(01) 𝑳𝒊𝒃𝒆𝒓𝒅𝒂𝒅𝒆


ℭ𝔞𝔭𝔦́𝔱𝔲𝔩𝔬 𝔘𝔪

______________________________________

Atenção! Esse capítulo contém gatilhos - assédio, violência, abuso de poder entre outros
______________________________________

" 𝑨 𝒈𝒆𝒏𝒕𝒆 𝒏𝒂̃𝒐 𝒅𝒆𝒔𝒊𝒔𝒕𝒆 𝒅𝒐 𝒒𝒖𝒆 𝒒𝒖𝒆𝒓, 𝒂 𝒈𝒆𝒏𝒕𝒆 𝒅𝒆𝒔𝒊𝒔𝒕𝒆 𝒅𝒐 𝒒𝒖𝒆 𝒅𝒐𝒊́"

______________________________________

POV Autora
- Em algum lugar de Mary Geoise.

𝐌𝐀𝐃𝐈𝐒𝐎𝐍 𝐄𝐒𝐓𝐀𝐕𝐀 𝐒𝐄𝐍𝐓𝐀𝐃𝐀 no chão da cela, sua silhueta iluminada pela luz fraca que filtrava pelas grades. Seus cabelos pretos azulados, agora emaranhados e desgastados, ainda refletiam um brilho suave, como se a escuridão não pudesse apagar completamente o seu brilho natural. Seus olhos roxos, profundos e expressivos, pareciam absorver a luz ao redor, como se estivessem sugando a esperança de um futuro melhor.

Apesar das condições desgastantes da cela e da vida de escravidão, a beleza de Madison ainda era evidente. Seu rosto ovalado, com maçãs do rosto altas e uma boca delicada, parecia esculpido por uma mão divina. Sua pele morena, agora marcada por arranhões e cicatrizes, ainda mantinha um brilho suave, como se estivesse implorando para ser libertada.

Seus olhos, no entanto, contavam uma história diferente. Eles refletiam a dor, a tristeza e a desesperança que haviam se acumulado ao longo dos anos. Mas mesmo assim, havia um brilho de resistência, um sussurro de que ela ainda não havia se rendido.

E ela sabia que o dia estava chegando.

Tobias estava ao seu lado, seu pequeno corpo de 11 anos parecendo quase fragil ao lado da figura mais alta e mais madura de Madison. Seus cabelos ruivos, desalinhados e cheios de vida, brilhavam como um fogo na escuridão da cela. Seus olhos verdes, cheios de curiosidade e compaixão, refletiam uma inocência que parecia fora de lugar naquele ambiente sombrio.

Ele vestia uma túnica simples, marcada por manchas de poeira e sujeira, e suas calças estavam rasgadas nos joelhos. Seus pés estavam descalços, com os dedos sujos e unhas quebradas.

No fim, ele era a unica companhia que Madison tinha.

- Madison. - o garoto a chamou.

A mulher virou o olhar para o mais novo.

- Sim? - a voz melodiosa de Madison invadiu a cela.

- É hoje. - Tobias disse mantendo um olhar sério. - Me avisaram.

Madison arregalou os olhos surpresa, sem acreditar no que havia ouvido.

- O que?....o que você disse? - perguntou com a voz trêmula.

- Chegou o dia Madison. - Tobias a olhava sorrindo.

Lágrimas se encheram nos olhos púrpura da morena. Seria mesmo verdade?

- O que eu tenho que fazer? - Madison perguntou.

- Nada. - a resposta simples de Tobias fez Madison pensar. - Lembra...

- Deixar acontecer.... - ela complementa lembrando da frase que ela mesmo havia dito anos atrás.

Madison suspirou fundo se escorando novamente na parede. Ela sabia muito bem das leis que se aplicavam para o destino de cada um. Teria que ser paciente e esperar, sem ficar eufórica.

Ela não era uma mulher agitada, pelo contrário, era calma e serena. Sua personalidade era como um refúgio, um oásis em meio à tempestade. Mas seria mentira dizer que ela não ficara animada.

- Pode sorrir Madison, eu sei que você está feliz. - Tobias brincou a empurrando de leve para o lado.

Os cantos da boca de Madison se ergueram, e por um segundo, ela deu um leve riso depois de tantos anos.

- Eu não sei o que eu faria sem você. - ela o olhou com ternura.

- Viveria. Como agora. - Tobias a respondeu.

Uma batida forte na cela fez Madison se assustar. Passos firmes e pesados ecoaram pelo corredor. Madison se levantou rapidamente e logo a luz da lanterna de um dos guardas cegou seus olhos, a fazendo se defender com a mão cobrindo parte do rosto.

O rosto de Madison se escureceu ao lembrar da obrigação que fazia todos os dias.

A porta da cela rangeu com o barulho das chaves a abrindo.

- Falando sozinha de novo? - questionou o guarda arrogantemente enquanto a puxava com força pelo braço.

- Sim... - ela respondeu sem emoção.

O peso da corrente em seu pescoço e a queimação da marca em suas costas, a fez lembrar da realidade que ali estava. Ela era tratada como uma propriedade, não como uma pessoa. Uma ferramenta usada para entreter aqueles de almas podres.

Tobias a acompanhava durante o trajeto. Madison encarou o mais novo que a olhava com pena.

- Deixe acontecer...- ele sussurrou.

Madison entrou no quarto de vestir. Lá estava ele...sentado na poltrona de veludo com aquele sorriso arrogante no rosto.

Saint Charloss era seu nome.

Um homem alto. Mais alto que Madison que tinha seus 2,45 metros de pura beleza. Os cabelos loiros penteados em um estilo extravagante, com várias camadas de cachos e um penteados que se assemelhava a uma coroa. Com o rosto pálido e elegante, ele a encarava com aqueles olhos azuis gélidos, como se ela fosse sua propriedade.

Estava com seu típico traje, uma terno branco imaculado, com uma gravata de seda e um capacete transparente que cobria seu rosto, simbolizando sua superioridade.

Ele segurava um cálice de vinho na mão, enquanto seu capacete refletia a luz do quarto. Madison estava de pé diante dele, com os olhos baixos, evitando o olhar de Saint Charloss.

- Madison, você sabe o que fazer. - ele a olhava de cima a baixo.

O homem fez um gesto para uma das criadas, ela trouxe um vestido de seda branca e o coloca sobre uma cadeira próxima.

- Vista isso. - ordena Saint Charloss, seus olhos estavam fixos em Madison.

Madison hesitou por um momento, mas então começou a se despir e a vestir o vestido. Ele observa cada movimento dela. Seus olhos demoravam analisando os ombros o pescoço, e o rosto da bela mulher em sua frente.

- Você é uma verdadeira obra de arte, Madison. - diz ele, com a voz cheia de admiração.

Madison sentiu um arrepio de desconforto em sua espinha, mas manteve o silêncio, sabendo que qualquer resistência seria inútil.

O vestido de fato ficava lindo no corpo de Madison. Era longo, batendo um pouco abaixo de seus joelhos, destacava suas curvas, e o decote era profundo, mas não chegava a ser vulgar. Dando o charme de uma verdadeira dama.

Apesar da beleza do vestido, Madison odiava usá-lo. Todas as vezes ela sentia que estava sendo exibida, como um objeto de desejo para Saint Charloss.

- Não me envergonhe na frente dos outros. - a voz autoritária de Saint Charloss se fez presente novamente.

Ela apenas acenou com a cabeça.

Todas as noites, a cada mês havia uma festa na mansão de Saint Charloss que reunia alguns Dragões Celestiais para uma apresentação e reunião de negócios. Nessas reuniões, era onde mais escravos se reuniam.

E Madison fazia a apresentação.

Saint Charloss saiu do quarto primeiro, e logo em seguida foi Madison acompanhada pelo guarda. Ao longo da caminhada no corredor enorme, a morena já conseguia escutar o barulho da orquestra e as vozes irritantes dos Tenryūbitos conversando entre si.

E eles estavam ali. Com os típicos capacetes transparente em volta de suas cabeças, com aqueles penteados exuberantes e roupas bizarras. Alguns montados em humanos, outros em homens-peixe, e até mesmo alguns cercados de mulheres que lhe traziam bebidas.

No fim, a única coisa que os diferenciava eram as classes sociais.

Madison foi direcionada para atrás do palco enquanto Saint Charloss ia cumprimentar o restante dos convidados. A mulher encontrou os outros dois escravos que faziam a apresentação com ela, Lizzy e Kairo. Lizzy tinha os cabelos loiros e bagunçados, vestia um vestido de ceda, como o de Madison. Kairo era um homem de meia idade de pele escura, usava roupas não tão bonitas quanto as mulheres, mas certamente eram melhores que as antigas. O homem era perfeito tocando violino. E Madison, tinha o dom da bela voz, poderia fazer as pessoas chorarem, tanto de tristeza, como de felicidade.

A junção deles três era motivo de apreciar uma bela obra de arte.

Eles se prepararam em suas devidas posições e a cortina logo se abriu, revelando o público alvo da apresentação. A melodia celestial da mistura do piano e do violino invadiu o ambiente, chamando a atenção daqueles em sofrimento.

Madison encarava para as faces perdidas e sem esperanças dos escravizados ali presentes, e então, ela começou a cantar sua música,"Além do Véu", uma letra composta por sua avó que passou adiante para ela.

Em silêncio, eu sinto sua presença.

Sua voz suave e emocional começou a ecoar pelo salão, o peso da corrente em seu pescoço havia ficado mais leve, e os escravos ali presentes, levantaram os olhos surpresos com a voz angelical. 

Uma brisa suave, um sussurro de alento

Vocês estão aqui, mas não estão livres

Era como um rio que fluia suavemente, preenchendo o salão com uma sensação de tristeza e esperança.

Mas Madison não cantava apenas para os vivos. Ela via os espíritos daqueles que ali fora ceifados a vida, presos entre o mundo dos vivos e o além.

Presos entre mundos, sem saber como partir.

Mesmo fazendo isso praticamente todos os meses, sempre haviam muitos ali. E hoje, finalmente chegou o dia que parte daquilo acabaria. Madison tinha que ajudar os últimos restantes enquanto podia.

Oh, espíritos, eu estou aqui para vocês

Para guiar vocês além do véu

As sombras pretas que ficavam em volta dos vivos logo foram se afastando soldando gritos agoniantes. Madison deu um sorrisinho. Os espíritos que precisavam dela foram se aproximando do palco.

Deixem-me ajudá-los a encontrar o caminho

Para a paz e a liberdade, onde o amor os espera

Seus corações ainda batem com dor.

Ela sentia a raiva, a tristeza, e a frustração de cada um. Reconheceu Saitoren, um homem-peixe escravo que ela havia conhecido, sentado no chão, com os olhos vazios lhe pedindo ajuda.

Ele morreu na frente do próprio irmão há alguns dias.

As memórias da vida ainda os atormentam.

Lila também estava ali, a mulher que perdeu sua família, e morreu em seguida por ser barulhenta demais, chorando silenciosamente, olhando Madison com um pedido de suplica.

Já os vivos, ela ouvia os suspiros cansados e os olhos emocionados quando escutavam sua voz, quase como se tirassem um pouco do peso enorme de seus ombros.

Mas eu estou aqui para dizer que é hora

De deixar para trás o sofrimento e a tristeza

A melodia tocava, e cada vez mais eles iam se aproximando. Observando o local em volta, Madison viu o que sempre via. Mas o que partiu seu coração foi ver um rosto desconhecido, uma criança, gritando por uma mulher ruiva que estava servindo um dos Tenryūbitos.

A menina parecia ter entre seus oito anos. Tinha cabelos ruivos emaranhados e cacheados caindo sobre seus ombros, os olhos verdes brilhando de tristeza e sua pele, com sardas, vermelha pelo choro.

- MAMÃE! Vamos voltar para casa! - a menina chorava. - Por que você não me escuta? Papai está nos esperando!

O coração de Madison se apertou ao ver a cena. E aproveitando a melodia enquanto sua parte de cantoria não chegava, ela falou com a garotinha.

- Ei, pequena. - chamou suavemente, e ela a olhou. - Qual o seu nome?

- Moça, você consegue me ver? - ela questiona.

- Sim. - Madison respondeu.

- Me chamo Elara. Pode chamar minha mãe? - a menina diz chorando se aproximando do palco - Por que ela fica abanando esse moço em vez de me dar atenção? Ela não me ama mais? Eu sinto dor...

- Sinto muito, pequena... - os olhos de Madison lacrimejaram. - Você não pode mais ficar com ela.

- Eu...eu não consigo ficar sem minha mãe. - a garotinha disse engasgando em lágrimas. Madison segurou o choro.

- Você tem que deixar ir. - Disse Madison

- Deixar...ir? - a pequena questionou confusa.

- Sim... - Respondeu Madison. - Deixar ir a dor, o medo e a tristeza.

Elara olhou para baixo.

- Eu não sei como. - disse ela.

- Eu vou te ajudar. - Madison se agachou no palco em frente a ela. Não poderia se aproximar muito pelo fato de não poder sair de lá. - Segure minha mão.

A menina esticou a mesma, tocando na da mais velha, e então, Madison concentrou um pouco de energia em sua mão.

- Você está vendo alguma luz? - ela perguntou com ternura.

- Tem uma luz....é bem brilhante, e bonita, como você. - A menina respondeu olhando para o lado.

- Você sente medo? - a olhava.

- Não...espera, meu pai está acenando para mim! - Elara sorriu em animação. - Oi Papai! - ela acena. - Você consegue ver?!

- Infelizmente não, querida. - Madison disse. - Mas você pode ir com ele, o que acha?

- E a mamãe? - ela perguntou olhando para a mulher.

- Não se preocupe. - Madison sorriu gentilmente. - O tempo do outro lado passa mais rápido do que o daqui. Quando você menos perceber, sua mamãe estará com você.

- Promete?! - ela perguntou animada com a possibilidade.

- Prometo. - Madison afirmou sorrindo.

- Então eu vou. - a menina sorriu. - Cuide da minha mamãe, por favor. - pediu.

- Farei o possível. - concordou Madison.

- Papai!

A menina correu para a parede, mas antes que chegasse nela, ela pulou, e num segundo, não havia mais rastros de que ela estava ali.

- Ei! O que está fazendo sentada?! Levante! - Um guarda lhe deu uma chicotada nas costas.

Madison mordeu os lábios pela dor e se curvou mais ainda pensando na dor agoniante em suas costas. Sabendo que se demorasse mais levaria outro castigo, se levantou com dor e continuou a cantar.

Oh, espíritos, eu estou aqui para vocês

Para guiar vocês além do véu

Deixem-me ajudá-los a encontrar o caminho

Para a paz e a liberdade, onde o amor os espera

Estava conectada com todos eles, e quando fez um gesto suave com a mão, eles começaram a seguir em diferentes direções, desaparecendo com os olhos em lágrimas. Deixando uma sensação de paz e esperança para aqueles que ainda sofrem.

Não tenham medo, não sejam tímidos

O amor os espera, do outro lado

Deixem-me tomar sua mão

E guiá-los para o lugar onde a paz os espera.

Madison cantou o ultimo refrão. O baile ficou em silencio e a última nota do piano e de violino foi ouvida.

Essa foi sua última apresentação.


- Saia. - mandou Saint Charloss.

Madison se vestiu novamente a roupa esculachada, saiu do quarto acompanhada pelo guarda até sua cela.

Se sentia podre, imunda...

Ela entrou na cela e a mesma logo foi trancada novamente. Madison correu para o canto se ajoelhando, e vomitou.

Ele um homem podre. A ânsia que ela tinha e a raiva, eram fruto de 5 anos de escravidão. E Madison ainda se submetia a fazer coisas desse tipo. Se sentia podre, suja com uma mancha que não seria tirada nem com muito esforço. Mas se não fizesse isso, ele faria com elas....

Elas...

- Madison? - a mulher ergueu o olhar ao escutara voz conhecida.

Sua garganta estava com o gosto horrível e ácido do acidente a pouco tempo atrás. Mas ela se virou vendo suas três vizinhas com um olhar preocupado para ela.

- Hancock! - respondeu Madison preocupada. Ela não havia visto as irmãs de manhã, e temia que algo tivesse ocorrido. - Vocês estão bem?

- Acho que sim. Melhor do que você. - disse Sandersonia preocupada por trás das grades da cela ao lado.

- Servimos desde ontem á noite. - explicou Marigold. - Só voltamos por agora.

- Estão com ferimentos muito graves? - perguntou Madison ainda preocupada. Eles não tinham piedade mesmo se elas não tivessem feito nada de errado.

- Nã.. - começou Hancock.

- Hancock está! - interrompeu Sandersonia. - ela foi nos defender e acabou levando chicotadas.

Madison cerrou os olhos para a mencionada, que desviou o olhar, e suspirou.

Elas não mereciam aquilo. Eram pequenas garotas que apenas haviam tido azar na vida e encontrado o lado mais merda do mundo. Haviam tido suas vidas, sua infância e inocência roubada num simples estalar de dedos.

- Venha aqui..- Madison chamou Hancock se aproximando da grade. - vire de costas, querida. - pediu gentilmente e a mais nova o fez.

Passando as mãos pelas grades, Madison viu os cortes recentes ainda sangrando. Ela posicionou as mãos nas costas de Hancock e sua aura saiu, envolvendo o machucado. Não era parte de sua akuma no mi, era um dom que veio de sua avó, do mesmo jeito que ver os mortos também era. Ver espiritos tinha seu lado bom ademais, Madison não via só esse. Tinha o lado ruim onde existia aqueles que não queriam passar paro o Véu, e atormentar o mundo dos vivos. Em casos como esses, Madison tinha que fazer um duplo esforço para ajudar.

- Não devia fazer isso, sabe das consequências. -  Madison repreendeu Hancock como uma irmã mais velha.

A de cabelos negros cerrou o punhos.

- Odeio homens! - Hancock respondeu - comentaram sobre você hoje. Disseram que mal podiam esperar para nós sermos as próximas, mas como você sempre é a escolhida e não resiste, eles estão felizes com você. - Madison arqueou as sobrancelhas espantada. - Você fez de novo, não fez? Você sempre faz... - disse com a voz embriagada. - Por que?

- Não posso deixar vocês irem no meu lugar. Em algum momento isso pode sair do meu controle, mais enquanto ainda posso impedir de ser a vez de vocês, eu irei fazer isso. - respondeu a mais velha firme. Sua aura se dissipou e ela viu o machucado. Havia parado de sangrar, porém ficara com  algumas cicatrizes. Madison deu um sorriso satisfeita.

- Isso não é justo com você! - disse Marigold exaltada.

- Não importa. - Madison suspirou. Iriam começar a discutir sobre isso de novo?

- Claro que importa! - Hancock se exaltou tentando levantar, mais foi impedida pela corrente. - Ai! Você sempre nos protege, Madison. Porque não podemos te proteger uma única vez?!

- Nã...

Madison foi interrompida por Tobias que apareceu ao seu lado.

- Chegou a hora

Gritos foram escutados. Gritos de terror e medo. Mas não eram dos escravos, eram dos próprios guardas. Barulhos de tiro invadiram o corredor e Madison se atentou levantando.

- Meninas, fiquem comigo. - disse.

- O que está acontecendo? - perguntou Sandersonia com medo.

Os gritos cessaram e foram seguidos por tombos de corpos caídos e  barulho de jaulas sendo abertas. Foram surpreendidas com a figura de um enorme homem-peixe vermelho abrindo suas celas brutalmente.

- SAIAM! - gritou jogando uma chave no chão e saiu rapidamente para socorrer os outros escravos.

Madison demorou um milissegundo para finalmente cair na real. Essa era a chace. Pegou a chave do chão e tirou a corrente em volta de seu pescoço.

- Vão meninas! - disse para as garotas que ainda estavam paralisadas no canto da cela. - Corram! - elas piscaram duas vezes e pegaram a chave da mão estendida de Madison.

- E você, Madison? - perguntou Hancock enquanto suas irmãs tiravam as correntes. - Vamos juntas, você pode morar na minha ilha!

Ambas estavam no corredor, agora livres, sem o peso das amarras em seus pescoços.

- Ei. - ergueu com delicadeza o rosto cabisbaixo da mais nova. - Nos encontramos depois, pode ser? - perguntou Madison. - tenho que acertar as contas com alguém.

Madison, que já ia se virando para seguir o caminho para o quarto de Saint Charloss, foi surpreendida com um abraço triplo das irmãs. Ela arfou surpresa pelo ato repentino, mas vendo os rostos e ouvindo os choros engasgados nas suas gargantas, seus olhos lacrimejaram e seus braços foram retribuir o abraço.

Ela amava as pequenas. Mais do que gostara de admitir.

- Meninas...- ela disse com dificuldade. - Me prometam que vão viver suas vidas sem medo. Não deixe o que aconteceu aqui nesses últimos anos, defina seu futuro. A vida passa num piscar de olhos, não deixem de aproveita-lá. Sejam livres, vocês são livres para decidir seus próprios destinos, não permitam que os outros falem o contrário. Lutem, sejam fortes, eu sei que vocês conseguem. Hancock. - chamou a pequena que a encarou chorosa. - Cuide, além de suas irmãs, de você. Pode ser? - Ela concordou balançando a cabeça. Madison se afastou do abraço. - Vão! E não olhem para trás até que estejam seguras!

Elas saíram correndo no vasto corredor até desaparecerem da visão de Madison. A mulher enxugou as lágrimas e a mudança de expressão foi algo drástico.

Madison caminhava com passos firmes, seus olhos queimando com uma fúria contida. Ela nunca havia sido uma pessoa violenta, sempre buscando resolver conflitos com palavras e compaixão. Mas durante todos esses anos, Saint Charloss havia tirado tudo dela.

O resto de sua inocência, sua juventude, sua liberdade....

- Madison, para onde você está indo? - a voz preocupada de Tobias se fez presente ao lado dela.

Ele havia tirado Tobias dela.

Estava contra o que sua vó dizia. Mas se mexiam com as pessoas as quais ela amava, despertava o diabo no próprio inferno. Seu coração batia forte, seu pulso acelerado. Ela podia sentir a raiva e a dor se acumulando dentro dela, como uma tempestade prestes a explodir.

Madison lembrava-se do sorriso de Tobias quando vivo. Lembrava-se da forma como Saint Charloss o havia destruído, sem piedade ou remorso. Seu corpo estava em fúria. Talvez fosse o poder da sua akuma no mi percorrendo pelo seu corpo depois de cinco anos.

Não. Não era isso....

Era a simples ansiedade pelo gosto da vingança.

Não...

Vingança, não.

Justiça!

Parou em frente da porta do quarto. Um dos guardas a encarou.

- O que você está fazendo..

Ele nunca terminou. As asas de Madison foram mais rápidas e ela as fez ficarem rígidas e afiadas o suficiente para cortarem em um instante a garganta dos dois guardas ali presentes.

Que passassem em paz para o Véu e não a importunassem. Foi isso que Madison pensou.

- Mad. - o apelido carinhoso foi chamado por Tobias. - Você não precisa fazer isso...

- Eu....eu preciso. - Madison disse olhando o rosto do menino. Aquele rosto com cabelos ruivos e sardas por toda a parte a encaravam com preocupação. - Ele te fez sofrer, Tobi...

Tobias sabia que não adiantava retrucar. Madison era teimosa demais para voltar atrás naquele ponto. Mas ele se preocupava. Mesmo que ela falasse que estava tudo bem, ele sabia que por dentro ela já estava na beira do penhasco.

Esse era o defeito dela. Nunca querendo preocupar ninguém, mais sempre se preocupando com os outros.

Deixou seu decote mais profundo e escondeu suas asas abrindo a porta devagar e em seguida fechando a mesma atrás de si ao entrar. Saint Charloss estava deitado em sua cama com o pijama e o capacete transparente.

- Quem é que está me int....Madison. - ele começou a reclamar mais logo viu a bela mulher em sua frente.

- Me falaram que o senhor me chamou - ela respondeu sorrindo docemente.

Um sorriso falso. Uma máscara por trás de toda a angústia e ódio.

______________________________________

𝔑𝔬𝔱𝔞𝔰 𝔡𝔞 𝔄𝔲𝔱𝔬𝔯𝔞

Obrigada por ler até aqui. Não se esqueça de votar e comentar o que acharam💜

Nesse primeiro capítulo eu queria trazer um pouco da Madison quando estava nos anos de terror da vida dela.  Para vocês entenderem um pouco.

Reescrevi esse capítulo inteiro para postar novamente kskkkkkkk

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top