𝟬𝟰 𖧹 O Despertɑr Brutɑl
❝Não quero sua ajuda dessa vez,
eu salvarei a mim mesma
Talvez eu acorde de
uma vez por todas❞
Evanescence ━━ Going Under
OS DIAS OUTRORA TRANQUILOS e repletos de ternura deram lugar a um redemoinho de discórdias entre os dois. Cada encontro tornou-se um campo minado, onde o menor mal-entendido poderia desencadear uma explosão de emoções acaloradas. As palavras, que antes eram sussurros de carinho, agora se transformaram em lâminas cortantes, arremessadas em meio a surtos de ira e desapontamento.
A suposta harmonia entre o casal estava agora desafinada, e cada diálogo parecia apenas intensificar a dissonância em seu vínculo. Miranda, cativa das memórias de
um amor que um dia lhe pareceu puro, encontrava, após cada desentendimento, espaço em seu coração para perdoar Miles. Ela se apegava à esperança de que o amor que ainda lhes restava fosse suficiente para transcender as tempestades emocionais.
Com cada amanhecer, a relação entre eles se esvaía um pouco mais, e as tentativas de reconciliação menos convincentes, tornando-se meras sombras da esperança que já foram. A tensão entre eles era quase tangível, e os breves interlúdios de paz
eram rapidamente consumidos pelo retorno da discórdia. O ciclo vicioso de desentendimentos e reconciliações efêmeras tornou-se um padrão exaustivo, um previsível eco de desilusões e ressentimentos.
Em meio a uma dessas tempestades emocionais, sob um céu pesado de nuvens ameaçadoras e ventos revoltos, o
inesperado se fez presente: Um tapa, um som ensurdecedor que precedeu um silêncio estonteante. Esse ato de violência, tão súbito quanto chocante, agiu como um despertar brutal para Miranda, rasgando o véu denso de negação que a envolvia.
De repente, a realidade do relacionamento em que se encontrava tornou-se cristalina, marcada pela verdade dura e fria. A violência física, embora breve, acendeu a luz para o reconhecimento da violência emocional e psicológica que vinha sofrendo em silêncio.
Este momento foi, paradoxalmente, tanto um ponto de ruptura quanto um despertar para Miranda. Ela conseguiu, finalmente, ver a verdadeira natureza de seu relacionamento, desencadeando um processo de libertação de um ciclo de abuso até então invisível aos seus olhos.
Armada com uma nova percepção, Miranda encarou Miles. As verdades, há tanto tempo silenciadas, fluíram dela como uma enxurrada incontida. Cada palavra proferida era mais do que uma acusação; era um grito de liberdade, uma reivindicação poderosa de sua dignidade e do respeito que lhe era devido.
Incapaz de aceitar o fim, ele tentou convencê-la a voltar atrás com promessas vazias, e súplicas desesperadas. Suas palavras, que outrora possuíam o poder de envolver e persuadir, agora encontravam-se destituídas de significado aos ouvidos de sua namorada.
A agressão física revelou a ilusão dessas promessas de mudança, evidenciando que não passavam de tentativas infrutíferas de manter o status quo de um relacionamento marcado pelo ciclo de abuso. Ela compreendeu que a continuidade desse ciclo era uma garantia enquanto permanecesse ao lado de Miles.
A determinação de Miranda em romper esses laços, emergiu da consciência de que somente sua partida, poderia selar definitivamente o término desse ciclo. Assim, munida de coragem e autoconhecimento, ela escolheu o caminho da libertação, reconhecendo que as promessas de mudança eram apenas mais uma camada da manipulação que buscava mantê-la presa em um laço de constante desilusão.
Com lágrimas de dor e alívio, ela deixou a mansão luxuosa que dividia com Miles desde o terceiro mês de namoro. Atravessou a entrada principal com a certeza de que, apesar do medo do desconhecido, era melhor enfrentá-lo do que permanecer em um relacionamento que a destruía.
Saiu daquela residência deixando para trás não apenas um relacionamento, mas uma versão de si mesma que ela prometeu nunca mais ser. Estava decidida a se reconstruir, a redescobrir o amor próprio e a curar as feridas deixadas por um amor que se revelou uma armadilha.
Miranda corria pela calçada, suas pernas tremendo, não apenas pelo frio da noite, mas pela adrenalina que pulsava em seu corpo. Cada passo para longe da mansão que um dia fora seu lar era um grito silencioso de libertação, uma fuga desesperada de um pesadelo que parecia não ter fim.
As luzes da cidade brilhavam com uma intensidade quase cruel, refletindo a confusão e o desespero que a consumiam. O eco dos gritos que ainda ecoavam em sua mente a perseguia como um fantasma, uma lembrança vívida da violência que a atingira, tanto na carne quanto na alma.
Ela sentia o gosto amargo do medo e da dor escorrendo por suas bochechas, misturando-se às lágrimas que corriam livremente, como se quisessem levar com elas todo o sofrimento acumulado. O portão de ferro forjado se fechou atrás dela, mas o calor da agressão ainda queimava em sua pele, como se as marcas invisíveis deixadas por ele a seguissem.
A imagem do namorado, com seu olhar frio e as palavras cortantes que se cravaram em seu coração, era uma sombra que não a deixava em paz. Mas, naquele momento, Miranda fez uma escolha: não seria mais uma vítima.
Ela parou, a respiração ofegante, e lançou um olhar para trás, a mansão se erguendo como um monstro, uma fortaleza de dor e promessas quebradas. Ali, sorrisos haviam se transformado em lágrimas, e o amor se tornara uma arma. O que restava dela? Uma mulher despedaçada, uma alma marcada, mas a dor agora queimava com uma nova intensidade, uma chama que a impulsionava a seguir adiante.
"Nunca mais", sussurrou, sua voz carregada de determinação e raiva.
O frio cortante da noite a envolvia, mas, à medida que as palavras saíam, uma onda de força começava a emergir. Era hora de se libertar, de renascer das cinzas da sua própria destruição. A brisa gelada que lhe acariciava o rosto parecia prometer um novo começo.
A cidade, vibrante e caótica, pulsava ao seu redor, cheia de possibilidades desconhecidas, e, pela primeira vez em muito tempo, uma faísca de esperança acendeu em seu interior.
Com aquela centelha de determinação, Miranda deu um passo à frente, decidida a não olhar para trás. O caminho à sua frente era incerto e perigoso, mas ela estava viva, e isso era tudo que realmente importava.
𝓘mperdoάvel
• Capítulo com 1044 Palavras
• Escrita por Maíra Lima
• Sem Revisão Ortográfica
• Publicado 03 de Maio de 2024
• Todos os Direitos Reservados © 𝟮𝟬𝟮𝟰
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top