04 - ACT OF WAR

CAPÍTULO QUATRO
ato de guerra

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𝙿𝙾́𝙻𝙸𝚂

Há um campo verde ao leste da grande torre, um morro alto com a vista diretamente para toda Pólis. Lyra se lembrava de quando era criança, e Anya levava todos os natblidas para aquele lugar para treinarem, ela sempre acabava se distraindo com a paisagem, sendo sempre derrotada pelos competidores. Isso irritava muito a mentora, que nitidamente a achava uma inútil.

Lexa foi a primeira Heda a ter como prioridade treinar diretamente todos os aprendizes, antes dela, eram escolhidos mentores. Anya era rígida, mas era uma boa mentora, principalmente para Lexa, sua favorita.

Lexa era a favorita de todos na verdade, Anya, Titus, Gustus. Se não conhecesse a capacidade da irmã e não houvesse um conclave, ela facilmente pensaria que ela tinha se tornado a comandante por puro favoritismo.

De qualquer forma, era engraçado estar alí novamente, aos 19 anos, sendo ela e Lexa as únicas que restaram da última geração de natblidas. Os outros pupilos tinham grande potencial para serem bem melhores do que elas, principalmente o loirinho que lutava com Lexa nesse exato momento.

Aden era o mais velho dos natblidas, ele foi encontrado em uma vila trikru alguns meses depois de Lexa se tornar a Heda oficialmente. Era um garotinho silencioso, mas cativante. O mais dedicado, e certamente o preferido de Lexa.

Titus os observava com o olhar neutro, como sempre, o homem desprovido de qualquer emoção era apenas uma estátua naquele momento. Aden era muito habilidoso, seu estilo de luta o lembrava de Lexa, mas também de outra pessoa.

Seus pensamentos foram cortados pelos gritos de Titus, ordenando que os natblidas se juntassem em duplas e continuassem o treinamento. Lyra se colocou de pé e imediatamente se aproximou.

— Aden! — Ele a encarou. — Yu gon daun kom ai.

O garoto assentiu e se posicionou, enquanto Lyra pegava um bastão e fazia o mesmo. Aden atacou primeiro, mas ela defendeu rapidamente, ele tentou novamente, dessa vez com um chute, mas a mais velha desviou com maestria, avançando sobre ele novamente.

Enquanto eles lutavam, Lyra percebeu Titus e Lexa conversando no canto, a Heda encarava a torre enquanto o Fleinkepa parecia argumentar com ela.

A mais nova sabia exatamente o que estava acontecendo. Fazia uma semana desde que tinham trazido Clarke para Pólis, a comandante da morte tinha se recusado a falar com Lexa, que respeitou a vontade da garota, o que enfureceu Titus, que desde o início, vinha tentando convencer a Heda a matar a loira e roubar seu poder.

Mas Lyra conhecia a irmã, quando ela colocava algo na cabeça, absolutamente nada podia convencê-la do contrário. Ela era a Heda e tinha poder suficiente para ir até o fim, até dar completamente errado ou completamente certo. E Lyra via brilho nos olhos verdes da mais velha toda vez que olhava para a líder Skaikru, ela já tinha visto aquele olhar.

Não tinha acabado bem da última vez. E Lyra não sabia se ficava preocupada ou feliz pela irmã conseguir sentir aquilo de novo, ela nunca tinha se permitido, não depois de Costia.

Lyra foi tirada dos pensamentos quando o bastão de Aden bateu em seu estômago, a fazendo perder o ar por alguns segundos. Ela piscou algumas vezes, vendo o garoto avançar sobre ela. Rapidamente, ela desviou, batendo com seu bastão em uma das canelas do garoto, lhe dando uma rasteira em seguida, fazendo com que o garoto caísse de costas no chão, ele gemeu de dor.

Chof yu nou ahon?? — Aden exclamou indignado e ela riu. Era uma pergunta frequente dos mais novos para ela, "como você sempre ganha?".

— Ai ste osof en osof klin. — Enquanto ela o ajudava a levantar, ela deu a resposta que sempre dava. "Sou mais velha e mais inteligente", mesmo que ela achasse que Aden era muitas vezes mais habilidadoso do que ela, mesmo sendo mais novo, ela gostava de zombar dele. — Hakom osot, kwelnes.

O loiro bufou, não gostava quando ela o chamava de pirralho, e nem quando ela dizia que ele devia treinar mais. Era engraçado na verdade, ele era um garotinho doce e quieto na maior parte do tempo, mas Lyra fazia qualquer um perder a estribeiras.

Natblidas! — Todos se viraram quando Titus gritou. — Hakom don. Emo na gyon op.

Todos se moveram quando Titus encerrou o treino e dispensou a todos, Lyra os acompanhou, antes de ser parada por Titus.

— Você precisa fazer sua irmã ouvir a razão. — Lyra franziu o cenho.

— O quão desesperado você está para pedir isso pra mim? — Ela riu ironicamente.

— É uma jogada perigosa. E você sabe disso.

— Lexa já provou que sabe muito bem o que está fazendo. — Lyra cruzou os braços. — Ela é uma comandante como nenhuma outra, você mesmo disse isso.

— Você sabe muito bem o real motivo dela não ter eliminado Wanheda ainda. — Titus se aproximou calmamente, com a voz sempre suave, como o bastardo manipulador que ele era. — E você sabe muito bem o que aconteceu da última vez.

Se ele dizer o nome dela... Lyra trancou o maxilar. Eu vou matá-lo.

— Nenhum dos outros clãs vai aceitar ter Skaikru como parte da coalizão. — Ele continuou. — Isso vai desestabilizar o governo de Lexa, colocar as pessoas contra ela. É isso que você quer?

Esse era o plano. Haveria uma cúpula com todos os representantes dos 12 clãs, wanheda se curvaria para a heda, mostrando sua lealdade a ela, assim, marcando a entrada do 13° clã na coalizão, onde haveria um representante marcado.

Lyra sabia que haveria resistência, ela ouviu que na última reunião, o representante de Azgeda voou pela janela. Mas ela não duvidava da irmã, Lexa sabia o que estava fazendo, ela não era a Heda por nada. Manter a paz era a melhor decisão, mas todos tinham sede por guerra, por lutar, por matar.

Lyra nunca entendeu, ela sentia repulsa pela guerra, pela luta e por tirar vidas, ela nunca entendeu plenamente por que todos ao seu redor agiam como se aquilo fosse normal, e até honroso em certos casos. Mas Lexa era diferente, e Lyra confiava que a irmã acabaria com essa dinastia cruel, era perigoso sim, mas ser Heda era perigoso, e se Lyra não apoiasse a própria irmã, quem mais iria?

— Eles não tem que aceitar nada. Ela se aproximou do mais velho, abaixando o tom de voz. — Você não tem que aceitar nada. Lexa é a Heda, você é um subordinado, assim como todos os outros. É bom você se colocar no seu lugar.

Sem dar chance para que Titus respondesse, Lyra se afastou, seguindo na direção que os outros natblidas seguiram. Mas ela ainda tinha as palavras dele em sua cabeça.

É isso que você quer?

Talvez os clãs fossem um problema, mas ela tinha uma sensação estranha, um sentimento ruim dentro do peito. Toda vez que ela falava com o Fleinkepa, ela tinha medo. Titus tinha muito poder, mesmo que não fosse o comandante, Lexa confiava nele, querendo ou não, ele tinha bastante influência sobre ela.

Enquanto caminhava de volta para torre para se preparar para a cúpula, ela pensou em todos os anos que tinha passado em Pólis, todas as vezes que Lexa tomou uma decisão que era mais vontade dele do que dela. Lyra tinha certeza que ele se importava com sua irmã, mas todos os conselhos, as falas, os posicionamentos, tudo parecia muito calculado. Era claro que o homem se importava com ela, ainda sim, havia uma pulga atrás da orelha que Lyra não conseguia se livrar.

Talvez Titus fosse o maior problema.

[•••]

Lyra odiava eventos formais desde sempre. Nunca houveram muitos e ela agradecia por isso, por que usar um vestido desconfortável e ficar numa sala apertada cheia de gente que ela não conhecia ou ao menos confiava não era algo que ela tinha capacidade de fazer com frequência.

Felizmente para a Heda, Clarke tinha concordado em conversar com ela e, eventualmente, concordado que Skaikru se tornasse parte da coalizão. Ela também tinha convencido os líderes de seu povo a concordarem também e, portanto, a cúpula estava acontecendo.

Normalmente natblidas não participavam desses eventos, mas Lyra já era muito mais do que apenas uma natblida a essa altura. Lexa quase lhe deu uma intimação para estar alí e mesmo que ela fosse sua irmã, ela ainda era a Heda, e Lyra tinha que obedecer suas ordens.

Além disso, as roupas também a deixavam desconfortável. O vestido laranja que ela usava era muito bonito, de fato, mas Lyra odiava esse tipo de coisa, principalmente o adereço gigante que ela usava na cabeça, com um monte de tiras e ramos vermelhos e pretos. Além de, é claro, o fato de que seus braços descobertos deixavam totalmente expostos suas estrelas e cicatrizes. Isso provavelmente fazia com que seu povo a respeitasse mais, considerando que eles apreciavam muito cicatrizes de batalha e marcas da morte, mas Lyra odiava, principalmente pelo fato de serem muitas.

Ela tinha tentado ficar próxima de Lexa o máximo que pôde, mas Titus tinha monopolizado a mulher desde o início da cúpula. Então Lyra tinha se contentado em ficar observando o pôr do sol pelas grandes janelas, isso é, até Roan chegar perto demais e ela ter que sair.

Evitar o ex-príncipe vinha sendo uma missão que ela se dedicou muito, ela tinha passado a última semana calculando seus passos para não correr o risco de cruzar com ele em nenhum lugar de Pólis. Ele era um problema que ela não tinha cabeça pra lidar no momento. Lyra provavelmente o esfaquearia se ficasse no mesmo ambiente que ele por mais do que alguns segundos, e seria mais uma dor de cabeça para Lexa ter que lidar, o que ela estava evitando ser.

Em meio a seu caminho, ela acabou esbarrando em um homem por acidente, pedindo desculpas de imediato, ela saiu de seu caminho, mas não antes de escutar ele chamá-la, em alto e bom som para quem quisesse ouvir, de "Bushblida"*.

Ah, que ótimo. Eu passo 5 meses em uma jaula e nem assim eles param de me chamar por esse apelido estúpido.

Lyra se virou para ele rapidamente e então o reconheceu, ele com certeza era de Azgeda, provavelmente o embaixador substituto para aquele que Lexa chutou pela janela naquela manhã.

Repita isso outra vez, e você vai voar pela janela do mesmo jeito que seu amigo fez. — Ela foi fria e séria, um tom que ela geralmente não usava. O homem a encarou com desdém, e Lyra não deixou que ele terminasse e seguiu seu caminho.

Ela com certeza esperava por isso, as pessoas a odiavam, não era a primeira vez que a atacavam com palavras cruéis e até mesmo de forma física e agressiva. Era por isso que ela não confiava naquelas pessoas, era por isso que havia uma espada bem escondida nos tecidos volumosos de seu vestido.

Sim, ela sabia que era contra a lei trazer armas para a cúpula, obrigado por lembrar.

Quando a cantora começou seu show, Lyra sabia que era a hora. Ela se posicionou ao lado de Titus — a muito contra gosto, devo ressaltar — enquanto as portas se abriam, revelando Wanheda.

Ela estava linda, a parte superior do vestido tinha um efeito metálico, com tons de cobre e bronze, assimétrico, preso por fivelas ou amarrações na frente. A saia era longa, feita de um tecido cinza claro, semi-transparente e desgastado, com partes rasgadas e desfiadas, especialmente perto do chão. A camada superior da saia tinha uma fenda, mostrando as botas escuras que ela usava. Seu cabelo loiro com mecha cor de rosa estava repleto de tranças com assessórios e cordões entrelaçados e um leve volume no topo de sua cabeça, sua maquiagem se destacava, sombras escuros em um tom azul acinzentado que se estendiam além das sobrancelhas, destacando os olhos azuis oceanos de Clarke.

Ela andava de maneira confiante, postura ereta e a cabeça erguida, o andar de maneira superior. Todos os olhares foram diretamente para era, enquanto ela cruzava a sala parecendo em câmera lenta. Quando ela ficou na frente de Lexa, ambos se encaram intensamente, faíscas voaram e até mesmo Lyra pôde sentir.

Clarke se ajoelhou lentamente, com os olhos de todos nela, se curvando a Heda, isso fez as pessoas soltarem burburinhos, como era o esperado. E então, Roan também se curvou, sendo seguido por Titus, e lentamente, todos na sala estavam se curvando a Heda, incluindo Skaikru, sendo os últimos, se ajoelharam mesmo que hesitantemente.

Lyra saiu de seu lugar ao lado de Titus e se posicionou ao lado de Wanheda, e encarou a irmã mais velha, antes de se curvar como todos os outros. Enquanto se ajoelhava, ela não conseguia parar de pensar que as coisas estavam dando muito certo, e não conseguiu espantar o pensamento pessimista de que esse era o momento em que tudo dava errado.

E infelizmente, ela estava certa.

[•••]

Você não precisava ter matado eles. Ele ouviu a voz de Octávia ecoar em sua mente.

Mas era a única maneira de passarem para o caminho do elevador, precisavam chegar a cúpula antes que atacassem Clarke, Abby ou Kane, antes que a armadilha de Azgeda fosse completa, ele fez o que tinha que ser feito.

Não é?

Seus pensamentos estavam um turbilhão enquanto ele subia as escadas rapidamente. Mas ele tinha que manter o foco, resgatar Clarke, Kane e Abby antes que os terrestres os atacassem. Ele tinha que fazer isso rápido, não havia tempo para sua culpa ou auto aversão.

Bellamy foi o mais rápido, chegando primeiro no topo da escada, quando saiu da entrada do elevador, pôde avistar imediatamente o guarda na porta de uma sala. Ele rapidamente o enganchou por trás, apontando uma arma para sua cabeça antes de chutar a porta, entrando sem nem checar se Pike, Octavia e Echo o seguiam.

Um coro de exclamações foi ouvido enquanto ele entrava. Tinha muito mais gente do que ele imaginava, mas não havia tempo para distrações, ele procurou entre a multidão por conhecidos e Clarke foi a primeira que ele viu, quando ela o chamou pelo nome.

— O que significa isso? — Um homem, careca de vestes verdes que Bellamy não conhecia exclamou.

— A cúpula é uma armadilha. — Bellamy soltou o homem que a segurava, então se dirigiu a Clarke. — Temos que tirar você daqui.

— O que está acontecendo? — A loira se dirigiu a Lexa.

— Eu não sei.

— É a nação do gelo. — Bellamy afirmou.

— Essa alegação é ultrajante! — Um homem, que Bellamy deduziu ser de Azgeda exclamou. — Azgeda nunca entrou na cúpula com armas, infringindo as leis. Foram os Skaikru.

Pike disse algo, mas Bellamy sequer o ouviu, pois foi naquele momento, enquanto segurava a arma com força pra se prevenir que qualquer tipo de ameaça, que ele a viu.

Lyra estava deslumbrante, ela usava um vestido vermelho com vários tons de laranja, tinha um tecido fluido e brilhante, provavelmente cetim ou seda. A parte superior do vestido é um corpete ajustado com uma alça única que atravessa um dos ombros, deixando o outro ombro exposto, onde havia uma mini alça com fitas. A saia do vestido era volumosa, com várias camadas de tecido. Perto da barra da saia, havia bordados elaborados ou aplicações douradas.

Ele nunca a tinha visto tão arrumada antes, mesmo com o assessório estranho no topo da cabeça, ela estava linda como sempre. Mais uma vez, os olhos de Bellamy se perderam por um momento nas estrelas nos braços dela, um contraste delicado para toda aquela produção, um resquício mais perto da garota com o sorriso tão brilhante quanto as estrelas que refletiam naquele lago.

Flashbacks o fizeram perder o rumo por um momento, ela disse que as coisas estavam bem, garantiu isso, mas escondeu coisas. Será que ela sabia do ataque? Será que ela tinha um plano?

Bellamy saiu de seu torpor, a tempo de ouvir Lexa perguntar:

— Onde receberam essa informação?

Ele olhou para trás, procurando por Echo, e Octavia questionou sua ausência, mas não importa por onde ele olhasse, não havia nenhum sinal da mulher.

Espera, o que?

— O que está acontecendo? Onde ela está?

— Bell, acho que nos enganamos.

Olhando ao redor, ele não notou ameaças imediatas. Havia muita gente alí, todos desarmados, os encarando alí como se eles fossem os intrusos, não muito diferente de como os terrestres os encaravam normalmente. Onde estava Echo afinal? Ela ainda estava nas escadas? Tinha sido pega?

Ele tinha deixado Gina em Mount Weather pra nada?

— Eu... eu não entendo. — Ele murmurou, com a cabeça girando. Não haviam ataques imediatos, por que Echo mentiria? Não fazia sentido. Ele ficou tão perdido em seus pensamentos que não viu Marcus se aproximar.

— Bellamy, abaixa essa arma. — Ele o fez imediatamente, ainda confuso e pertubado. Foi quando ela se aproximou, ficando na visão dele, ele não estava louco.

— Por favor. Você precisa acreditar em mim, eu... — Lyra o interrompeu.

— Eu acredito. — Um pouco da tensão dentro de Bellamy pareceu se dissipar por um momento. Ela se aproximou dele e falou um pouco mais baixo. — Quem disse isso a vocês?

— Echo. — Os olhos da garota se arregalaram levemente, seu rosto perdeu a cor.

— A mulher na jaula com a gente? — Ela perguntou num fio de voz, ele assentiu.

Lyra se virou, parecendo procurar algo na multidão e Bellamy seguiu o olhar dela, paralisando por um momento, o homem que tinha sequestrado Clarke estava alí, consideravelmente mais limpo, mas sem dúvidas era ele.

— Vocês não se enganaram, vocês foram enganados. — Lyra se virou novamente para Bellamy, falando em um tom mais alto. — Echo é uma espiã de Azgeda.

Foi a vez de Bellamy perder a cor, seu estômago revirou e suas mãos gelaram, mas antes que ele tivesse qualquer surto que pudesse ter, uma voz familiar saiu de seu rádio, quase como num sussurro.

— Bell... Você tá me ouvindo?

Ele congelou no lugar ao reconhecer a voz. Suas mãos trêmulas pegaram o rádio e o levaram perto dos lábios.

— Reese... 'Tá tudo bem?

— Não. — A voz dela embargou, Bellamy sentiu seu coração apertar. — Ele matou todo mundo. A Gina... Ele pegou ela. Tudo se foi.

A cabeça de Bellamy estava um turbilhão. Aquele rádio era portátil de Raven, ele não tinha ideia de como tinha ido parar nas mãos de Reese, ele sequer sabia que a garotinha estava em Mount Weather.

Gina... O que aconteceu com ela? Como assim tudo se foi?

Houve um chiado vindo do rádio, e então uma outra voz falou.

— Bellamy?

— Raven, que merda 'tá acontecendo?

— Os terrestres atacaram Mount Weather. — Bellamy congelou. — 'Tá tudo... destruído. Todos morreram, apenas eu, Sinclair e Reese escapamos com vida. Eu sinto muito... — A voz dela quebrou.

Bellamy cambaleou como se tivesse tomado um soco no rosto, congelado, ele levantou o olhar para Lyra, que tinha os olhos arregalados cheios de lágrimas.

Mortos.

Todos estavam mortos.

Gina estava morta!

— Vocês nunca deviam ter recolocado pessoas em Mount Weather. — O mesmo homem de antes falou, a voz fria e nem um pouco abalada. — A nação do gelo fez, o que Lexa foi fraca demais pra fazer.

Ele se virou para a comandante, mas não deu mais que dois passos em direção a ela, pois Lyra foi mais rápida, chutando sua perna e o deixando de joelhos, com uma espada — Que Bellamy não sabia bem da onde ela tirou — ela o impediu de se levantar, apontando para o pescoço dele. Algo que causou muitos burburinhos entre a multidão.

— Isso foi um ato de guerra! — Ela gritou.

— Guardas, prendam a delegação da Nação do Gelo! — Lexa ordenou imediatamente. — Incluindo o príncipe.

Houveram alguns protestos, algumas conversas ao seu redor que Bellamy não prestou atenção. Sua mente estava barulhenta, totalmente fora de foco. Gina estava morta. Não, isso não podia ser verdade. Era outro pesadelo, tinha que ser.

Pike se aproximou para confortá-lo, mas ele mal sentiu a mão do homem em seu ombro. Palavras saíram de sua boca, mas ele sequer tinha noção do que elas significavam. Ele pediu para Clarke voltasse com eles, mas Lexa argumentou dizendo que precisavam de uma embaixatriz, Bellamy disse que não era seguro, mas a comandante garantiu que ela estaria sob proteção, mas isso não o confortava nem um pouco.

Gina está morta. Sua cabeça rodava essas três palavras em looping sem parar.

Abby e Marcus foram para fora, e os olhos dele se voltaram para a Clarke. Nada nela parecia com a princesa da arca que era a sua co-líder no módulo de transporte, tampouco com a garota que liderou a missão para resgatar seu povo de Mount Weather, muito menos com a garota que puxou aquela alavanca junto com eles, ela parecia outra coisa, diferente, mais como uma deles.

— Ela nos abandonou na montanha. — Bellamy se aproximou de Clarke, falando em um tom baixo. — Ela sempre vai priorizar o povo dela. Você devia voltar para o seu.

Clarke era a líder deles, sempre foi, nem Bellamy, nem Marcus, nem Abby, sempre ela. Sem ela em Arkadia as coisas desmoronaram, precisavam dela de volta, precisavam concertar isso, juntos. Mas tudo que ela disse foi:

— Sinto muito.

Sente muito?

Ela sente muito?!

Que merda aquilo significava?

Bellamy sentiu uma mão quente envolver a sua e se virou, vendo Lyra o encarando com os olhos tristes e lágrimas secas no rosto, ela sim parecia familiar, parecia com a Lyra que ele conhecia.

Mas ela mentiu, garantiu que nada aconteceria com o povo dele, que as coisas ficariam bem. Ele acreditou nela, ele confiou nela.

— Você disse que estávamos seguros. — Bellamy disse num fio de voz, e teve certeza que viu a culpa bem clara no rosto dela.

— Eu não sabia que isso ia acontecer. — Ela disse, a voz quebrada. — Eu sinto muito, sinto muito mesmo.

Bellamy a encarou, ainda lutando para assimilar tudo. Ele pôde ouvir Kane chamá-lo do lado de fora da sala, mas seus olhos permaneciam nela.

— Vou concertar isso. — Lyra disse convicta. — Eu prometo, vou dar um jeito.

Ele piscou, sentindo a exaustão do dia atingi-lo, mas ele sabia que não dormiria tão fácil. Lyra o encarava com os olhos suplicantes, praticamente implorando para que ele acreditasse nela. Sua cabeça estava meio nublada, ele pôde sentir lágrimas caindo de seus olhos, mas ele escolheu fazê-lo.

Bellamy segurou o rosto dela com as mãos, se movendo para deixar um beijo carinhoso na cabeça dela. Eles nunca tinham tido esse tipo de intimidade, mas Bellamy apenas sentiu que devia.

E então ele se afastou, saindo da sala sem despedida, tentando desligar a mente, obviamente sem sucesso, em estado de completo choque.

Era a primeira vez que ele se encontrava com Lyra e voltava pra Arkadia com a cabeça mais barulhenta do que quando saiu.

3770 palavras.

Eu juro que eu ia esperar mais que uma hora pra lançar esse capítulo, mas sou uma fanfiqueira compulsiva oras.

Eu não sei se estar desenvolvendo a relação do Bellamy e da Lyra com base em flashbacks foi uma boa ideia e isso está me irritando. De qualquer forma, comentem o que vocês acham.

O último capítulo da maratona sai a noite, não sei exatamente que horas. Enfim, não se esqueça de votar e beijinhos.

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