Capítulo 1

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Subo apressadamente os degraus da portaria e cumprimento o porteiro, cujo nome ainda não gravara.

— Bonjour!

— Bonjour, senhorita Bianchi! — Sorrio, um pouco sem graça ao perceber que o senhor já sabia o meu nome, e eu nem ao menos lembrava o dele — Chegou uma entrega para a senhorita nesta manhã.

Arqueio a sobrancelha e me aproximo do balcão.

— Entrega? Tem certeza que é para mim?

Ele confirma balançando a cabeça positivamente.

— Um segundo! — Levanta-se e abre o armário, retirando de lá um pacote preto médio — Aqui diz que o destinatário é... — Quando o senhor vira o objeto, a fim de ler o que está escrito, sorrio ao identificar o remetente — Ana Clara Bianch!

— Sim, sou eu! — Pego a encomenda e o agradeço — Merci! — Entro no elevador assim que o mesmo chega ao térreo e aperto o botão que me levará até a cobertura. Analiso a caixa em minhas mãos, com um sorriso nos lábios.

Chegando ao meu andar, retiro a chave da bolsa e destranco a porta. Suspiro ao analisar, mais uma vez, o meu novo lar. É inevitável não pensar no dono do imóvel. Balanço a cabeça tentando impedir que a saudade estrague o meu dia.

Penduro as chaves e substituo meu tênis de corrida por um par de pantufas confortáveis. Vou à cozinha e encho um copo de água. Depois de ter matado a sede, caminho até o sofá com o pacote em mãos. Era inegável a minha curiosidade.

— Vamos ver o que temos aqui.

Rasgo a embalagem e abro a caixa, revelando o lindo objeto de couro de novilho e rutênio.

— Devo confessar que você é linda demais! — Digo retirando a bolsa Boy Chanel da caixa preta.

Analiso-a atentamente por alguns segundos. Coloco o objeto ao meu lado no sofá, pego o envelope branco e elegante que veio acompanhando a bolsa, e o leio.

Senhorita Bianchi,

É com muita satisfação e alegria, que desejamos a senhorita as boas-vindas à empresa! Estamos muito felizes por termos uma profissional como você em nossa equipe.

Esperamos que este pequeno mimo lhe inspire e auxilie em seu primeiro dia de trabalho.

Cordialmente,

Equipe Chanel!

— Uau! Com certeza irá auxiliar!

Com um enorme sorriso no rosto, pego minha nova bolsa, subo a escada e vou direto para o banho. Mais ou menos uma hora depois, saio da garagem, pronta para o primeiro dia de trabalho, e com minha Boy Chanel no banco do carona. A sede da Chanel ficava próxima ao apartamento do Roy, então o percurso foi bem rápido.

Após estacionar o carro, entro na esplendida empresa francesa que arranca suspiro de tantas pessoas. Diferente do meu antigo trabalho, os funcionários parecem mais concentrados e sérios. Com certeza sentiria falta das péssimas podas do Kevin e da querida Nancy.

— Senhorita Bianchi? — Uma mulher de meia idade se aproxima de mim, um pouco esbaforida, pergunta em seu perfeito sotaque francês.

— Sim! — Respondo sorrindo.

— Sou a Emma, sua secretária. - Cumprimento-a com um aperto de mão — O senhor Wertheimer me designou para lhe apresentar a empresa e auxiliá-la. Por favor, siga-me!

Sigo a mulher baixinha, de cabelo loiro e curto, pela empresa durante toda a manhã. Conheci alguns funcionários, que foram muito solícitos e educados, mantendo o profissionalismo em todo o tempo. Outros apenas me observava com certa curiosidade.

Decidi que manteria minha postura profissional da mesma forma.

— Emma? — Uma mulher alta, de logos cabelos castanhos e lindos olhos azuis, chama a jovem senhora, nos fazendo parar.

— Senhorita Dixon! — Minha secretária diz em um sussurro abaixando a cabeça diante da mulher.

— Posso saber quem é a senhorita? - Olha para mim de uma forma indecifrável.

— Ana Clara Bianchi! — Apresento-me - Serei a nova estilista responsável pela alta-costura, juntamente com...

— Comigo! — Uma voz grave e elegante fala atrás de nós. Viro-me e avisto uma das mulheres mais chiques que já conheci — Louise Leroy! — Diz secamente — Acredito que já passeou bastante, não acha, senhorita Bianchi?

Ergo as sobrancelhas surpresa com seu tom de voz.

— Eu... — Tento falar, mas sou impedida.

— Emma, acompanhe a senhorita Bianchi a sua devida sala e depois que se acomodar, leve-a até mim, por gentileza! — Vira-se e segue seu caminho, sem esperar uma resposta.

— Não se preocupe! — Sinto alguém tocar em meus ombros — Com o tempo você se acostuma ao mau humor da sua parceira. — Aliás, sou Lina Dixon! Posso lhe chamar de Ana, certo?

— Sim! — Digo ao recuperar minha voz — Prazer, Lina!

— O prazer é todo meu, querida! — Sorri — Espero que sejamos boas amigas! — Vira-se para a senhora — Emma, preciso de você!

— Mas...

— Agora! — Diz autoritária.

A jovem senhora olha para mim, e por um instante penso em ordenar que ela fique, mas prefiro evitar mais estresses no meu primeiro dia.

— Tudo bem! Eu sei onde fica a minha sala. Só precisarei de você quando for me encontrar com a senhorita Leroy.

— A devolverei já, já! — A mulher de cabelos castanhos, mais puxado para o ruivo, diz puxando minha secretária pelo braço — Ah! Boa sorte com aquela lá! Irá precisar.

Assisto as duas mulheres se afastarem de mim. Respiro profundamente ao perceber os olhares dos funcionários e decido ir para a minha sala antes que me depare com mais alguém.

Pelo visto as coisas não serão como tinha imaginado, Papai! Se ele ao menos estivesse ao meu lado...

— Apenas três meses! — Sussurro para mim mesma enquanto sigo o meu caminho — Longos e árduos três meses!

***

Leves batidas na porta chamam minha atenção. O meu expediente estava chegando ao fim, e tudo o que eu mais queria era chegar em casa tomar um banho de banheira bem demorado, comer algo nada saudável e ligar para os meus antigos vizinhos.

— Ah! Deseja algo, Emma? — Pergunto à senhora, que me olha com apreensão.

— Na verdade, gostaria de saber se a senhorita precisa de alguma coisa. Já estou de saída. — Percebo quando ela ajeita rapidamente a bolsa no ombro.

— Não! Muito obrigada! Você já fez muito por mim hoje. — Sorrio de leve.

Ela assente, comprimindo um sorriso.

— Tudo bem! Então até amanhã, senhorita Bianchi!

— Até! — Digo e volto meu olhar para o computador.

Releio o relatório que fiz da pequena reunião que tive mais cedo com a minha parceira, e suspiro ao me recordar daqueles minutos tensos na presença da senhorita Leroy. Faço algumas anotações importantes e, finalmente, organizo as coisas em cima da mesa para deixar a empresa.

Pego a bolsa e saio da sala. Percebo que não havia quase ninguém no andar, apenas dois funcionários da limpeza. Olho no relógio e vejo que já são seis e treze da noite.

Chego em casa quinze minutos depois. Sigo para escada em passos lentos, sem ao menos ter ligado a luz. Como tanto desejei, tomo um banho bem demorado e relaxante. Peço uma porção de hambúrguer artesanal com batatas fritas e uma coca. Nada como uma comida pouco saudável para desestressar.

Assim que dou uma mordida em meu delicioso hambúrguer, o celular apita. Conhecendo aquele toque personalizado, um sorriso ansioso aparece em meus lábios. Entretanto, da mesma forma que chegou, foi embora ao ler a mensagem do meu noivo.

Boa noite, meu amor! Infelizmente não conseguirei falar com você esta noite. Estou saindo de uma reunião importante agora, e assim que chegar em casa precisarei resolver outras pendências da empresa. Eu sei que você ficará chateada, mas prometo te recompensar amanhã! 😉

Não vejo a hora de estar ao seu lado novamente! Amo você! 😘

— Ninguém merece... — Jogo o aparelho na mesa de cabeceira e volto a comer o meu sanduíche.

Ao finalizar, faço minha higiene bucal. Apago a luz do quarto e vou até às portas Francesas para fechar as cortinas, mas a bela paisagem me traz de volta o meu humor. Abro uma das folhas da porta e vou para a varanda.

Meu olhar percorre aquele ambiente e logo as recordações de meses atrás me fazem soltar um suspiro apaixonado. Seria impossível contemplar toda essa beleza e não me lembrar da noite em que fui pedida em casamento pelo homem da minha vida.

— Quem diria que isso realmente estaria acontecendo comigo, Papai! — Fecho os olhos e alargo o sorriso. Logo a animação de antes volta com força total, fazendo-me dar uma de Sofi — EU ESTOU EM PARIS! — Grito a plenos pulmões, rindo em seguida.

Volto para o quarto, ainda carregando um grande sorriso no rosto. Agora sim, fecho as cortinas e vou para a cama, a fim de descansar o meu corpo e mente. Algo me diz que as semanas seguintes serão tensas e sugarão toda a minha energia...

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