Noite das Garotas

    Ele não voltou até 02:00h da manhã. Eu estava muito cansada para lhe esperar e perguntar se estava tudo bem. Não dormi em seu quarto, achei que seria... invasivo sem ele lá.

Eu sei que Dominic chegou tarde pois lembro vagamente de sua mão em minha bochecha e ele murmurando boa noite enquanto beijava minha testa e me cobria. Eu também lembro de ter olhado o relógio na mesa de cabeceira, mas como eu disse, estava muito cansada para pensar nisso.

Quando acordo pela manhã, no meu quarto e sozinha, sinto um aperto no peito. Eu sei que isso vai se repetir daqui há duas semanas, porque é só isso que resta do meu acordo com Dominic e quando acabar, não acordarei mais em seus braços, algo que eu não tinha percebido que havia me acostumado.

Eu esperava me sentir assustada. Estou basicamente confessando a mim mesma que sentirei falta do Dominic. Mas... Eu gosto disso. Eu passei muito tempo achando que depois do que aconteceu entre Finn e eu, eu nunca mais gostaria de alguém. E... e eu gosto do Dom.

— Mas será que ele gosta de mim? — pergunto para o quarto fazio-

— Falando sozinha?

Dou um pulo quando Beatrice sai de dentro do banheiro. Mas o quê?

— O que você tá fazendo aqui?! — e há quanto tempo ela está aqui?

— Você e eu temos assuntos a tratar. — Beatrice caminha até a cama, vestindo preto da cabeça aos pés.

— Você vai explicar por que você estava no meu banheiro ou melhor, por que você está no meu quarto? Onde está Dominic?

— Acho que ele saiu pra correr. Não estava aqui quando eu cheguei. — dá de ombros, sentando na cama.

— O que você quer, Beatrice? Por que precisa falar comigo sem Dominic por perto? — pois da última vez, ela pediu para eu encontrá-la em um café.

— Eu não sabia que ele não estaria em casa.

— Você não respondeu a primeira pergunta.

Ela suspira e eu poderia admirar como ela é linda com a pele negra e o cabelo preto caindo pelos ombros, os piercings e a roupa descolada, mas estou mais interessada no motivo de ela invadir meu quarto.

— Você parece não ter feito nada a respeito da nossa última conversa. — Beatrice arqueia a sobrancelha. Eu desconfiava de ser esse o assunto.

— Eu estava ocupada. — saio da cama. Talvez se eu mostrar desinteresse na conversa, Beatrice me deixei em paz.

— Tão ocupada que não podia falar com o Dominic sobre o casamento do pai dele?

Vou para o closet, escolher meu look do dia. Eu não sei porque Beatrice quer tanto que Dominic vá a esse casamento. Ele e o pai se detestam – meu curto momento na presença de Victor me faz entender porque – então não posso culpá-lo por não querer ir.

— Por que você não fala com o Dom? — pergunto do closet enquanto visto uma saia de couro marrom.

— Acha que já não tentei? Ele se recusa a ir. Ele está sendo infantil. Victor é pai dele — não posso ver seu rosto, mas sinto algo como chateação e raiva em sua voz. — Esse casamento é uma grande oportunidade para ter a família toda reunida.

Tiro minha camisola e ponho um sutiã, depois procuro por uma blusa.

— Você não pode obrigar Dominic a ir, Beatrice. — acho uma blusa vermelha de mangas compridas, vestindo-a.

— Eu já percebi isso, por esse motivo pedi para você convencê-lo.

Colocando a blusa por dentro da saia, eu saio do closet. A outra mulher em meu quarto continua sentada na minha cama quando vou para o banheiro.

Beatrice fica em silêncio e acho que ela foi embora, então escovo meus dentes e faço uma maquiagem básica. Porém, quando volto para o quarto, ela ainda está aqui.

— Victor está doente.

Eu paro de andar, me pergunto se ouvi direito.

— Por isso que é tão importante que Dominic vá, talvez seja a última vez que a família toda estará reunida.

Ah, meu Deus... Quando o Dominic descobrir...

— Q-que doença que ele tem?

— Um tumor no cérebro. Ele vai fazer uma cirurgia dentro de um mês, por isso o casamento. Ele não sabe se vai viver... Às chances não são as melhores.

Precisando sentar para racionar o que acabei de ouvir, sento-me ao seu lado na cama.

— Por que não contar a Dominic? — pergunto depois de um tempo. Ele tem o direito de saber e com certeza concordaria mais rapidamente a ir esse casamento se soubesse que pode ser a última vez que terá sua família reunida.

— Victor é orgulhoso demais. Só para você saber, ele nem me contou que estava doente, eu descobri.

Solto um suspiro, sentindo o peso em meus ombros. Agora vou ter que mentir para Dominic. Eu poderia contar a ele, mas não sou quem tem que fazer isso.

— Eu vou dar um jeito de ele ir. Eu prometo. — garanto a Beatrice e ele parece ficar aliviada.

Estamos descendo as escadas quando as portas do elevador se abrem. Dominic sai, vestindo uma camisa preta, shorts e tênis. Devia estar malhando ou correndo.

Dominic tira os fones do ouvido quando percebe Beatrice ao meu lado.

— O que você está fazendo aqui? — ele não parece muito feliz em vê-la, o que me lembra que nunca perguntei o que aconteceu entre eles dois.

— Vim convidar a Abby para fazer compras, mas ela está indo trabalhar. Você deveria dar uma folga a ela, sabe?

Não digo a ela que eu não faço nada naquela empresa além de mandar flores para a mãe de Dominic ou lhe fazer companhia.

— Bem, nos vemos depois — Beatrice me dá um abraço rápido, me surpreendendo, antes de se afastar, passando por Dominic. — Até mais.

Nós dois observamos Beatrice entrar no elevador e as portas fecharem. Dominic vira para mim, sobrancelhas erguidas.

— Por que você trata ela tão friamente? — pergunto antes que ele tenha a oportunidade.

— Beatrice ficou do lado do meu pai quando ele decidiu que queria largar a minha mãe pela sua secretária — pela forma como ele tensiona a mandíbula, sei quão gravemente isso afetou sua relação com ela. — O que ela queria?

— Fazer compras — minto. — Acho que ela quer se aproximar de mim.

Dominic balança a cabeça, distraído. Me aproximo dele, abraçando seu pescoço.

— Por que você chegou tão tarde? Está tudo bem? — não escondo minha preocupação. Eu nunca o vi chegar tão tarde do trabalho antes.

— Charles teve alguns problemas, mas já está tudo bem — beija brevemente meus lábios. — Vou tomar um banho rápido e a gente pode ir naquele café que você gosta, antes ir para empresa.

— O.K.

Deixo ele ir e tento afastar a sensação estranha que sinto. Não teria porque ele mentir para mim, porém, uma alerta soa em meu cérebro e eu tento afastar isso.

— Sabine está me chamando para uma noite das garotas. — leio a mensagem que minha cunhada acabou de me mandar. Faz um tempo que não saímos juntas.

Vai parecer estranho o que vou dizer, mas não tenho muitas amigas. É verdade que sempre que vou para festas e baladas, estou rodeadas de gente e conheço boa parte de Seattle, mas não tenho amigos de verdade. Bem, além de Sabine. Às vezes acho que nossa aproximação se dá apenas pela fato de ela ser casada com meu irmão, mas sei que não.

Pensando agora, sinto mesmo falta dela. Não só dela, mas dos meus sobrinhos e dos meus irmãos. Eu poderia dizer que estar envolvida com Dominic consumiu todo o meu tempo, mas eu nunca me afastaria da minha família e amigos por causa de algum homem. A verdade é que estou evitando a minha mãe. O fato de ela não acreditar que Finn é um desgraçado, ainda me magoa e sei que vê-la agora só causará outra briga e pode pôr um fim definitivo na nossa relação.

— Você deveria ir — Dominic diz, bebendo um pouco do seu café. Estamos em um dos meus lugares preferidos de Seattle, uma cafeteria com decoração dos anos 80. Fico feliz de Dominic ter se lembrado disso, quando mencionei há semanas atrás. — Você não quer ir?

Ele percebe minhas sobrancelhas franzidas. A verdade é que eu quero muito ir. Conversar com minha cunhada talvez me ajude a entender tudo o que venho sentido pelo homem a minha frente. Mas também não quero. Faltam apenas duas semanas para o acordo acabar e esse mundinho em que tenho me acomodado desaparecer e eu quero aproveitar o máximo que puder.

Eu também sei que estou sendo sensível e carente. E isso não cai nada bem em mim.

Penso melhor... Talvez sair hoje seja o que eu precise. Ressuscitar a velha Abby que adora uma festa e encher a cara pode me fazer ver que tudo isso aqui não passa de uma ilusão.

— Sim. Na verdade... — mando uma mensagem para Sabine, confirmando. — Eu acabei de aceitar. Hoje eu vou beber até esquecer o meu nome.

Eu não estava mentindo sobre o que disse a Dominic.

Horas mais tarde, estou em um bar com minha cunhada, onde metade das pessoas são homens tatuados, vestidos de preto com bandana na cabeça. Não sei como Sabine conhece um bar para motoqueiros, mas aqui estamos e meia hora atrás, um homem estava dando em cima de mim e peguntou o meu nome, eu apenas fiquei olhando para ele, esquecendo por alguns segundos como eu me chamava, até Sabine gritar para ele que meu nome era Abby e que eu tinha namorado.

— Tá, então você tá apaixonada pelo cara? Tem certeza que não é só pelo sexo incrível? — minha cunhada pergunta, depois de eu  contar que talvez esteja gostando um pouco demais do Dominic e que isso nunca tinha acontecido antes. Isso mesmo, Finn foi apagado da minha vida.

— Não sei. É claro que ele é muito bom e tem um pau maravilhoso, mas Dominic também é carinhoso e fofo e já demonstrou que se importa comigo várias vezes. — as palavras saem emboladas, mas ela também está bêbada e um bêbado sempre entende outro bêbado.

— Como quando te levou para Nova York ou para uma viagem até Tacoma, de helicóptero? — ela arqueia a sobrancelha ruiva, bebendo do seu drink pelo canudo.

— Bem... Eu não gosto dele por causa do dinheiro. É um bônus, é claro, porque ele fecharia a porra de uma loja só para termos privacidade, mas é mais que isso — bebo da minha cerveja, já não ligando para o gosto ruim. — Você precisa ver como ele é com a Lena. Ele é o homem mais fofo do mundo, sem brincadeira. E ele já cuidou de mim quando eu estava bêbada e uma confusão. Tenho certeza que se eu ligasse agora, ele largaria tudo e viria correndo para mim. Isso quer dizer alguma coisa, não é? Ou eu estou acostumada com migalhas e acho que isso é demais?

Sabine me olha por um tempo, talvez surpresa com tudo o eu disse. Eu nunca fui de dizer como me sinto em relação aos homens. Em partes porque eu nunca conheci alguém que realmente despertasse o que Dominic desaperta em mim. Esse desejo de querer algo mais. De querer um futuro. Com ele.

Por fim, Sabine segura minha mão, apertando.

— Eu garanto a você, querida, você não está recebendo migalhas. Alguém que fique ao seu lado e cuide de você ou que feche a porra de uma loja por sua causa, é alguém que valhe a pena se entregar.

Me entregar a Dominic. Exatamente isso que quero fazer, mas que tenho muito medo. Como posso chegar a ele e dizer que estou apaixonada, quando tudo isso começou com um acordo idiota sobre eu não me apaixonar por ele? E se ele não sentir o mesmo?

Todos os olhares que ele me dá, aqueles onde há mais que luxúria e desejo, eu estaria sendo idiota de ignorar, eu sei. Mas o que eles querem dizer? Que ele gosta de mim? Que ele sente pelo menos um pouco do que eu sinto?

Eu sou saber dessas coisas se contar para ele sobre como me sinto, não é?

Suspiro e bebo o resto da cerveja.

— A gente precisa dançar. Deveria ser a noite das garotas e não a "Noite da Abby para discutir se está ou não apaixonada". — puxo minha cunhada para a pequena pista de dança e me deixo levar pela música.

A última festa que estive foi há poucas semanas, mas eu já estava com saudade e ainda mais da minha amiga.

Sabine dá um completo show e a incentivo a subir no pequeno palco com uma barra de metal para pole dance.

— GOSTOSA! — grito para ela, dando risada quando ela me manda um beijo.

Seu corpo curvilíneo e a barra de metal parecem se dar muito bem e fico impressionada em como ela consegue realmente segurar sua perna naquilo e sensualizar.

— Ela é sua namorada? — alguém pergunta atrás de mim, depois de várias minutos. Viro-me para um homem alto e grande, com tantas tatuagens que fica difícil encontrar um pedaço de pele limpa.

— Minha esposa. — a mentira sai fácil uma vez que eu tenho uma aliança em meu dedo, que coloquei justamente para me livrar desse tipo de situação. Sabine, verdadeiramente casada, também tem uma aliança e como ela tem sensualizado esse tempo todo olhando para mim, não é difícil de acreditar. É claro que ele não sabe que ela está apenas brincando, o que é muito conveniente.

— Você e sua esposa não estão afim de ir dar uma volta comigo? — o homem tatuado olha para Sabine e para mim, como se tivesse achado seus novos brinquedos.

— Não, obrigada. Nós temos um relacionamento completamente monogâmico. — estou prestes a voltar minha atenção para Sabine, quando ele pega meu braço.

Opa, opa...

— Qual, é, gata? Você nem mesmo perguntou a sua parceira. Tenho certeza que ela ia adorar. — sorri, mostrando os dentes tortos.

— Você está errado e tire suas mãos de mim. — puxo meu braço, mas ele aperta. Mas que porra?

— Quanto vocês querem?

Mas que filho da puta...

— Olha aqui, seu merdinha, não somos prostitutas e mesmo que fôssemos, você ainda não teria nossos corpos em sua cama imunda. Agora me larga!

Ele parece que vai dizer alguma coisa, mas então sinto um braço ao redor da minha cintura e depois ouço a voz de Sabine:

— Você ouviu a minha mulher.

Com mais uma encarada horripilante, ele solta meu braço e Sabine rapidamente me afasta, mas não antes de eu ouvir o que o cara diz:

— Vadias.

Não é a primeira vez que me chamam de vadia, é claro, mas eu não costumo deixar que homens tatuados que se acham os donos do mundo, o façam.

Ainda estou ouvindo Sabine chamar meus nome quando dou meia volta e acerto o cara no rosto.

Oi de novo!

Tava me sentindo boazinha e postei dois Capítulos 😂

O que estão achando do comportamento misterioso do Dom?

Vocês gostam da Beatrice?

Acham que a Abby está mesmo apaixonada?

O que vocês esperam que aconteça no futuro?

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2bjs, môres♥

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