CAPÍTULO TRÊS

Calcei minha sapatilha de balé e corri para a sala, a porta fez mais barulho do que eu imaginava chamando a atenção de todos para mim. A professora colocou as mãos na cintura e acenou para mim esperar no canto, fiz isso. Ela continuou com sua aula, enquanto eu me preparava para uma bronca daquelas.

Quando as meninas foram para barra ela veio até mim, sentou-se ao meu lado. Eu fitava o chão, estava muito envergonhada para encara-la.

— Lisa, essa já é a terceira vez que você se atrasa só essa semana! — Falou em tom de advertência, tocando levemente no meu joelho. — Sei que você trabalha em um restaurante também, mas não dá para continuar assim.

Reuni toda coragem e comecei a encara-la. E Deus, por que eu fiz isso? Assim eu pude ver toda a decepção da minha professora de balé, tudo isso por culpa minha.

— Se isso continuar, você estará fora da apresentação! — Espantei-me, sua feição era séria. — Ao menos que você me garanta que irá começar a chegar na hora a partir de agora.

Engoli em seco, ela me encarava esperando a resposta. Uma resposta que não sei se podia dar, precisava do outro emprego.

— Sem mais atrasos Lalisa, caso contrário você será demitida! — Exclamou, me encolhi. — Agora vá para barra junta das outras.

Levantei-me quase num pulo e corri para barra, Suzy estava me encarando com um sorriso enorme. Tive vontade de arrastar sua cara no asfalto, esse sorrisinho de mimada e filhinha de papai irritante.

Conclui meu curso de balé há alguns anos e estou me esforçando para entrar na Broadway, quando ficasse mais velha e cansada de estrelar em apresentações abriria uma escolinha. Por isso respirei fundo e ignorei o sorriso irritante de Suzy, a professora bateu palmas e voltou a nós ordenar a fazer mais passos.

Quando finalizarmos o treino, algumas meninas se jogaram no chão exaustas. Eu apenas me apoiei na barra, recuperando todo meu fôlego. A professora sorriu, ela estava orgulhosa de verdade.

— Meninas, isso foi incrível! — Parabenizou orgulhosa, fui até minha bolsa procurando minha garrafa da água. — Na próxima aula iremos nós juntar com os meninos para começar os ensaios para a grande apresentação!

As meninas ficaram eufóricas, conversando umas com as outras. A professora deixou por um tempo, até silenciar todas elas.

— Silêncio! — Ordenou ela, a sala ficou silenciosa novamente. — Nós inscrevemos em uma competição com outras academias, a melhor apresentação ganhará um prêmio enorme em dinheiro. Por isso precisamos dar nosso máximo no palco!

A falação voltou, a professora por fim desistiu de continuar a falar. Murmurou um "explico mais amanhã" antes de sair, peguei minha bolsa. Nem prestei atenção nas piadinhas de Suzy, apenas sai em um completo choque. Eu não posso me atrasar mais, se isso acontecer eu sou demitida do meu emprego dos sonhos, isso significa que eu preciso me transformar no flash!
Como irei fazer isso?

Estava andando totalmente dispersa pelas ruas de Nova Iorque, pensando em como faria a partir de agora. Eu teria continuado dispersa se não fosse a sensação horripilante de estar sendo observada, olhei em volta e não tinha ninguém ao menos notando minha miserável existência. A sensação não ia embora, mas não tinha ninguém me olhando.

Com muito medo eu apressei o passo e corri para o metro, passei pelas catracas e desci as escadas. Olhei em volta mais uma vez, só que dessa vez eu estava sozinha parada na escada. Não tinha ninguém aqui! Eu devo estar ficando louca, escutei o barulho do trem chegando e voltei a descer as escadas para ver se era o meu. Por sorte era, corri até ele e entrei.

Não importava onde eu ia, aquela sensação de perseguição continuava. E era medonha! Sentei-me em um dos assentos e coloquei meu fones, tentando afastar essa sensação ruim. Ela só foi embora depois que desci do metrô, o alívio me inundou.

Mas como tudo que é bom dura pouco, meu alívio acabou. Tinha um homem enorme na frente da minha porta, ele tinha cabelos pretos, pele clara, era forte e suas bochechas eram rosadas. Como se ele tivesse levado uma chinelada em cada lado, era encantador.

— Pois não? — Falei, ele me encarou de cima a baixo na cara dura.

— Você mora aqui? — Indagou apontando para a porta, assenti nervosa. — Oh, eu sou Jeongguk seu colega de apartamento.

Espantei-me, colega de O QUE?

— P-perdão? — Gaguejei, ele virou um contrato. Peguei da sua mão e li, ele iria dividir o apartamento comigo. Em outra folha tinha minha assinatura, que eu não lembro de ter dado, junto com a da dona do prédio.

— É um prazer lhe conhecer, senhorita Manobal. — Falou de forma adorável, passei a mão nas minhas têmporas.

— Olha, senhor... — Li o documento novamente. — Jeon, aconteceu um grandíssimo erro.

Seu sorriso desmanchou, ele olhou em volta.

— Oh, eu me enganei? — Indagou timidamente, assenti. — Então, você não é a senhorita Manobal?

Acenei, isso estava deixando-o confuso. Quem poderia julga-lo? Eu também estava, não tinha ideia de que palhaçada era essa.

— Não, quer dizer, eu sou. Mas eu não me lembro de ter concordado com isso, nem de terem me avisado que teria um colega de apartamento. — Falei, ele voltou a sorrir. Deus, ele era lindo e estava me deixando bamba.

— O que acha de entramos e ligamos para a senhora McCall? — Sugeriu ele, peguei a chave só que ele foi mais rápido. Abriu a minha porta e deixou-me entrar primeiro, afastei o pensamento de quão estranho aquilo era e corri para dentro pegando meu celular na bolsa.

Fiz como ele sugeriu e liguei para senhora McCal, ela atendeu rapidamente. Jeongguk me encarava franzindo os lábios, pisquei quando escutei a voz calma da McCal.

— Boa tarde! — Cumprimentei, mas não deixei-a responder. — Gostaria de falar sobre meu colega de apartamento...

— Oh, Lisa! Ele já chegou? — Ela falou animada, suspirei.

— Sim, ele está aqui. — Escutei algo que parecia com palmas, ignorei mais uma vez. — Mas eu não me lembro de ter concordado com isso, acho que aconteceu um grande engano.

— Não se lembra?

— Não, a última vez que falei com a senhora foi para pagar o aluguel do mês.

— Sim querida, foi nesse dia que você me contou que estava difícil pagar o aluguel e como eu iria aumentar sugeri um colega de apartamento. — Falou, tentei lembrar desse diálogo. Nada, não me lembrava nem dela ter citado do aumento. — Acho que você está tão nervosa com o trabalho, que acabou esquecendo.

Ela podia estar certa, eu realmente tive uma semana frustrante e que me tirou do sério. Mas mesmo assim, eu não me lembro de nem um mínimo comentário sobre o assunto.

— Querida, temos sua assinatura no documento para provar isso. — Falou, despertando-me dos meus devaneios. — Isso vai ser bom para você, ele vai pagar metade do aluguel e ficar com algumas contas. Foi por isso que você aceitou a proposta, e não dá para voltar atrás. Ele já assinou o contrato.

Mordi o lábio, olhei para Jeongguk. Ele estava olhando para os meus quadros de fotos, em específico um onde esta minha amiga, Rosé, o namorado dela e eu na formatura dela.

— Vocês já negociaram, certo? Quais contas ele irá ficar? — Indaguei, teria que engolir essa ideia e poderia ser bom.

— Oh querida, isso é com vocês. Espero que vocês se deem bem, ele pareceu ser bem legal. Talvez, você pudesse fisgar o rapaz.

Fiz uma careta.

— Sem chances, você sabe que não acredito nessas baboseiras. — Escutei a mais velha bufar, eu morava no seu prédio a três anos. Ficamos de certa forma amigas, ela fica o tempo todo pedindo para arrumar alguém pra me casar.

— Acho que ele a fará mudar de ideia quanto a isso, tenho que ir agora.

— Tudo bem, tchau McCal. — Ela desligou, mas eu continuei segurando o celular no ouvido.

Jeongguk me olhou, ficamos por alguns segundos nos encarando em completo silêncio. Até eu levantar e ir para o quarto de hóspedes que estava completamente vaz...

— A senhora McCal me informou que meus móveis tinham chegado ontem, pensei que tinha visto. — Falou com um sorriso, estreitei os olhos.

— Não, eu não vi isso. — Falei desconfiada, ele deu os ombros e saiu.

Tem alguma coisa estranha nele, nisso tudo para ser mais exata. E eu irei descobrir, porque odeio ser enganada.

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