thirty


There's things I wanna say to you, but I'll just let you live
Like if you hold me without hurting me
You'll be the first who ever did

~ Lana Del Rey - Cinnamon Girl

   Me sentia solitária no quarto vazio que estava mal iluminado pelo abajur de Louise, a coloração amarela vinda da luminária tomava dos os cantos do ambiente meio bagunçado por minhas roupas largadas folgadamente na cama de solteiro. Uma mala mediana encontrava-se em meus pés, aberta para receber todas as vestimentas que me acompanhariam na viagem para os Estados Unidos, onde eu visitaria a família de minha mãe. Eu estava afobada, pensando demasiadamente em coisas banais que não seriam resolvidas sem uma atitude adequada. Enquanto me aprontava para as férias, não havia comunicado meus amigos sobre tal, apenas Louise tinha consciência de minha deixa durante o meio do ano. Me sentia ansiosa pois não sabia como comunicar tal informação ao Osamu. Eu apenas não comentava sobre o dia de minha deixa.

   Suspirei cansada, pegando meu celular e procurando uma música calma para tranquilizar meus nervos. Cinnamon Girl tocou baixinho, a sinfonia angelical sendo sussurrada pelas saídas de som de meu aparelho. Minha boca cantou levemente por cima da letra, distrando minha mente confusa enquanto meus dígitos finos prosseguiam seu trabalho em dobrar minhas blusas e shorts. O quarto parecia tão mórbido sem a francesa ali, isso deixava meu coração congelado com saudades de suas maluquices diárias. Contudo eu não poderia obrigar a mesma a passar seu tempo comigo empacotando roupas em uma mala, então forcei ela a encontrar uma de suas ficantes.

   Distraída com a canção hipnotizadora, minha audição não percebeu automaticamente os estralos irritantes que vinham da janela, porém assim que os notei, aproximei-me do vidro. Uma pedrinha minúscula colidiu-se com a vidraça, acarretando no barulho estressante que incomodou meus nervos. Fiquei assustada com a investida, então levantei a barreira invisível e coloquei meu rosto para o lado de fora, encontrando uma silhueta mal iluminada ao lado da cerejeira. Era um rapaz, usando um moletom marrom e uma calça branca folgada, sua mão segurava outras pedrinhas, pronto para joga-las.

— Ei! - exclamei.

   Esperei ansiosamente por uma resposta, tentando compreender o que estava acontecendo. A cabeça do mesmo foi levantada, encontrando meu par de olhos negrumes, que entraram em contato com o esverdeado mesclado com amarelo das orbes atraentes de Suna. Seu cabelo moreno escorria pela face limpa e um sorriso pequeno preenchia seus lábios avermelhados. Ele se apressou para subir na árvore, logo alcançando a janela em que eu estava encostada timidamente. Suas pernas atravessaram o batente, ficando ali por alguns segundos enquanto o maior dizia:

— Finalmente, hein - adentrou no quarto, correndo os olhos pelas extremidades. Suas mãos se batiam uma na outra, tentando se limpar.

   A música ainda tocava no fundo, escondendo meus batimentos cardíacos frenéticos que eu tinha certeza que ele escutaria. Seu olhar caiu em meu rosto quando percebeu que eu estava estática ao seu lado. Me analisou rapidamente, meu cabelo preso em um coque nada muito elaborado e minhas roupas não muito extravagantes ou atrativas, como o garoto costumava a ver. Eu usava um short jeans de modelo meio rasgado estrategicamente e uma regata azul clara, bem antiga, porém bem cuidada.

   Inspirei o oxigênio que circulava pelo cenário, nervosa ao reencontrar Suna após uns quatro dias desde a última vez que o vi, que fora na festa.

— Oi - seu tom grave soou singelo.

— Oi...

   As mãos dele esconderam-se no moletom e Rintarou girava seu contorno para observar o quarto.

— Aqui é meio bagunçado né? - debochou, tendo como resposta um leve tapa em seu ombro - Ai!

— Idiota - saí de perto, indo em direção às minhas vestimentas expostas, inclusive as íntimas - Nem doeu.

   Rapidamente joguei tudo dentro da mala e a fechei de qualquer jeito.

— O que você acha que veio fazer aqui? - perguntei o que me incomodava, tentando disfarçar o emaranhado de coisas jogadas pelo cômodo.

— Não precisa ter vergonha, Ivy - Suna começou a dizer, pegando uma calcinha preta esquecida com os dedos - Eu já te vi pelada várias vezes.

   Arregalei meus olhos, pegando a peça íntima brutalmente de seus dígitos e a colocando na mala.

— Caralho, Suna! - xinguei - Culpa sua por aparecer sem avisar. O que você acha que está fazendo?

   Meus sentimentos se debateram uns com os outros. Minha indignação com o moreno estava alta naquela noite, porém todo o carinho inconsciente que eu carregava no peito me dizia para ser gentil.

— Calma, linda - as palmas estavam abertas como rendição - Eu vim te ver, é crime agora?

— Me ver? - eu afastava as coisas que ocupavam minha cama, tentando liberar um espaço - Por qual motivo?

— Hum... - enrolou - Segredo.

   Revirei meus olhos, passando os dedos de forma estressada por meus fios negros que caíam pela testa.

— Vai se ferrar - sussurrei, sentando-me no colchão.

   Rintarou me observava, o âmbar seduzente de suas orbes cintilavam no ambiente, fazendo meus coração palpitar alegremente com a visão de sua pele pálida iluminada pelo abajur.

— Posso sentar? - gesticulou, não me provocando dessa vez.

   Dei abertura para que ele encostasse suas costas na parede atrás de minha cama. O moreno se aconchegou na minha esquerda, retirando seu tênis com os próprios pés para que pudesse copiar minha posição. Cruzou as pernas, logo retirando os pulsos do casaco folgado. Suna estava brilhando de tão bonito. Manteve-se em silêncio por um tempo, porém logo disse:

— Vim te ver porquê sei que você vai viajar - revelou, baixinho, como se contasse um segredo muito secreto.

   Me surpreendi com sua preocupação, perguntando-me o motivo para tal.

— Ah... - analisei minhas unhas - Irei para os EUA amanhã de noite.

— Já? - perguntou, escondendo sua expressão estupefata - Pensei que ainda teríamos uns dias sobrando.

— "Teríamos"? - questionei a escolha da palavra.

— Você sabe, eu, você e Samu - respondeu.

— E mesmo assim você está aqui sozinho - minha voz saiu baixa.

   Um silêncio constrangedor tomou o pouco espaço entre nós. Eu não tinha coragem de olhar para Rintarou, então manti minha cabeça baixa. Escutei uma risada nasal.

— Como pode você ter resposta para tudo? - voltei meus olhos para ele, levantando uma sobrancelha.

   Seus braços estavam voltados para trás, apoiando seu tronco folgadamente no colchão.

— Foi que nem daquela vez, quando você comentou sobre eu te ver dançar - um sorriso pequeno tomou os lábios do garoto, que influenciaram os meus.

— Eu não menti - dei de ombros

— Não mesmo - concordou, me encarando para ver minha expressão.

— Você está confessando algo, Sunarin? - mordi a boca, brincalhona.

— Ficou óbvio demais depois da nossa transa sem Samu - me alfinetou com sua fala sarcástica.

   Virei meu corpo em sua direção, levantando o indicador meio trêmulo. Aquilo era como um segredo para nós.

— Escolha seu lado, querido - gesticulei o dedo - Você vai me provocar ou ser simpático?

   Uma gargalhada escapou de Suna, vindo tão sincera e profunda que deixou meu organismo inteiramente anestesiado. A vibração de seu tom grave ecoava no ambiente, transformando a atmosfera em algo suave.

— Você está estranho - comentei, cerrando minhas sobrancelhas.

— Eu estou normal, Ivy - deitou-se em minha cama, colocando os braços malhados por trás da cabeça - Deite-se comigo.

Fiquei estática novamente, apenas o analisando com uma feição desconfiada. Por dentro as emoções saíam do controle e imploravam para que eu tocasse em sua pele fina e quente.

— Anda logo - me puxou com a mão direita, fazendo meu corpo cair por seu peito largo e macio.

   O garoto envolvia meu pescoço com seu braço torneado, tornando-se um travesseiro agradável para minha cabeça cansada. O calor emanava do mesmo, me esquentando enquanto a brisa gélida adentrava pela janela entreaberta do quarto. Eu conseguia sentir seus batimentos cardíacos acelerados por baixo das roupas grossas que protegiam o mesmo. Automaticamente o bombeamento sanguíneo de meu organismo falhou, reagindo aos sinais que o moreno dava inconscientemente. Fechei minhas mãos em punhos firmes, inquieta.

— Suna? - chamei por ele, baixinho.

   Meu peito subia e descia rapidamente, não escondendo os sentimentos que tomavam controle de mim.

— Hum? - me olhou, admirando a amplidão negra de minhas orbes.

   Aproveitei o momento oportuno de estar tão próxima para decifrar o código em seus olhos ansiosos. Tantas palavras eram ditas por aquelas orbitais singulares que eram preenchidas pela cor amarelada, palavras indecifráveis, porém totalmente compreensivas.

— Nada... - resolvi apenas me envolver naquela circunstância íntima que ele criou.

O silêncio transbordou por nós, um silêncio que ambos criamos e não nos importávamos em estar calados, apenas satisfazíamos a nós mesmos com o toque caloroso que tínhamos um com o outro. A falta de palavras completava nossas almas solitárias, percorrendo o vazio nos corpos ocos e tornando o espaço em algo singular de nós dois. Os dígitos esguios e ligeiros do mesmo começavam uma carícia delicada no topo de minha cabeça, rodeando o indicador pelos fios escuros e aveludados com ternura. A respiração quente dele batia no topo de meus cabelos, serena como o mar.

Suas mãos me trouxeram mais para perto suavemente, envolvendo meu rosto pálido na curvatura de seus pescoço cheiroso e entrelaçando minhas pernas nas suas. Eu não confessava tal sentimento para Suna, porém quando o garoto me tocava daquela forma singela e coberta de emoções escondidas, eu me derretia totalmente por ele. Era evidente que o mesmo nunca explicaria seus motivos para ser assim comigo, contudo eu sinceramente preferia que fosse dessa forma, pois intensificar algo tão natural iria nos pressionar. Minha relação com Rintarou era magnífica por conta dos segredos não ditos.

— Nossa, essa música é muito boa - disse quando o toque de Stargirl Interlude iniciou.

— Você gosta de Lana Del Rey? - perguntei, pois a playlist da cantora tocava.

— Não - escutei seu tom ofendido - Lana Del Rey é para garotas tristes.

Eu quem fiquei ofendida daquela vez, levantando-me para o encarar raivosa.

— Mas acontece que essa música é com o The Weeknd, então ela automaticamente se torna maravilhosa - um sorriso debochado tomava seus lábios majestosos.

— Ei, eu gosto de Lana Del Rey.

— Pois então... - sua sobrancelha era erguida como se quisesse me dizer algo.

— Não estou entendendo onde quer chegar - segurei seu queixo com minha mão gélida, forçando o mesmo a me encarar.

Eu poderia beijar ele. Pensei impulsivamente, observando sua boca inchada disfarçadamente por alguns segundos. Corri meus olhos em direção às suas pálpebras baixas, sendo pega de surpresa quando reparei que o foco do rapaz eram meus lábios rosados. A palma de sua mão se encaixou em minha cintura ligeiramente, com naturalidade. Suspirei fraca.

— Algum problema? - questionou baixinho, movimentando seu dedão por meu quadril.

Neguei com a cabeça, desnorteada com sua beleza. Me aproximei poucos centímetros dele, ainda tendo contato com sua mandíbula. Seu aperto em meu contorno ficou mais intenso, expressando que eu poderia ter liberdade para pressionar sua boca contra a minha em um beijo necessitado. Foi isso que fiz, colando os beiços no moreno profundamente. Meu coração palpitava rapidamente dentro do peito, contorcendo-se com a sensação do atrito entre nossas peles quentes e úmidas. O movimento de sua língua era lento, percorrendo as extremidades com maestria e curiosidade. A emoção inovadora tomava meus pensamentos, pois raramente tínhamos uma conexão sincera durante aquele tipo de contato, sempre nos beijamos em situações transbordando de adrenalina e prazer. Daquela vez era um beijo inocente e singelo, que não se transformava em algo sexual, apenas continha carinho.

Suna ainda desferia suas carícias em minha cintura, lentamente. Todavia parecia me puxar suavemente para que me sentasse sobre seu corpo encantador. Circulei minhas pernas em volta de seu tronco, descansando meu peso em seu quadril sem que nossos lábios inchados se separassem da ternura viciante que criávamos. Rintarou serpenteou os dígitos para minhas costas, tocando serenamente minha derme aquecida por debaixo da regata azul bebê. Suas investidas dominavam minha corrente sanguínea, fazendo com que meu sangue percorresse rapidamente por todo meu organismo hipnotizado por ele.

Seu beijo era pior do que qualquer droga, fazendo eu ficar totalmente viciada e chapada no gosto de seus lábios avermelhados. Eu começava a ficar tonta pela falta de ar em meus pulmões, sentindo minha mente ficar preta por tanta intensidade naqueles toques. Separei suavemente minha boca do garoto, sentindo meu beiço inferior latejar enquanto tentava controlar minha respiração descompensada. Suna parecia estupefato, puxando oxigênio por entre os dentes e piscando suas pálpebras constantemente. Deslizou a mão por minha pele sensível, gerando arrepios e cócegas em minha coluna arqueada. Encontrei seus olhos brilhantes por entre os fios escuros que caíam por sua testa pequena. Rintarou sorria minimamente e inocentemente.

— Nossa - falou.

Acho que me apaixonei por ele naquele exato momento.

*
oi! é a nanda :)
meu deus como amo esses dois AAAAAA
deixem a estrelinha ⭐️

beijocas no coração de vocês!

sem revisão!!! [17/07/2023]

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