Capítulo 16


Dias se passaram desde a grande descoberta de minha vida, mas parece que nada mudou. Porém, meu pai tornou-se mais protetor e próximo de mim, talvez por receio de que eu passasse a rejeitá-lo, algo que, com certeza, eu nunca faria. Meu tio, Hajime Kokonoi, também tem tentado se aproximar ultimamente. No início, fiquei um pouco receosa, mas, é claro, compreendo o lado dele.
Haru também foi a razão pela qual consegui compreender tudo. Nos últimos dias, ele esteve mais próximo de mim, oferecendo conforto, consolação e esclarecendo minhas dúvidas. Acima de tudo, ele me ajudou a manter a calma para não surtar.

Entrei na escola atravessando o corredor e indo em direção ao meu armário. Guardei minha mochila, colocando alguns livros nela. Fechei o armário e peguei meu telefone, enviando algumas mensagens para Maria. Assim que me virei para ir em direção à minha sala, observei a cacheada vindo furiosa em minha direção.

——  O que houve, Maria? — perguntei assim que ela se aproximou. Mas antes de responder, ela colocou o rosto no meu colo, soltando um longo grito abafado. —  Está tudo bem?

—— Não, não está. Uma japonesinha de merda saiu espalhando que eu estava me envolvendo com os Kawatas em troca de notas no fim do ano. Por isso, eu faltei às aulas passadas, para não surtar. Mas por onde passo, alguém me olha cochichando. — Ela colocou ambas as mãos em suas bochechas e alisou para baixo em meio a um suspiro. — Isso não vai ficar assim, essa vagabunda vai ver só.

—— O que você vai fazer com ela, Maria? — perguntei em meio às gargalhadas. Ela estava tão furiosa que parecia que ia sair fumaça de sua cabeça. — Tinha que ver como você está vermelha.

—— Tenho motivos —  neguei devagar com a cabeça, enquanto andávamos em direção as nossas salas. — No almoço, essa vaca vai ver só, vou até ligar para o South.

—— South? — Uma pontada de nervosismo me atingiu. Será que vou conseguir conhecê-lo? Nesses últimos dias também procurei informações sobre ele, mas não achei nada, nem uma foto.

—— Você se acostuma. — Ela deixou o celular de lado e virou-se para mim. O seu cabelo, que antes estava solto, agora estava preso em um coque alto, o que a deixou ainda mais bela. — Ele sempre está sabendo de tudo.

Estávamos indo em direção ao refeitório. Maria, que estava irritada, agora estava ainda mais. Ela havia dito que fez uma prova, mas não havia estudado nada que havia caído. Assim que chegamos ao refeitório, uma onda de cochichos surgiu, o que me fez sentir-me mal pela minha amiga. No entanto, parecia que ela estava mais concentrada em escolher o que comer.

Enquanto montávamos nossos pratos, lembrei-me de Minami. Já faz dias que não o vejo e nem mesmo ouço sua prima mencionar o nome dele. Às vezes, chego a pensar que fiz algo que o desagradou, mas realmente não me recordo de nada.

—— Ah, não. Quem é aquela ali? — ouço ela sussurrar. Olho para trás pegando minha bandeja, observando Mirai se aproximar, essa é outra que não vejo há dias, mas dela não sentia falta.

—— Oi, prima querida. — ela me abraçou e se afastou rapidamente. Olhou para Maria, forçando um sorriso. — Oi para você também.

—— Oii, Mirai. Fazia tanto tempo que não te via, tanto na faculdade quanto fora dela. — Maria pegou sua bandeja e foi em direção a uma mesa, e obviamente a segui, e a minha prima também. Sentei de frente para a cacheada, puxando Mirai para sentar ao meu lado, mas parece que Maria não gostou de nada disso.

—— Resolvi da uma afastada por causa de uns problemas, mas agora está tudo certo. Fiquei sabendo que vai ter um baile aqui na faculdade, você vai vim?

O baile... Parece que agora todo mundo só fala disso na faculdade.

—— Ainda não tenho certeza absoluta, mas acho que não..

—— Chegou um circo na cidade, e faz tempo que não vou em um. Ela vai comigo, e meu primo. - Maria anunciou, que me surpreendeu. Mirai se remexeu no assento, fixando o olhar em Maria.

—— É mesmo? E quem é o seu primo? — ela indagou, e Maria suspirou fundo, empurrando a bandeja com sua refeição para frente.

—— Meu primo é um homem muito ocupado, daqueles que não se interessam pela vida alheia. Chama-se Minami.— Maria informou, com um tom de voz quase monótono. — Deseja saber algo mais sobre ele, querida?

—— Não, estou bem.— Miraí desviou o olhar, respondendo brevemente.

—— Menina chata do caralho. — Maria, usando novamente o português, respondeu com um tom rude. Por não falar em nosso idioma deixava claro que ela não queria que eu e Miraí entendesse.

—— Não entendi.— disse Miraí, confusa.

—— É porque eu não quero que você entenda —  respondeu Maria, a voz soando sarcástica.  A tensão no ar era palpável. Miraí, então, se levantou, fitando Maria e, em seguida, a mim.

—— Vou me retirar agora, prima. Provavelmente não nos veremos novamente nesta semana, mas prometo que nos encontraremos em breve. — Ela se despediu, afastando-se. Maria, por sua vez, pegou a bandeja novamente e voltou a se alimentar.

—— Essa menina é insuportável, não é? Vou te contar, não a suportei nem um pouco. — Maria resmungou, sem disfarçar o desagrado.

Concordei com cautela, um tanto receosa, afinal, ela era minha prima. Prosseguimos com o almoço, e após devolvermos as bandejas, aproveitamos os minutos restantes antes de retornarmos à sala, acomodando-nos em um banco no pátio.
A jovem de cabelos cacheados repousava a cabeça em meu peito, enquanto observava os grupos de alunos passando ou conversando animadamente. Seus olhos castanhos, brilhantes como o sol da tarde, percorriam a movimentada cena, absorvendo a atmosfera vibrante do local.

Com o passar do tempo, percebi que havia desenvolvido um afeto genuíno por Maria. Embora não seja comparável ao que sinto por Haru, posso afirmar que nós duas também construímos um vínculo especial. Comecei a me preocupar, a me importar e a sentir saudade dela. Talvez isso se deva ao fato de ela ter sido minha primeira amiga, o que torna nossa relação ainda mais significativa.

Ela exibia um delicado aroma de morango.

Enquanto minhas mãos acariciavam suavemente seus cabelos sedosos, ela começou a relaxar, suspirando profundamente, como se estivesse liberando todo o peso do mundo.

Maria agarrou seu celular e, em seguida, levantou-se abruptamente de meu colo, erguendo-se do banco com um movimento rápido. Ela segurou minha mão com firmeza, puxando-me pelo pátio enquanto eu, sem resistência, me deixava ser levada.

Ao atravessarmos o extenso corredor da escola, que abrigava os armários e se conectava à porta de entrada, meus olhos se encontraram com os de Minami, que estava posicionado na entrada, observando-nos.

Parei em sua frente, e não sei porquê, mas senti um arrepio percorrer meu corpo.

—— Trouxe o que eu te pedi? — Maria perguntou ao primo, e em seguida ele entregou uma pequena sacola para ela. Ela, então, deu pulinhos de alegria. — Valeu!

—— Era só isso? Estou cheio de coisas para fazer, mas estou curioso para saber depois o que a tal japonesa fez. — Ele olhou para mim novamente, e me ignorou, voltando a olhar para a prima.

Senti um leve aperto no peito, mas tentei não me abalar, odeio ser desse jeito. Talvez ele não tivesse falado comigo porque eu também não o havia cumprimentado, mas tudo bem.

—— Mais tarde, em casa, te conto — anunciou Maria ao primo, com um tom de voz que indicava pressa. — Agora preciso resolver uma pendência com ela.

Ele se despediu e nós, Maria e eu, partimos em busca da garota pela escola inteira. Encontramo-la em um grupo de estudantes, conversando animadamente. Maria, sem hesitar, agarrou-a pelos braços, puxando-a para perto. Eu a segui, curiosa para saber o que aconteceria com a garota.

__Maria me deixou sentada em um banco de madeira em uma sala que deveria estar trancada, completamente desacreditada. Minami havia ido até a escola apenas para entregar uma máquina de cortar cabelo para Maria, naquele momento, fiquei confusa. Ainda mais porque ele nem sequer me olhou.

Nesse exato momento, a japonesa, cujo nome é Rosé, chorava descontroladamente enquanto a brasileira raspava seu cabelo. A cena era surreal: a sala escura e silenciosa, apenas o barulho da máquina cortando os fios de Rosé ecoava no ambiente. O choro dela estava me deixando enjoada.

—— Chora não, vagabunda, chora não. — Maria virou com força a cabeça da garota encarando-a no fundo dos olhos.— quem mandou ser uma puta mentirosa e x9?

—— Por favor... para — ela balbuciou.

—— Chora não, nós ainda vamos deixar um risquinho. Bem bonitinho.— ela foi descendo a maquininha de lateral fazendo uma linha — Da próxima, isso se tiver uma, escolha bem a pessoa que você vai querer implicar. Eu não tenho dó.




















Votem e comentem.

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top