015. Sobrenaturais
Bento Hinoto
P.O.V.
Tudo bem. O fato que me deixou mais abismado com tudo isso não foi o nosso avião simplesmente ter dado um jeito de viajar no tempo e, consequentemente, o meu namoro com a Aninha ter chegado ao fim. O fato é que tinha alguma coisa naquelas três garotas — Giovanna, Cindy e Raquel — que estava me deixando intrigado. Eu não sabia bem o que era, e eu não conseguia sequer explicar porque eu me sentia assim sobre elas. Algo apenas me diziam que elas tinham alguma coisa.
Cindy e Giovanna formavam um casal muito bonito. Depois de dar a informação sobre a festa que estava planejando, Cindy puxou a Giovanna para o quarto e as trancou a sós lá dentro. O que conversaram eu não sei, mas não foi algo imediato. Enquanto Raquel e os Reoli procuravam um filme para assistir na televisão da sala, eu fui até o banheiro tomar um banho. Ao sair, me deparei com o casal na cozinha, preparando um café da tarde para nós em silêncio enquanto trocavam olhares. Algo me diz que se estivesse ali naquele momento, o Dinho se sentiria muito incomodado vendo aquela cena.
Eu conheço o Alecsander como a palma da minha mão. Ele não era ciumento com qualquer um, mas desde que conheceu a policial, ficou estranhamente muito superprotetora com ela. Eu só queria ser uma mosquinha para ver a cara que ele fez ao rever a Valéria e com a Giovanna estando presente no mesmo local. Isso porque eu tenho certeza que, agora, ele está a fim da morena.
E infelizmente ela namora. Digo INFELIZMENTE porque até eu quis ficar com ela. Azar se eu ainda namorasse.
Não, eu não sou um fura-olho. Eu apenas estou muito confuso desde que desembarquei em Guarulhos novamente.
Não consigo adivinhar o que está pegando comigo, mas algo bom eu tenho certeza que não é. Eu tenho medo de contar para alguém e ser taxado de "louco", mas… Parece que eu tenho visto a alma das pessoas ou coisas assim. Eu não consigo controlar essas visões, elas vêm espontaneamente. E naquela hora eu estava tendo essas visões sobre aquelas três garotas.
Enfim. O café ficou pronto e a mesa foi posta. Todo mundo se sentou ao redor dela para lanchar.
Eu sempre fui o mais introvertido do grupo, naturalmente, mas confesso que eu estava mais introvertido do que o normal nos últimos dias. Quem percebeu isso foi o Samuel. O Reoli estava sentado ao meu lado na mesa quando deu um pisão no meu pé esquerdo para chamar a minha atenção para si. Quando me virei para ele, o garoto sussurrou:
— Ei, cara, tá tudo certo?
Como resposta, eu balancei a cabeça negativamente. Assim, antes que ele perguntasse o motivo, eu rapidamente liguei o meu gesto com uma frase e disse:
— Tem algo de estranho com elas — sutilmente, fiz um gesto na direção das garotas. Por um milagre, Samuel compreendeu o que eu quis dizer. Ergueu as sobrancelhas, pigarreou levemente e se ajeitou na sua cadeira.
— Eu também acho — para a minha surpresa, ele concordou comigo sem nem ao menos me questionar. O que estava acontecendo? Era um milagre! Samuel nunca concordava comigo assim, tão facilmente. — Essa festa na casa da Cindy não vai dar algo bom.
Cara, era exatamente isso o que eu estava achando naquele momento. Como o Samuel conseguiu adivinhar?
Eu o encarei portando uma expressão confusa no meu rosto. Ele me encarou de volta, com uma expressão semelhante à minha. Nenhum dos dois falou mais nada naquele momento, apenas voltamos a comer normalmente, hora ou outra nós entreolhando.
.•♫•♬•♬•♫•.
— Bento.
À noite, em um momento de brecha, Samuel chamou a minha atenção. Eu me encontrava sentado no sofá da sala, sozinho e procurando algo para assistir na tevê enquanto tentava passar o tempo e esperava o sono chegar. O Reoli mais novo havia acabado de sair do banho enquanto o seu irmão entrou no banheiro para tomar o dele. Raquel e Giovanna já estavam aposentadas em seus respectivos quartos e Cindy já havia ido embora. Restou eu e o Reoli caçula, apenas, na sala.
Ele caminhou até mim e se sentou ao meu lado, fixando o seu olhar na televisão. Passou a mão no queixo mais de umavez, sem falar nada e parecendo pensativo nas palavras corretas. Só depois de um tempo que veio dizer:
— Você pode até me achar maluco, mas eu estou vendo coisas.
Geralmente, sim, eu o acharia maluco. Não estranhamente eu não o achava naquele momento. Se eu contasse que eu via almas, ele é quem me acharia maluco.
— Não acho — voltando a fitar a televisão depois de desviar o meu foco dele, eu o respondi. — Desde que desembarcamos, eu também estou vendo coisas.
— Que tipo de coisas? — Opa, eu certamente despertei a sua curiosidade julgando pelo tom de voz rápido no qual ele me lançou essa pergunta.
— Sei lá, mano. Eu acho que são tipo previsões — brevemente, olhei na sua direção e percebi que ele me observava atentamente e curiosamente. — Sabe… Parece que eu consigo prever o que vai acontecer na festa da Cindy.
— E o que você acha que vai acontecer? — Mais uma vez ele foi ágil ao perguntar. Sem saber direito o que seria, apenas dei de ombros antes de formular uma fala coerente com o que eu estava sentindo:
— Uma briga, eu acho. Eu vi uma aura escura ao redor da Cindy e da Giovanna. Talvez elas estejam passando por turbulências internas.
Que caralhos estava acontecendo comigo? Eu não fazia ideia de nada, nem sequer tinha total consciência das coisas que eu estava falando. Eu tinha que deixar isso bem claro para o Reoli. Se ele imaginasse que eu estava errado, talvez isso pegaria mal para a minha imagem.
Me virei para ele, já com a boca aberta para tentar pronunciar qualquer merda que saísse. No entanto, não tive tempo de falar, ele foi mais ágil e lançou uma frase tão rapidamente que eu podia até a comparar com uma bala perdida:
— Eu sei que você está pensando que eu vou te achar maluco, Alberto — antes ele ainda fitava a tevê, depois de falar isso, olhou no fundo dos meus olhos e praticamente me deixou paralisado. Oi? Como ele sequer conseguiu adivinhar? — Eu acho que estou lendo o pensamento das pessoas. Se você está louco, eu também estou.
Imediatamente um arrepio gelado percorreu todo o meu corpo como se fosse uma corrente elétrica. Eu não conseguia acreditar no que tinha acabado de ouvir, mas ao mesmo tempo, eu acreditava. Samuel respirou fundo e levou as duas mãos ao rosto para o cobrir antes de falar mais uma coisa:
— Cindy e Giovanna não são namoradas, o Dinho está apaixonado pela Giovanna e a Raquel me vê apenas como um amigo — diante de tais revelações, o garoto descobriu a cara e voltou a me encarar nos olhos antes de finalizar dizendo: — Isso começou hoje. Acho que, por algum motivo, a gente ganhou alguns dons sobrenaturais.
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