♡ | 0.4
𖹭⠀࣭⠀ֹ capítulo 04 ⊹ㅤ ㅤ゜★
❛ quando ela fala assim, sempre acaba em confusão. ❜
❛ postado em 07/11/2024
3.831 palavras | não revisado.
O CHEIRO DE PANQUECAS ENCHIA A COZINHA, misturando-se com o aroma de café fresco e o som de risadas abafadas. Agatha estava sentada à mesa, observando Rio lutar com uma frigideira e um lote teimoso de panquecas que insistiam em queimar de um lado e ficar cruas do outro.
─── Não tem como isso ser tão difícil.
Rio resmungou, mexendo a frigideira com mais energia do que o necessário.
─── Você está basicamente tentando assassinar panquecas. ─── Agatha comentou, tomando um gole do café, o olhar cheio de diversão. ─── Quem diria que a paisagista renomada não sabe lidar com uma frigideira?
─── Ah, por favor, Harkness. ─── Rio rebateu, gesticulando com a espátula. ─── Isso vindo de quem teve que assistir um tutorial para fritar um ovo?
─── O fogão elétrico estava possuído. ─── Agatha respondeu com a dignidade de quem não admitiria derrota. ─── Uma força maligna, claramente.
Elle entrou na cozinha nesse momento, vestindo um moletom de Nicky que parecia grande demais para ela.
─── Mamãe, pare de implicar com o fogão.
Ela disse, piscando para Agatha enquanto roubava uma panqueca mal cozida direto da pilha.
─── Ei!
Rio tentou protestar, mas Noelle já estava mastigando, fazendo uma careta exagerada.
─── É como comer cola com crosta.
Ela zombou, o tom cheio de provocação.
─── Vou fingir que não ouvi isso.
Rio murmurou, jogando outra tentativa de panqueca na frigideira. Nicky entrou logo depois, o rosto ainda amassado do cochilo que tirou, os cabelos em um emaranhado impossível. Ele carregava um caderno embaixo do braço.
─── Bom dia.
Ele murmurou, sentando-se ao lado de Agatha e colocando o caderno na mesa.
─── O que é isso?
Agatha perguntou, inclinando-se para olhar.
─── Minha lista de coisas que precisamos fazer no rancho. ─── Ele explicou, folheando as páginas. ─── Tipo, arrumar o cercado das cabras, pintar o galpão e consertar a porta do celeiro.
─── Isso é adorável, Nicky. ─── Agatha disse, passando a mão no cabelo dele. ─── Mas você percebeu que está falando com sua mãe e com a pessoa que quase incendiou a cozinha agora há pouco, certo?
Rio bufou.
─── Não estou ouvindo críticas construtivas.
─── Construtivas? ─── Elle riu, apontando para a frigideira. ─── Mamãe, você precisa de um mapa para fazer panquecas.
Rio olhou para ela, semicerrando os olhos.
─── Querida, eu tenho duas palavras para você: tarefas domésticas. Serão sua responsabilidade.
─── Duas palavras pra você também: boa sorte.
Noelle respondeu, saltitando para longe antes que Rio pudesse alcançá-la. Enquanto isso, Nicky olhou para Agatha, como se quisesse sugerir algo, mas estivesse hesitante.
─── Vai em frente, querido.
Agatha o encorajou.
─── Talvez... talvez possamos ajudar no rancho enquanto estivermos aqui? ─── Ele sugeriu. ─── Acho que seria legal trabalhar juntos.
Agatha levantou uma sobrancelha, olhando para as unhas perfeitamente feitas.
─── Eu e um galpão velho? Parece a combinação perfeita.
─── Bem-vinda ao rancho, Harkness. ─── Rio disse, entregando um prato com uma pilha de panquecas desiguais. ─── Aqui, nossa comida é uma aventura e nossos dias são uma bagunça organizada.
─── Mais bagunça do que organizada, eu diria.
Agatha murmurou, mas havia um sorriso no canto dos lábios enquanto pegava um garfo.
Rio observou Agatha pegar um pedaço de panqueca e analisá-lo como se estivesse prestes a degustar um prato em um restaurante cinco estrelas.
─── Vamos lá, Harkness. É só uma panqueca, não uma cirurgia cerebral.
Rio provocou, cruzando os braços.
─── Eu só estou... me preparando mentalmente.
Agatha respondeu, finalmente dando uma mordida pequena e cuidadosa. Ela mastigou devagar, o rosto inexpressivo.
─── E aí?
Nicky perguntou, inclinando-se para frente, claramente esperançoso de que a mãe não fosse reclamar. Agatha colocou o garfo na mesa com um floreio exagerado.
─── Bom, eu ainda estou viva. Então, por enquanto, acho que posso dizer que é comestível.
Rio revirou os olhos, mas não conseguiu evitar um sorriso.
─── Ah, obrigada, Vossa Alteza. Vou me lembrar disso quando você pedir mais café.
Noelle, que estava observando a troca com um sorriso malicioso, decidiu entrar na conversa.
─── Eu acho que as panquecas estão ótimas, mami Vidal. ─── Ela disse, usando um tom que parecia ao mesmo tempo genuíno e cheio de implicância. ─── É melhor do que aquela vez em que mamãe Harkness tentou fazer omelete e acabou com... o que era mesmo? Lava derretida?
─── Foi uma experiência científica.
Agatha respondeu com dignidade. Nicky riu, finalmente relaxando ao ver que a tensão entre suas mães parecia ter desaparecido, pelo menos por enquanto.
─── Sabe, talvez devêssemos criar um sistema de rodízio para as refeições. ─── Ele sugeriu, olhando de Agatha para Rio. ─── Assim, ninguém se cansa e todos têm a chance de mostrar seus... talentos culinários.
─── Boa ideia. ─── Elle concordou, apontando para Agatha. ─── Porque se deixarmos só nas mãos da Vidal, podemos acabar vivendo de panquecas queimadas.
─── Ei!
Rio protestou, fingindo indignação. Agatha sorriu, pegando a xícara de café.
─── É uma ideia razoável. Eu posso trazer um toque de sofisticação para este rancho. Quem sabe até transformar a cozinha em algo digno de um reality show gastronômico.
─── Reality show? ─── Rio zombou, rindo. ─── Aqui no rancho? Boa sorte com isso, querida.
Enquanto os gêmeos gargalhavam, Agatha percebeu que, apesar do caos, havia algo reconfortante na atmosfera daquele café da manhã. Por mais que sentisse falta do conforto de sua vida em Londres, estar ali, com Rio e os gêmeos, fazia tudo parecer... certo.
(...)
RIO ESTAVA ANIMADA ENQUANTO AJUSTAVA O CHAPÉU NA CABEÇA E PUXAVA AS BOTAS, prontamente ignorando o olhar cético que Agatha lançava em sua direção.
─── Vamos lá, turma. Hoje é dia de mostrar a vocês o coração do rancho Vidal.
Ela anunciou, abrindo a porta e gesticulando para que todos a seguissem. Elle foi a primeira a sair, pulando degraus como se estivesse indo para uma aventura épica. Nicky a seguiu, ajustando os óculos e claramente tentando evitar tropeçar em alguma coisa. Agatha permaneceu no limiar da porta, cruzando os braços e observando o ambiente externo com a expressão de alguém que estava prestes a ser jogada em um território inóspito.
─── Harkness, não me diga que vai se acovardar agora. ─── Rio provocou, voltando para estender a mão para ela. ─── São só plantas, terra e talvez uma ou outra galinha.
─── Mais galinhas? ─── Agatha ergueu uma sobrancelha. ─── Você me trouxe para um lugar onde coisas emplumadas correm soltas?
─── Sim, e você vai sobreviver. Agora, vem logo antes que Elle resolva colocar o rancho abaixo enquanto espera.
Com um suspiro dramático, Agatha pegou a mão de Rio e desceu cuidadosamente o degrau. Seus sapatos caros imediatamente afundaram na terra fofa, fazendo com que ela perdesse o equilíbrio por um momento.
─── Ótimo. Isso vai acabar com o couro italiano.
─── Ou você pode simplesmente usar botas como uma pessoa sensata. ─── Rio segurou a mão dela firmemente, guiando-a até um caminho mais estável. ─── Não é um desfile de moda, Harkness.
─── Não, é um campo de testes para a minha paciência.
Enquanto as crianças corriam à frente, explorando os arredores, Rio conduziu Agatha para uma área repleta de arbustos floridos e árvores cuidadosamente plantadas.
─── Aqui é onde faço a maior parte do meu trabalho. ─── Rio explicou, a voz cheia de carinho enquanto passava a mão por uma trepadeira florida. ─── Esse lugar é um pedaço do céu para mim.
Agatha observou Rio falar sobre as plantas com tanto entusiasmo que, por um momento, esqueceu do desconforto causado pelos sapatos inadequados ou pelo calor.
─── Nunca pensei que você fosse abandonar os grandes projetos para cuidar de um lugar como este.
Agatha disse, genuinamente surpresa. Rio deu de ombros.
─── Eu ainda faço projetos. Só que, agora, também tenho algo que é só meu. ─── Ela olhou para Agatha e sorriu. ─── E, quem sabe, algo que também pode ser um refúgio para as crianças... e para você, se resolver tirar a cabeça da cidade.
Antes que Agatha pudesse responder, um grito de Noelle ecoou do outro lado do campo.
─── Ei! Tem um esquilo me encarando! Isso é normal?!
Rio riu, soltando a mão de Agatha e começando a caminhar na direção das crianças.
─── É só um esquilo, Elle! Ele não vai roubar sua alma!
Agatha ficou para trás por um momento, observando Rio interagir com os gêmeos. Algo no cenário — a simplicidade, a risada das crianças, a forma como Rio parecia completamente em casa — fez com que ela respirasse fundo.
Elle e Nicky estavam sentados em um velho tronco de árvore próximo ao celeiro, observando Rio e Agatha à distância. Rio falava animadamente sobre alguma planta enquanto Agatha, claramente tentando esconder o desconforto, fazia perguntas pontuais e um pouco cínicas.
─── Elas são tão... diferentes.
Nicky comentou, ajustando os óculos.
─── Diferentes, sim. Mas dá pra ver.
Elle respondeu, apoiando o queixo na mão.
─── Ver o quê?
─── Que ainda existe alguma coisa ali. ─── Elle apontou com a cabeça para as mães. ─── Olha pra elas. A mamãe tá tentando não rir das piadas ruins da mami, e a mami tá claramente se divertindo em deixá-la desconfortável. Isso é... sei lá, tipo a definição de química.
Nicky observou mais atentamente, tentando enxergar o que Elle via. Era verdade que havia algo na forma como Rio olhava para Agatha, algo entre provocação e ternura. E, se ele não estivesse enganado, a rigidez habitual de Agatha parecia menos presente.
─── Tá, mas... o que a gente pode fazer sobre isso?
Nicky perguntou, desconfiado. Elle deu de ombros, mas seu sorriso travesso já entregava que ela estava planejando algo.
─── Não sei ainda, mas é óbvio que elas precisam de um empurrão. Elas não vão admitir que ainda se gostam, então cabe a nós salvar essa família antes que a mamãe decida se casar com aquela... socialite insuportável.
─── A Dottie?
Nicky perguntou, com um tom meio incrédulo. Ele não acreditava que Agatha iria tão longe, não, mas Elle? Ela conhecia sua mãe como a sua própria mente, sabia que Harkness iria até o final se isso significasse fugir de seus sentimentos.
─── Claro! ─── Elle revirou os olhos. ─── Nicky, você não viu? A Dottie tá basicamente se achando a rainha do universo porque conseguiu fazer a mamãe dizer sim pra ela. Mas não é amor de verdade. É... é teimosia, ou sei lá.
Nicky hesitou.
─── Mas e se não der certo?
─── Vai dar. ─── Elle declarou com firmeza. ─── Porque elas se amam. Mesmo que ainda sejam burras demais pra perceber.
Nicky suspirou, olhando para as mães novamente. Rio tinha acabado de fazer uma brincadeira e Agatha riu, um som raro e sincero. Ele não podia negar: Elle podia estar certa.
─── Ok. Mas sem confusão demais, tá?
Nicky pediu, já sabendo que isso era pedir muito. Elle sorriu, vitoriosa.
─── Pode deixar, irmãozinho. Vai ser discreto.
Os dois voltaram a observar as mães, enquanto ideias começavam a fervilhar na mente de Elle. Se dependesse dela, a família Vidal-Harkness estaria junta novamente antes que alguém pudesse dizer "renovação de votos".
(...)
RIO ESTAVA NA VARANDA, enquanto Agatha tentava lidar com o calor em um vestido leve e, claro, seus inseparáveis óculos de sol. Nicky lia um livro na sombra de uma árvore próxima, e Elle observava todos com aquele olhar que significava uma coisa: ela estava aprontando.
─── A gente devia fazer um piquenique.
Elle sugeriu, casualmente, mas com um brilho nos olhos que entregava suas intenções.
─── Um piquenique? ─── Agatha arqueou uma sobrancelha perfeitamente desenhada, claramente desconfiada. ─── No meio do nada?
─── Não é no meio do nada. ─── Elle retrucou, cruzando os braços. ─── Mami disse que tem um rio ali perto.
Rio levantou a cabeça ao ouvir seu nome e sorriu.
─── É verdade. Tem um rio a uns 15 minutos daqui. A água é limpa, tem umas árvores lindas por perto...
─── Parece maravilhoso! ─── Elle exclamou antes que Agatha pudesse intervir. ─── Vamos! Vai ser divertido.
Nicky, que tinha ouvido a conversa toda, suspirou e fechou o livro.
─── Elle... mamãe vai nos matar.
Ele sussurrou.
─── Não seja tão dramático, Nicky. ─── Elle respondeu, balançando a mão como se afastasse qualquer preocupação. ─── É só um piquenique.
Rio riu, cruzando os braços.
─── Acho que pode ser bom. Um pouco de ar fresco. E quem sabe, Agatha, você não descobre que o mundo fora de um escritório e um sapato de salto pode ser interessante?
Agatha revirou os olhos, mas Rio viu um canto de sorriso surgir nos lábios dela.
─── Interessante é uma forma educada de dizer insuportável. Mas tudo bem. ─── Ela suspirou, apontando para Elle. ─── Isso é por você, senhorita. Não me faça me arrepender.
Elle deu um pequeno salto de alegria e foi correndo preparar as coisas, deixando Nicky sentado na grama com uma expressão de pura resignação.
─── Quando ela fala assim, sempre acaba em confusão.
Ele comentou, para ninguém em particular. Rio deu uma palmadinha reconfortante no ombro dele.
─── Relaxa, campeão. O que poderia dar errado?
─── Eu consigo listar umas dez coisas agora.
Nicky respondeu, sério, enquanto os outros riam.
(...)
O GRUPO CAMINHAVA EM DIREÇÃO AO RIO, cada um com sua tarefa definida. Os gêmeos, animados, levavam a cesta de piquenique abarrotada de coisas que Agatha insistira em preparar sozinha: sanduíches cortados em triângulos perfeitos, biscoitos caseiros que ela jurava serem melhores que qualquer coisa comprada, um pequeno pote de geleia artesanal que ninguém pediu, mas que ela trouxe mesmo assim e uma infinidade de doces e aperitivos.
Agatha, por sua vez, vinha logo atrás, usando um par de botas desgastadas que Rio havia emprestado.
─── Isso é... diferente. ─── Agatha comentou, tentando equilibrar-se enquanto enfrentava o terreno irregular. ─── E por diferente, quero dizer horrível. Quase uma tentativa de assassinato, preciso dizer.
─── Ei, essas botas têm história. ─── Rio respondeu, segurando o braço dela para ajudá-la a atravessar um pequeno barranco. ─── Usei elas em vários projetos. Dá pra sentir a energia criativa no couro.
─── Acho que o que estou sentindo é umidade. ─── Agatha retrucou, olhando para os pés com uma careta. ─── E por que o chão tem que ser tão irregular? Quem pensou nisso?
─── A natureza, Harkness. ─── Rio respondeu com um sorriso divertido. ─── Ela não faz planejamento urbano.
Nicky, que vinha um pouco mais à frente, olhou para trás com preocupação.
─── Mamãe, você tem certeza de que não quer descansar?
─── Não, obrigada. ─── Agatha respondeu, mas parecia mais determinada em não dar esse gosto a Rio do que realmente confiante. ─── Estou perfeitamente bem.
Elle, ao lado do irmão, estava claramente se divertindo com a cena.
─── Sabia que botas de trilha não são só um acessório, né? ─── Ela provocou, lançando um olhar para Agatha. ─── Tipo, é pra isso que servem.
─── Eu já entendi o conceito, obrigada.
Agatha respondeu, sua voz seca, mas sem conseguir esconder um pequeno sorriso no canto da boca. Rio olhou para Elle, piscando para a filha de forma conspiratória.
─── Não pega tão pesado com ela. Esse é o treinamento básico de sobrevivência no campo.
─── Se isso é básico, prefiro reprovar.
Agatha retrucou, tentando sacudir um galho que havia se agarrado à sua saia.
Quando finalmente chegaram ao rio, a vista era de tirar o fôlego. A água límpida corria calmamente entre as pedras, cercada por árvores altas que balançavam ao som de uma brisa leve. Rio ajudou Agatha a se sentar em uma grande pedra plana enquanto os gêmeos se adiantavam para organizar o piquenique.
─── Admito, é bonito. ─── Agatha disse, olhando ao redor enquanto limpava o suor da testa com um lenço que provavelmente valia mais do que as botas que estava usando. ─── Selvagem, mas bonito.
─── Assim como você.
Rio respondeu, casualmente, enquanto retirava os sapatos para molhar os pés na água. Agatha lhe lançou um olhar exasperado, mas estava sorrindo.
Elle, observando de longe, cutucou Nicky com o cotovelo.
─── Você tá vendo o que eu tô vendo?
─── Se você quer dizer mamãe parecendo ligeiramente menos irritada do que o normal, sim.
Nicky respondeu, ajustando os óculos.
─── Isso é progresso.
Elle murmurou, sorrindo com o canto da boca. Agora era só dar mais um empurrão.
Agatha suspirou profundamente, observando o rio à sua frente. O sol refletia na água, criando pequenos brilhos que pareciam dançar ao som do vento suave. Era um cenário perfeito, quase surreal, e por um momento ela se esqueceu de que estava no meio do nada com botas emprestadas e seus gêmeos tramando algo pelas sombras.
Rio sentou-se ao lado dela, ainda com os pés na água, balançando-os como uma criança despreocupada.
─── Faz tempo, né?
Rio disse, quebrando o silêncio de forma suave. Agatha virou o rosto para olhá-la, um pouco surpresa pela pergunta, mas encontrou nos olhos de Rio algo que não via há muito tempo: uma ternura sincera, desarmada.
─── Faz tempo o quê?
Agatha perguntou, tentando soar casual, mas sua voz vacilou levemente.
─── Desde que estivemos assim. Você sabe, só... juntos. Sem brigar, sem advogados, sem muros entre a gente.
A sinceridade nas palavras de Rio a atingiu de forma inesperada, e Agatha desviou o olhar, fixando-o no rio novamente.
─── Bom, considerando que você preferiu o campo à civilização, acho que não ajudou muito a facilitar encontros como este.
Agatha tentou manter o tom leve, mas havia um peso em sua voz. Rio riu, um som baixo e caloroso.
─── E você não perdeu nenhuma oportunidade de me lembrar disso, sempre.
─── Alguém tinha que fazer o trabalho sujo.
Agatha respondeu com um pequeno sorriso. Rio a observou por um instante, estudando os detalhes que conhecia tão bem: o jeito que ela franzia a testa, a forma como sempre parecia estar segurando o mundo inteiro nos ombros, mas ao mesmo tempo se recusava a deixar qualquer coisa a quebrar.
─── Você ainda se preocupa demais com tudo, sabia?
─── Alguém precisa se preocupar, porque claramente você não faz isso.
Agatha respondeu rapidamente, mas havia um toque de carinho na sua voz. Ela sempre atacava, Rio sabia, mas isso nunca foi sobre ferir. Era autopreservação.
─── Não é verdade. ─── Rio retrucou, sua expressão mais séria. ─── Eu me preocupo. Muito.
Agatha finalmente olhou para ela, os olhos encontrando os de Rio de forma tão intensa que o tempo pareceu parar.
─── Com o quê?
Ela perguntou, mais baixo.
─── Com você. ─── Rio respondeu sem hesitar, sua voz suave, mas firme. ─── Com os gêmeos. Com o que eu estraguei... ou o que nós estragamos.
─── Rio...
─── Só estou sendo honesta. ─── Rio interrompeu suavemente. ─── Esses últimos anos foram... complicados. Mas ver você aqui, mesmo resmungando sobre botas e galinhas, me lembra do que tínhamos. Era bom, divertido.
Agatha ficou em silêncio por um momento, olhando para o rio à sua frente.
─── O que tínhamos... parecia tão fácil antes.
─── Porque era fácil. ─── Rio disse, sua voz baixa. ─── Nós éramos boas juntas, Agatha. Sempre fomos.
Agatha respirou fundo, lutando contra a onda de emoções que ameaçava transbordar.
─── E, mesmo assim, terminamos.
Rio inclinou a cabeça, observando Agatha com uma expressão que misturava carinho e tristeza.
─── Terminamos porque somos teimosas e orgulhosas. Não porque não nos amávamos.
Agatha finalmente se permitiu olhar diretamente para ela, e por um momento, foi como se os anos de distância e mágoa desaparecessem. Era a mesma Rio que a fazia rir até chorar, que sabia exatamente como acalmá-la nos piores dias, que a fazia se sentir viva.
Agatha abriu a boca para responder, mas foi interrompida por um som de risadas abafadas. Ela virou-se e viu os gêmeos não muito longe, espiando por detrás de uma árvore.
─── Vocês estão tramando alguma coisa, não estão? ─── Agatha perguntou, levantando uma sobrancelha.
Elle saiu de trás da árvore com um sorriso inocente — ou tão inocente quanto ela conseguia parecer.
─── A gente? Tramando? Nunca!
─── Vocês estão me deixando nervosa.
Agatha disse, mas Rio riu, balançando a cabeça.
─── Relaxa, Harkness. Aproveita o momento.
Agatha bufou, mas acabou sorrindo, sentindo o peso nos ombros diminuir um pouco.
─── Vocês vão ficar aí trocando olhares ou vão comer? A gente não trouxe essas panquecas pra alimentar as formigas, hein!
Elle gritou, mal escondendo o sorriso conspirador. Rio deu uma risadinha, afastando-se um pouco.
─── Parece que a realeza nos convoca.
─── Pelo menos alguém entende o sacrifício dessas panquecas.
Agatha respondeu, levantando-se com a ajuda de Rio. Os gêmeos lançaram olhares rápidos um para o outro, satisfeitos em ver o plano progredindo.
Ainda há tempo para consertar as coisas, Elle pensou, um sorriso confiante em seus lábios.
Agatha se aproximou do piquenique montado pelos gêmeos, ajustando a barra do casaco enquanto tentava parecer indiferente ao terreno instável. Rio, ao seu lado, ria baixinho enquanto ajeitava a cesta.
─── Bem, parece que vocês dois finalmente fizeram algo direito. ─── Agatha comentou, lançando um olhar de falsa severidade para os filhos.
─── Claro, porque a gente nunca faz nada direito, né? ─── Elle respondeu, revirando os olhos, mas com um sorriso nos lábios.
─── Eu sou o exemplo perfeito de sucesso na criação de vocês. ─── Nicky acrescentou, estufando o peito de forma exagerada, fazendo todos rirem.
Eles se acomodaram no cobertor improvisado, com o sol aquecendo suas costas e o som do rio como trilha sonora. Agatha começou a passar os pratos, cada movimento dela meticulosamente elegante, mesmo em um cenário tão casual.
─── Ok, regras do piquenique. ─── Rio começou, empilhando panquecas em seu prato. ─── Número um: não existe etiqueta. Pode comer com as mãos.
─── Nem pensar! ─── Agatha exclamou, horrorizada. ─── Estamos no meio do mato, mas ainda temos civilidade.
─── Civilidade? ─── Rio perguntou com um sorriso desafiador, pegando uma panqueca com as mãos e dando uma mordida exagerada.
─── Barba Azul ficaria orgulhosa de você, Vidal. ─── Agatha murmurou, arrancando risadas dos gêmeos.
Enquanto comiam, Elle e Nicky começaram a contar histórias do colégio, exagerando cada detalhe para arrancar reações das mães.
─── E então, a professora me chamou de “encantador, mas exaustivo”! ─── Nicky disse, rindo.
─── Ela tem razão. ─── Agatha comentou sem hesitar, arrancando uma careta ofendida do filho.
─── Ei! Você devia me defender!
─── Contra a verdade? ─── Rio perguntou, piscando para Agatha.
Por um momento, o tempo parecia suspenso. Eles riam, compartilhavam comida, e o peso de todas as brigas e ressentimentos parecia distante.
Elle observou as mães interagirem, notando os pequenos gestos — a forma como Rio sempre olhava para Agatha antes de falar, como Agatha relaxava quando Rio estava por perto.
─── É quase como antes. ─── Nicky murmurou ao lado da irmã, em voz baixa.
─── Ainda pode ser, Nick. ─── Elle respondeu com determinação. ─── A gente só precisa fazer da vida delas um inferno.
Nicky sorriu, mordendo um pedaço de panqueca.
• 💗 . . OO1 ❜ A dinâmica de Agatha e Rio é ouro puro kkkkk
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