17.

KIM TAEHYUNG
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FINALMENTE CONSEGUIMOS ENTRAR, movendo-nos pelos corredores estreitos e sombrios do laboratório. Cada passo ecoava, aumentando a tensão no ar. O cheiro de produtos químicos, mofo e sangue era nauseante, poderia fazer qualquer vampiro sem controle ceder a tentação.

— Eu posso os escutar... — Eunwoo pronunciou, baixo. — Me sigam.

Aos comandos dele, encontramos a sala onde Jennie estava sendo mantida. A visão que me recebeu fez meu sangue ferver. Jennie estava presa, lutando desesperadamente enquanto Hyunjin se preparava para a transformar em uma de nós.

— Largue-a! — gritei, avançando com uma velocidade sobrenatural. Num instante, me lancei sobre Hyunjin, derrubando-o antes que ele pudesse reagir. Meus irmãos deram cobertura, enquanto Morgan, Christopher e Seraphine tentavam quebrar a corrente de Jennie, sendo impedidos por um enxame de vampiros.

A luta era extremamente intensa, visto o descontrole e busca por sangue dos recém criados. Eles utilizavam de força bruta, desconhecendo porém das habilidades que nós tínhamos, o que balanceava nossa situação. Jimin e Seraphine lutavam com tanta ferocidade que era de se apreciar. Era como se estivessem habituados a fazer aquilo.

— Desista, Taehyung. — Hyunjin pronunciou, sádico. — Já é tarde de mais.

Ele saiu de nossa frente, revelando em nosso campo de visão minha Jennie.

Mas havia algo de errado.

Seu pescoço...

— Não!

A visão de minha bruxinha em agonia me despedaçava por dentro. Mas não havia tempo para o desespero. Hyunjin tinha que ser detido. Com um rugido de raiva, me lancei sobre ele novamente, determinado a acabar com isso de uma vez por todas.

— Você vai pagar por isso, Hyunjin! - gritei, minhas mãos apertando seu pescoço enquanto ele se debatia.

A luta foi feroz. Cada golpe era um reflexo da minha dor e raiva, enquanto eu o jogava para longe, tentando fazer com que ele sentisse tudo aquilo que ele a causou, toda dor, todo sofrimento que ele fez a minha menina passar. Eu nunca deixaria barato. Aquilo seria uma lembrança de seu próprio veneno.

Hyunjin tentou resistir, mas minha determinação era inabalável. Eu o esmaguei contra a parede, ouvindo o som de ossos quebrando. Ele tentou se libertar, mas meus golpes eram rápidos e precisos, guiados pelo desespero e pela necessidade de proteger todos aqueles que perderam sua vida para aquele homem.

Enquanto lutávamos, pude ouvir os sons de batalha ao nosso redor. Meus irmãos e aliados estavam enfrentando os vampiros recém-criados, garantindo que nenhum deles chegasse perto de Jennie.

Com um último golpe poderoso, derrubei Hyunjin no chão. Ele estava fraco, mas ainda tentou se levantar, um sorriso cruel nos lábios.

— Você acha que pode me derrotar, Taehyung? — ele zombou. — É tarde demais. Jennie e Yuna já são minhas.

— Não! — gritei, minhas mãos se fechando em torno do seu pescoço. — Elas nunca serão suas!

Com um grito de fúria, consegui o imobilizar e torci seu pescoço com toda a força que tinha, finalmente silenciando seu riso cruel. Hyunjin caiu, morto, seu corpo se desfazendo em pó diante dos meus olhos enquanto Hoseok e Jimin corriam para o atear em fogo, cessando a dor daqueles ali.

Lalisa e Nayeon, porém, haviam fugido.

Olhei ao redor, vendo que a batalha estava chegando ao fim. Meus irmãos haviam derrotado os vampiros recém-criados, e agora corriam para Jennie. Eu me aproximei, sentindo a dor e o desespero dentro de mim. Morgan e Christopher já haviam conseguido libertá-la das correntes. Seus olhos encontraram os meus, e a dor neles era insuportável.

— Minha princesa, estou aqui. Vamos sair daqui, eu prometo.

Segurei sua mão, sentindo-a fria e tremendo. Uma garota junto a uma criança se aproximou correndo, mas já era tarde de mais. Seu corpo fraco caiu ao chão, a mesma mordida de Jennie em seu pescoço.

— Jen... — Ela murmurou, gritando em dor em seguida. A criança não conseguia parar de chorar.

—  Vamos tirá-las daqui! — ordenei, pegando Jennie nos braços enquanto Seraphine fazia o mesmo com a garota e Seokjin com a criança. — Precisamos encontrar um lugar seguro onde possam passar pela transformação.

Jimin, Eunwoo e os outros abriram caminho enquanto saíamos do local, seguidos de um enxame de prisioneiros que agora estavam livres.

A escuridão do laboratório ficou para trás enquanto corríamos pela noite. Jennie estava nos meus braços, e eu não deixaria nada acontecer a ela. Não importava o que viesse a seguir, enfrentaria tudo para mantê-la segura.

— Vamos levá-las para casa — disse Morgan, sua voz firme. — Elas precisam de um lugar seguro para se recuperar.

Concordei, sabendo que a jornada estava longe de acabar. Mas com Jennie ao meu lado, eu enfrentaria qualquer coisa.

A batalha estava vencida, mas a luta pelas injustiças apenas começando.

JENNIE VATORE-MIKAELSON
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A escuridão invadiu meus olhos mais fortemente que antes. Como uma cegueira, firme e rápida. Cobrindo não apenas os meus olhos, mas a mim completamente, com um peso esmagador. Era cansativo lutar contra aquilo. Eu sabia que seria fácil demais me render. Deixar a escuridão me esmagar, me levar pra um lugar onde não haveria dor, cansaço, preocupações ou medo.

Se fosse apenas eu, eu não seria capaz de resistir por muito tempo. Eu era apenas humana, com nada mais que força humana. Eu vinha tentando lidar com o sobrenatural há muito tempo, como Yuna disse.

Mas não era apenas eu.

Se eu tivesse feito a coisa mais fácil agora, deixado o vazio negro me extinguir, eu os machucaria.

Taehyung. Meu Taehyung. A minha vida e a dele se tornaram uma coisa só. Acabe com um, e então, os dois acabam. Se ele tivesse ido embora, eu não seria capaz de sobreviver. Se eu tivesse ido, ele não sobreviveria, também. Um mundo sem Taehyung era completamente vazio.

Eu continuava me empurrando pela escuridão, embora quase num reflexo, eu não estivesse tentando levantá-lo. Eu estava apenas resistindo. Não permitindo que ele me esmagasse completamente. Eu não era um Atlas, e a escuridão parecia pesada como um planeta; eu não conseguia carregá-la. Tudo o que eu podia era não ser completamente envolvida.

Era como um modelo pra minha vida - eu nunca fui forte pra lidar com coisas fora do meu controle, atacar inimigos ou fugir deles. Evitar a dor. Sempre uma Mikaelson, sempre uma bruxa que possuía duas simples tarefas. Suportar. Sobreviver.

Tinha sido o suficiente até esse momento. Teria que ser o suficiente hoje. Eu suportaria até que a ajuda chegasse.
Eu sabia que Taehyung estaria fazendo tudo o que ele podia. Ele não desistiria. Nem eu.

Eu tinha domado a escuridão da não-existência por centímetros.

Não era o suficiente - aquela determinação. Enquanto o tempo passava, a escuridão retomava o poder, eu precisava tirar forças de alguma coisa.

Eu não podia sequer imaginar o rosto de Taehyung. nem de Eunwoo, Jungkook, Yoongi, Bangchan ou tia Morgan, Seokjin ou Seraphine.. nada. Isso me horrorizou, e eu me perguntei se era tarde demais.

Eu senti que estava escorregando - não havia nada a que eu pudesse me agarrar.

Não! Eu tinha que sobreviver a isso. Taehyung dependia de mim. Yuna. Bangchan, Kook, Jimin, tia Morgan, Hannah...

Mamãe...

Estava cada vez mais quente.

Desconfortável agora. Muito quente. Muito, muito quente.
Como pegar no lado errado de um ferro de passar - minha reposta automética foi tentar tirar aquilo de cima de mim. Mas não havia nada em cima de mim. Meus braços não estavam apoiados no meu peito. Meus braços eram coisas mortas, jogadas em algum lugar ao meu lado. A quentura estava dentro de mim.

A queimação aumentou - aumentava ao máximo e depois aumentava mais até que ultrapassasse pra algo que eu nunca, jamais senti.

Eu senti a pulsação do fogo crescente no meu peito e eu vi que havia encontrado meu coração de novo, no momento em que eu desejava jamais tê-lo feito. Desejava que eu tivesse abraçado a escuridão enquanto eu tive a chance. Eu queria levantar meus braços e abrir o meu peito e tirar meu coração de lá - qualquer coisa pra parar com essa tortura. Mas eu não sentia os meus braços, não podia mover sequer um dedo.

Hyunjin, quebrando a minha alma com todos os seus experimentos. Não era nada. Aquilo foi como dormir numa cama de penas. Eu preferia aquilo, cem vezes. Cem vezes. E ainda seria grata pela pouca dor.

O fogo ficava mais quente e eu queria gritar. Implorar pra que alguém me matasse agora, antes que eu vivesse mais um segundo naquele sofrimento. mas eu não conseguia mover meus lábios. O peso ainda estava ali, me esmagando.

Eu percebi que não era mais a escuridão pesando; era o meu corpo. Muito pesado. Me consumindo em chamas que se diriam pro meu coração agora, espalhando uma enorme dor nos meus ombros e estômago, escolhendo seu caminho pela minha garganta, indo pro meu rosto.

Por que eu não conseguia me mover? Por que eu não conseguia gritar? Isso não fazia parte das histórias.

Minha mente estava insuportavelmente clara - possibilitada pela dor feroz - eu vi que as respostas chegavam quase ao mesmo tempo em que formulei as perguntas.

Parte da transformação.

Eu sabia das histórias. Eu sabia que Seokjin teve que ficar quieto o bastante pra evitar ser descoberto enquanto ele queimava. Eu sabia que, de acordo com Jungkook, não melhorava gritar. Eu esperava conseguir ser como Seokjin. Que eu pudesse acreditar nas palavras de Jungkook e manter a minha boca fechada. Porque eu sabia que cada grito que saísse da minha boca iria matar Taehyung.

E, por um espaço de infinito, aquilo era tudo. Só a intensa tortura, meus grunhidos inaudíveis, implorando pra que a morte viesse. Nada mais, nem mesmo tempo. E aquilo era infinito, sem apelações e sem fim. Um momento infinito de dor.

Pode ter durado segundos ou dias, semanas ou meses, mas eventualmente, o tempo parecia dizer algo de novo.

Duas coisas aconteceram juntas, crescendo individualmente de modo que eu não soubesse o que tinha vindo primeiro: o tempo voltou, e eu fiquei mais forte.

Eu podia sentir o controle do meu corpo voltando pra mim com incrementos, e esses incrementos eram o que faziam o tempo passar. Eu sabia disso quando eu fui capaz de mexer meus dedos do pé e fechar as mãos. Eu sabia disso, mas não fiz. Embora o fogo não tivesse diminuído sequer um grau - na verdade, eu comecei a desenvolver uma nova capacidade de tolerar isso, uma sensibilidade em apreciar, separadamente, cada gota de fogo que corria pelas minhas veias - eu descobri que podia pensar naquilo.

Eu podia lembrar porque eu não devia ter gritado. Eu podia lembrar porque eu me comprometi a suportar a insuportável agonia. Eu podia lembrar que, embora isso parecesse impossível agora, havia algo que valeria a pena a tortura.

Isso aconteceu na hora certa pra mim, quando o peso deixou o meu corpo. Pra qualquer um que estivesse me vendo, não haveria nenhuma mudança. Mas pra mim, que lutei pra manter os gritos e dores dentro de mim, onde eles não magoariam ninguém, pareceu que eu tinha me liertado da estaca a qual eu estava amarrada e queimando, me agarrei àquela estaca pra me suportar naquela chama.

Eu tinha força suficiente pra ficar deitada ali imóvel enquanto a vida queimava em mim.

Minha audição foi ficando cada vaz mais clara, e eu poderia contar as batidas frenéticas do meu coração, pra marcar o tempo.

Eu poderia contar as respirações que ofeguei pelos meus dentes.

Eu poderia contar os ruídos, até mesmo respirações que vinham de algum lugar perto de mim. Elas se moviam devagar, então eu me concentrei neles. Eles ficam a maior parte do tempo passando. Mais até que o pêndulo de um relógio, aquelas respirações me ajudaram a superar a queimação até o fim.

Eu continuava a ficar forte, meus pensamentos mais claros. Quando nossos sons apareciam, eu podia escutar.

Havia passos, o sopro do vento quando uma porta se abria. Os passos foram ficando mais perto, e eu senti a pressão contra o meu pulso. Eu podia sentir o dedos gélidos. O fogo apagou todas as memórias do frio.

— Ainda não acordou?

— Não.

A suave pressão, respirando contra minha pele incandescente.

— Jennie? Você pode me ouvir?

Eu sabia, acima de qualquer dúvida, que se eu abrisse a minha boca, eu perderia - eu grunhiria e gritaria e me contorceria e debateria. Se eu abrisse meus olhos, se eu movesse sequer um dedo - qualquer mudança ficaria fora do meu controle.

- Jennie? Jennie, amor? Você pode abrir seus olhos? Você pode apertar a minha mão?

Pressão nos meus dedos. Era difícil não responder a voz, mas eu continuei paralisada. Eu sabia que a dor em sua voz não era nada comparada ao que ele poderia vir a sentir. Naquele momento tudo o que ele temia era que eu estivesse sofrendo.

— Talvez... Seokjin, talvez seja tarde demais. — As voz dele amorteceu; e se quebrou na palavra tarde.

Minha decisão enfraqueceu-se por um instante.

— Ouça o coração dela, Taehyung. Está mais forte que o de Namjoon jamais esteve. Eu nunca ouvi nada tão vital. Ela vai ficar bem.

— Mas ela está tão quieta. Eu devo ter feito algo errado.

— Fez algo certo, Taehyung. Filho, você fez tudo o que eu poderia ter feito e mais. Eu não sei se seria tão persistente, a fé que você teve. Pare de se culpar. Jennie vai ficar bem.

Um leve toque na parte de dentro do meu braço. Outro suspiro. — Jennie, eu te amo. Jennie, me desculpe.

Eu queria muito respondê-lo, mas eu não faria a dor dele piorar. Não enquanto eu tivesse força pra me manter imóvel.

Nisso tudo, o torturante fogo continuou me queimando. Mas havia muito mais espaço na minha cabeça agora. Espaço pra refletir sobre a conversa deles, pra lembrar do que aconteceu, pra pensar no futuro, e com espaço de sobra pra sofrer.

Também, espaço pra preocupação.

Onde estava Yuna? Por que ela não estava aqui? Por que eles não estavam falando sobre ela?

— Eu imagino o que ela vai pensar quando acordar. Como vai reagir com a notícia. — Seokjin disse, finalmente, antes de sair.

Notícia?

Eu voltei a contar as respirações de Taehyung pra contar o tempo.

Dez mil, novecentos e quarenta e nove respiradas depois, um diferente conjunto de passos percorreu a sala. Mais claras. Mais... ritmadas.

Estranho que eu pudesse diferenciar as diferenças entre os passos que eu nunca fui capaz de ouvir antes de hoje.

— Quanto tempo mais?

— Não vai demorar muito agora — Jungkook disse a ele.

Eu só queria acordar.

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