16. I hate the way
Acordei com as batidas frenéticas na porta. O som ecoava pelo quarto, cada vez mais alto e insistente. Antes mesmo de abrir os olhos, eu sabia quem estava lá. O coração disparou imediatamente, como se já soubesse que o caos de Kwon estava à espreita, aguardando para invadir minha madrugada. Suspirei, ainda deitada, ouvindo Zara gritar algo irritada. Eu não sabia ao certo se queria ir até lá, mas eu também estive praticamente sonhando com o fato de que as coisas ainda não tinham sido resolvidas, e que em algum momento, um de nós teria de dar o braço a torcer e sinalizar uma trégua, porque eu simplesmente não posso perder por estar enlouquecendo graças à um garoto irritante.
— Ele perdeu completamente o juízo — Murmurou Zara, enquanto voltava para perto de mim, revirando os olhos. — Mas é com você que ele quer falar, então eu não vou ficar aqui para ouvir mais drama. Resolva isso rápido, e por favor, soque a cara dele por mim.
Levantei-me devagar, sentindo o peso nos ombros. Minha mente estava uma confusão desde a última conversa com ele, e agora ele aparece assim? No meio da madrugada? Por um momento, quase pensei em ignorar e voltar para a cama. Mas algo me empurrou. Algo que eu não queria admitir.
Caminhei até a porta, tentando esconder o caos que fervia dentro de mim. Meu rosto estava neutro, ou pelo menos era o que eu tentava mostrar. Ao abrir a porta, lá estava ele, descalço, com uma roupa que claramente era seu pijama, os cabelos desordenados e um olhar tão intenso que quase me fez recuar.
Respirei fundo. Não podia fraquejar. Não agora, e muito menos, na frente dele. Acho que ele já tinha visto quase todas as minhas fraquezas agindo feito um imbecil, mas eu não precisava mostrar todas as outras.
— Quando eu disse que ainda não tínhamos terminado, não disse que era vir até meu quarto de madrugada — Suspirei pesadamente, minha voz mais firme do que eu esperava.
— Precisamos conversar — Ele respondeu rapidamente, sem hesitar, como se tivesse ensaiado aquelas palavras por horas. Havia algo desesperado em seu tom, mas eu me recusei a ceder. Não depois de tudo.
Olhei para Zara, que ainda estava me lançando um olhar exasperado, e então voltei minha atenção para ele. Fiz um gesto com os olhos, apontando na direção do corredor.
— Aqui não — Falei, mantendo a firmeza, mas sem levantar a voz. Não queria que Zara ouvisse mais do que já tinha ouvido, ela realmente não precisava se envolver nesse drama todo.
Ele me olhou, confuso por um momento, mas antes que pudesse dizer qualquer coisa, meus pés já estavam se movendo. De forma quase automática, minha mão o agarrou pela dele. O toque foi breve, mas elétrico. Por que diabos eu fiz isso? Não me dei tempo para pensar. Apenas o puxei pelo corredor, ouvindo o som abafado de seus passos enquanto ele me seguia. Meu coração estava a mil, mas eu mantinha a expressão fria, como se soubesse exatamente o que estava fazendo. A verdade? Não fazia ideia. Apenas sabia que precisava sair daquele corredor, daquele hotel, de qualquer lugar que não me permitisse espaço para respirar.
A praia parecia a melhor opção. O ar fresco e o som das ondas talvez me ajudassem a organizar meus pensamentos, ou pelo menos me dar algum tipo de vantagem emocional. Quando finalmente chegamos à areia fria e iluminada pela lua pálida, soltei a mão dele e parei de frente para o mar.
— Pronto — Disse, cruzando os braços e ainda evitando encará-lo diretamente. — Estamos aqui. O que você quer, Kwon? E por favor, sem mais rodeios, eu simplesmente estou cansada de prolongar essa discussão.
Minha voz estava controlada, mas por dentro eu era uma tempestade. O caos que ele havia trazido à minha vida parecia refletido naquele mar agitado. E ainda assim, eu estava ali, esperando uma resposta.
Ele parou de caminhar ao meu lado e ficou em silêncio por alguns segundos que pareceram uma eternidade. Encostei os braços em mim mesma, cruzando-os contra o peito numa tentativa fútil de me proteger do frio... Ou das palavras que eu sabia que estavam prestes a vir. Ele parecia escolher as frases como se elas pudessem me acertar como uma flecha certeira.
— Eu... — Ele começou, mas parou, respirando fundo. O som das ondas era o único ruído, o vento bagunçando os fios do meu cabelo e os dele também. Quando ele finalmente continuou, sua voz era mais baixa, mas carregada de algo que eu não conseguia decifrar. — Tudo isso, Calista. Todas as coisas idiotas que eu fiz, a maneira como agi com você, por mais que me irrite admitir... Era porque você está tomando espaço demais.
Eu pisquei, sem entender no início.
— Espaço demais? — Minha voz saiu como um eco vazio.
Ele deu um passo à frente, e algo em sua expressão fez minha respiração falhar. Ele não parecia mais irritado ou frio como antes. Ele parecia exausto, o que certamente fugia de sua postura confiante e sempre enérgica, e eu não soube dizer no mesmo instante se isso era algo bom ou não.
— Tempo demais. Pensamentos demais. Você está em tudo, o tempo todo. Eu me sinto... — Ele parou, fechando os olhos brevemente, como se tentasse juntar as palavras que faltavam. — Eu me sinto cercado por você, Calista. E isso... Isso é culpa sua.
Eu senti o peito apertar, mas minhas sobrancelhas se juntaram em irritação.
— Culpa minha? — Perguntei, dando uma risada seca, sarcástica, enquanto dava um passo atrás. — Você está basicamente me culpando porque... O quê? Porque você não sabe lidar com seus próprios pensamentos? Que tipo de desculpa é essa, Kwon?
Ele me encarou, os olhos ardendo como fogo, mas sua voz permaneceu firme, quase como se estivesse tentando se segurar para não me explodir ali mesmo, estranhamente controlado como estava sendo nas últimas horas.
— Sim, eu estou dizendo que é culpa sua. Culpa sua por ser tão absurdamente fascinante que é impossível tirar você da minha cabeça. — As palavras saíram quase cuspidas, como se fossem difíceis de dizer. — E, droga, eu odeio isso. Eu odeio que você me faz sentir assim.
Meu corpo travou. O mundo pareceu parar por um momento, o som do mar distante e abafado como se estivesse a quilômetros dali. Fascinante. Eu? Fascinante? Isso não fazia sentido. Absolutamente nenhum. De todas as duras palavras que já ouvi, acho que pela primeira vez, eu realmente não tinha uma resposta, ou sequer um pensamento formado a respeito. Engoli em seco, tentando organizar os pensamentos que batiam uns contra os outros, confusos. Quando consegui abrir a boca, minha voz saiu hesitante, quase quebrada.
— Isso é uma confissão? — Perguntei, com medo da resposta, mas sem conseguir evitar.
Ele me olhou, a tensão em seu rosto clara, mas havia algo mais ali. Algo que parecia quase... Vulnerável. Eu não queria saber a resposta, temendo o que poderia vir, mas as palavras escaparam de minha boca tão naturalmente, que agora não tinha mais volta.
— E se fosse? — Sua resposta foi um desafio, mas não tinha a mesma arrogância usual. Era como se ele estivesse esperando que eu respondesse, desesperado para ouvir o que eu tinha a dizer.
Minhas mãos tremiam, mas eu as mantive firmemente cruzadas contra o peito.
— Eu realmente espero que não seja — Murmurei, a voz mais baixa do que pretendia. Era honesto, quase doloroso. — Porque eu não sei lidar com isso, Kwon. E eu acho que nem quero.
Ele deu um passo à frente, os olhos fixos nos meus, e eu recuei, como se cada centímetro de proximidade me empurrasse para um abismo.
— Não sabe lidar com o quê, Calista? Com o fato de que eu não consigo parar de pensar em você, ou com o fato de que talvez você sinta o mesmo? — A última frase saiu como um golpe, um ataque certeiro que me tirou o ar.
Minha cabeça girava e eu sentia que apenas queria correr pela extensa areia, até que me cansasse, sem olhar para trás, fugindo de Kwon e suas palavras. Eu realmente estava sendo perseguida em pensamentos que acabavam me levando para ele, mas não... Dessa forma.
— Você não sabe do que está falando —Retruquei, mas minha voz falhou no final, e ele percebeu. Claro que percebeu.
— Não sei? — Ele deu uma risada seca, amarga. — Eu sei exatamente do que estou falando. E o pior é que isso não muda nada, porque você vai continuar me odiando, e eu...
Ele parou, mordendo o lábio inferior, como se quisesse engolir as palavras antes que elas saíssem. Eu senti meu coração disparar, as palavras dele ecoando na minha cabeça como um sino. Talvez você sinta o mesmo.
Mas eu não sentia. Certo? Eu não podia sentir. Não depois de tudo. Apenas balancei a cabeça, tentando clarear os pensamentos.
— Você está errado. Não há nada aqui, Kwon. Nada.
Mas minha voz tremia. E nós dois sabíamos disso.
O clima ao nosso redor parecia mais pesado do que o próprio ar. As ondas batiam contra a areia em um ritmo quase ensurdecedor, mas ainda assim não era o suficiente para abafar nossas vozes carregadas de intensidade. Meu peito subia e descia rápido, tanto pelo ar gelado quanto pela irritação que parecia consumir cada pedaço do meu corpo.
— Você acha que pode simplesmente jogar todas essas palavras em cima de mim e esperar que eu... O quê? Que eu aceite? Que eu agradeça? — Minha voz era alta, cortante, quase trêmula. Eu me aproximei dele, o encarando com olhos estreitados. — Você é inacreditável, Kwon. Primeiro, você me trata como lixo, e agora vem com essa conversa de que eu sou o motivo de tudo? Que eu sou o problema?
Ele passou as mãos pelos cabelos, frustrado, sua respiração tão pesada quanto a minha. Em qualquer circunstância, nós sempre acabávamos assim, discutindo e voltando à cada memória que eu deveria tentar apenas enterrar e seguir normalmente com minha vida, mas isso, parecia genuinamente impossível.
— E o que mais você quer que eu diga, Calista? Que eu me arrependa do que eu estou dizendo? Que eu desapareça? — Sua voz subiu, firme, quase explosiva. — Porque eu não vou. Eu já disse o que eu precisava dizer, e se você não consegue lidar com isso, talvez o problema não seja só meu.
Isso foi a gota d'água. Um nó formou-se na minha garganta, misturando-se com a raiva que queimava como um fogo incontrolável dentro de mim. Sem pensar, avancei em sua direção, erguendo a mão com a intenção clara de socá-lo, de despejar toda a frustração acumulada naquela única ação. Mas antes que eu pudesse atingir meu objetivo, ele se moveu rápido. Seus dedos se fecharam firmemente em torno do meu pulso, prendendo-me no lugar. Seu olhar encontrou o meu, e a intensidade que eu vi nele me fez congelar, mesmo que meu corpo ainda tremesse. Por que ele sempre tem que fazer isso?
— Pare de ser tão teimosa. Você não vai fugir disso, Calista. Não mais. — Sua voz era baixa, carregada de algo entre irritação e determinação.
— Me solta! — Eu exigi, minha voz mais alta do que pretendia. Mas ele não me soltou. Pelo contrário, ele deu um passo à frente, encurtando a distância entre nós até que nossos corpos quase se tocassem. Meu coração disparou, confuso, mas eu não deixei minha expressão fraquejar. Ou pelo menos tentei. — Pare de ser idiota, que droga!
E então, ele fez o impensável. Antes que eu pudesse reagir, ele puxou meu pulso com mais força e colou seus lábios nos meus.
Meus olhos se arregalaram, e por um segundo tudo dentro de mim parou. A raiva, o caos, os pensamentos turbulentos... Tudo se dissolveu, substituído por um choque absoluto. Mas logo veio a segunda onda, um turbilhão de emoções confusas, um misto de frustração, dor e algo que eu não queria admitir que existia.
Minhas mãos subiram instintivamente para o peito dele, empurrando-o com toda a força que eu tinha. Mas ele não cedeu. Sua mão ainda segurava meu pulso, firme, mas sem machucar, enquanto a outra repousava em minha cintura, como se estivesse tentando me ancorar naquele momento. E, então, meu corpo traiu minha mente. Minhas mãos, que antes o empurravam, começaram a afrouxar, os dedos tremendo enquanto permaneciam sobre seu peito. Meus olhos, que ainda estavam arregalados, se fecharam lentamente, como se por um segundo eu pudesse fingir que aquilo não estava acontecendo.
Havia dor naquele beijo. Dor e raiva, como se ambos estivéssemos tentando provar algo ao outro, tentando ganhar uma batalha invisível. Mas havia algo mais, algo que eu não queria nomear. Algo que apertava meu peito de um jeito quase insuportável.
Seus lábios se moveram contra os meus com uma urgência crua, como se cada segundo fosse vital, como se ele estivesse despejando tudo o que não conseguia colocar em palavras. E, sem perceber, eu cedi. Meu corpo relaxou levemente contra o dele, minha postura rígida se desfazendo aos poucos enquanto minhas mãos deslizavam levemente contra seu peito.
Mas, assim como começou, a realidade me atingiu de volta. Como uma onda quebrando com força, a consciência de tudo o que estava acontecendo me fez despertar. Eu o empurrei com mais força dessa vez, meus dedos cerrados em punhos enquanto quebrava o contato e me afastava alguns passos.
— Você... — Minha voz saiu quase como um sussurro, mas estava carregada de incredulidade. Meus lábios ainda formigavam, e minha respiração estava acelerada. — O que você acha que está fazendo, Kwon?
Ele ficou ali, parado, me olhando como se tentasse entender o que havia acabado de acontecer tanto quanto eu. Seus lábios estavam ligeiramente entreabertos, sua respiração tão irregular quanto a minha.
— Fazendo o que eu deveria ter feito desde o início. — Sua voz era baixa, mas não havia arrependimento ali. Havia algo mais, algo que me deixava ainda mais confusa.
Eu balancei a cabeça, dando alguns passos para trás, tentando colocar espaço entre nós enquanto meu peito parecia prestes a explodir.
— Eu ainda vou acabar matando você. — Foi tudo o que consegui dizer antes de me virar, começando a andar na direção oposta, como se a distância pudesse colocar um fim na confusão que ele tinha acabado de criar dentro de mim.
— Vou adorar te ver tentar... — Pude ouvir sua voz já distante como um eco, mas ainda provocativa, enquanto eu apenas fechava um escudo ao redor de mim, afastando sua voz, afastando-me de tudo aquilo.
Meus passos eram apressados, quase tropeçando na areia enquanto me dirigia ao hotel. A noite parecia mais fria agora, e o som das ondas que antes ecoava ao meu redor foi substituído pelo caos em minha mente. Meu coração ainda batia rápido, mas não por conta da corrida. Era algo diferente, algo que eu não sabia se deveria temer ou aceitar.
As palavras de Axel, como um eco insistente, não saíam da minha cabeça: "Há algo entre vocês dois, e você sabe disso." Naquele momento, eu o neguei com todas as forças. Mas agora, depois do que acabara de acontecer, como eu podia continuar mentindo para mim mesma?
Minha mão subiu até os lábios, ainda formigando pelo beijo que me fez perder completamente o controle. Eu tentei compará-lo ao beijo de Axel, mas não havia comparação. O beijo de Kwon tinha sido uma tempestade, um turbilhão de emoções que me envolveu e me deixou sem ar. Eu odiava admitir isso, mas algo dentro de mim desejava que ele não tivesse parado.
— Idiota, estúpida... — Murmurei para mim mesma, apertando os punhos. A raiva era tanto contra ele quanto contra mim mesma. Como eu podia permitir isso? Como eu podia sequer pensar em algo assim?
Respirei fundo, tentando colocar ordem na confusão dentro de mim. Não era hora para isso. Não podia ser hora para isso. Eu precisava de espaço, precisava me afastar antes que meu coração e minha mente entrassem em guerra novamente. Era sempre assim com Kwon, um ciclo interminável de proximidade, caos e fuga. Eu odiava ser covarde, mas lidar com ele era como tentar segurar uma chama viva com as mãos nuas.
O hotel estava próximo agora, suas luzes brilhando contra a escuridão da noite. Tentei me concentrar no som dos meus passos, no frio do ar noturno, em qualquer coisa que pudesse me distrair. Mas quando estava prestes a alcançar a entrada, o som de pneus rangendo me fez parar. E assim que olhei para o lado, vi um carro preto, brilhando sob as luzes da rua. Era um carro de luxo, robusto e blindado, que exalava poder e perigo. Meu corpo ficou tenso instantaneamente. Algo não estava certo.
A janela traseira se abriu lentamente, revelando um rosto que eu sinceramente não esperava ver até amanhã, o dia da próxima prova. Terry. Seu olhar era gelado, penetrante, e me fez sentir como se tivesse sido colocada sob um microscópio. Ele estava impecável como sempre, mas havia algo diferente nele. Algo mais sombrio.
— Entre no carro. — Sua voz era baixa, controlada, mas carregada de autoridade e ameaça. Não era um pedido, era uma ordem.
Meu coração pulou no peito, e todos os alarmes dentro de mim dispararam ao mesmo tempo. Aquele não era um reencontro amigável. Nunca é. E eu sabia disso. O tom em sua voz, o olhar em seus olhos... Isso era um prenúncio de que algo ruim estava prestes a acontecer.
— Terry... O que você está fazendo aqui? — Perguntei, tentando soar firme, mas minha voz saiu mais baixa do que eu esperava.
— Não me faça repetir, Calista. Entre no carro. — Ele inclinou-se levemente para a frente, e o movimento me fez recuar um passo instintivamente.
Eu olhei ao redor, mas o local estava vazio. Ninguém para quem eu pudesse pedir ajuda. As portas do hotel pareciam tão perto e ao mesmo tempo tão longe. Minha mente corria, tentando calcular minhas opções. Mas a maneira como Terry me olhava, como se já soubesse exatamente o que eu faria, me fez congelar. Eu sabia que não havia saída fácil dessa situação. Então, com os dedos tremendo e a respiração acelerada, dei um passo hesitante em direção ao carro.
E eu apenas entrei no carro. O que quer que fosse, vindo dele, não poderia esperar flores ou bons conselhos, como alguém que se intitula sua figura paterna deveria agir, então eu apenas me afundei no banco, prestes a aceitar o que viesse pela frente, mas já ciente de que provavelmente seriam promessas ou palavras esmagadoras as quais eu não queria fazer parte.
Obra autoral ©
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