você sabe como eu sou apaixonada por esse lugar, mas estou aqui há três meses e não tenho desfrutado de absolutamente nada. Todo o estresse do trabalho tem me desgastado e tomado o meu tempo em parte integral. Seja no horário comercial, em casa, nos meus sonhos... — suspiro — Eu tenho uma vista de tirar o fôlego da minha varanda, e posso contar nos dedos as vezes que aproveitei aquele lugar. E esse desgaste todo para quê? Para ser acusada de uma coisa que não fiz e que nem tenho provas suficientes para me defender. Eu sou uma idiota!
— Não diga isso, Clara! — sussurra em meu cabelo — O que aconteceu no almoço?
— Eu a coloquei contra a parede por um breve momento, mas não consegui tirar absolutamente nada dela, pois fomos interrompidas bem na hora.
— Interrompidas? Por quem? — afasta-se um pouco para me encarar.
— Se lembra das irmãs Miller? — questiono e ele assente, fechando a cara.
— Não me diga que elas estão em Paris.
— Em nosso último encontro, no meu último desfile na Carolina Herrera, você deve se lembrar que nos esbarramos por lá. — ele assente mais uma vez — Elas chegaram a comentar que tinha se mudado para cá no meado do ano passado.
— Hum...
— Bom, elas apareceram no restaurante naquele momento, e a Lina encontrou nisso um ótimo pretexto para se esquivar da nossa conversa e sair.
— Sinto muito, querida! — dou de ombros — Mas não iremos desistir ok? Já entrei em contato com o advogado da nossa empresa. Ele é um dos melhores da França, e eu marquei uma reunião com ele para amanhã à noite. Tudo bem para você?
— Claro! — viro-me para ele, agarrando seu rosto com as mãos — Obrigada, Ro!
Ele beija minha testa e sorri. Volto a posição de antes fechando os olhos para sentir melhor a brisa suave.
— Tenho uma ótima notícia! — diz com empolgação — Os documentos para o casamento ficaram prontos. Agora só precisamos marcar a data certinha para a cerimônia religiosa.
Viro-me novamente para ele.
— Você tem certeza que quer casar comigo diante dessa confusão toda que está a minha vida, Roy?
— Clara, Clara! — diz fazendo leves carícias em meu rosto — O que eu mais quero é casar com você para poder estar ao seu lado em todas as confusões que acontecerem em sua vida. Orar com você em todas as noites que não conseguir dormir, por estar preocupada com algo. Enxugar suas lágrimas de angustia e medo. — beija o canto dos meus lábios — Infelizmente eu não consigo fazer isso sendo apenas o seu noivo. Posso até estar com você em algumas horas dos seus dias, mas as noites estão sendo apenas você e Deus! Não que isso seja algo ruim, — sorri — mas o que eu mais quero é ajuda-lo a cuidar de você, meu amor!
— Você é uma preciosidade, sabia? — digo e ele cora, fazendo-me sorrir — Obrigada por tudo isso!
— Não há de quê! — sela os nossos lábios.
E ficamos assim, conversando, namorando, brincando, rindo, até o sol começar a se pôr e a cidade das Luzes começar a brilhar.
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Eu amo essa parceria e cumplicidade dos dois! ♥️
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Att.
NAP 😘
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