Ninguém Importante
— Então está dizendo que não vai passar o Natal conosco? — Steven está me olhando com as sobrancelhas erguidas, enquanto mantém os braços cruzados na cozinha da nossa mãe.
— É... Bom... Dominic tem uma reunião em Moscou no dia vinte e quatro e não sei se vou voltar a tempo. — minto descaradamente para o meu irmão. Confesso que exagerei em dizer Moscou, mas parece plausível.
Com Finn na cidade, não tenho dúvidas de que ele queira passar o Natal aqui e usar cada minuto para infernizar minha vida. Então, pretendo passar o Natal empanturrando de comida e assistindo The Vampire Diaries.
— Mamãe sabe? — meu irmão me observa limpar a cozinha e não move um centímetro para ajudar.
— Vim aqui para contar a ela. — estou na minha hora do almoço, então se ela não aparecer em dez minutos, precisarei ir embora.
— Ela vai ficar chateada.
— Ela não pensou se eu ficaria chateada quando fez um jantar para Finn, exigindo minha presença.
Reviro os olhos. Não devia ter vindo. Ligar para ela na véspera do Natal e dizer que não chegaria a tempo seria melhor. Suspiro ao terminar de limpar a mesa e olho para o relógio no balcão. Chega de esperar.
— Dê o meu recado a ela. — pego minha bolsa e saio da casa. O motorista de Dominic já está me esperando.
Não sei porque me dei o trabalho de vir aqui. Se minha mãe estivesse em casa, com certeza teríamos discutido, então talvez foi bom não encontrá-la. Eu lamento, confesso, não ter uma boa relação com minha mãe. Sempre invejei minhas amigas, quando adolescente, mas sempre tive meu pai e e meus irmãos, então não posso reclamar muito, apesar de não ser a mesma coisa.
Em meia hora eu estou de volta a Davenport Company. Passo por Grace, sem me importar em falar com ela e entro na sala de Dominic. Ele não está, provavelmente em alguma reunião, então aproveito isso. Sento em sua cadeira e passo as pernas pelo braço desta, enquanto lixo minhas unhas. Logo vou precisar fazer de novo, para poder ir para Nova York. Estou tão ansiosa que mal posso esperar.
Tiro minha atenção das unhas, vendo um pequeno envelope em cima da mesa. Não um envelope, mas um convite... Um convite de casamento. Pego o papel fino, olhando com mais atenção os nomes. Jennifer&Victor... Quem são?
Vasculho minha mente e... Ah rá! Victor Davenport, pai de Dominic...
— ... foi um acordo que nós fizemos... — o homem que acabou de entrar no escritório, para de falar ao me ver. Atrás dele, Dominic aparece. Não preciso de mais do que cinco segundos para saber quem é o homem de meia idade, alto e de olhos azuis. Parece que eu invoquei o diabo. — Sua secretária não deveria ter uma mesa só pra ela?
— Ela tem — Dominic responde e caminha até a mesa. Percebo que ainda estou em sua cadeira e me levanto. — O que faz aqui?
— Eu estava... vendo... seus compromissos para próxima semana — minto e ele percebe, mas não diz nada além de fazer sinal para que eu saia do caminho. — Deseja alguma coisa?
— Apenas que você saia — ele não me olha nos olhos, mas sua raiva está clara. Está com raiva de mim só porquê me encontrou na sua sala? — Agora.
— Eu quero um café sem açúcar. — o outro homem — pai de Dominic — diz.
— Não, não quer — Dominic diz, sério. — Senhorita Peterson, nos deixe a sós. E não entre mais na minha sala quando eu não estiver presente.
— É claro. Me desculpe. — anuo, tentando não transparecer a amargura no sorriso forçado que dou a ele, mesmo que não esteja me olhando.
Passo pelo seu pai, que preciso admitir: o homem é lindo. Não lindo como Dominic, mas uma beleza... Cruel? Não sei. A forma que seus olhos azuis, bem diferentes, mas iguais aos do filho, se estreitam quando eu passo, me causa arrepios.
— Quem é a moça? — ouço seu pai perguntar.
— Minha assistente pessoal. Ninguém importante.
Fecho a porta atrás de mim ao sair da sala e encontro o olhar de Grace. As palavras dele causando algo estranho em mim.
— Ele é sinistro, não é? — a mulher sorri de modo diabólico.
— Eu achei ele tão gato quanto o filho... Quem sabe não consigo fisgar o pai também. — pisco para ela, mesmo que o que digo seja mentira. Mas estou com raiva pela forma que Dominic me tratou e quando estou com raiva, faço e falo coisas idiotas.
— Você não tem vergonha? — Grace me olha com desgosto quando passo por ela, rebolando até minha mesa.
Ninguém importante.
— De ser bonita e gostosa? Nem um pouco. — sento em minha mesa, sorrindo.
— De ser uma vadia aproveitadora! — ela cospe as palavras antes de levantar e sair pra sabe-se Deus onde.
O que Grace não sabe é que já me acostumei com esse tipo de insulto, então não me abalo nem um pouco. Principalmente quando já estou irritada com outra coisa. Outra pessoa.
Ninguém importante.
Meia hora depois, o pai de Dominic sai do escritório, mas sem o filho seguindo-o. Ele não deve ter mais que 50 anos, mas mesmo assim parece ter menos. Ele exerce poder em cada passo que dá.
Victor Davenport para ao lado da minha mesa. Ergo o rosto para encará-lo, me sentindo ridiculamente pequena.
— Sei o que está fazendo, mas já estou lhe avisando: fique longe do meu filho. — a voz dele é grave e muito assustadora, mas não me deixo intimidar.
— Sou apenas a assistente pessoal dele. — pisco os olhos, fazendo cara de desentendida. Sou apenas Ninguém importante.
— Tenho minhas fontes, garota. Sei que você é só uma...
— Vadia aproveitadora? — dou risada. — Seu filho não parece muito incomodado com isso, considerando que ele parece muito satisfeito.
— Fique. Longe. Dele. — com mais um olhar que ameça me partir ao meio, Victor se vai.
Eu suspiro. Entendo porque Dominic é assim, no fim das contas.
Quando terminamos, às 20:00hrs, entramos no elevador para ir embora. Dominic não falou comigo ou sequer me pediu desculpas. Não, ele me chamou na sua sala depois, mas foi para ligar para uma floricultura e mandar flores para sua mãe. Apenas isso. Ele nem mesmo olhou nos meus olhos, parecia muito concentrado nos papéis em sua mesa.
— Onde vai? — ele pergunta quando faço menção de sair do elevador, quando as portas se abrem no saguão da empresa. Olho para ele por cima do ombro.
— Sair. Não me espere acordado. — lhe dou as costas e as portas do elevador se fecham antes que ele faça qualquer coisa.
Eu não pretendia sair, mas não posso voltar para'quela cobertura agora. O táxi que pedi já está me esperando, então dou o endereço de uma bar que eu costumava ir quando trabalhava no meu antigo emprego.
Quando chego, não bebo mais que três doses de tequila e passo o resto da noite com um gin. Foram sete horas. Sabia que estava cheirando a bebida quando finalmente fui para cobertura. E sei que o relógio marca 02:00hrs quando as portas do elevador se abrem e eu cambaleio um pouco por contas dos saltos, ao sair.
— Sabe que horas são? — a voz de Dominic me faz sobressaltar e eu estreito os olhos, procurando-o na sala escura. As luzes se acendem e eu posso vê-lo melhor. Ele está sentado no sofá, aparentemente ainda com as roupas do trabalho e um copo de whisky na mão.
— 02:00? — jogo meus saltos em qualquer canto e caminho até as escadas. Dominic já está em minha frente. — O quê?
— Onde estava? E por quê está cheirando a tequila? — ele franze as sobrancelhas para minha roupa. Me livrei do blazer, abrindo alguns botões da minha camisa, o suficiente para ver o sutiã vermelho por baixo e subi um pouco minha saia.
— Estava por aí. Fico surpresa por você não rastrear meu telefone. — tento passar, mas ele segura meu braço. Não forte o bastante para machucar, mas o suficiente para mostrar sua impaciência.
— Por que não me ligou? Eu preparei o jantar. — de fato, na mesa perto da sacada a mesa está feita, a comida intocada.
— Não queria ser tratada como lixo de novo. — digo firme. Ele pisca.
— Está chateada por causa daquilo?
— Aquilo? É tão fácil para você minimizar uma humilhação? — pergunto, olhando-o com desprezo.
— Não falei por mal... Era meu pai e ele...
— Só por isso dá a você o direito de me humilhar? Se tem problemas com sei pai, não desconte em mim. Ou você acha que só porque temos esse acordo estúpido, você pode me tratar como bem entender?
— Não... Claro que não...
— Não é o que parece. Não vou ser o brinquedinho de um garoto mimado que sempre fez o que bem quis da vida. Você não é muito diferente de outros homens que já estive. — não me importo se vou magoá-lo com isso. E pelo visto, eu fiz, pois seu aperto se firma.
— Não diga o que não sabe. — ele diz entre dentes, seu temperamento tão bem controlado transparecendo.
— Não me trate daquela forma de novo! — ms livro do seu aperto, subindo as escadas para o meu quarto.
Dominic pode ser bom na cama e me levar a lugares chiques e me dar jóias e roupas, mas isso não dá a ele o direito de me tratar como uma ninguém com quem ele só mantém sexo casual. E se foi por isso que ele me ofereceu aquele contrato, vou fazê-lo se arrepender.
Pela manhã, acordo com algo molhado em meu rosto e sorrio para bola de pelo que está me lambendo.
— Bom dia pra você também — pego Lena no colo, segurando ela como se fosse um bebê. — Você é um bebê, na verdade. A bebê mais linda e charmosa — beijo o focinho dela. — Ah, e eu? Eu sou a mamãe mais linda e gostosa!
Lena late em resposta e dou risada. Eu amo tanto essa cachorrinha. Sinto como se estivesse realizando um sonho de criança. Acho que estou na verdade, pois sempre sonhei com uma Lena e agora tenho ela em meus braços.
Ela lambe meu rosto.
— Se você continuar assim, acho que não vou precisar tomar banho...
Uma batida soa na porta. Lena é mais rápida e em um piscar de olhos, a danada já está choramingando na porta. Sento-me na cama.
— Está aberta. — eu deveria ter trancado a porta ontem, considerando a nossa discussão, mas...
Dominic abre e minhas sobrancelhas se erguem quando vejo a bandeja em suas mãos.
— Bom dia. — ele sorri. Um sorriso meio hesitante, percebo.
— Bom dia. — não retribuo o sorriso, porém.
— Hã... Eu... vim trazer seu café da manhã... — Lena está latindo nos pés de Dominic, pedindo atenção. — Sei que isso não desculpa a forma que tratei vocês, mas...
— Lena! — eu a chamo quando seus latidos ficam mais agudos. Lena para, ouvindo o tom da minha voz e se senta aos pés do homem em meu quarto.
— Como eu dizia — um olhar acusatório para a cachorra. — Queria pedir desculpas pelo meu comportamento.
Eu o encaro. Dominic está me pedindo desculpas. O homem com quem eu gritei ontem e chamei de mimado, está de pé na porta do meu quarto com uma bandeja de café da manhã e me pedindo desculpas.
— Tudo bem. — controlo meu sorriso convencido e ele caminha até a cama com Lena no encalço.
Ele preparou mesmo uma bandeja de café da manhã. Há panquecas, brownie, croissant, pão de queijo, café, suco, iogurte e frutas.
— Vou ficar mal acostumada — franzo o cenho, mas pego um croissant, Lena vem pra cima de mim. — Não vou dar a você, sua traidora.
Dominic dá risada, chamando minha atenção. Eu odeio o fato de ele ser tão lindo e gostoso, especialmente agora, sem camisa.
— Não vai comer? — pergunto. Ele arqueia a sobrancelha, um sorriso malicioso formando em seus lábios. — Comida.
— Defina comida, Abby. — ele ronronora. Um arrepio percorre minha coluna, mas não desvio da ardência do seu olhar.
— Estou falando de café da manhã. Não sei como você consegue pensar essas coisas com uma criança entre nós.
Ele faz uma careta e Lena vai para o colo dele, empurrando com o focinho a mão que Dominic tem sobre a coxa. Ele distraindamente coça a cabeça da cachorra.
Sorrio com essa cena e volto para o meu café da manhã.
Demorei, mas voltei!
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2bjs môres ♥
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