twenty four
Slide
I can see the pain in your eyes
I don't wanna say that I'm God, but
I'll take you to heaven if you die
~ Chase Atlantic - Slide
— Suna... - sussurrei assustada ao ser puxada rapidamente para uma sala vazia.
Minha mão direita era agarrada pelo garoto em um aperto forte e necessitado, como se Rintarou precisasse urgentemente de minha presença. Escutei um suspiro pesado vindo de seus lábios ressecados, as obres esverdeadas com um toque amarelado pareciam tão mortas e cansadas que sentia-me preocupada com ele. Suna estava dormindo bem?
— Ivy... - sua boca sussurrou de volta, meu nome saindo arrastado e cansado.
Rintarou se aproximou, o rosto pálido estava impassível, era difícil entender o que queria e o que sentia. As pálpebras eram pintadas com fundas olheiras, o cabelo estava oleoso e caía sobre seus olhos, a boca dele era rachada em milhares de peles mordidas e arrancadas pelo próprio, um sinônimo de ansiedade. Eu entendia bem aqueles sintomas, já que passava por coisas parecidas, e por compreender seus hematomas, me desesperei internamente por alguns segundos ao notar em que estado Suna encontrava-se. Toquei gentilmente sua bochecha gélida enquanto o rapaz ainda se aproximava, sendo pega de surpresa ao contemplar a imagem do maior se esfregando em minha palma como um gato manhoso. Seu comportamento era estranho, porém tudo naquele momento era estranho.
O moreno envolveu seus braços por mim, jogando seu peso delicadamente por cima de meu corpo, a cabeça se escondendo na imensidão de meus fios negros. Rintarou me abraçou de forma engraçada, porém nada disse, apenas aproveitou-se do silêncio constrangedor que se formou entre nós dois. Meu coração batia forte e a respiração estava descompensada, uma adrenalina desconhecida percorrendo todas as extremidades de meu corpo. Naquele momento, pude perceber onde nos encontrávamos, notando a pequena iluminação que entrava por uma janela no alto do cômodo. Produtos de limpeza e panos preenchiam as poucas estantes que cabiam no local, baldes e vassouras tomavam conta do chão cinzento, o cheiro de álcool em gel entrava por minhas narinas e intoxicavam meu pulmão.
— Hey... - passei a mão pelas costas do garoto quando escutei mais um suspiro pesado.
Sentia os músculos de Rintarou descansarem cada vez mais, o corpo ficando mole e a postura se tornando mais corcunda ao abraçar minhas curvas com ternura. Eu podia notar de longe o quanto Suna estava precisando de um braço ou apenas de um "tudo bem" falsificado. Me disponibilizei para ser seu ombro amigo, escutando um choro baixo preencher o ambiente. Sua voz baixa e sôfrega sussurrava palavras inaudíveis enquanto se afogava com suas próprias lágrimas, uma mistura de pedido de desculpas e um pedido de socorro.
— Está tudo bem, respire fundo - pedi com gentileza para Suna, escutando sua respiração se estabilizar pouco a pouco.
Seus dígitos apertavam fortemente minha cintura, trazendo-me para perto cada vez mais — como se fosse possível estar mais próxima.
— Perdão - ele disse, tirando seu rosto de meu ombro.
A pele estava úmida, os olhos vermelhos e a ponta do nariz inchada. Suna parecia cansado.
— Sem problemas - mesmo não sabendo o motivo de seu perdão, fui compreensiva - Está melhor?
Rintarou concordou. Observei melhor sua face, vendo uma grande diferença entre o garoto de semanas atrás com o de hoje. Fazia quatorze dias desde nosso último encontro, ficamos sem nos ver por um bom tempo e durante essas semanas, meu foco foi direcionado para o clube de teatro, onde me esforçava para ganhar o papel principal da próxima peça que teria. Suna estava morto por dentro e qualquer um podia perceber isso.
— Quer conversar sobre? - coloquei a mão em sua bochecha, secando uma lágrima que escorria por ali.
— Acho que sim... - o maior parecia querer dizer algo antes.
Fiquei em silêncio, esperando que se sentisse confortável para dizer algo. Sentia-me confusa, não entendendo muito bem o por que do rapaz ter me procurado em uma situação como essa.
— Desculpa ter vindo atrás de você sendo que poderia ter falado com Samu - Suna passou por mim enquanto dizia, sentando-se na bancada atrás de nós - Só acho que ele não precisa ficar lidando comigo sempre.
— Eu não me importo muito - respondi o garoto, tentando lhe acalmar.
Sentei ao lado de Rintarou, observando seus dedos machucados batucarem por cima da calça escura.
— Mas você está perdendo a última aula.
— Meu Deus... É verdade - bati na testa. Havia me esquecido deste fato - Bom, agora já era.
Sorri para o moreno, vendo o mesmo fungar o nariz enquanto me encarava.
— Já que perdemos a aula, não seria melhor irmos para outro lugar? - sugeri, tentando amenizar sua melancolia.
— Pode ser... - concordou enquanto levantava-se do balcão - Vamos para meu quarto.
Deixei que ele escolhesse para onde iríamos, apenas seguindo seus passos pelos corredores até que chegássemos no extenso jardim que levava caminho para os dormitórios. Quando colocamos os pés para dentro do prédio, Suna resolveu explicar sua recaída, dizendo:
— Tenho problemas com meu pai - começou - Não é sempre que consigo lidar com ele.
Andávamos lado a lado, o garoto tinha uma mochila nas costas que amassava seu uniforme escolar, porém Rintarou não se importava com aquilo, apenas continuava seus passos cansados até o dormitório desejado.
— A história é um pouca longa - suspirou, passando os dedos pelo cabelo oleoso o tirando dos olhos.
— Eu escutarei - respondi.
— Na verdade, não me sinto confortável para dizer tudo, apenas que conheci alguém no passado e isso irritou meu pai - Suna explicou - Até hoje ele me cobra isso.
— Ah sim... - cocei a bochecha enquanto observava Rintarou abrir a porta de seu quarto - Mas é algo tão imperdoável assim?
Entrei com ele no cômodo, dando de cara com a bagunça habitual que permanecia no lado em que dormia. Caixas de CD's eram jogadas ao chão, algumas peças de roupas eram empilhadas no pé da cama e o colchão encontrava-se nu, sem edredons para o cobrir, apenas um embolado de mantas grudadas na parede. Observei o moreno se jogar com tudo no acolchoado, suspirando pesado enquanto concordava com a cabeça.
— Totalmente - disse.
— Entendo - caminhei até ele, sentando na beirada de sua cama - Você anda dormindo bem?
— Não - respondeu de olhos fechados.
— Durma um pouco agora - sussurrei, passando a mão em suas costas.
— Você vai ficar aqui?
Respirei fundo, sentindo o coração apertar. Rintarou estava sensível e precisava de alguém para se sentir seguro.
— Vou - sussurrei.
*
hey, é a nanda!!
como estão?
eu achei que ia escrever algo mais deprimente, mas decidi colocar a tristeza para próximos capítulos kk
beijocas gates, até o próximo cap, amo vocês!!
cap sem revisão!!!! [13/07/21]
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