𓍢ִ໋ 🀦 𓈒 𝟎𝟏. 𝕾𝖊𝖗𝖕𝖊𝖓𝖙𝖊 𝕾𝖔𝖓𝖔𝖑𝖊𝖓𝖙𝖆. / ⋆ ۪
﹙ capítulo um ﹚
serpente sonolenta ᝰ.ᐟ
﹙ei, trenzinho! estamos todos
embarcando, o trem que vai para
o reino. estamos felizes, mãe,
estamos nos divertindo, e o trem
ainda nem deixou a estação. ﹚
As nuvens naquela manhã eram tão escuras, fazendo parecer que a noite nunca os deixou. A última mala coberta de couro escuro era tirada da carruagem, e dois aurores desciam antes dos dois garotos que, entediados, arrumavam a estúpida gravata que o uniforme exigia. Era uma terra fria, não congelada, o garoto olhou em volta analisando as árvores, as folhas sobre o chão, imaginando cabelos cinzentos correndo por ali, deixando as marcas de seus passos para que em outra época, dois outros seres de cabelos e pele tão frias fizessem o mesmo.
━ Tem certeza que está bem? ━ Perguntou o de cabelos escuros, empurrando para trás os fios de cabelo que beiravam o azul em seu tom tão escuro, assim como seus olhos. Esses mesmos olhos olharam para o amigo analisando os lábios sem cor e os cabelos ondulados grudando sobre a testa. ━ Você parece horrível.
Serpens voltou os olhos para o amigo, os lábios entreabertos pela ofensa, a surpresa o atingiu por um instante antes dele arquear uma das sobrancelhas claras e olhar para o amigo dos pés a cabeça, fazendo o outro cruzar os braços, indignado com o julgamento silencioso.
━ Esses uniformes é que são ridículos. ━ Reclamou Corvus puxando o malão para fora e fazendo o mesmo com o do amigo antes de entregar a ele. ━ E não protegem de nada.
Era verdade, comparados aos longos casacos reforçados de Durmstrang, aquelas capas não eram nada, por outro lado, ao menos não eram tão pesadas quanto o antigo uniforme dos dois. Serpens não respondeu, apenas pegou a mala e começou a caminhar atrás do auror que os guiou até um longo portão que o Grindelwald observou ser protegido com magia, obviamente.
━ Essa escola é tão fácil de encontrar. ━ Reclamou Corvus olhando em volta com as sobrancelhas franzidas e um olhar cortante. ━ Está claro que não estão prontos para um ataque do você-sabe-quem.
━ Voldemort não vai aparecer aqui no portão para uma visita, Corvus. ━ Serpens finalmente se dispôs a falar, fazendo o amigo estremecer e preferir que ele tivesse permanecido em silêncio ao invés de pronunciar aquele nome amaldiçoado. ━ Ele não é tão estúpido, sabe que Dumbledore está ali.
Corvus resmungou reclamão, ele não era realmente assim, embora a pele branca e os cabelos escuros demais dessem a ele a aparência de um vampiro do século XVIII daqueles contos trouxas, o garoto tendia a ser muito mais comunicativo e fácil de lidar do que o loiro ao seu lado. O que aconteceu na noite anterior, uma noite fatídica, é que os garotos tiveram de deixar seus amigos de infância, professores conhecidos, e por fim, Durmstrang, uma escola pela qual o Woodford tinha muito apego.
A conversa não continuou porque Corvus esqueceu de qualquer outra ofensa ao terreno quando viu o homem de cabelos escuros atravessar o gramado e chegar ao portão, os fios pareciam colados um pouco demais a cabeça, seu grande nariz e expressão insatisfeita como vinha sendo desde que os gêmeos pisaram em Hogwarts pela primeira vez, e muito antes disso também.
━ Bom dia, Professor Snape. ━ Serpens cumprimentou com seu peito inflado e o queixo levantado, um péssimo costume que dividia com sua irmã gêmea, e tinham ━ para a infelicidade de Snape, herdado do pai.
━ Estão atrasados. ━ O professor pontuou se voltando para os aurores, os ignorando após encarar Serpens por alguns segundos, coisa que nunca foi capaz de fazer ao ver Alhena, parecia quase perturbado quando encontrava a garota pelos corredores nos tempos do torneio tribruxo. ━ O professor Dumbledore geralmente não tolera atrasos, mas começo a perceber que há sempre exceções para aqueles que carregam...
Ele não terminou sua sentença, se estava acusando Serpens de se aproveitar de seu sobrenome o garoto já não se importava, não era a primeira vez que ouvia tal acusação, e, embora a achasse injusta tendo em vista que a única coisa que seu sobrenome o trouxe foi vergonha, o Grindelwald aprendeu a ignorá-los há muito tempo.
Impacientes para as frases não terminadas e acusatórias de Snape, tanto os Aurores quanto os garotos foram rápidos em cumprir o que lhe foi dito, os dois mais jovens passando pelo portão e os dois mais velhos entregando a Snape um pergaminho, no qual vieram o caminho inteiro fazendo anotações.
Serpens, que já conhecia o caminho, seguiu sem Snape por um tempo, levou seu amigo consigo e não esperou pelo professor até se aproximar das margens do castelo e parar subitamente, as mãos se apertando ao redor da alça de seu malão com tamanha força que acabou com as pontas dos dedos brancas. Corvus parou ao lado dele, admirando a escola dessa vez, era inegável que as paredes altas irradiavam magia, os corredores claros que eram nutridos, não só com alunos que usavam capas escuras e carregavam diversos livros, mas também pelas inesperadas criaturas, como poltergeists, fantasmas e pequenos elfos domésticos ━ que se esforçaram para passar despercebidos.
Para Serpens, porém, era apenas o lugar em que realmente viu a irmã pela última vez, caminhando por aqueles mesmos corredores, se associando aqueles que rapidamente a aceitaram em seu grupo. Embora o brasão de Durmstrang, feito de bronze, brilhasse do lado esquerdo do peito, os alunos de Hogwarts não podiam deixar de gostar dela. Não quando ela produzia as melhores festas secretas no navio, dançava com a maioria dos alunos, ajudava os calouros em seus deveres na biblioteca, se dividia para manter uma amizade com às quatro casas sem diferenças ━ embora passasse um tempo excessivo na corvinal. Ela, além de tudo isso, ainda arrumava energia para ter pontos muito altos em duas de três tarefas do Torneio Tribruxo.
O garoto não queria, de jeito nenhum, estar naquele ambiente onde era lembrado constantemente do quão feliz Alhena Grindelwald parecia ali, mais feliz do que ele jamais a vira, ela era uma estrela brilhante ali, mais do que nunca ela parecia em casa.
Casa. Lugar que ela nunca conheceu, nenhuma delas, além daquela terrível casa subterrânea em que eles foram obrigados a passar sua infância, soterrados debaixo de neve fria, embora as paredes enfeitiçadas fossem mais que o suficiente para mantê-los aquecidos. Alhena e Serpens tinham uma pele branca, quase cinzenta, esquisita e adoecida de alguém que passou dez anos da vida sem ver o sol nenhuma única vez. Tinham a pele do medo, daqueles que tiveram de fugir e se esconder para que ninguém os alcançasse, nenhum lado da moeda, nem o mal e nem aqueles que se diziam bons.
Diferente de Serpens, Alhena Grindelwald não teve a chance de conhecer a casa em que nasceram, um lugar familiar e caloroso que era mantido do mesmo jeito que foi deixado a catorze anos, o lugar que Marcos Montgomery o levou para visitar no último verão, na esperança de encontrar a fugitiva irmã assassina no garoto. Tão pouco conheceu o Largo Grimmauld, n.º 12, nunca esteve com o pai, tudo que recebeu foram cartas. Nunca esteve em sua presença assistindo suas feições se iluminarem ao encontrar o filho, nunca o encontrou usando um avental decorado com estrelas na cozinha durante o verão, ou notou seus olhos parecerem brilhantes em lágrimas ao mencionar Amélia Grindelwald, nunca sentiu os braços dele ao redor dela, ou o ouviu garantir que ficaria tudo bem.
Para Alhena talvez, o mais próximo que já chegou de liberdade foram aquelas paredes que Serpens desprezou até que fosse sua única opção para ficar o mais perto possível da única família que lhe restou, seu pai. Parecendo mais do que satisfeito, Albus Dumbledore garantiu a ele que os gêmeos tinham uma vaga lá desde seu nascimento.
Os pensamentos de Serpens foram interrompidos pela presença de Albus Dumbledore no primeiro corredor, parecendo sereno enquanto assistia os dois garotos caminhando até ele. Corvus olhou para o amigo, seus olhos escuros desconfiados, mas o de cabelos cinzentos apenas deu de ombros. Os dois continuaram, seguidos de Snape, até estarem bem à frente do diretor que sorriu amigavelmente.
━ Bem vindos. ━ Ele disse com animação olhando para Corvus apenas, como se não houvesse um segundo garoto ao lado, o que pareceu divertir Snape. ━ Espero que tenham feito uma boa viagem.
━ O encantamento da carruagem é terrível. ━ Comentou Corvus que não conseguia imaginar outra coisa se não um encantamento para carregar a carruagem, Dumbledore, porém não o corrigiu.
━ Imagino que sim. ━ O mais velho diz ainda muito educadamente, parece querer resguardar a inocência do Woodford para com as criaturas reais que conduziam a viagem e, porque ele não podia vê-las. ━ A anormalidade da escuridão não deve ter ajudado.
━ Anormalidade? ━ Corvus comentou confuso.
━ Sim, Sr. Woodford. ━ Assentiu Dumbledore pacientemente enquanto encarava o céu escuro coberto de nuvens cinzentas, sem sinal de sol. ━ Não é comum que haja nuvens como essas sobre Hogwarts.
━ Não estão só sobre Hogwarts. ━ Comentou Corvus prontamente. ━ Estão em várias partes do mundo, está no Profeta Diário.
Dumbledore encarou o garoto por alguns segundos, como se parecesse tentar lembrar-se de algo enquanto o encarava. Corvus não parecia nem um pouco inseguro perto do maior bruxo do século, comportava-se da mesma forma que fazia quando encontrava um desconhecido na calçada.
━ De qualquer forma, o que eu acho "anormal" é que isso não seja comum aqui. ━ Corvus continua enquanto segura o malão mais perto de si.
━ Posso saber o por que, sr. Woodford? ━ A voz amarga de Snape volta a assombrar Serpens que revirou os olhos sem conseguir evitar, agradecendo que ninguém prestasse atenção nele, naquele momento.
━ Bem, elas são bem comuns em Durmstrang. ━ Explica o garoto parecendo menos emburrado ao descobrir que sabe algo que os dois professores tão sábios ainda não descobriram. ━ Karkaroff diz que tendem a pairar sobre lugares de grande magia.
Corvus parecia não muito convencido dessa explicação, assim como Snape e Dumbledore que trocaram um olhar significativo, do qual Serpens se importava tanto quanto se importava com a inútil nuvem escura sobre eles. Cansado da longa viagem, e sentindo que o chão à seus pés era feito de areia movediça, o garoto suspirou encostando-se sem animação na coluna atrás dele e acabando por soltar de propósito um bocejo mais alto do que o comum.
━ Bem, imagino que estejam cansados. Visto que já perderam o primeiro horário das aulas acho justo que tirem o resto do dia para se adaptar. ━ O professor sorri gentilmente, novamente voltado apenas para Corvus. ━ Ah! ━ Ele exclama colocando a mão sobre a testa como um velho esquecido. ━ Já ia me esquecendo, precisam descobrir suas casas primeiro.
Serpens e Corvus se entreolharam, era a vez deles criarem a própria comunicação secreta, o loiro tocou o bolso lembrando a ele da aposta, os dois sorriram antes de começarem a seguir Dumbledore, finalmente deixando Snape para trás. Serpens segurava o malão com força contra a lateral do corpo enquanto subia as escadas, os olhos parte azuis, parte verdes, seguiam por todos os cantos do castelo, procurando por alguém que ele não via há algum tempo.
━ Chá de framboesa! ━ Disse Dumbledore em uma voz alta que fez Serpens parar bruscamente e virar a cabeça para dar de cara com uma gárgula dourada, que se afastou abrindo caminho para um corredor bem iluminado, os três bruxos seguiram juntos até entrarem enfim no escritório do diretor. Lá estava uma mulher alta e magricela, com vestes esverdeadas, óculos redondos pequeninos e os cabelos muito bem presos, ela levantou uma sobrancelha ao ver Corvus fazer careta para a fênix. ━ Ah! Minerva, minha cara! Fico feliz que já esteja aqui.
A professora sorriu e se inclinou, por um segundo Serpens arregalou os olhos acreditando que a professora iria beijar o velho homem, graças aos céus, ela se limitou a sussurrar algo com preocupação. Serpens desviou o olhar perturbado e largou o malão com cuidado, dando alguns passos à frente e observando o chapéu velho que estava em uma cadeira em sua frente.
━ AH! ━ Serpens berrou, sua voz saindo mais aguda do que o desejado enquanto ele saltava para trás assustado, escondendo a mão atrás do corpo, a mesma mão que usou para tocar o objeto e perceber que a coisa se mexia.
Corvus caiu na gargalhada, colocando a mão direita sobre a barriga enquanto com a outra apontava para o garoto que empurrava os fios claros para trás tentando fazer parecer menos vergonhoso do que realmente foi. A professora Mcgonagall saltou também, assustada com a barulheira repentina e logo fechou a cara para os garotos, Dumbledore, porém parecia querer fazer o mesmo que o jovem Woodford.
━ Vejo que conheceu nosso amigo. ━ Ele diz tocando o chapéu de maneira natural e o erguendo enquanto o objeto mágico soltava reclamações ao vento. ━ Esse é o chapéu seletor, ele vai ajudá-los a encontrar sua casa.
━ Li sobre ele em "Hogwarts: Uma história." ━ Disse Corvus ainda tentando controlar o acesso de riso que o atingiu.
━ Leu é? ━ Serpens perguntou entre dentes, querendo esganar o Woodford que decidiu superar o mau humor logo agora.
━ Li, ele ajuda na seleção das casas. ━ Corvus diz muito contente com o grito assustado e agudo de Serpens para lembrar de agir como um velho reclamão novamente.
━ É um objeto de extrema importância, assim como a seleção das casas. ━ Minerva McGonagall se apressa em tomar frente, como Serpens a viu fazendo muitas vezes ano letivo passado, no mesmo ano do torneio. ━ Sua casa será uma espécie de família em Hogwarts. Vocês assistirão a aulas com o restante dos alunos de sua casa, dormirão no dormitório da casa e passarão o tempo livre na sala comunal.
━ Sim, sabemos. ━ Interrompeu Serpens que gostaria muito de entrar em qualquer casa que tivesse uma cama quente para adormecer por, no mínimo, três meses seguidos. ━ Sonserina, Corvinal, Lufa-Lufa e Grifinória.
Mcgonagall não pareceu gostar da ordem e colocação das casas, o garoto desdenhoso parecia estar fazendo uma escala de sua favorita até a menos favorita. A professora empinou o nariz levemente antes de continuar. ━ Enquanto estiverem em Hogwarts os seus acertos renderão pontos para sua casa, enquanto os erros os farão perder. No fim do ano, a casa com o maior número de pontos receberá a taça da casa, uma grande honra. Espero que cada um de vocês seja motivo de orgulho para a casa à qual vier a pertencer.
━ Isso não deve ser muito amistoso. ━ Comenta Corvus franzindo as sobrancelhas escuras demais para a pele meio rosada de seu rosto. ━ Quero dizer, parece o tipo de coisa que renderia uma batalha.
━ Bem, um pouco de competitividade nunca fez mal a ninguém. ━ Albus Dumbledore brincou entregando o objeto mágico para a professora Mcgonagall.
Fale por você, pensou Serpens que carregava uma cicatriz dentária na canela esquerda, onde a irmã mais nova mordeu quando tinham doze anos e estavam apostando uma corrida com os lobos, ironicamente os animais foram a coisa menos perigosa ali.
━ Quem será o primeiro? ━ Perguntou a professora se voltando para os garotos.
Serpens e Corvus se apressaram em simultâneo, esbarrando e empurrando um ao outro fazendo a professora reclamar, por fim o Woodford conseguiu escorregar até o banco por primeiro e esperou ansiosamente, os olhos virados para cima enquanto encarava o chapéu que foi colocado em sua cabeça e ficou por um minuto inteiro murmurando sobre as coisas incríveis na mente de Corvus.
━ Vai levar o dia todo. ━ Reclamou Serpens sentando-se sobre o malão, desanimado e sonolento.
━ Corvinal! ━ O chapéu exclamou por fim. ━ Que mente! A tempos não vejo algo assim!
Serpens amaldiçoou o chapéu em silêncio e quando um Corvus convencido passou por ele, o garoto tirou do bolso as figurinhas raras que pertenciam a ele e entregou para o Woodford, tinha perdido a aposta de que o garoto acabaria na casa das cobras. Desanimado, sonolento, impaciente e rabugento, o garoto sentou-se no banco com pouca curiosidade, não tinha nenhuma prioridade para as casas, queria muito mesmo dormir agora.
O chapéu mal tinha tocado um único fio do cabelo ondulado quando praticamente berrou: ━ GRIFINÓRIA!
Serpens despertou num salto, olhando para cima confuso e depois franzindo a testa em questionamento. Felizmente para McGonagall, ele estava muito cansado para discutir então apenas deu de ombros e saiu do banquinho voltando a agarrar o malão.
━ A professora Mcgonagall levará você até o salão comunal da Grifinória, e então apresentará você, Corvus, ao diretor da Corvinal. ━ Informou Dumbledore ainda com o cansativo sorriso gentil, mas dessa vez olhava para Serpens com mais cuidado, como se o estivesse vendo pela primeira vez.
Os dois garotos saíram do escritório do diretor e seguiram a professora, os braços de gelatina de Serpens deixaram o malão cair tantas vezes que acabou irritando a professora McGonagall.
━ Que é que tem de errado com ele? ━ Perguntou virando-se e enfeitiçando o malão do garoto para flutuar atrás dele. A professora o conheceu no passado, sabia que ele não costumava agir assim.
━ Ele não é muito forte. ━ Corvus diz procurando algo nos bolsos do Serpens sonolento encostado em seu ombro. ━ Passou dez anos sem luz do sol.
━ O quê?! ━ A professora parecia horrorizada. ━ Porquê?!
━ Ele e a irmã viviam com o guardião em uma casa subterrânea, algo assim. ━ Corvus explicou, evitando olhar nos olhos da professora. ━ Aqui! ━ Ele tirou um frasco pequeno do bolso do garoto e tirou a tampa derramando o líquido violeta nos lábios sem cor do loiro. ━ Onde fica o dormitório? Ele vai ficar fora do ar por alguns minutos agora.
━ Você não pode entrar. ━ Diz a professora ao parar em frente ao quadro de uma mulher muito cheia que bebia vinho em uma taça de ouro e cantarolava com uma voz medonha. ━ É contra as regras.
━ Bem, então a senhora vai carregá-lo? Ele está dormindo. ━ Mostrou Corvus empurrando o Grindelwald para a Mcgonagall como um boneco de pano.
A professora segurou antes que o garoto caísse no chão, isso despertou Serpens que levantou a cabeça confuso e fez careta para o gosto amargo na boca. Percebendo estar encostado na professora ele se afastou rapidamente enquanto tossia limpando a garganta tentando disfarçar a segunda vez que acabava se constrangendo na frente da mulher.
━ Qual é a senha? ━ Ele perguntou olhando entre a professora e o quadro, as bochechas cinzentas tornando-se levemente rosadas de vergonha, assim como seu pescoço e orelhas cobertas pelo cabelo.
━ Mimbulus mimbletonia. ━ A professora sussurrou para que apenas Serpens pudesse ouvir e o quadro se abriu de bom grado deixando o garoto passar. ━ Seu nome estará na porta, não há trocas, então tentem manter um bom convívio.
Serpens, que previa ter uma quantidade mínima de neurônios funcionando agora, apenas assentiu agradecendo e acenando brevemente para Corvus antes de se virar e seguir seu próprio caminho. Ele passou pelo corredor amarelado das paredes de pedra e saiu em um lugar coberto de vermelho, uma grande lareira no canto direito, paredes cobertas do brasão da casa, leões orgulhosos desenhados em todos os cantos, poltronas escarlate e mesas castanhas para estudos, os tapetes amarelos pareciam amenizar, um pouco, a vermelhidão do lugar.
Estava vazio, é claro, exceto por primeiranistas perdidos e atrasados que corriam tentando encontrar seus materiais e horários de aula. Serpens os ignorou, subindo com suas coisas pela escada encaracolada, ouviu sua barriga urrando algumas vezes, mas entre a fome e o sono, ele decidiu acabar primeiro em uma cama quente de lençol bordô. Passou por todas as portas, uma por uma procurando por seu nome até parar em uma das últimas, as iniciais douradas desenhadas ali, junto de cinco outros garotos que ele não se importava de saber quem era agora.
Adentrou o quarto e caminhou para a cama colada à janela, era a única restante e parecia ser o canto menos espaçoso do quarto, mas o garoto apenas torceu o nariz antes de tirar a gravata, a capa e os sapatos, e enfim se esconder embaixo das cobertas, cobrindo o corpo inteiro. Foi um sono muito calmo, um dos melhores que o garoto já experimentou, era muito mais aquecido do que seu quarto solitário em Durmstrang, a cama também era muito macia e o cheiro era agradável, não havia muito suor frio por ali. O garoto se remexeu na cama, pareceu estar adormecido a horas, e soube estar quando abriu levemente os olhos, notando o relógio na parede marcando 18:00 antes de notar uma bagunça de cabelos castanhos em seu campo de visão.
No início, pensou estar sonhando, não era a primeira vez que via os cabelos bagunçados e os óculos de fundo de garrafa enquanto estava tendo um sonho muito bom, percebeu que não era quando ouviu outros três avisando em sincronia: "Ele está acordando!"
Serpens abriu completamente os olhos, os cachos loiros caindo sobre a testa, a camisa branca amassada e aberta, o garoto tinha o terrível costume de tentar se despir enquanto dormia, acontecia muito quando dormia com meias ou camisa de botão. Ele coçou os olhos azuis-verdes, com as costas de sua mão esquerda e então olhou em volta lembrando-se do que fez nas últimas horas. Piscou algumas vezes se acostumando à luz, e então viu os olhos verdes no rosto logo em frente ao seu, assustado levantou bruscamente batendo a testa contra o nariz do garoto que estava em pé ao lado da cama.
O outro cambaleou sentando-se sem querer na cama ao lado da de Serpens, aquela que parecia pertencer ao ruivo que estava sobre o baú rindo do amigo que coçava o nariz com a cara enfezada. Serpens franziu a testa, vendo que os outros dois no quarto pareciam congelados por um instante, e então o menor deles falou.
━ Dumbledore só pode estar louco!
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