𝐂𝐡𝐚𝐩𝐭𝐞𝐫 : 𝟎𝟏
Olás, sejam muito bem-vindos a 𝗔𝗱𝗱𝗶𝗰𝘁𝗲𝗱!
Antes que possam seguir adiante, gostaria de esclarecer algumas coisas.
⋆ Essa fanfic se encaixa no gênero de Dark Romance e aborda cenários de tópicos sensíveis, que podem gerar gatilho ou desconforto, portanto, não recomendo que prossiga se você não gosta ou se incomoda com esse tipo de leitura.
⋆ Existe uma linha muito tênue entre o certo e o errado dentro desse gênero. Os personagens podem tomar decisões e realizar ações que talvez não sejam consideradas as mais adequadas ao longo da narrativa, o que pode gerar um pequeno descontentamento por parte de vocês. Tendo isso em mente, apenas solicito que tomem cuidado com comentários desnecessários e ofensivos, pois estes serão excluídos.
⋆ Sintam-se à vontade para deixar qualquer tipo de feedback. Eu aprecio muito as suas opiniões, e vai ser um prazer acompanhar todos os comentários.
No mais, desejo a vocês uma boa leitura <3
Estava escuro, estava frio, e eu estava com medo. Sim, medo era o que eu sentia. Era estranho, pois nunca tive nenhuma razão para temer qualquer coisa em minha vida. Contudo, a persistente angústia que crescia em meu âmago me fez perceber que, de fato, estava com medo.
Durante toda a minha trajetória, considerei que esse medo fosse igualmente assustador para o restante das pessoas, onde elas tentam enfrentar os próprios demônios para sobreviver e logo acabam sendo derrotadas por não serem capazes de encarar as suas verdadeiras faces.
Entretanto, a única lógica que refutava a minha rasa reflexão é de que pessoas medrosas não se sujeitariam a viver arrastando corpos por vielas mal iluminadas sem sentir nenhum tipo de remorso.
Embora tenha me questionado diversas vezes se realmente deveria insistir nessa escolha, ainda precisava das respostas para desvendar a grande incógnita que perseguia as minhas memórias, e não importava quais alternativas fossem necessárias para consegui-las, eu deveria as ter de uma maneira ou de outra.
Em contraste aos pensamentos desagradáveis, os resquícios do fluido vermelho carmesim continuam manchando a minha blusa preta nova conforme uso toda a força para arrastar o corpo desfigurado pelo chão frio até o ponto de luz mais próximo do porão, fazendo uma pausa para limpar o suor da testa.
─ Sério, uma hora dessas? ─ a conhecida figura masculina questiona, se afastando das sombras enquanto cruza os braços com um ar entediado.
─ Carregar um ser humano de quase noventa quilos e descer essas escadas com ele não é moleza, Izana ─ respiro ofegante, soltando bruscamente o braço ensanguentado do homem.
─ Não importa, esse problema é seu. Não gosto de esperar, seja mais rápida na próxima ─ ele declara de maneira ríspida, me observando apertar os lábios e desviar o olhar ─ Ou vai me dizer que se atrasou porque estava se satisfazendo de novo?
─ Cuida da sua própria vida, babaca ─ o desafio, erguendo a cabeça e estreitando os olhos ─ Se queria tanta pressa, deveria ter requisitado o Kakucho ao invés de mim.
─ Hmm... ─ o platinado murmura e sorri com maldade ─ Eu já meio que sabia disso, mas uma viciada é uma viciada, independente de qual droga está usando.
Chegava a ser humilhante não ser capaz de revidar agressivamente a zombaria do meu adorável cúmplice enquanto ele ria da minha cara, se divertindo com a maneira que eu apertava a mandíbula com raiva, tal ato que evidenciava as diversas cicatrizes em meu rosto e o sangue seco ainda presente nele que se misturava com o fresco.
─ Não tente bancar o esperto aqui, eu também sei dos seus pecados.
─ Será que sabe mesmo? ─ Izana pergunta em um tom de provocação, se aproximando em passos lentos.
Apenas suspirei exasperada diante disso, observando com atenção enquanto ele rapidamente pega o corpo do chão e o apoia sobre os ombros com facilidade, ajeitando com cuidado para que ficasse em uma posição boa a ponto de ser capaz de segurá-lo firmemente.
Minha sobrancelha logo se contrai com a cena e Izana me encara com uma expressão suave, tentando passar alguma tranquilidade quando percebe minha inquietação inesperada acerca do homem desconhecido que repousava no ombro dele, mas não conseguindo ser convincente o suficiente para que eu me sentisse melhor.
─ Não se preocupe, ele não vai morrer ─ o platinado finalmente declara com um aceno de cabeça.
O rapaz com certeza não estava morto e provavelmente não morreria se dependesse de mim. Afinal, nunca fui fria o suficiente para matar pessoas por prazer ou negócios como o meu colega, pois matava exclusivamente quando existia a necessidade.
E na realidade, era apenas a responsável por desacordar as vítimas usando qualquer meio para chegar a esse desfecho, seja injetando tranquilizantes e sedativos ou utilizando a boa e velha força bruta; o que se tornava injusto quando os alvos subestimavam a minha capacidade destrutiva.
O principal objetivo sempre foi trazer apenas o corpo inconsciente para o Kurokawa, então também nunca questionei sobre o restante do processo e isso acabou se tornando irrelevante, desde que ele fornecesse as informações que eu precisava. Um contrato conveniente para ambos, era isso que tínhamos. Porém, foi completamente inesperado ver que o peito do homem não se movimentava dessa vez, como se não estivesse nem respirando.
Essa circunstância seria considerada normal caso eu tivesse injetado um dos tranquilizantes mais fortes disponíveis, porém, optei por utilizar uma das novas substâncias fornecidas por Izana para encerrar a luta de forma definitiva, visto que o rapaz era realmente inabalável e determinado a me enfrentar.
Logo, no momento atual, estava evidente que aquele conteúdo não era comum em nenhum sentido, e uma coisa se tornou inegável a partir disso: eu definitivamente matei um homem.
A minha respiração logo perdeu o ritmo regular, tornando-se descompassada, e o aperto no meu peito se tornou tão intenso que precisei me curvar ligeiramente para lutar em manter o controle. Um imprevisto. Foi apenas um imprevisto, não era minha culpa. Já estava acostumada com mortes a mais tempo do que parecia, então por que isso ainda era tão torturante?
─ Tudo bem... ─ tiro um momento para respirar fundo, tentando ignorar a estranha sensação que continuava crescendo ─ Eu trouxe a encomenda que você pediu, então acho que é hora de me retribuir.
Izana sorri, procurando uma pequena embalagem zip-lock em um dos bolsos da jaqueta de couro que vestia.
─ Você é sempre tão apressada, nós nunca conseguimos conversar direito ─ ele me estende o item com um semblante de desinteresse, alheio ao que eu poderia fazer com aquilo ─ Precisa parar de ser exigente, mocinha. Nossa relação não é só de trabalho, você sabe.
─ Cai na real, eu nem gosto de você ─ sibilo com um estalo, pegando rapidamente o pacote de sua mão para conferir o conteúdo ─ É você que precisa parar de querer forçar a amizade, não somos nem sequer parceiros.
─ E pensar que te aprecio tanto ─ ele finge estar ofendido, sua voz sendo carregada de ironia ─ Mas se não quer aceitar meu afeto, eu vou entregá-lo para outra pessoa.
─ Excelente ideia! ─ sorrio brevemente, voltando com a expressão séria logo em seguida ─ Agora, segue o seu rumo para fora da minha casa.
Antes que tenha outra oportunidade de expulsá-lo adequadamente, Izana entende o recado e apenas devolve o meu sorriso enquanto desaparece pela escada carregando o homem como se carregasse um saco de batatas. O eco da porta batendo ressoa pelo porão vazio e me deixa com uma sensação de inquietude, indicando que eu estava sozinha novamente.
Sem demora, limpo superficialmente algumas evidências da luta anterior que ainda restavam nas minhas roupas e subo as mesmas escadas para me certificar de que não havia testemunhas oculares ou provas que poderiam nos incriminar nos arredores da casa.
Claro que ninguém se atreveria a estar vagando por essa região pacata no fim da madrugada, mas ocasionalmente surgia algum curioso que sempre era morto sem nenhuma piedade pelas mãos de Izana, e com isso também sempre existia a possibilidade de tudo dar errado a qualquer momento.
Quando passo pelo topo, tento abrir a porta do porão com cautela e ela ainda range como se estivesse abandonada por décadas, me lembrando de que precisava urgentemente consertar as velhas dobradiças antes que alguém reclamasse pelo barulho incômodo.
Mas no fim estava tudo limpo, então eu apenas desconsiderei esse pequeno detalhe mais uma vez e voltei para baixo, retirando todos os acessórios que carregava no meio do caminho para se sentar em uma cadeira giratória no canto do cômodo.
Luvas, objetos cortantes, taser, soco-inglês e seringas descartáveis. Em um instante tudo isso estava no chão enquanto eu continuava girando a cadeira pela sala a procura dos meus utensílios de pesquisa.
Ao finalmente encontrá-los, me encarreguei de conduzir o último item com extrema cautela até a escrivaninha de madeira escura, ainda com certo receio de quebrar algum componente. Retirei o microscópio óptico da sua respectiva caixa e posicionei a lâmina certa no final da extensão para ser possível utilizar da melhor maneira.
Ajeitando-me na cadeira, constatei que Izana foi capaz de entregar um dos melhores conteúdos que eu poderia pedir assim que peguei o pacote em meu bolso e o forte odor fez o meu nariz torcer com a tentativa de abrir o zip-lock. Como de costume, aquilo era mais um dos exemplares de droga pura.
Não hesito em adicionar uma pequena amostra do pó na lâmina para examinar, tal como fiz com todas as outras amostras recebidas anteriormente, na esperança de ter algum sucesso. Porém, ao examinar o foco da lente, percebi que as moléculas formavam um padrão estranho e totalmente desigual, um que não se assemelhava em nada ao que era esperado.
─ A textura dessa é muito fina ─ pondero comigo mesma em um sussurro, descartando o restante do pó na lixeira e apoiando a cabeça entre as mãos ─ Merda!
Nenhuma das substâncias que estudei até o momento se assemelhava com a que eu procurava, o que estava começando a me deixar frustrada. No entanto, ainda não desistiria com facilidade quando consegui chegar tão longe.
Poderia encontrá-la amanhã, ou na próxima semana, ou no próximo mês, ou no próximo ano. Não importava. As raízes da minha motivação eram muito mais profundas do que um simples sentimento de insuficiência.
Apesar de tudo, eu precisava descobrir o motivo dela ser a única coisa que me lembrava com tanta clareza em meio a cegante neblina de memórias confusas. O que ela significava, e por que eu sentia com tanta intensidade que deveria saber disso? Duas boas perguntas que não possuíam nenhuma resposta atraente. Mas na verdade, era eu que não as tinha.
Com um suspiro cansado, decido apenas continuar naquela posição durante alguns minutos para organizar o material e encerrar outra falha, estando vencida pelo cansaço. Porém, alguns segundos de total quietude se instalam e agradeço aos céus por de fato não ter trocado as dobradiças daquela porta, pois foi graças a isso que consegui escutar com clareza quando ela se abriu bruscamente, evidenciando que novas pessoas estavam entrando.
Enfim, a minha principal diversão da noite finalmente havia chegado.
[. . .]
Odiava com todas as forças ter que admitir isso para mim mesma, mas Izana estava certo. Eu simplesmente não conseguia ficar longe disso. Era fato que havia me atrasado antes devido a essa razão, mas o que encontrei dessa vez ultrapassava todas as sensações que experimentei naquele dia.
Algumas pequenas gotas de suor deslizam novamente pela têmpora do garoto sentado ao meu lado, traçando um caminho até a mesa de vidro em frente enquanto fito a arma nas mãos trêmulas dele com uma sobrancelha arqueada.
A tensão no ambiente era mais do que palpável, e ninguém ousou interromper o silêncio que permaneceu entre os comparecidos quando apoiei o queixo na mão para finalmente me pronunciar.
─ Não vai atirar? ─ questionei, minha voz ecoando na sala quase vazia.
─ Dá um tempo, porra! ─ ele grita exaltado, apertando o cabo da arma com mais força ─ Eu vou, tá legal? Só preciso de um tempo.
─ Tempo?! Estamos nessa a uns cinco minutos e você ainda não atirou. Me dá isso! ─ exigi autoritária, tirando a arma da mão dele repentinamente ─ Você é algum tipo de idiota? Até parece que nunca jogou roleta-russa.
─ E-Espera! ─ o homem tenta impedir com certo desespero a minha ação ao puxar o meu braço, mas era tarde demais quando já havia ignorado a agitação e apontado a arma para a minha própria cabeça.
Meu coração acelerou vertiginosamente, pulsando de maneira frenética em meu peito conforme todos os sentidos se aguçam em um estado de alerta. Era como se o meu corpo estivesse se preparando para enfrentar uma ameaça iminente onde eu era o principal gatilho enquanto uma corrente elétrica percorria minha espinha, impulsionando a produção de adrenalina em todo o meu ser.
Ah, adrenalina, esse era o nome do sentimento ao qual eu buscava alcançar com tanto vigor apenas para satisfazer os meus caprichos; e talvez esse fosse o problema desde sempre. A sensação de quase morte era apaixonante - viciante, se pudesse descrever melhor -, e eu gostava de experimentá-la quando sabia que poderia mesmo não estar mais entre os vivos no segundo seguinte.
No entanto, esse sentimento não era particularmente bom para a minha saúde mental, ele enlouquecia. Enlouquecia ao ponto de minha mente não conseguir diferenciar a realidade das expectativas bizarras e apenas agir de acordo com a intensidade do momento.
Engatilho a arma com um movimento sutil, sentindo a familiaridade da sua textura firme em minhas mãos, e sorrio presunçosamente ao puxar o gatilho com precisão. Porém, nada. Nenhum sangue, nenhuma dor, nenhum grito de pavor. Simplesmente nada acontece.
Uma risada divertida escapa dos meus lábios e eu abaixo a arma para colocá-la cuidadosamente na mesa, enquanto os homens presentes deixam fluir o fôlego que nem sabiam que estavam prendendo.
─ Cara, você é insana ─ um deles comenta com espanto, parecendo impressionado pela determinação ─ Totalmente perturbada.
─ E como pensei, vocês são tremendos idiotas. Isso foi pura sorte! ─ declaro indignada, percebendo que todos compartilhavam da mesma surpresa ─ Aliás, com esse pensamento covarde de vocês, eu aposto que isso não vai passar do próximo tiro.
De repente, como se para confirmar o meu palpite, uma bala inesperadamente perfura a testa do rapaz que estava na minha frente, seguida por uma sucessão de disparos que ecoaram um após o outro sem tempo para pedidos de socorros. Enquanto a fumaça e o cheiro de pólvora se dissipam, escuto nitidamente o som inconfundível de um par de botas impacientes terminando de descer pelo assoalho de madeira.
Com o consentimento de todos os envolvidos, tomei a iniciativa de trancar a porta do porão como medida preventiva para que ninguém pudesse escapar durante o jogo. E, além de mim, existia apenas uma única pessoa que também possuía a chave e que poderia estar descendo aquelas escadas agora.
─ Senju... ─ sussurro, erguendo o olhar para presenciar a grande bagunça de sangue que restou depois de todo o show que ela decidiu me providenciar ─ Hmm, parece que ganhei a aposta.
Após acenar satisfeita, me virei lentamente, contraindo o rosto em uma expressão fechada no momento em que me deparei com a minha outra colega que aparentava estar bastante irritada pelo próprio bem dela. Não demorou para que uma atmosfera tensa se instalasse entre nós, e nossas energias carregadas de um ódio conhecido acabavam intensificando o clima pesado do ambiente.
Os olhos dela, de um azul tão profundo quanto o oceano, brilharam intensamente sob a luz da lâmpada e capturaram minha atenção. Esse ponto me fez franzir o cenho em um sinal de perplexidade, enquanto ela permanecia me encarando com a mesma intensidade ao guardar a arma na cintura.
─ Acabou a festa, precisamos conversar.
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top