|4| Burburinhos e fofocas

Oie, meus anjos!! Cheguei para trazer mais um capítulo dessa fic delicinha que estou escrevendo. A última vez que vi estávamos com 30 votos! MUITO OBRIGADAAAA SEUS LINDOS!!! Pode não parecer muito mais eu não sou uma escritora famosa, então..

E para quem tava pedindo capítulos maiores, se preparem, esse tem mais de 6000 palavras!!!

Tia Jade ama vcs <3

Fiquem com o capítulo!!

[...]

<3

EU mal tinha saído do carro quando percebi que o assunto de todos era a cena do refeitório de ontem. A sensação de culpa ainda me atingia como um soco sempre que lembrava da expressão irritada de Zarah e daquela lágrima solitária rolando pelo seu rosto. Eu quase não consegui dormir por causa disso.

E não acho que fosse o único sentindo-se culpado. Meus amigos estavam estranhamente quietos, trocando olhares uns com os outros, mas ninguém falava. Nem mesmo Ray, com sua energia contagiante e seu jeito de descontrair qualquer clima, parecia disposto a quebrar o silêncio. Talvez fosse por ele estar mais afetado do que os outros, já que Karine era sua prima.

— E aí, pessoal. — Falei, sem muita animação, e recebi apenas acenos de cabeça. O clima estava claramente tenso.

— Nossa, vocês estão péssimos. Quem morreu? — Zander apareceu, sempre com seu sorriso de lado, fazendo piada, como de costume.

— Ninguém, ainda. — Clara respondeu, com uma raiva evidente.

Zander levantou as mãos em defesa e deu um pequeno passo para trás.

— Nossa. — Ele observou todos nós, e seu sorriso desapareceu aos poucos. — Sério, o que aconteceu?

— Uma situação horrível! — Ray bagunçou os próprios cabelos.

Então, comecei a contar o que aconteceu, desde o momento em que chegamos no refeitório até a saída de Zarah do colégio. Zander franzia a testa a cada detalhe que eu compartilhava, até que terminei, omitindo o momento da lágrima. Acredito que Zarah não gostaria que as pessoas soubessem disso.

— Por que essas coisas só acontecem quando eu falto? — Zander exclamou, indignado por não ter presenciado o caos de ontem. — Queria ter visto a cara dela.

Fui direto com meu olhar.

Todos na roda nos encararam.

— Você acha que isso é engraçado, imbecil? — Clara se intrometeu, visivelmente irritada. — A garota foi humilhada por nada, seu babaca!

— Clarinha, calma... — Noah tentou intervir, tentando amenizar a situação.

— Calma, uma porra! — Ela se desvencilhou de Tanner, agarrou Zander pela blusa com força, e o sacudiu. — Eu deveria humilhar você da mesma forma, que tal? Depois você me conta como é.

— Clara, pelo amor de Deus, você está só chamando mais atenção para o ocorrido. — Sadie a segurou pelo braço, tentando transmitir sua mensagem com um olhar firme.

Clara bufou, soltou Zander e, com um olhar ameaçador, encarou os outros alunos que estavam nos observando.

— Certo, me desculpem. — Ela não soava convincente. Nenhum de nós realmente acreditou nela.

Sadie e Noah a olhavam com uma expressão de desaprovação, como se esperassem mais de Clara. Ela rolou os olhos e suspirou.

— Certo... — ela repetiu, irritada. — Meu comentário foi infeliz, e eu escolhi a pior hora para fazê-lo.

— O meu comentário também não foi em uma boa hora... — Zander admitiu, com um tom mais sério do que o habitual.

— Ah, você acha? — Stella retrucou, com sarcasmo na voz.

— Chega. — Eu interrompi, tentando evitar uma nova briga. — Vamos para a sala antes que todo mundo vire um fofoqueiro de plantão.

Com isso, dei as costas e entrei no prédio, indo direto para o meu armário. Podia sentir os olhares pesando nas minhas costas e ouvir os murmúrios ao meu redor enquanto pegava o material para as primeiras aulas.

Quando fechei o armário e me virei, parecia que todos haviam parado o que estavam fazendo para olhar Zarah cruzando o corredor com a cabeça erguida até o armário dela, a apenas cinco portas do meu.

O silêncio era palpável, e os alunos observavam a Green Hill enquanto ela mexia em seu armário.

Ray colocou a mão no meu ombro e me lançou um olhar tenso, antes de seguir até ela.

— Zarah. — Ray disse, quase dando um salto quando Zarah fechou seu armário com força. O olhar que ela lançou para ele fez até eu engolir em seco. — Eu... eu queria me desculpar pelo que Karine fez. O que ela fez foi horrível e...

— Não quero suas desculpas. — Ela o interrompeu, com a voz grave e carregada de raiva. — Só quero que me deixem em paz.

Ela me olhou por um instante, e depois virou as costas para Ray, subindo as escadas com passos firmes. O silêncio no corredor só se quebrou quando ela desapareceu de vista.

Naomi foi até Ray e o abraçou, e a mudança no semblante dele foi quase instantânea, como se aquele simples gesto tivesse o renovado. Me aproximei e baguncei os cabelos dele, tentando confortá-lo, para que não se sentisse tão culpado.

— Pessoal, eu preciso fazer algo antes da aula. — Stella disse apressada, com um olhar sério. — Nos vemos na sala.

Ela saiu rapidamente pelo corredor, parecendo determinada. Olhei para Noah, e ele apenas deu de ombros. O sinal soou, e todos seguimos para a sala.

Ao entrarmos, os cochichos ainda eram audíveis, e os olhares fixos em Zarah faziam a atmosfera dentro da sala ser quase insuportável. Mas ela parecia alheia a tudo, ou, ao menos, não parecia se importar.

Quando todos se acomodaram, Stella entrou acompanhada do professor Jackson de química, com a professora Madelyn de física logo atrás. Eu franzi a testa ao notar o sorrisinho de Stella enquanto ela se dirigia ao seu lugar, parando na frente de Ray e bagunçando seus cabelos, dizendo em um tom baixo:

— Não precisa mais se culpar, já cuidei de tudo.

Olhei para Noah, e ele estava tão confuso quanto eu. Então, olhei para James, e percebi que ele também estava sem entender. Quando nossos olhos se encontraram, ele olhou para Sadie, que parecia ter compreendido o que estava acontecendo quando viu o olhar de Stella para Madelyn.

Foi aí que a ficha caiu.

Além de ser professora de física, Madelyn também era coordenadora das líderes de torcida. E se ela estava ali com Stella, isso significava que ela já sabia de tudo sobre o ocorrido com Karine, Cloe e Lilith.

— Bom dia, alunos. — A voz grave do professor Jackson nos trouxe de volta ao momento. Todos nos levantaram, reverenciando o professor como era de costume, e logo nos sentamos.

— Antes de começarmos, a professora Madelyn tem algo importante a comunicar, então prestem atenção. — Ele deu um passo para trás, e Madelyn assumiu a frente.

— Como todos sabem, sou coordenadora das líderes de torcida desta escola. E sempre deixei claro que, além de esforço e boas notas, esperamos também respeito de todas as integrantes.

Madelyn olhou para todos na sala, fazendo um silêncio pesado tomar conta do ambiente.

— Depois de tomar conhecimento de um evento ocorrido ontem, fiquei profundamente chocada e envergonhada. E, após conversar com o diretor, decidimos as devidas punições.  — Ela deu um passo à frente e, com um olhar firme, apontou diretamente para Karine. — Karine Banks, Cloe Mackenzie e Lilith Milo, vocês estão oficialmente expulsas do time de líderes de torcida.

Não pude segurar a gargalhada. O olhar de choque nas três era impagável.

— Sr. Connor, por favor, contenha-se. — O professor Jackson me repreendeu.

— Desculpa, professor. — Eu falei, tentando disfarçar a risada, enquanto mordia o lábio para me acalmar.

Karine me encarou com os olhos queimando de raiva.

— Com a saída delas, abriremos vagas para novas candidatas, e o teste será na próxima sexta-feira. Quem se interessar, pode se inscrever até segunda-feira. O comunicado oficial será entregue aos representantes de turmas.

— Espera! — Karine se levantou, desesperada. — Professora, você não pode fazer isso! Ser líder de torcida é o meu sonho desde que entrei aqui! Eu me preparei o ano inteiro para isso.

— Lamento, Karine, mas suas atitudes são inaceitáveis para quem ocupa uma posição como essa. Se tivesse pensado nisso antes de humilhar outro aluno.

Ou aluna...

Contive o sorriso.

— Mas a culpa foi toda da Karine! — Lilith gritou, apontando para a ruiva. A cara de Karine era uma mistura de incredulidade e raiva.

Caralho, mano, cadê a pipoca? — Zander sussurrou atrás de mim, claramente se divertindo.

— Porém, todas foram coniventes. — Madelyn afirmou, fixando o olhar em Lilith.

Ray, como sempre, estava um passo atrás.

— O que quer dizer 'conivente'? — Ele sussurrou, confuso.

Eu, James e Zander nos olhamos, sem acreditar na pergunta.

Ele é burro ou..?

— Cara, tudo bem, sabemos que você é burro. — Zander disse, também sussurrando.

— Está certo que você não é o mais inteligente daqui. — Foi a vez de James. — Mas não é uma palavra tão incomum assim.

— Qual é? Só me digam. — Ray sussurrou novamente.

— Conivente é quem sabe de algo errado, mas não faz nada para impedir. No caso, a Karine fez algo errado e nenhuma das duas a impediu. — Eu expliquei, sussurrando. — É alguém complacente.

— 'Complacente'? Não é a mesma coisa? — Ray perguntou, perdido.

Nos olhamos mais uma vez.

— Às vezes, 'burro' é até um elogio para você, Ray. — James respondeu.

O professor Jackson interrompeu nossa conversa.

— O bate-papo de vocês está bom? — Ele nos repreendeu.

Todos viraram rapidamente para frente, sentindo os olhares pesados da classe.

— Desculpa, professor. — Dissemos, em uníssono.

— Prestem atenção.

Madelyn nos fuzilou com os olhos antes de se virar para o trio das meninas malvadas — Lilith, Cloe e Karine. Chame-as como quiser.

— Continuando, as três receberão as mesmas punições. Por favor, acompanhem-me até o diretor. Ele está esperando por vocês na sala dele.

Eu precisei morder meu lábio para conter a gargalhada que quase escapou. A sensação de justiça me lavava por dentro.

— Stella, como você pôde fazer isso?! Pensei que éramos amigas! — Karine vociferou, indo em direção à platinada.

— Também pensei que éramos amigas. Mas pelo visto, eu não conhecia você de verdade. — Stella respondeu friamente, levantando-se e encarando Karine de cima a baixo. — Você foi baixa demais, Karine. Agora, aguente as consequências.

— Você é uma traidora!

Eu, Zander, James e Clara nos levantamos ao mesmo tempo que Karine tentou se aproximar de Stella, mas Ray a segurou pelo braço, e Noah se colocou entre eles.

— Já basta, Karine! Para a sala do diretor, imediatamente! — a voz de Madelyn cortou o burburinho da sala, impondo silêncio.

— Escuta bem o que vou te dizer. — Eu reconheci o tom de voz de Ray, e pelo modo como Karine se encolheu sob seu olhar, ele estava realmente irritado, o que, convenhamos, não era algo comum de se ver. — Você vai para a sala do diretor quietinha, sem dar um pio. E quando minha mãe chegar aqui, nós três vamos conversar. E não vai ser uma conversa agradável.

— Não, Ray... — Karine tentou se defender, mas ele a interrompeu.

— Você não está em posição de pedir nada. Cala a boca antes que eu fique ainda mais bravo com você. — Ray soltou o braço dela e cruzou os braços. — Vai.

Karine mordeu o lábio inferior, olhou ao redor — todos os olhares estavam sobre ela —, e então abaixou a cabeça, abraçou o próprio corpo e se virou, indo em direção à porta, onde Cloe e Lilith já a aguardavam.

— Desculpe tomar tanto tempo de sua aula, Jackson. — Madelyn se desculpou, e o professor acenou de forma compreensiva.

— Não se preocupe com isso, Madelyn.

Madelyn sorriu brevemente antes de sair da sala, levando as três garotas. Ray soltou um suspiro cansado, bagunçou os cabelos e se virou para o professor.

— Professor Jackson, peço desculpas pelo transtorno causado pela minha prima.

— Não precisa se desculpar por ela, Raymond. — Jackson fez um leve aceno de cabeça. — Vamos começar, enfim, a aula.

Os que estavam de pé, como eu, se sentaram, e logo o silêncio tomou conta da sala, embora a tensão ainda estivesse no ar, alimentada pelos rumores sobre o ocorrido.

Eu dei uma olhada rápida na Green Hill, algumas cadeiras à frente de mim. Ela parecia menos furiosa do que antes, quando Ray tentou falar com ela no corredor. Talvez, a justiça de ver Karine sendo punida tenha suavizado um pouco a raiva que ela sentia.

Antes de a aula de Jackson terminar, ele nos passou um trabalho em dupla que valeria um terço da nota final do trimestre. Quase metade da sala reclamou, e Ray foi um dos que mais se queixaram.

Não me surpreendi nem um pouco.

— Bem, vou anunciar as duplas de vocês. — O professor anotou algo em um papel.

— Não podemos escolher os parceiros, professor? — Sadie perguntou.

— Será por sorteio, senhorita.

— Ah, certo. — Ouvi alguns murmúrios de insatisfação por parte dos alunos.

— Naomi e Sadie. — Jackson anunciou, e depois de alguns segundos, anunciou outras duas duplas. — Zander e Karine. Tanner e Stella...

Eu não me importava muito com quem seria a minha. Eu sempre fui tranquilo com todas as matérias, e química não era exceção. Eu nem estava prestando atenção no professor, mas quando Jackson anunciou meu par, eu quase caí para trás.

— Atticus e... — O professor olhou para o papel em suas mãos. — Zarah Green Hill.

... Como assim?

— Atticus, tente não assustá-la com sua arrogância. — Stella disse, já arrastando sua cadeira para o lado de Tanner.

— Stella, assim você me ofende. — Levantei uma sobrancelha, olhando para a platinada.

— Ela tem razão, bonitão. — Clara interveio. — Essa sua pose austera e a cara amarrada ao mesmo tempo que atrai muitas mulheres também afasta muitas outras.

— Mas não acho que nossa Zarinha vá cair logo no charme do Atticus. — Sadie se meteu, fazendo todos rirem.

— É impressão minha ou vocês estão querendo me usar para chegar na Green Hill? — Eu franzi o cenho para as três, que imediatamente desviaram os olhares.

— Que isso, é impressão sua. — Stella falou, com uma voz fina, claramente mentindo.

— Sei. — Estreitei os olhos para elas, mas deixei passar dessa vez. Eu queria começar logo esse trabalho em dupla. Seria a chance de aprender mais sobre a Green Hill e, finalmente, satisfazer minha curiosidade.

— Algum de vocês podia trocar de dupla comigo? — Zander reclamou.

— Que foi? Não gostou de fazer dupla com a Karine, é? — Clara debochou. Aposto meu braço como ela estava adorando isso.

— Eu que não vou trocar de dupla. — Eu me recusei.

— Nem eu. — Tanner respondeu.

— Meu irmão não é um gênio como meu namorado, mas dá para o gasto. — Clara deu de ombros, desprezando Noah como sua dupla.

— Uau. Que bela irmã eu tenho. — Noah ironizou.

— Eu sou linda mesmo, pode falar. — Clara balançou os fios loiros com orgulho.

— Eu queria fazer dupla com a Naomi. — Ray fez um bico, e sua namorada riu ao seu lado.

— Sabemos bem que vocês iam fazer outro trabalho sem ser de química. — Stella alfinetou, e os dois coraram imediatamente. James, por sua vez, fez uma cara de quem se sentia protetor, o que sempre acontecia com Naomi e Zoe, sua irmã mais nova. Era engraçado de ver.

— Desculpe por ser sua 'empata-foda', Ray, mas minha dupla vai continuar sendo a Naomizinha. — Sadie abraçou Naomi pelos ombros e piscou para o loiro.

— Stella! — Naomi reclamou, e todos caímos na risada.

— Sem brincadeiras agora. — Ray arranhou a garganta, visivelmente constrangido. — O que você vai fazer, Atticus? Depois das aulas tem treino de basquete e sempre saímos tarde. Além disso, a tia Emilie é bem exigente com a presença da família no jantar.

— Eu sei. Fiquei pensando nisso durante a aula de literatura. Acho que minha única saída é fazer o trabalho no fim de semana.

— Mas amanhã tem a festa do Oliver e domingo tem a festa na piscina do Luccas. — Noah lembrou.

— A festa do Oliver só começa à noite, então eu tenho a manhã e a tarde para fazer esse trabalho.

— Mas a gente sempre joga vídeo game nos sábados à tarde! — Ray se queixou.

— Eu não vou deixar de fazer esse trabalho e arriscar levar zero só para jogar vídeo game no clube do bolinha, imbecil.

— Nem pegou a 'mina' ainda e já está nos trocando. Puta amigo! — Zander reclamou, e logo começou a irritar Ray. Os dois ficaram perturbando meu juízo até chegarmos no treino.

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Finalmente, o fim de semana chegou! Ray gritou enquanto estava no chuveiro do vestiário.

— Atticus, você precisa pegar alguma garota! Está ficando cada vez pior nos treinos. — Noah me alertou com um olhar preocupado.


— Isso se chama tesão acumulada, Noah. — Ray se debruçou na portinhola do box, escondendo do olhar o que ia de seu abdômen até os joelhos.

— Tenho pena da pobre Naomi. Depois dos treinos, ela deve ficar decepcionada por você não conseguir dar conta do recado. — Soltei um sorriso debochado, e a galera do time explodiu em risadas.

— Idiotas. — Ray resmungou, enquanto eu saia do vestiário, com ele me xingando de todos os nomes possíveis. Irritar Ray sempre foi divertido.

Mas tudo mudou quando a vi.

Ela estava com a bola de basquete, virada de costas para mim. A segurava, respirou fundo e, com uma precisão impressionante, acertou o arremesso na cesta sem nem mesmo tocar o aro.


— Belo arremesso.

Ela se sobressaltou com minha voz e se virou, com uma das mãos sobre o peito, como se tentasse controlar as batidas aceleradas do coração.

— Meu Deus...

— Desculpe, não queria te assustar. — me aproximei, enquanto ela tentava se recompor. — O que está fazendo aqui?

— Eu... estava te esperando para falarmos sobre o trabalho. — Zarah ajeitou a bolsa no ombro. — Como você tem treino de basquete todos os dias, pensei que nossa única opção seria fazer o trabalho à noite ou no fim de semana.

Peguei o celular do bolso e olhei as horas. Eu tinha ainda duas horas até o jantar, então havia tempo suficiente para começarmos o trabalho, se eu conseguisse chegar em casa nos próximos dez minutos e tivesse mais algum tempo após o jantar, sem me preocupar com a hora em que Zarah precisaria ir embora.

— Você tem horário para chegar em casa?

Ela piscou algumas vezes, ainda me encarando.

— Como?

— Tem horário para chegar em casa? — Repeti a pergunta enquanto começava a procurar pela chave do carro.

— Hm... não. Por quê? — Ela parecia um pouco confusa com a pergunta.

— Se importar de jantar na minha casa? — Perguntei, encarando seus olhos cinzentos azulados, que pareciam analisar minha intenção.

— O que você está querendo com esse interrogatório estranho? — Ela cruzou os braços, estreitando os olhos.

— Eu não vou te atacar, garota, relaxa. — levantei as mãos em sinal de paz.

Ela achava que eu estava tentando algo mais?

— Minha mãe adora um jantar em família e, sinceramente, ainda quero viver muitos anos.

Ela levantou as sobrancelhas, aparentemente entendendo o que eu quis dizer. Seus olhos se desviaram dos meus e ela olhou para o chão, os dedos apertando os braços. Quando levantou a cabeça, seus lábios estavam levemente crispados.

Agora era a minha vez de ficar confuso com a reação dela.

— Eu... melhor deixar para fazer o trabalho amanhã, então. Não quero me intrometer no seu jantar em família.

Franzi o cenho. Algo estava diferente na Zarah. A garota que antes parecia quase me lançar um olhar mortal estava agora mais cautelosa.

— Relaxa, minha mãe vai adorar sua companhia. E também, amanhã só teremos a manhã e a tarde, à noite eu tenho uma festa para ir.

— Então deixa para domingo.

— Então... festa na piscina de outro amigo. — Dei de ombros.

— Seus fins de semana se resumem a festa, por acaso? — Ela arqueou uma sobrancelha.

— Quase todos.

Zarah fechou os olhos e suspirou, como se estivesse ponderando sua decisão.

— Ainda não acho uma boa ideia eu jantar na sua casa.

— Ótimo, eu também não acho, mas não temos escolha. — E com um resmungo, Zarah finalmente cedeu.

— Vamos então.

Fui em direção ao meu carro, e ela me seguiu em silêncio, seus passos ecoando pela garagem enquanto a música do rádio preenchia o espaço entre nós dois. Não era uma viagem longa até minha casa, mas o silêncio entre nós parecia durar mais do que o normal.

Quando estacionei o carro na garagem, ia virar para Zarah e pedir para não reparar na bagunça da casa, mas parei quando percebi que ela estava mais interessada nos arredores da entrada. Abri a porta do carro para ela e fomos caminhando pela trilha de pedras até a porta.
Ao entrar, olhei discretamente para Zarah, observando sua reação. Ela olhava atentamente, mas não parecia surpresa ou chocada com o tamanho da casa. Claro, meu pai era empresário e minha mãe juíza, então minha casa não era exatamente "comum".

— Cheguei! — Gritei, largando minha mochila no sofá. Zarah estava parada no meio da sala, com a expressão inquieta.

Logo, ouvi passos vindo da cozinha, e minha mãe apareceu com seu sorriso característico.

— Bem-vindo, querido! — Ela me abraçou e logo me separou. Seus olhos brilharam quando ela olhou para Zarah. — Olá, querida! Nossa, como é linda! Eu sabia que você estava quieto por uma razão, Atticus, mas não fazia ideia de que sua namorada seria tão bonita. — Ela me empurrou para o lado e correu até Zarah.

Eu sabia que minha mãe ia fazer isso.

— Mãe, ela não é minha namorada.

O sorriso de minha mãe quase desapareceu, mas ela ainda manteve sua expressão afetuosa.

— Como não?!

— Somos apenas colegas de turma, senhora Connor. — Zarah sorriu, um pouco sem graça, para minha mãe que, claro, já estava com mil pensamentos em mente.

— Ela só veio para fazer o trabalho de química, mãe, então não se precipite.

— Ah, que estraga prazeres. — Minha mãe resmungou. — Você é tão linda! Fariam um lindo casal, com certeza.

Eu só respirei fundo, já sabendo o que viria a seguir.

— Certo, mãe coruja saindo. Qual é o seu nome, minha flor?

— Zarah Green Hill, senhora Connor.

— Um nome tão bonito quanto quem o carrega. — Minha mãe sorriu, e por um momento, notei que Zarah parecia ficar um pouco mais séria, com uma sombra de tristeza em seus olhos. Minha mãe, completamente alheia, continuou.

— Você ficaria para jantar? Seria maravilhoso se fosse minha nora, pena que meu filho é muito burro.

— Mãe!

Eu só pude revirar os olhos. Fui chamado de burro pela própria mãe. Mas, por sorte, Zarah riu suavemente, e a tensão no ambiente se dissipou.

— Agora sim! — Disse minha mãe, com uma expressão satisfeita. — E olha como você fica ainda mais linda com um sorriso.

Eu observei o olhar iluminado de minha mãe para Zarah e o modo como Zarah retribuía o carinho. Tudo em minutos de convivência. Contudo, não pude deixar de reparar, um sorriso nos lábios rosados da Green Hill lhe caía bem.

— Vou deixar vocês dois começarem o "trabalho de química". — Mamãe fez aspas com os dedos e piscou um olho para mim, como se ela tivesse sido muito sutil.

— Vamos para a biblioteca. — Peguei minha mochila e fiz um gesto para Zarah me seguir.

Subimos as escadas e entrei na biblioteca. Ela observava atentamente a estante de livros, sem falar nada. Dei um sorriso discreto e fui buscar meu notebook. Quando voltei, ela estava ainda em pé, mas agora já mais relaxada.

— Aqui, usa o meu. — Estendi o notebook para ela.

Ela pegou, sentou-se na bancada e começou a trabalhar nos slides. Começamos a trabalhar, discutindo algumas ideias sobre o conteúdo e o formato da apresentação. Ela sugeriu que fizéssemos uma demonstração ao vivo na sala de aula.

Eu estava focado no meu trabalho, mas, de vez em quando, pegava Zarah de canto de olho. Ela estava tão concentrada no que fazia que nem notava. Até que o som da porta me fez desviar o olhar.

— O jantar está pronto, queridos, desçam logo.

— Já vamos, mãe. — Respondi, e ela desceu pela escada.

Zarah fechou o notebook e me perguntou:

— Que horas posso voltar amanhã para terminarmos o trabalho?

— Está tudo bem se for pela manhã? — Perguntei, e ela assentiu.

Fomos para a sala de jantar. A mesa já estava posta, e meus pais estavam sentados. O olhar de meu pai se moveu de mim para Zarah, com o cenho franzido. Eu estava surpreso com ele participando do jantar.

— O que deu nele? — Murmurei, incrédulo, para Emilie.

Ela deu de ombros.

Me virei para meu pai.

— Pai, esta é Zarah Green Hill. Zarah, esse é meu pai, Roger Connor.

— Prazer em conhecê-lo, senhor Connor. — Zarah estendeu a mão e ele a apertou firmemente.

— Não se incomode, jovem. A namorada de Atticus será sempre bem-vinda em nossa casa.Eu quase engasguei com a água que estava bebendo.

— Tudo bem? — minha mãe perguntou, ela tinha o sorriso mais satisfatório que já tive o desprazer de ver.

— Não sou namorada de seu filho, senhor Connor. Apenas vim fazer um trabalho do colégio. — A ruivinha respondeu com um sorriso constrangido e sem graça.

— Certo, entendo. — Meu pai falou olhando para minha mãe, que ainda mantinha o sorriso nos lábios olhando de Zarah para mim.

— Mas mesmo assim, se algum dia tiverem algo, perdoe a demora do meu filho burro. — Minha mãe se intrometeu novamente.

— Por favor, vamos começar a comer logo. — Reclamei, a cara escondida na mão.

— Sabe que só começamos a jantar quando todos estão presentes. — Mamãe falou. — Enquanto Diana não chega, fale-me mais sobre você, querida. Qual faculdade pretende fazer?

Diana estava em uma festa de aniversário de uma amiguinha dela. A mãe da aniversariante ficou encarregada de trazê-la de volta.

— Medicina. — Zarah respondeu sem nem titubear. Levantei meu olhar, isso foi inesperado.

— Que maravilhoso! — Mamãe sorriu radiante. — E já tem em mente uma especialização?

— Mãe, não é para tanto... — Eu ia pedir que minha mãe não a pressionasse, mas a resposta da Green Hill me fez calar a boca.

— Sim. Cirurgia geral.

— Fabuloso! — Mamãe bateu palmas. — Seus pais devem estar tão orgulhosos de você, querida.

E novamente aquele brilho triste passou pelos olhos cinzentos azulados dela, além de sua mão direita se fechar em punho sob o colo e os lábios crisparem. Mas além disso, o que realmente me deixou confuso foi o sorriso incrivelmente falso que ela exibiu.

— Sim, eles estão. — Não senti verdade em suas palavras.

Alguns segundos de silêncio se seguiram, mas que logo desapareceram com o barulho da porta de entrada e de passos apressados.

— Desculpem a demora!

Diana entrou saltitando na sala de jantar como um furacão com a mochila rosa de princesas dela, sentando rapidamente ao lado de minha mãe, que lhe deu um beijo na bochecha.

— Nossa, que linda! Finalmente arranjou uma namorada, irmãozinho tolo?

Mas será possível?!

— Diana, Zarah Green Hill. Zarah, Diana Connor, minha irmã mais nova.

— Não sou namorada dele, Diana. — A ruivinha respondeu com um fraco sorriso constrangido quando a cumprimentou com a mão. Diana arqueou uma sobrancelha e prendeu o riso. — Vim apenas fazer um trabalho de química.

— Não seja por isso. — Diana se levantou ainda segurando a mão da ruivinha e pediu que ela se abaixasse. — Eu conheço alguém interessado em você. — Ouço a pequena sussurrar no ouvido da garota.

Por algum motivo, não gostei de ver aquela cena.

Arqueei as sobrancelhas.

— Esse certo alguém que pediu que dissesse isso? Peço que diga à ele que infelizmente não estou interessada. Pode ser, pequena. — Zarah falou num tom tão tedioso e puxou sua mão de volta para seu colo.

Eu e minha mãe explodimos em gargalhadas enquanto Diana fazia bico.

Meu pai era sério demais, e não achou graça.

— Pode ser, sim... — E se sentou novamente.

— Tomara que a comida nos faça esquecer essa vergonha desse certo alguém. — mamãe comentou. — Vamos comer!

Enquanto mamãe se servia, Diana estava emburrada e eu e mamãe ainda nos recuperávamos da crise de risos. Aquilo foi sensacional.

Zarah e meu pai logo engataram em uma conversa sobre as possíveis faculdades de medicina onde Zarah poderia se interessar em fazer estágio. Mamãe se intrometia vez ou outra, e sempre tentava começar uma outra conversa aleatória com Zarah, mas a ruivinha parecia aérea enquanto comia algumas garfadas.

Ela parecia perdida em pensamentos e sempre começava quando encarava o prato. Seu corpo às vezes ficava tenso e depois relaxava, e seu sorriso falso ainda estava ali, junto daquele brilho triste que inundava o azul acinzentado de seus olhos.

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— Obrigada pelo jantar, senhor e senhora Connor, estava ótimo. — Zarah disse já em pé, próximo à porta para que pudesse ir embora.

Pelo menos ela havia devorado a sobremesa, torta de morango, para a felicidade de minha mãe.

— Eu que agradeço pela maravilhosa companhia. Como pode ver, sou a única mulher dessa família. Venha mais vezes. — E deu uma piscadela para a ruivinha.

— E eu, mamãe?? — Vi Diana perguntar indignada, com as mãos na cintura.

— Mulher, Diana. Você ainda é menina. Sequer teve sua primeira vez. — Minha mãe brincou.

— Primeira vez do quê? — Diana mudou sua expressão para uma feição confusa enquanto coçava seu cabelo, inclinando a cabeça.

Minha mãe não respondeu Diana, apenas riu. Zarah também.

— Enfim, querida... — Dona Emilie disse passando suas mãos carinhosamente nos braços descobertos de Zarah. Ela havia tirado seu blazer logo após o jantar. — Venha mais vezes. Não precisa vir aqui somente para fazer "trabalhos". — Minha mãe fez aspas com as mãos, insinuando algo impuro.

— Nem brinque com uma coisa dessas, mãe! — Eu gritei já do lado de fora da casa, encostado de braços cruzados na porta de passageiro do carro. Mãe e Zarah deram uma pequena risada e logo os braços de minha mãe a envolveram.

Eu estava esperando perto da porta do carro para que pudesse levar a Green Hill e de longe pude ver minha mãe sussurrar algo em seu ouvido. Meu lado curioso gritou em minha mente, mas o silenciei ao ver a ruivinha se aproximar.

— Onde você mora? — Perguntei assim que destravei o carro, pronto para entrar no lado do motorista.

— Não precisa me levar, minha carona já deve estar chegando. — Parei com a mão na maçaneta e a vi olhar no celular, e logo uma buzina chamou minha atenção.

Olhei para o lado e quase me engasguei quando vi uma Lamborghini branca encostando.

— Até amanhã, Atticus Connor. — As letras do meu nome dançaram em sua boca.

Meu nome até pareceu mais chique por ter sido Zarah o dizer, graciosamente.

Ela não pode fazer isso novamente.

Ela não pode simplesmente dizer meu nome assim.

Eu enlouqueceria caso isso se repetisse.

Apenas dei um breve aceno de cabeça enquanto ela entrava e se sentava no banco do carona. Olhei na direção do motorista e me surpreendi ao ver um homem de aparência jovem, não parecia ter mais de vinte e cinco anos.

Cabelos platinados e uma pequena tatuagem na nuca.

Uma lua...

A mesma tatuagem que Zarah tinha, também na nuca.

Como? E, por quê?

O cara a direcionou um grande sorriso na direção da ruivinha, que o retribuiu.

Mas não foi um sorriso verdadeiro...

Zarah não parecia que se sentia confortável perto daquele homem.

E enquanto o carro desaparecia na rua, eu fiquei ali parado ao lado do carro pensando qual seria a relação entre eles.

[...]

<3

[Notas da autora]

✒Capítulo escrito em: 04/02/2022
✒Capítulo publicado em: 12/07/2023
✒Capítulo corrigido gramaticalmente em: 12/05/2024
✒Capítulo reescrito em: 16/01/2025

E, gentee?? Gostaram do capítulo? Por favor, sejam sinceros!!! Críticas, elogios e sugestões serão bem-vindos.

[...]

Quem quer o próximo capítulo?!

VOTEM MUITOOOOOO!!!

Beijos da sua (possível) autora favorita!❣

~Jade.

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