𝕮𝖆𝖕 7
Cap 7: Novo clareando
A manhã começou como qualquer outra na Clareira. Minho, Ben e Lívia estavam reunidos perto da saída, preparando-se para mais um dia de exploração no labirinto. O clima era tranquilo, até que um som metálico familiar quebrou o silêncio: o barulho da caixa subindo. Lívia parou o que estava fazendo, os olhos imediatamente se voltando para a plataforma central.
Sem hesitar, ela e os dois rapazes correram até o local. Ao chegar, encontraram um grupo de clareanos já reunido em volta da estrutura, a atenção de todos focada na caixa que subia lentamente. Lívia sentiu um arrepio percorrer sua espinha — era estranho pensar que já havia passado um mês desde que ela mesma havia chegado ali daquela maneira.
Newt aproximou-se, parando ao lado dela. Ele estendeu a mão, segurando a dela com firmeza. Lívia olhou de relance para ele, sentindo um misto de conforto e apreensão, mas antes que pudesse dizer algo, o som da caixa chegando ao topo chamou sua atenção. A tampa se abriu com um rangido, revelando um novo clareano.
Era um garoto, talvez um ou dois anos mais velho que ela. Seu rosto estava tomado por confusão e medo, expressões que todos ali conheciam bem. Ele parecia paralisado, seus olhos varrendo o ambiente como se buscassem uma explicação impossível.
Gally não perdeu tempo e, com a confiança de sempre, entrou na caixa para ajudá-lo a sair. Mas assim que os pés do novato tocaram o chão da Clareira, ele deu um passo em falso para trás e, como um animal encurralado, começou a correr.
— Olha só, parece que temos um corredor! — disse Ben, rindo.
Lívia, ignorando o comentário, empurrou alguns garotos que estavam bloqueando sua visão e começou a correr atrás do novato. Ele disparou em direção aos portões do labirinto, mas, no meio do caminho, tropeçou e escorregou, caindo de joelhos na terra e deslizando. O som das risadas ecoou pela Clareira.
Lívia se aproximou rapidamente, ajoelhando-se ao lado dele.
— Você está bem? — perguntou ela, tentando transmitir calma.
O garoto ergueu o rosto, a respiração ofegante, e murmurou:
— Onde eu tô?
Antes que Lívia pudesse responder, Gally e mais alguns clareanos alcançaram o novato. Eles o levantaram e o colocaram no "amassador", um improvisado cercado de madeira, aparentemente projetado para manter os clareando em forma de castigo.
— Que garoto esquisito — comentou Ben ao lado de Lívia.
Ela lançou um olhar irritado para ele.
— Ele só está assustado — respondeu, cruzando os braços.
— E por que ele correria quase até o labirinto? — perguntou um dos garotos próximos.
Lívia revirou os olhos, sem paciência.
— E você acha que eu sei? Agora vai voltar a fazer o que estava fazendo. — Ela o empurrou levemente antes de se virar e caminhar em direção a Newt, que observava a cena de longe.
— Será que vão deixá-lo lá por muito tempo? — perguntou Lívia, parando ao lado de Newt.
— Não. Alby disse que é só até ele se acalmar. Ele vai conversar com o novato logo. — Newt deu de ombros.
Lívia olhou na direção do amassador e suspirou.
— Ele daria um ótimo corredor.
Newt arqueou uma sobrancelha, olhando para ela com um leve sorriso.
— Você sabe que eu não gosto dessa ideia de você ser uma corredora, não é?
Lívia virou-se para ele, erguendo uma sobrancelha desafiadora.
— E eu não preciso da sua aprovação. — O tom brincalhão em sua voz fez Newt rir baixo. — Vem, vamos conhecer o novato. Parece que Alby já tirou ele da "toca".
Ela pegou a mão de Newt, puxando-o em direção ao garoto e Alby, que estavam parados próximos à caixa. O novato ainda parecia confuso, mas menos assustado.
— Oi, tudo bem aí, Alby? — perguntou Newt, ao se aproximar.
Alby assentiu e apontou para Lívia e Newt.
— Novato, esse é o Newt e essa é a Lívia.
Lívia sorriu e, inclinando-se levemente para o garoto, disse:
— E aí, corre bem, hein?
O garoto a olhou, claramente mais perdido do que nunca. Alby continuou:
— Quando eu não estou por perto, o Newt é quem comanda.
Newt soltou um riso curto.
— Mas você está sempre por perto. — Ele olhou para o novato com um ar avaliador. — Mas a Lívia tem razão, você deu uma bela corrida hoje cedo. Por um segundo, achei que tivesse jeito para ser um corredor. Até que caiu de cara.
Lívia não conseguiu conter uma risada baixa, tapando a boca para disfarçar.
— Ah, mas ele tem talento — disse ela, tentando consolar o novato.
— Talento para cair — completou Newt, com um sorriso malicioso.
O novato franziu a testa, confuso.
— Pera aí... corredor?
Alby ignorou a pergunta e virou-se para Newt.
— Newt, faz um favor. Vai achar o Chuck.
Newt assentiu e começou a se afastar, mas Lívia deu um passo para trás.
— Eu também vou indo. Minho e Ben já devem estar se preparando para o labirinto. — Ela lançou um último olhar ao novato antes de se virar e seguir seu caminho.
[...]
O grupo retornava do labirinto em silêncio, os corpos exaustos e suados após um dia de trabalho intenso. Lívia caminhava ao lado de Minho e Ben, aproveitando o frescor do ar antes de chegarem às tendas. No caminho, avistaram Chuck com o novato, que parecia um pouco menos confuso, mas ainda desajeitado, enquanto andava pelo local.
— E aí, Chuck, fedelho novo? Gostou de ser promovido? — brincou Ben, com um sorriso malicioso.
Lívia soltou uma risada baixa, balançando a cabeça em descrença. Ela deu um leve tapa no braço de Ben antes de voltar a correr ao lado dos dois, direcionando-se para a tenda para se recompor.
Ao chegar, ela agarrou uma garrafa de água e tomou alguns goles grandes, sentindo o alívio imediato do líquido frio descendo pela garganta. Sentou-se em um canto, passando a mão pela testa suada enquanto tentava controlar a respiração.
— Olha, já volto. Vou ver umas coisas com o Alby — disse Minho, pegando um pano para secar o rosto antes de sair apressado.
— Beleza — respondeu Lívia, sem muito ânimo, vendo-o desaparecer pela entrada da tenda.
Agora, restavam apenas ela e Ben no espaço, o silêncio entre os dois sendo quebrado apenas pelos sons distantes da Clareira. Até que Ben, casual como sempre, decidiu soltar uma pergunta inesperada:
— Mano, o Gally tá afim de você?
Lívia virou-se para ele, incrédula e visivelmente confusa.
— O quê?
Ben riu da expressão dela, inclinando-se ligeiramente para frente.
— Perguntei se o Gally tá afim de você.
— É... bem... eu não sei. Acho que não. Por que do nada essa pergunta? — respondeu, tentando entender a lógica de Ben.
Ele deu de ombros, mas o sorriso no rosto entregava suas intenções.
— Então o caminho está livre?
— Que caminho, Ben? — perguntou ela, com a voz carregada de desconfiança.
— Você, ué. Então você está livre?
Lívia hesitou antes de responder, o desconforto evidente em sua voz.
— É... acho que sim... mas eu tô de boa.
Ben deu uma risada curta, aproximando-se um pouco mais.
— Tudo bem, quando quiser se divertir um pouco, é só me falar, ok?
A proximidade repentina fez Lívia recuar ligeiramente, mas antes que ela pudesse dizer qualquer coisa, uma voz interrompeu o momento.
— Newt? — chamou Lívia, virando-se para a entrada da tenda. Lá estava ele, parado, os braços cruzados e o olhar sério fixo nos dois. O ambiente pareceu esfriar instantaneamente.
— Até depois, Liv — disse Ben, com um sorriso provocador, antes de sair calmamente da tenda, passando por Newt como se nada tivesse acontecido.
Newt permaneceu imóvel por um momento antes de entrar.
— Atrapalhei? — perguntou ele, o tom de voz carregado de algo que Lívia não conseguia identificar totalmente, mas que parecia ser irritação.
— Não, só estávamos descansando — respondeu ela, tentando manter a naturalidade.
— Tudo bem, você não me deve satisfação mesmo.
Lívia estreitou os olhos, confusa com a mudança de atitude.
— Do que está falando?
Newt deu um passo à frente, cruzando os braços.
— De você e do Ben quase se pegando aqui antes de eu chegar.
— O quê? Claro que não, Newt... — começou ela, mas foi interrompida.
— Como eu disse, você não me deve explicação — cortou ele, a voz firme.
Lívia sentiu a raiva crescendo dentro de si. Era frustrante que ele tirasse conclusões sem sequer ouvi-la. Ela abriu a boca para responder, mas foi interrompida por gritos vindos de perto dos portões.
Ambos se viraram imediatamente, esquecendo a discussão. Eles saíram da tenda e correram em direção ao tumulto, onde uma pequena multidão havia se formado. No centro, o novato estava se levantando do chão, claramente irritado, enquanto Gally o empurrava com força.
— O que tá acontecendo? — perguntou Lívia, forçando-se para passar pela multidão.
— Qual é o problema de vocês? — gritou o novato, os olhos inflamados de raiva.
— É só ficar calmo, tá? — disse Newt, tentando manter a paz.
— Não! Tá bem? Por que não me dizem o que tem lá? — respondeu o novato, apontando para o labirinto, os gestos agitados.
— Estamos tentando te proteger — explicou Alby, a voz firme.
— É para o seu próprio bem — completou Newt.
— Fica calmo, beleza? — interveio Lívia, tentando acalmá-lo também.
— Não podem me prender aqui! — gritou o novato, cada vez mais exaltado.
— Não posso te deixar ir — respondeu Alby, sério.
— Por quê não? — retrucou o novato.
Antes que alguém pudesse responder, o som sinistro dos verdugos começou a ecoar. Todos se viraram para os portões, o medo estampado nos rostos, mas antes que qualquer coisa surgisse, os portões se fecharam com um estrondo. O silêncio voltou, pesado.
— Da próxima vez, eu vou deixar você ir — murmurou Gally, lançando um último olhar para o novato antes de se afastar, visivelmente irritado.
Enquanto os clareanos começavam a dispersar, Lívia permaneceu ali, observando o novato. Ele ainda parecia abalado, a respiração pesada.
— Ei, fica frio, beleza? É assim que funciona a Clareira — disse ela, tentando soar tranquilizadora antes de se virar e caminhar de volta para a tenda.
Continua...
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