𝐂𝐀𝐏𝐈́𝐓𝐔𝐋𝐎 1

CAPÍTULO 1

𝙳𝚊𝚕𝚕𝚊𝚜, 𝚃𝚎𝚡𝚊𝚜 - 1963
𝙽𝚞́𝚖𝚎𝚛𝚘 𝚍𝚊 𝚜𝚎𝚜𝚜𝚊̃𝚘: 918
𝙰𝚜𝚜𝚒𝚗𝚊𝚍𝚘 𝚎 𝚎𝚡𝚎𝚌𝚞𝚝𝚊𝚍𝚘 𝚙𝚘𝚛:
𝙳𝚛. 𝙲𝚑𝚊𝚛𝚕𝚎𝚜 𝙼𝚒𝚕𝚕𝚎𝚛

Eu encaro a folha por alguns segundos, pensando se devo ou não assinar. O que acontece depois nunca é tão divertido. Isso acontece há um bom tempo, e não é uma sessão de tortura como eu achei que seria. Sr. Hargreeves me ajuda a entender quem eu sou hoje.

Eu só estou… cansada. Penso o que aconteceria se eu me recusasse a assinar. Sumiria igual todas as pessoas que contrariam Reginald? Ficaria sem lugar para morar, assim como estive antes de vir para cá? Eu tenho a opção de recusar?

Pela forma que os olhos dele me observam através do monóculo, acho que não.

Pego a caneta e assino meu nome nos locais indicados, dando o meu consentimento para a próxima sessão. A descrição do experimento na folha parece ter saído da cabeça de um cientista maluco. Eu solto a caneta e empurro a folha para frente, ao passo que Reginald suspira, levantando a cabeça, satisfeito com o seguimento do estudo.

A assistente dele retira a papelada da minha frente e guarda numa pasta, e depois dentro da gaveta da mesa de Reginald. Às vezes fantasio abrindo aquela gaveta no meio da noite e descobrindo os segredos mais sombrios e profundos de Reginald Hargreeves.

Mas não posso deixar esses pensamentos tomar conta agora, logo todos esses cientistas, assistentes e empresários vão ver o que acontece dentro da minha mente.

Eles me conduzem para o laboratório com meia dúzia de seguranças, caso eu mude de ideia, eles podem me conter. Lá no final do corredor, vejo a grande porta de chumbo aberta, e me esperando ao lado, o Dr. Miller com a sua clássica prancheta gasta em suas mãos, e seu jaleco branquinho. Ele oferece um sorriso simpático antes de me levar para a máquina de experimentos.

— O Dr. ainda não trocou de prancheta? — Eu falo, sarcástica, porque cumprimentá-lo formalmente já não tem mais graça.

— Sem gracinhas hoje, Lillian. — Diz ele, segurando o meu braço gentilmente, me ajudando a subir na maca. — Está pronta para a sessão de hoje? Não ingeriu açúcar nas últimas 24 horas?

— Sim, senhor.

Apesar de ainda não haver dados científicos que comprovam que o açúcar altera minhas ondas cerebrais, eles ainda proíbem o consumo um dia antes dos treinamentos e sessões.

Eu me deito sobre a maca e o Dr. Miller prende meus braços e pernas nos cintos de segurança, checando mais de uma vez para ter certeza que está bem amarrado. Uma peça de metal é colocada sobre a minha cabeça, de onde vários fios são conectados ao painel principal. É assim que eles monitoram as ondas magnéticas que eu recebo, e que também transcrevem as ondas que eu emito em imagens. É a porra de uma televisão com cenas do futuro.

Não preciso desse aparelho para fazer minhas previsões, mas é com ele que os outros podem ver o que eu vejo.

— Sabe o que terá que prever hoje, senhorita Lillian? — O Dr. diz, marcando traços de conferir em sua velha prancheta.

— Não. Não faço ideia.

— O Sr. Hargreeves quer algo simples de você. Encontre a terceira semana de novembro, e diga o que você vê. Haverá uma reunião de cúpula dos Doze Majestosos, seu trabalho, Lillian, é confirmar se Reginald Hargreeves estará presente. Certo? Entendeu?

— Sim, senhor.

Miller, então, veste suas roupas especiais contra radiação e caminha em direção a porta, não sem antes olhar para trás e sorrir amigavelmente.

— Boa sorte, Lillian.

Mentalmente, agradeço. Parece que as sessões são mais tranquilas quando ele me deseja sorte. O Dr. fecha a porta e a tranca, se juntando aos outros homens que me observam através do vidro reforçado. Reginald aperta o botão de iniciar, e assim somente as luzes essenciais do laboratório ficam acesas, enquanto o restante se apaga, poupando energia. A maioria dela será usada para abastecer a máquina que traduz meus poderes.

Um chiado começa a soar dentro da sala e me sinto extremamente vulnerável nesses primeiros momentos, sem saber se o chiado irá aumentar e sala irá brilhar numa explosão. Se isso acontecer, eu serei a única prejudicada, Reginald não construiria algo que colocasse sua grande e importante vida em risco.

Uma contagem regressiva começa, e eu me preparo, esvaziando minha mente e me concentrando no presente. Quando a contagem termina, eu sinto o aparelho em minha cabeça tremer. Vez ou outra me dá um choque fraco, mas acredito que seja para eu ter consciência do meu corpo, da dor, do presente, antes que eu possa focar no futuro.

— Lillian, pode me dizer que dia é hoje? — Sr. Hargreeves diz do outro lado, e sua voz soa robótica através da saída de som.

— 3 de novembro de 1963. — Respondo.

Reginald pergunta outra vez, mas o local em que estamos. Pede para eu falar o meu nome completo e em seguida pede ao Dr. para que inicie a sessão, ligando o aparelho ultra magnético. Os zumbidos aumentam, e uma pressão forte surge em minha cabeça por toda a extensão do aparelho que está preso em mim. É tão forte que preciso apertar os olhos e gritar entre os dentes para descarregar essa energia.

O ruído fica cada vez mais alto, ao ponto de me deixar surda por alguns minutos. E então silêncio. Há uma luz branca e forte, que mesmo de olhos fechados é capaz de me cegar. Escuto a voz do Sr. Hargreeves distante, como se estivéssemos em um túnel. Ele me pergunta o que vejo, e respondo que nada além de uma névoa branca.

Ele espera alguns instantes, até eu me acostumar com a nova frequência magnética. Conforme eu relaxo e me concentro, mais o ambiente se torna nítido. Vejo uma sala de reuniões luxuosa, cheia de homens com seus ternos caros, e taças caras com champanhe caro. Estão de pé conversando sobre algo que não consigo entender, eu sequer consigo enxergar seus rostos ainda.

Enquanto a imagem fica mais clara, posso confirmar que há doze homens na sala, que facilmente se auto dominariam “majestosos”. Digo em voz alta que estou nessa sala, e que falta pouco para eu identificar os homens. Me esforço um pouco mais. E mais. Até onde eu conseguir. E lá está. Reginald Hargreeves entre os nomes mais protegidos desse mundo, e entre os homens mais protegidos deste mundo.

Ele está vigilante, caminhando lentamente em direção a um armário. De repente, ele espeta o atiçador de lareira naquele armário, diversas vezes, destruindo as portas ripadas. Reginald abre o armário, e posso ver que não há nada lá dentro. Talvez estivesse receoso que alguém estivesse espionando sua reunião, ou era apenas alguma ação na qual não peguei o contexto.

Mas é fato: Reginald permanecerá membro dos Doze Majestosos.

Digo a notícia em voz alta e posso ouvir sons de comemoração distantes de mim, ecoando. Abro um pequeno sorriso também, certamente as coisas vão melhorar daqui para frente. Como se meu cérebro reservasse uma atenção especial para ele, consigo ouvir a voz do Dr. Miller, entre todas aquelas, me parabenizando por mais uma previsão bem sucedida.

Eu estou prestes a perguntar se ele já pode vir retirar os cabos da minha cabeça e soltar meus pulsos e tornozelos, quando sinto uma dor absurda em minha cabeça. Está atrás dos meus olhos, sobre a minha testa, minha nuca, e em tudo que posso sentir. Está aumentando cada vez mais. Está me fazendo gritar desesperadamente. Imploro para Miller acabar com isso porque está me matando.

— Desligue! — A voz de Reginald sobressai entre os meus gritos.

— Senhor, a máquina está sem controle. Lillian encontrou outra fonte de ondas eletromagnéticas e está se sobrecarregando. Não há nada que possamos fazer. — Dr. Miller diz, me deixando ainda mais confusa. Eles deviam saber o porquê a máquina deles está me fritando.

— A pressão dela está em 19 por 12. — A assistente diz.

— Ela vai morrer. — Um outro homem, que certamente não entende de nada que está acontecendo aqui, diz. Bom, espero que ele esteja muito errado.

— Charles, trás ela de volta agora! — Reginald grita para o doutor.

As ondas ficam mais fortes, sinto como se estivessem espalhando álcool pelo meu cérebro e ateassem fogo. Há tanta pressão em meus olhos que temo que eles saltem para fora. Não consigo controlar, não consigo voltar para o presente. Eu nem sei o que está acontecendo.

— Lillian, está me ouvindo?! — Miller soa mais alto agora. Sinto um formigamento e sei que é ele soltando os meus pulsos dos cintos de segurança.

— Não está parando. — Eu digo, sentindo um nó em minha garganta que deixa minha voz chorosa.

— Me diz onde você está.

— Eu não consigo ver nada.

— Vamos, Lillian, se concentre!

Posso dizer que é extremamente fácil falar isso quando você não está fora da sua linha temporal, com um aparelho absurdamente poderoso em sua cabeça que em uma falha poderia te transformar em cinzas antes que você perceba. Não é fácil se concentrar assim, doutor.

Mas eu tento. Tento ignorar a dor de todas as formas. Fingir que meu coração não está a um passo de explodir. E para a minha surpresa, a luz branca começa a se transformar em algo. Em uma rua, em Dallas. Especificamente, consigo ver um beco. Uma caçamba de lixo e fumaça saindo dos tubos de ventilação dos prédios em ambos os lados.

Acima, a uns quatro metros do chão, vejo uma anomalia que parece estar furiosa. É isso que está acabando comigo. Que está tão poderosamente forte que é demais para eu suportar. Escuto sons de trovões vindo de lá, muita energia estática e gritos, que dessa vez não são meus.

A anomalia cospe para fora um homem meio preocupado, olhando para cima, de onde veio, e gritando por nomes que não consigo entender agora. O suposto portal se fecha, e o homem então olha ao seu redor, o ambiente não parece familiar para ele. Ainda confuso, esse homem caminha em direção a rua, de onde passam tanques de guerra, soldados soviéticos e americanos, numa guerra que nunca aconteceu.

Ele corre, aflito, buscando um jornal no chão, onde resmunga a data daquele dia. Não é surpresa alguma eu não ter escutado, os sons do ambiente onde o meu corpo está e onde a minha mente está se misturam, então eu ouço tiros e Reginald discutindo com o doutor ao mesmo tempo.

O homem do futuro solta o jornal, e fixa seus olhos em mim. Sei que não há nada atrás de mim, e sei que esse homem olhou diretamente para mim, como se pudesse ver que eu estava lá. Não vou esquecer da sua fisionomia tão cedo, dos seus cabelos, suas sobrancelhas… e seu olhar perdido, como se me pedisse ajuda.

Entretanto, o tanque de guerra ao seu lado dispara, lançando uma munição-flecha, e esse homem é arremessado para longe pelo impacto do tiro. Não parece ferido ao se chocar contra o chão, mas fica ainda mais apreensivo ao ver o destino do projétil. Um outro homem está flutuando, sua pele pálida o faz parecer um fantasma, mas ele estica as suas mãos e o projétil se desintegra em poeira, a única explosão sendo o impacto da bomba com a onda de energia que esse indivíduo expos. Como ele conseguiu fazer isso?

Um pouco atrás, um cara de cabelos longos e cavanhaque lidera uma tropa de soldados em ataque aos soviéticos. Soldados transparentes e que parecem ter voltado do mundo dos mortos. Sem contar o rapaz em cima do prédio que acaba com os soldados com algo parecido com tentáculos, também translúcido. Ao lado, uma mulher explode as cabeças de três soldados apenas com uma ordem, ela sequer tocou neles.

Caindo do céu, depois de um grande salto, um homem loiro e exageradamente musculoso aterrissa no chão, recebendo o disparo de um lança-chamas em suas costas e continuando de pé, como se não fosse nada. Outro homem de cabelos longos e cavanhaque aparece, dessa vez fazendo manobras no ar com o seu corpo, mudando o destino das balas que acerta perfeitamente os seus alvos. Posso ouvi-lo gritar, xingando o homem que apareceu primeiro:

— Seu filho da puta, por onde você andou?!

O primeiro homem dá o um passo para revidar, porém um senhor surge ao seu lado, onde segundos atrás não havia ninguém, e ele carrega uma maleta em sua mão. Este senhor segura o ombro daquele primeiro homem, impedindo-o de continuar, e diz algumas palavras entre si. O homem de olhos verdes e confusos olha em sua volta, hesitante e atordoado, mas estende a sua mão para apertar a do senhor de barba branca.

De repente, outro zumbido me faz contorcer de dor, pesando sobre minha cabeça, e aquela maleta na mão do senhor brilha com luzes brancas e azuladas, fazendo os dois desaparecerem em um piscar de olhos.

No céu há aviões-caças voando a toda velocidade e chocando-se contra o solo. Os soldados tentam derrubar a maioria deles, mas tudo isso é em vão. É um pesadelo, um apocalipse.

Atrás dos caças, há um míssil soviético que em poucos segundos destruirá tudo o que conhecemos. Todas aquelas pessoas, que estavam lutando como uma equipe contra todo esse caos, se juntam para assistir o seu fim. A bomba explode antes de tocar o chão, e uma nuvem de poeira invade as ruas de Dallas, engolindo toda a cidade na sua bolha de fogo e radiação. Até consumir toda a equipe, tirando as suas vidas.

É o fim do mundo.

Eu grito para me tirarem daqui.

Eu não quero ver mais mortes.

Eu não quero morrer.

— Lillian, responda! — Escuto a voz do doutor, mas não tenho forças para usar minhas cordas vocais. Eu não me sinto viva. Preciso voltar para minha linha do tempo.

Sinto formigamentos nos braços, algo que acontece quando tocam em mim quando não estou no momento presente, mas eu simplesmente não consigo achar o caminho de volta.

— Lillian, acorde. Isso é uma ordem! — Reginald diz. Mal sabe ele que queremos a mesma coisa.

— Já acabou, garota, pode voltar. Não tem perigo. — A voz de Miller está mais perto.

Sinto que ele também está mais perto. E aos poucos, a sensação de formigamento fica mais real, e sinto o calor físico junto à matéria de seu corpo. Sinto suas mãos em meus ombros, tentando me fazer acordar. Todos os sons não são mais ecos, são mais reais, e quando tenho controle sobre o meu corpo para abrir os olhos, estou no laboratório com dezenas de cabeças olhando para mim.

— Ela voltou!

Alguns comemoram, outros suspiram de alívio. Eu estouraria um champanhe, mas ainda não consigo mexer minhas mãos.

— Graças a Deus!

— O que aconteceu, Charles? Por quê houve essa interferência? — Reginald questiona o doutor.

— Bem, ainda é cedo para saber. Logo o material será transcrito e poderemos ver as imagens que Lillian encontrou, mas minha teoria é que a senhorita encontrou um forte campo eletromagnético na sua volta para a nossa linha do tempo. Isso explicaria a sobrecarga da máquina e porque Lillian sentiu tantas dores, não estava preparada para tamanha força.

Obrigada, doutor.

— Lillian, o que você encontrou? — Reginald pergunta, chegando mais perto de mim, curioso.

Junto todas as minhas forças, e ainda assim não consigo dizer muito.

Guerra.

— O quê?

O fim do mundo.

— Do que ela está falando, Charles?

Cinco pessoas com superpoderes.

— Está delirando. Levem ela para o quarto — Reginald ordena.

Eu não insisto. Apesar de não saber a data dessa catástrofe, acho que pode esperar até eu me recuperar. As enfermeiras me oferecem água numa garrafa com canudo, facilitando para ingerir. Dr. Miller retira o aparelho da minha cabeça e me ajuda a descer da maca, onde parece que estou dando meus primeiros passos, como um bebê.

— Você vai ficar bem. Só tem que descansar. — O Dr. me acompanha até o meu quarto, andares acima.

Ele me deixa só, dizendo que meu jantar será servido no quarto essa noite, para eu não fazer muito esforço. Quando ele fecha a porta, eu desabo no travesseiro, massageando alguns pontos da minha cabeça enquanto miro alucinações de formas geométricas coloridas no meu teto.

Quem são aquelas pessoas? O que estão fazendo aqui? Quando tudo isso vai acontecer? E o mais misterioso: como conseguiriam tais habilidades?

Eu sou a primeira pessoa a ter sucesso com os poderes do projeto de Reginald. Existe outra organização pelo mundo que obtém esse mesmo estudo? E mandaram esse grupo de pessoas poderosas como arma de guerra?

Eu não consigo formular mais perguntas, minha visão fica escura e um sono muito pesado me faz fechar os olhos.

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É o dia seguinte e minha necessidade de achar respostas para o que eu vi não me deixa descansar. É um peso que carrego por sempre me pedirem as respostas de tudo. Pelo menos agora, não está sob meu conhecimento. Estamos juntos na sala de reunião de Reginald, discutindo o que aconteceu ontem. E para que não haja dúvidas, eles trouxeram um escrivão para anotar o que eu vi, antes de checarem as imagens.

— Pode começar.

Respiro fundo.

— Eu estava voltando para o presente, quando senti que algo me puxou para aquela data. Como um imã mesmo. Eu vi uma anomalia temporal e um homem surgiu dela, chamando alguns nomes. Eu olhei para a rua e havia tanques de guerra, soldados americanos e soviéticos, civis feridos. E também… Eu vi pessoas com superpoderes.

— Isso não é possível. — Resmunga Miller.

— Deixe ela falar — Reginald o afasta, interessado com o que eu disse. — Poderes? Como?

— Bem, um deles destruiu um projétil de um tanque de guerra sem esforço algum. Outro era forte e foi atingido por um lança-chamas, nem sequer tremeu. Uma mulher conseguiu acabar com alguns soldados só com a voz del…

— Espere. Eram inimigos? — Pergunta ele.

— Não. Aparentemente.

— O que fizeram é fascinante… — Reginald diz para ele mesmo, admirado. — Quando isso vai acontecer?

— Eu não consegui ver.

— Como não?

— Sr. Hargreeves, acredito que Lillian estava fragilizada com a força que a puxou, e o foco nos pequenos detalhes podem ter sido ofuscados. — O Dr. explica por mim, me advogando, anotando algumas coisas em sua prancheta jurássica.

— Sei que o primeiro homem que eu vi achou um jornal, talvez a data esteja visível. Podemos ver com as imagens, não é? — Sugiro.

Reginald assente com a cabeça, buscando a fita de vídeo que foi gravada na tarde de ontem. Os especialistas provavelmente não dormiram essa madrugada, à mando de Reginald, para que as fitas estejam prontas o quanto antes. Não é tão fácil transformar pensamentos em imagens, então deve ter dado um trabalhão

Reginald coloca a fita, e a imagem logo aparece na televisão. A sala com os doze majestosos. Preto e branco. Muito granulado, mas é um ótimo avanço. É exatamente como eu vi, e saberia apontar o que seria qualquer coisa que eles me perguntassem.

A fita seguinte era a do fim do mundo, como vou chamar carinhosamente a partir de agora. Também em preto e branco, granulado e com uma exposição altíssima, é possível ver aquele portal, e o homem caindo. Ele busca o jornal entre umas ruínas e esse tempo é o suficiente para enxergarmos a data

Nós três nos entreolhamos, apreensivos.

25 de novembro.

Daqui 21 dias, e contando.

Bem, eu esperava que fosse seis meses ou mais. Confesso que estou um pouco assustada.

Ainda calados, nós assistimos ao restante da gravação, que agora trava um pouco. Mas é possível ver aquele homem flutuando, com os olhos brancos e a pele pálida. Vemos a mulher superpoderosa. Os dois rapazes super poderosos de cabelo longo e cavanhaque. O grandão superpoderoso. Aquele outro que parece um fantasma. Todos eles. Agora Reginald os vê também.

— Isso é inacreditável — Reginald senta em sua cadeira, ficando estático. — Como conseguiram esses poderes?

— É o que eu me pergunto. — Eu digo, mais baixo.

— Se sabem da existência do projeto e de Lillian, podem estar vindo para buscá-la. Toda aquela guerra… — Reginald conspira, com teorias que não me parecem muito plausíveis. — Não vamos deixar isso acontecer. Vamos atacar antes.

— Atacar? Mas como? Nem sabemos os nomes deles ou onde estão. — Eu questiono, revezando meu olhar de Miller para Reginald.

— Não se preocupe, Lillian. Encontrá-los não será um problema — Reginald começa a escrever em um papel, vez ou outra olhando para a televisão. Será que está anotando as características das pessoas? — Mas vou precisar de você.

— Vou ter que encontrá-los no futuro?

— Não. — Ele diz, ríspido. — Você irá pessoalmente. Vai se aproximar deles e descobrir o que querem. Se necessário, trazemos eles para cá. Se o fim do mundo vai acontecer, eles possivelmente são a causa.

◆ 3.445 palavras

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