𝐂𝐚𝐩𝐢𝐭𝐮𝐥𝐨 𝐔́𝐧𝐢𝐜𝐨

Um desespero mortal rasgava meu ser a cada vez que um barulho horripilante era provocado por um aenhor de face séria que empunha um tipo de enxada.

A terra úmida era arremessada de maneira grotesca no vácuo feito no chão gélido, repousando pesadamente na superfície frontal daquele baú mórbido de madeira polida que agora era guardião do corpo do meu marido.

Na tentativa crua de entender a morte, ou pelo menos tentar acalentar as dores que me embalavam em seu berço de impotência e desespero gritante, eu me vi ainda mais aturdida e envenenada pela inconformidade, quando, por fim, eu vi o caixão despencando vagarosamente em seu destino final.

O choro incessante causava-me soluços dolorosos e o aperto no peito parecia nunca ter fim. Ajoelhei-me no chão frio, implorando para que ele voltasse e que tudo não passasse apenas de um pesadelo tosco.

Com a voz embargada e o rosto queimando sob as lágrimas que derramavam-se por minhas bochechas, eu sussurrei um eu te amo sincero. Porque embora eu jamais houvesse amado-o de modo romântico, sempre amei o homem justo e carinhoso que ele era.

Em meio aquele caos de sentimentos torturantes, senti uma mão delicada repousar em meu ombro, acariciando-me de um jeito carinhoso, carinho este que esbanjava uma clara intenção de me transmitir conforto e alento. Ergui o rosto vagarosamente, encontrando um rapaz de olhos marejados e cabelos revoltos.

ㅡ Meu irmão partiu e agora goza de uma paz que ele não sentia a tempos, Areum. - falou de modo cuidadoso.

ㅡ Eu s-ei. — murmurei, sem forças. ㅡ Mas dói tanto saber que não o verei mais.

ㅡ Eu entendo a sua dor, e estou aqui para o quê você precisar.

ㅡ Obrigado, Taehyung.

Um sorriso sem humor surgira em seus lábios finos e logo um grito lamurioso fez-se presente no cemitério, um som que me escapara quando percebi que tudo havia acabado. Seo Hyujin deixava apenas as lembranças e uma falta irremediável. Seu túmulo agora era decorado por coroas de flores e lágrimas de quem guardaria um luto respeitoso.

Horas mais tarde, a carrugem que me esperava do outro lado do portão de ferro, fôra ocupada também pelo irmão do meu falecido esposo e a minha dama de companhia, esta que soluçava e tentava interromper o percuso de suas lágrimas com o dorso da mão.

O choro que parecia querer me sufocar havia sido substituído por um sentimento irreconhecível que espalhava-se como uma doença contagiosa por minhas veias, deixando-me impenetrável e congelada dentre um mar revolto de dor e angústia. E tudo se tornara ainda menos suportável quando cheguei na casa que vivemos por anos e eu fui puxada para o mundo real. Um mundo que me privaria de tê-lo ao meu lado.

O casarão parecia também chorar a perca do Seo. O vazio aparentava ser pesado e gélido. As janelas fechadas não seriam abertas durante um tempo memorável e eu viveria o luto mais rigoroso.

Em silêncio, subi os lances de escadas, segurando firmemente o corrimão para não fraquejar durante o percurso. Andei pelo corredor e busquei forças para abrir a porta de madeira do quarto que fôra nosso desde a cerimônia matrimonial que nos unira. Depois de minutos de hesitação, consegui abrir a porta.

A triste lembrança de um Seo Hyujin moribundo e de face sempre contorcida em dor física e mental se fizera presente. A doença, cujo o nome jamais fôra descoberto, causou-lhe as mais conturbadas noites e as mais infelizes lamúrias durante os dias que se passaram. Os olhos que já brilharam mais que os céus estrelados em tempos noturnos de primavera, tornaram-se opacos e mergulhados em desesperança durante o período em que a doença se tornara mais rigorosa e cruel.

Nem os melhores médicos foram capazes de tirá-lo daquele sofrimento.

Nem os remédios mais caros sanaram suas dores.

Apenas a morte trouxera a calmaria que seu corpo almejava e o sono que o libertaria de todos aqueles momentos de tormenta e agonia.

Desesperada, tentei recordar-me dos dias felizes que tivemos, do som melodioso da sua risada, do perfume, da voz vibrante e doce. Mas foram tais lembranças que me fizeram chorar novamente. E, debruçada sobre a cama e com o rosto dentre os travesseiros macios, fui tragada de modo abrupto pelas lágrimas.

Antes do sol se pôr, sentei-me frente a penteadeira e segurei a tesoura com as mãos trêmulas. Respirei fundo e livrei-me da primeira mecha de cabelo, deixando os fios longos caírem no piso de porcelanato. Minutos mais tarde, meu pescoço estava desnudo e o chão vestia-se de negro acetinado. Os fios lisos agora chegavam na altura do meu maxilar, deixando toda a minha nuca revelada.

Tirei minhas roupas e adentrei o toalete. Tomei um banho demorado e ao terminar, vesti apenas os trajes para dormir. Deitei-me no colchão e quando escutei Charlotte bater na porta, suspirei.

ㅡ Minha senhora? O jantar está servido. — anunciou do outro lado.

ㅡ Perdoe-me, Charlotte, mas não jantarei esta noite! - falei, alto o suficiente para a mesma escutar.

ㅡ A senhora não comeu nada durante o dia inteiro...

ㅡ Não tenho fome.

ㅡ Temo por sua saúde! Por favor, coma pelo menos um pouco de sopa.

ㅡ Tenha uma boa noite de sono, querida! — desejei, incorruptível.

Dias se passaram, mas a ferida ainda não dava indícios de cicatrização. A saudade diária nutria-se em meu ser e a dor da perca massacrava a minha existência. O meu armário agora estava tomado por peças de roupas de diferentes tecidos, todavia, somente uma cor reinava em seu simbolismo mais triste. A cor preta.

Em uma tarde silenciosa, recebi a visita profissional de um de nossos advogados, este que trazia os escritos que continham os últimos desejos do meu marido. O testamento seria lido diante do irmão caçula de Hyujin, Kim Taehyung, da mãe dos mesmos e da viúva, no caso eu.

O pai de Hyujin havia sido morto logo após o nascimento de Taehyung. Os motivos do assassinato jamais foram descobertos e ninguém nunca pareceu realmente se importar com tal tragédia. Nem o próprio Hyujin demonstrava dor ao falar sobre a partida abrupta do pai.

Sentada, aguardando as falas do homem a nossa frente, notei o olhar de alguém sobre mim. O ar prendeu-se em meus pulmões quando meus olhos encontraram os da pessoa que causava-me a sensação de estar sendo observada. Taehyung sequer desviou as íris cor de mel, as manteve da mesma forma de antes, fixas nas minhas.

A sua estadia na casa devia-se a um pedido do irmão antes de partir. Um pedido que quando feito, deixou-me incrédula e ruborizada. Hyujin havia feito Taehyung prometer que cuidaria de mim quando seus pulmões deixassem de funcionar e seu coração tivesse as batidas interrompidas pelas mãos misteriosas da morte.

Talvez eu jamais compreenda os motivos daquele pedido tão surpreendente que o Seo impunha ao irmão, e talvez seja bem melhor manter-se alheia. Na época, sequer relevei, mas o fato de Taehyung ter levado a sério, deixava-me envergonhada e completamente perdida.

O rapaz cuidava de mim como quem cuida de um pássaro que perdera suas asas. Palavras de conforto velejavam até os meus ouvidos durante as minhas crises de choro e eu sempre tinha a sua companhia quando visitava o túmulo do falecido. O respeito sempre reinava entre nós, e embora houvessem comentários maliciosos sobre a nossa aproximação que se firmara depois da morte do Seo, continuávamos firmes em nossa amizade.

Estávamos cientes da pureza e respeito que existia em nossa relação, então não nos abalávamos com os burburinhos que nos eram dirigidos. Mas, como se o destino ousasse brincar com a inocência da nossa união, eu pude notar o brilho diferente refletido nos olhos de quem prometera cuidar de mim durante os tempos difíceis.

Um brilho que transcendia todos os sentimentos que nasciam em seu cerne. Que o faziam corar quando eu me aproximava para colocar café em sua xícara e perder a fala quando eu, em um ato de agradecimento silencioso, tocava o dorso de sua mão repousada sobre a mesa de jantar.

Buscando traduzir suas ações, flagrei os olhos sempre presos em mim quando eu me encontrava distraída, notei o ôfego que sucumbia seu peitoral quando eu sorria; e no final das análises, eu quis estar errada em minhas deduções. Porque ele não podia sentir nada por mim. Não quando eu o considerava apenas como cunhado e vivesse um luto rígido.

Taehyung não podia estar apaixonado.

ㅡ O senhor Seo Hyujin também teve a notável dedicação de escrever uma carta para cada uma das pessoas que foram importantes em sua vida. - o advogado de nome Jongin falou, tirando-me do mar de pensamentos do qual eu me afogava demasiadamente.

ㅡ O meu filho sempre fôra um homem amoroso e que não tinha receio de dizer o quanto amava, mas creio que irei me emocionar a cada linha escrita nesta carta. - a senhora Seo se pronunciou de modo emocionado enquanto o advogado a entregava a primeira carta.

ㅡ A segunda carta é para o irmão, Kim Taehyung. - entregou o envelope para o mesmo. ㅡ Saiba que o senhor Hyujin sempre citou o irmão com mais imponente carinho. Ele o amava da forma mais avassaladora que se possa imaginar, senhor Kim.

ㅡ Eu também o amei na mesma intensidade. - ciciou o rapaz, os olhos umedecidos pelas lágrimas e os lábios trêmulos.

ㅡ E, esta carta que tenho em mãos... - ergueu um envelope com um laço dourado preso sob o selo derretido. ㅡ ... Foi escrita dois dias antes da partida do Seo, e ele pediu para que eu a entregasse para a mulher que fôra a dona do seu amor e dos seus sonhos mais doces.

Meus lábios também estavam trêmulos, assim como todo o meu corpo e a minha alma. O coração que me mantinha viva, batia de forma rápida dentro do peito e minhas órbes queimavam a medida que lágrimas se acomulavam em meus olhos. Fechei os olhos, sentindo a água salgada abandonar os mesmos e percorrer a pele quente das minhas bochechas.

ㅡ Senhora Areum! - Jongin chamou-me em um timbre contido. ㅡ Ele pediu para entregar-lhe este envelope, mas acredite, nenhuma das palavras ditas na carta, serão tão significativas quanto o brilho que surgira nos olhos do mesmo enquanto a escrevia.

Abri os olhos e vi sua mão esticada em minha direção, esperando pacientemente que eu capturasse o envelope. E assim o fiz, o segurei e o levei até os meus lábios, depositando um beijo suave no papel que continha o cheiro inconfundível do perfume de Hyujin.

ㅡ Agora irei ditar o documento oficial que encaminhará todos os bens materiais do meu cliente para os familiares.

ㅡ Tudo bem. - senhora Seo suspirou.

Horas mais tarde, tomávamos café e comíamos alguns biscoitos de canela quando a mãe de Hyujin me propôs um passeio no jardim. Aceitei o convite com prontidão e logo caminhávamos sobre a grama bem cuidada.

ㅡ O meu filho a amou muito e eu fico feliz que ele tenha tido você ao seu lado, Areum.

ㅡ Eu também amei muito o seu filho, senhora. - falei, encarando a fileira de roseiras logo a frente.

ㅡ Não como marido. - comentou, fazendo-me a encarar.

A aparência da mulher era de alguém que sabia muito sobre a vida e sobre as pessoas. Seo Yeji tinha sempre cabelos bem cuidados, roupas bem passadas e sorriso gentil, mas não eram tais características que a faziam misteriosa, mas sim o olhar sempre atento e carregado de uma intensidade quase palpável.

Dizem por ai que o olhar diz muito sobre as pessoas, mas é preciso ter sabedoria para lê-los da maneira certa, caso contrário, jamais saberá o que realmente há por trás das íris de alguém. E para o meu azar, Yeji sempre soube o que se passava nas minhas.

ㅡ Eu...

ㅡ Você tinha dezenove anos, Areum. - interrompeu-me. ㅡ Tinha sonhos e eles não incluíam um casamento arranjado com o meu filho.

ㅡ Mas aprendi a gostar do Hyujin. Ele nunca forçou nada e sempre tratou-me bem. - fui sincera nas palavras. ㅡ Saiba que eu jamais me arrependi de tê-lo aceito como marido, embora não o amasse na mesma intensidade que o mesmo me amava.

ㅡ Ainda assim eu gostaria que tudo houvesse acontecido de outra forma.

ㅡ Não lamente-se, senhora Seo. - sorri levemente. ㅡ O seu filho jamais fôra um estúpido comigo e nunca sequer elevou o tom de voz, pois sempre foi paciente e bondoso demais para fazer algo que pudesse ferir qualquer pessoa, fosse física ou mentalmente.

ㅡ Eu sempre orgulhei-me do homem que ele se tornou. - sorriu, carinhosa.

ㅡ E eu me sinto sortuda por ter convivido com ele por cinco anos.

ㅡ Lembro-me como se fosse ontem. - a mais velha suspirou, nostálgica. ㅡ Eu nunca havia o visto tão nervoso quanto naquele dia que ele a esperava no altar. Num breve instante, o imaginei desmaiar de ansiedade. - riu com as lembranças.

ㅡ E eu confesso que tive muitas incertezas naquele dia, afinal eu mal o conhecia e estava alí, vestindo branco, segurando um buquê e tentando controlar o nervosismo que me tomava aos poucos.

ㅡ Areum! - chamou-me. ㅡ Obrigado por tudo. Por tê-lo feito feliz e por ter cuidado do meu filho em seus dias mais difíceis que antecederam sua morte.

ㅡ Eu já disse que não me arrependo de nada e isso incluí a minha dedicação em cuidá-lo.

ㅡ Você é maravilhosa, querida!

ㅡ A senhora que é.

A conversa seguiu-se naturalmente enquanto andávamos por entre as árvores e canteiros de flores de várias espécies. O cheiro das rosas, margaridas e orquídeas exalava e um céu pintado de amarelo, laranja e azul mantia-se sobre nossas cabeças, anunciando o fim de uma tarde e o início de mais uma noite.

Depois de alguns segundos de silêncio, Yeji suspirou, como se buscasse uma coragem interna para se pronuciar.

ㅡ Taehyung precisa ir embora comigo amanhã. - falou por fim.

Também suspirei.

ㅡ Eu acho que o faria muito bem. Estar aqui talvez deprima-o. Taehyung é jovem e não pode abster-se das dádivas juvenis que o aguardam lá fora.

ㅡ Diz isso como se fosse a mulher mais velha do mundo. - senhora Seo riu, mas logo encarou-me com ternura. ㅡ Você também é jovem e ainda têm muitas chances de encontrar o amor.

Um riso sem humor escapou dos meus lábios e os meus olhos prenderam-se no horizonte, onde o sol se despedia depois de ter cumprido sua missão diária. Imaginei o quão seria surreal se a morte passasse a ser como o sol, levando os entes queridos por um tempo, mas trazendo-os de volta ao amanhecer, devolvendo a felicidade daqueles que choraram na despedida e que contaram os minutos para poder matar as saudades.

Infelizmente a morte é irremediável e ela trás a responsabilidade de nos conformarmos com a partida irrecuperável daqueles que amamos.

ㅡ Eu não me importo se não encontrar um amor, senhora. - murmurei, certa de minhas próprias palavras. ㅡ Viverei o luto. O luto de uma esposa que perdera não apenas o marido, mas também um amigo, um conselheiro, um homem adorável que sabia ser justo e verdadeiro.

ㅡ Sei que o luto é necessário, mas não tarde a retomar sua vida social, Areum. Você não deve morrer junto com Hyujin, deve viver e seguir firme.

Abaixei o olhar, pouco interessada nos incentivos que me eram ditos. Eu realmente não tinha planos de procurar o amor, simplesmente porque eu não me via na desesperada necessidade de viver um romance. Meu coração jamais pertencera inteiramente a Hyujin, no entanto, meu corpo, sorrisos e beijos sempre pertenceram ao meu marido.

Sim, eu nunca havia experimentado o fruto de sabores inimagináveis chamado amor, mas o homem que ficara ao meu lado durante cinco anos, mostrou-me a parte mais doce e memorável que alguém poderia ver e sentir. Pelo menos eu imaginava que fossem.

ㅡ Espero que Taehyung seja feliz e que o tempo cure todas as angústias de seu coração. - trouxe à tona o assunto anterior, tentando talvez fugir do rumo que aquela conversa tomava.

ㅡ Sei que o rapaz têm sido um apoio para você e que Hyujin fez um pedido para Taehyung antes de partir. Fico feliz em saber que o meu menino está cumprindo a promessa que fizera ao irmão, mas temo o mesmo esquecer-se de que deve prosseguir e dedicar-se à própria vida.

ㅡ Acho que a entendo.

ㅡ Kim Taehyung sempre foi ligado ao irmão e quando eu o permiti vir ano passado para a Inglaterra morar com vocês, ele pulou de alegria, chorou de genuína felicidade.

ㅡ Eu estou sem palavras, senhora.

ㅡ Como você sabe, ele abandonou a faculdade de medicina e passou a se dedicar inteiramente à música clássica.

ㅡ Música Clássica é a paixão do Tae.

ㅡ Eu sei. - suspirou, fechando os olhos calmamente. ㅡ Mas ele terá um futuro ainda mais promissor caso retome os estudos na Coréia do Sul. A medicina também é apaixonante e eu acredito que um dia chegue a ser um de seus maiores sonhos, assim como a música.

ㅡ Mas o Hyujin mandou construir uma escola de música para Taehyung e deixou boa parte de tudo o que tinha para o mesmo viver bem durante toda a vida. A senhora não acha que seria melhor deixar com quê o próprio rapaz escolhesse qual futuro seguir?

ㅡ Eu simplesmente não quero ficar longe do meu filho. - ela então soluçou, revelando o seu real receio. ㅡ Se Tae escolher a música, ficará longe de mim, e eu não terei nenhum dos meus dois meninos para me chamar de mãe ou sentar-se comigo sobre a grama em uma tarde de primavera.

ㅡ Sei que é doloroso. - toquei sua mão com cuidado. ㅡ Taehyung já é um homem feito, esbanja seus vinte anos e espera poder tomar suas próprias decisões a partir de agora.

ㅡ Você tem razão, Areum.

ㅡ Por hora, leve-o para passar uma temporada na Coréia, assim um poderá ser o consolo do outro durante esses tempos complicados.

ㅡ É exatamente neste ponto que reside o problema, querida! - falou, deixando-me confusa. ㅡ Tae não quer ir. Ele não quer ter que deixá-la e quebrar a promessa que fizera.

ㅡ Mas ele não pode-

ㅡ Faça-o mudar de ideia. - impôs, séria. ㅡ Faça-o ir comigo amanhã. Partirei logo ao amanhecer e quero levá-lo junto à mim.

ㅡ Eu não sei se consig-

ㅡ Faça por mim. Pense na dor que estou sentindo, Areum.

ㅡ Prometo que tentarei.

Ao cair da noite, uma chuva trouxera consigo um frio notável de arrepiar a pele. Estávamos reunidos para o jantar e ninguém ainda havia tido coragem ou ousadia sufiente para comentar algo. Talvez fosse a tristeza, ou o medo, ou o simples anseio de se fundir ao silêncio que havia se instaurado na sala ampla.

Mirei o rapaz sentado a minha frente, concentrado em soprar suavemente a sopa em sua colher para depois tomá-la. Os fios lisos do cabelo acastanhado debruçavam-se com ternura sobre a testa. Os lábios finos e acerejados poderiam sucumbir desde o mais insignificante grão de areia até a estrela mais valiosa que habitava o universo em toda a sua extensão.

O nariz fino e ligeiramente arrebitado complementava a perfeição que ele era. A pele alva e aparentemente macia estava sempre perfumada, e eu sabia porque o seu cheiro exalava quando o mesmo se aproximava e prendia-se em cada objeto que suas mãos tocavam.

Sempre enfiado em roupas de boa qualidade, amava usar camisas brancas de botões, calças com suspensórios e sapatos sempre lustrosos. Vez ou outra eu o via descalço ou com roupas extremamente largas, mas eu sempre achei que os suspensórios o deixavam ainda mais belo.

Tragada pelos meus próprios devaneios, sequer notei que os seus olhos encontravam-se agora fixos nos meus, repletos de uma curiosidade crescente. Ainda seduzida por um transe irreconhecível, entreabri meus próprios lábios quando Taehyung sorriu, tão leve e suave quanto as nuvens.

ㅡ Deseja me dizer algo, Areum? - o seu timbre esbanjava um misto de curiosidade e ansiedade.

E foi quando eu escapei daquela bolha inaceitável de admiração pelo rapaz. Respirei fundo, maltratando minhas palmas com minhas unhas em um aperto repleto de alto-repreensão. Porque eu percebi que eu sentiria falta das suas palavras de consolo e da sua companhia.

ㅡ Tae, eu quero dizer que você não deve se sentir na responsabilidade de cuidar de mim. - o encarei com firmeza. ㅡ A sua mãe está frágil e precisará de você, então eu peço que você vá com ela amanhã para a Coréia.

Seu cenho se franziu em uma clara incompreensão e seu talher fôra esquecido ao lado da tijela de pocelana.

ㅡ Eu fiz uma promessa e irei cumprí-la.

ㅡ Mas a sua mãe precisa de você. - insisti, escutando uma risada incrédula escapar de seus lábios.

ㅡ A senhora pediu para que ela me convencesse a ir? - encarou a mulher sentada ao seu lado. ㅡ Contou à ela que o seu maior desejo é que eu abandone a música e seja um médico?

ㅡ Você deve ir comigo. - Yeji tocou o ombro do filho.

ㅡ Eu não irei. A senhora sabe que eu não posso ir.

ㅡ Taehy-

ㅡ Eu preciso de ar. - o rapaz levantou-se. ㅡ Sinto-me sufocado. - abandonou a sala.

Senhora Seo me encarou, como se implorasse por ajuda.

ㅡ Sinto muito, mas eu não posso insistir.

ㅡ É a última vez que lhe peço, Areum. Vá atrás do meu menino e tente fazê-lo mudar de ideia.

Comovida pelo pedido de uma mãe em desespero, deixei a sala e percorri o longo corredor que me levaria até a sala de estar. Meus olhos procuraram por Taehyung, mas não os encontraram. Naquele instante eu podia escutar apenas o barulho da chuva lá fora, mas logo um som melancólico e belo também ecoou, chamando-me a seu encontro.

Andei a passos lentos até o salão de festas, vendo alguém perto da grande parede de vidro, segurando um violino na lateral do pescoço, enquanto a outra mão segurava um tipo de arco, este que deslizava pelas linhas do instrumento e produziam uma melódica composição de notas. E como se a minha presença o intimidasse, ele parou de tocar e me encarou.

ㅡ Quer que eu vá embora amanhã? - questionou com a voz baixa, causando-me um suave arrepio.

ㅡ Yeji está sofrendo, precisará de alguém...

ㅡ Esta resposta não se encaixa na pergunta feita. - riu nasalado. ㅡ Eu perguntei se você quer que eu vá, Areum.

ㅡ Não há motivos para você ficar. Eu agora serei apenas uma viúva que lamentará a morte do marido por muito tempo. Esta casa será um lugar tedioso e a sua juventude exige um pouco mais de liberdade e cor.

ㅡ Eu prometi que cuidaria de você.

Pisquei algumas vezes e me aproximei de si, encarando-o profundamente. Algo em mim gritava por algo que eu não reconhecia.

ㅡ Então você estará sempre aqui apenas para cumprir a promessa que fizera? - falei, tentando não demonstrar o fio de decepção que me tomava aos poucos. ㅡ Eu não quero que faça por obrigação. Eu quero que você esqueça a ideia de me consolar e vá embora com a sua mãe.

ㅡ Não é apenas pela promessa! - ele gritou, respirando fundo em seguida, como se houvesse dito um segredo do seu íntimo.

ㅡ O quê está dizendo? - murmurei, incapaz de compreender suas palavras.

ㅡ Não posso ir porque eu não conseguiria ficar um minuto sequer longe de você, Areum. - sussurrou, piscando repetidas vezes na intenção de impedir que as lágrimas abandonassem suas órbes.

Inerte, tentei inutilmente buscar vestígios de uma brincadeira em suas falas, todavia ele continuou, incorruptível:

ㅡ Eu estou perdidamente apaixonado. O meu coração pertence à você desde a primeira vez que a vi. Eu jamais imaginei que sentiria algo tão puro e intenso por alguém como eu sinto por você, Areum. O amor que sinto é inexplicável, incalculável, incomparável.

Lágrimas já molhavam suas bochechas e suas mãos, que ainda seguravam o instrumento, tremiam como nunca antes. Neguei com um manear de cabeça, incrédula e tomada por uma angústia dilacerante.

ㅡ Você está confuso! - afastei-me.

ㅡ Faz tanto tempo. - soluçou. ㅡ Eu estive confuso no começo, mas hoje tenho certeza do amor que tenho cultivado, da magnitude de todo este sentimento.

ㅡ Eu fui esposa do seu irmão. - ri desacreditada. ㅡ Como pôde nutrir sentimentos como tais por mim? Isto chega a ser repugnante. - cuspi as palavras.

ㅡ Não me maltrate assim, Eum! - pediu com tristeza. ㅡ Não diga que o quê eu sinto por você é repugnante, porque machuca muito.

ㅡ Respeite o luto de seu irmão. Peço que nunca mais diga coisas assim para mim. Eu jamais o vi de outra forma que não fosse como cunhado, então esqueça tudo o que acha sentir. - falei, ríspida.

ㅡ Deixe-me mostrar -lhe os meus sentimentos, por favor! - tentou se aproximar, mas estendi minha mão frente o seu corpo, impedindo-o de avançar.

ㅡ Mate todo e qualquer sentimento que reside em seu coração, Taehyung. - pedi, sentindo um frio se alojar em meu interior, arrancando-me um suspiro carregado de incertezas, medos e sentimentos emaranhados.

፨☀️፨

Dois meses haviam se passado e eu havia encontrado distração nos bordados, nos passeios pelo jardim e nos bolos ao fim da tarde que sempre acompanhavam uma xícara de chá ou café fumegante. Vez ou outra o vento que atingia as cortinas trazia-me os devaneios e lembranças dele, mas eu já começava a aceitar sua ida. Não totalmente, mas o suficiente para continuar a jornada solitária que me embalava.

O silêncio sempre residia cada centímetro do casarão, pois no mesmo havia apenas Taehyung, Charlotte, duas outras mulheres que eram encarregadas de limpar e cozinhar e eu. O jovem que certo dia confessara seu amor por mim, passou a se distanciar desde as minhas rígidas palavras. E eu me convenci de que era melhor daquela forma.

Mas eis que o destino resolvera me pregar uma peça; Em meio toda a indiferença que implantamos um com o outro, eu desejei cruelmente que Taehyung me olhasse novamente e dissesse tudo aquilo mais uma vez. Que insistisse um pouco mais. Que voltasse a sorrir de modo suave como as nuvens. Que me fizesse acreditar de que nada daquilo era errado.

As noites eram cada vez mais tortuosas, pois as lágrimas machucavam meu ser. Eu era um mar de confusão e desespero. Ora queria vê-lo, senti-lo, ouví-lo. Ora me massacrava por querer estar perto do irmão do meu falecido marido.

ㅡ O seu chá está pronto, senhora Areum! - Charlotte aparecera em minha frente. Sorri para a mesma e levantei-me da cadeira.

Mais dois meses se passaram.

Dois meses que serviram para acalentar ainda mais o meu coração. A saudade se tornara um pouco mais suportável e as lembranças que jamais seriam esquecidas, transformaram-se em janelas. Janelas que seriam abertas quando eu quisesse contemplar os dias ensolarados e as noites estreladas que nos uniu por cinco anos.

Tae passava boa parte do seu tempo na escola de música. Sua animação era visível e o seu esforço para colocar a escola em funcionamento era invejável. Eu me sentia feliz por vê-lo sempre tão sonhador e decidido.

Sua mãe jamais aceitou a decisão do filho de ficar na Inglaterra, mas sempre o escrevia cartas amorosas e repletas de cuidado maternal. Taehyung tinha esperanças de um dia ser entendido, mas no fundo compreendia a mulher que lhe dera a luz. Ele a amava e por amá-la, passou a entendê-la.

Um muxoxo de dor deixou meus pulmões assim que a agulha feriu-me o polegar mais uma vez. Uma pequena quantidade de sangue fluia do ferimento, então levei o dedo atingido até a boca, sugando o líquido vermelho.

Meu coração fraquejou assim que o vi adentrar a sala onde eu me encontrava. O cabelo agora chegava na altura dos olhos amendoados e os lábios esboçavam um sorriso méleo. Taehyung ficara ausente por três dias, pois precisou fazer uma viagem para comprar novos instrumentos musicais.

Jamais serei capaz de explicar o que eu senti quando o vi alí, parado em minha frente, tão belo, encantador, proibido e tão desejável. O suor nas palmas das mãos, o bater rápido no peito e a respiração afetada, denunciavam o quanto ele me desestabilizava. O quanto eu o queria.

Talvez eu estivesse cega ou me negasse a olhar outro homem que não fosse Hyujin, mas eu nunca havia dado atenção àquele sorriso peculiar, àquele olhar meigo, àquele doce timbre que me causava um calafrio bom pelo corpo. Eu nunca havia encontrado Kim Taehyung, embora eu o visse todos os dias.

ㅡ Como tem passado, Eum? - perguntou-me, sentando-se no sofá atrás de si.

ㅡ Muito bem! - respondi prontamente. ㅡ A viajem fôra agradável?

ㅡ Sim. - suspirou, parecia cansado. ㅡ Consegui resolver muitas coisas, mas estou exausto.

ㅡ Deixe-me ajudá-lo! - falei ao vê-lo tentar tirar os sapatos.

Ajoelhei-me e retirei seus sapatos cuidadosamente. Também retirei as meias e o encarei assim que um bocejo seu ecoou pela sala.

ㅡ Suba e descanse, Tae.

ㅡ Obrigado! - sorriu de olhos fechados, ajeitando-se no sofá, como se não tivesse intenção de sair dali.

ㅡ Deixe-me tirar suas luvas também. - pedi e ele estendeu a destra em minha direção. ㅡ Está frio, mas acenderei as caldeiras assim que você ir descansar.

ㅡ Você é tão linda.

Fechei os olhos abruptamente, sendo atingida por suas palavras. Algo incendiou-se em meu interior, como se fogo líquido fosse injetado em minhas veias. Abri os olhos e o encarei, certa de que eu jamais me arrependeria do que faria em seguida.

Mas Taehyung dormia. Dormia pesadamente com a cabeça repousada na maciez do sofá que o abrigava. Um suspiro deixou os meus pulmões, mas cuidei de despir suas mãos e acender a lareira. Era primavera, mas um frio aspérrimo pairava naquela manhã.

O rapaz dormiu por poucas horas e sentou-se comigo para o almoço. Conversamos durante toda a refeição, rimos, nos perdemos no tempo. E quando a tarde estava indo embora, Tae anunciou que havia me trago um presente.

Estremeci quando seus dedos procuraram os meus e os enlaçaram com cuidado. O cheiro de lavanda e mel fugia de si, pois não fazia muito tempo que o mesmo havia tomado um banho. Seu cabelo ainda estava um tanto úmido e suas roupas limpinhas encontravam-se muito bem passadas. Fui guiada pelas escadas e corredor. E quando paramos frente o seu quarto, hesitei.

ㅡ Eu posso esperar aqui fora...

ㅡ Venha comigo, Areum! - murmurou, acariciando minha mão presa à sua.

ㅡ Tudo bem.

Adentramos seus aposentos e eu tentei não demonstrar o quão eu estava nervosa simplesmente por estar em seu quarto. O dorsel em sua cama tinha as cortinas em um tom branco, assim como toda a roupa de cama, o piso e os móveis.

ㅡ É um simples presente, mas é de todo o meu coração. - disse enquanto estendia a mão em minha direção. Meus olhos se prenderam no dourado do presente, no afeto que o mesmo demonstrava.

Lembro-me que um sorriso largo surgiu em meus lábios e eu colhi o sol de sua mão. Era reluzente, pequeno, mas notável. Os raios do planeta artificial se curvava ao seu redor e um a sua estrutura se encaixava na palma da minha mão.

ㅡ É tão belo... - suspirei em meio o sorriso, mirei as órbes amendoadas. ㅡ Muito obrigado, Tae.

ㅡ Não há de quê. - sorriu, banhado de contentamento. ㅡ É um tipo prendedor de cabelo. Permita-me !? - capturou o objeto e o colocou no meu cabelo, perto da minha orelha.

ㅡ Guardarei este presente por toda a vida. - sorri e seus olhos encontraram os meus.

Uma euforia desconcertante tomou-me quando, aproveitanto-se da aproximação, Taehyung deslizou os dedos mornos pela pele sensível do meu pescoço. O toque suave causou-me os mais intensos sentimentos, os mais belos sonhos e os desejos ardentes.

ㅡ Eu tentei me afastar, Areum. - a voz rouca me fez arrepiar. ㅡ Mas então eu percebi que você finalmente me enxergou. Eu sempre estive aqui, sempre ao seu lado, mas era como se eu fosse invisível, um móvel insignificante que jazia em uma sala pouco visitada. Mas hoje eu vejo os teus olhos e percebo uma paixão refletida neles, uma paixão que eu cultivarei e transformarei em amor.

ㅡ Eu jamais poderia olhá-lo enquanto pertencesse a outro, Tae. - uma lágrima solitária escorria em minha face. ㅡ A minha fidelidade jamais seria corrompida. E você sabia disso.

ㅡ Sim, eu sabia. E foi por isso que eu não me aproximei. Foi por este motivo que eu escondi os meus sentimentos, porque eu também jamais seria capaz de trair a confiança do meu irmão.

ㅡ Temo estarmos errados neste momento também, Taehyung. Samuel não está mais aqui, no entanto parece errado apaixonar-me por ti. Estou sofrendo com todas essas dúvidas.

ㅡ Não estamos errados. - uniu sua testa à minha. A respiração quente pairando por meu rosto. ㅡ Amar não é errado.

ㅡ Me beije, por favor! - segurei seus ombros, ansiando pelo aconchego dos seus braços.

ㅡ Areum! - chamou-me sôfrego enquanto segurava a minha cintura com firmeza. ㅡ Eu te amo.

Nem se eu vivesse por um milhão de anos eu conseguiria explicar a sensação de ter seus lábios colados nos meus. A maciez do primeiro toque me fez congelar em seus braços, mas quando nos beijamos verdadeiramente, com nossas línguas unidas, as mãos inquietas buscando conhecer um ao outro, eu soube que aquele era o fruto que eu jamais havia experimentado.

Um ôfego deixou minha garganta quando sua boca abandonou a minha e deslizou pelo meu pescoço. Uma chama incandescente reivindicava minha pele e eu precisei fechar os olhos para apreciar o prazer que os beijos úmidos me proporcionavam.

Seus dedos pousaram em minhas costas e minha respiração se tornara ainda mais rarefeita quando o senti desatar o nó da fita de cetim que estruturava o meu vestido. Segurei seu rosto dentre minhas palmas e selei seus lábios, desejando cruelmente mais do seu sabor, da sua maciez incomparável.

Nenhuma palavra fôra dita, e as mesmas não fizeram falta, pois cada gesto era a tradução do que sentíamos um pelo outro. Taehyung despiu-me e tocou cada parte do meu corpo, beijou cada pedacinho da minha pele, arfou junto comigo enquanto sugava meus mamilos e o meu pescoço.

O ajudei a retirar suas próprias roupas. O beijo se tornara barulhento e desesperado, os corpos nus abraçados já ansiavam por mais contato. Fui colocada na cama e logo eu tinha a visão mais delirante de um rapaz de beleza extraordinária, de lábios avermelhados e olhos enfurecidos de um prazer avassalador deitado sobre mim.

Percorri minhas mãos por seus ombros, sentindo a pele macia e quente daquele que ganhara o meu coração. As cortinas do dorsel agora testemunhariam uma entrega mútua entre dois apaixonados que aindam sofriam pelas incertezas, mas que sabiam que jamais se arrenderiam de terem se entregado um ao outro naquele fim de tarde.

As belas íris de Taehyung envolveram as minhas e segurei seu rosto enquanto o sentia deslizar-se em meu interior, tomando-me para si, tornando todos aqueles desejos em realidade.

ㅡ Você é tão quente, Areum! - sussurrou contra minha boca.

Gemi sem censuras, sentindo-o se mover dentre minhas pernas, alcançando todos os meus pontos mais sensíveis. Procurei por seus lábios e o beijei com toda a paixão que havia em mim. O sol que sumia aos poucos no horizonte, ainda refletia seus raios alaranjados pela janela aberta, tocando o corpo despido do homem que me amava com intensidade.

A luminosidade também atingia o seu rosto então abandonei a doçura do seu beijo para contemplar a beleza surreal que ele era. Meus dedos maltratavam os lençóis e minhas pernas suavam em contato com o seu quadril.

ㅡ Você é semelhante ao sol, Taehyung! - levei a destra até seu cabelo e segurei os fios com firmeza.

Ele sorriu e afundou o rosto na curva do meu pescoço, causando-me os mais calorosos arrepios.

Gemidos ecoavam pelo quarto, um calor febril nos revestia e tudo o que eu queria era ficar alí por todo o sempre. Seus movimentos tomavam mais rapidez e força. Os lençóis quase sendo arrancados da cama e o quarto parecendo desaparecer ao nosso redor.

Esbocei um sorriso largo quando ele sussurrou méleas palavras ao meu ouvido, deixando a respiração quente serpentear a área. Pisquei aturdida, vendo-o se afastar e se erguer até ficar de joelhos no acolchoado. Tae sentou-se sobre as próprias panturrilhas, segurou meus pulsos e me puxou com delicadeza até que eu sentasse sobre suas coxas.

Encaixando-me em seu corpo, fechei os olhos em um deleite descomunal a medida que era preencida novamente. Apoiei o queixo em seu ombro, tendo suas mãos apertando minha cintura como se nunca houvessem de soltá-la.

Movimentei meu quadril e com efeito, Taehyung emitiu um som sôfrego. Ele então pediu para que eu o fizesse novamente e eu, tragada pela sedução e erotismo de seu pedido, assim o fiz. Nossas peles se chocavam e meus dedos agora cravavam-se na pele suada de suas costas. Tombei a cabeça para trás, deixando o meu pescoço exposto para que a boca alheia deixasse rastros de beijos e mordiscadas em cada extensão dele.

Um céu embevecido dos mais puros e entorpecentes sonhos alcançou meus sentidos no instante em que o meu corpo fôra tomado por um êxtase surreal. Cerrei os olhos para apreciar todo aquele sentir que causava espasmos em minhas pernas e uma quentura assoladora em meu baixo ventre.

Lembrei-me daquele que me proporcianava tamanho prazer e abri os olhos para o olhar com ternura. Cheguei a tempo de presenciar o seu revirar de olhos e o seu corpo emolecendo junto ao meu. Todo o seu ápice transbordando em mim, escorrendo por minhas coxas.

O sol havia ido embora, mas eu tinha um sol só meu, bem diante de mim.

፨☀️፨

O café jazia nas xícaras sobre a mesinha de centro. Taehyung enchia-me de beijos, carícias e juras de amor. Por vez, eu suspirava e tentava controlar as batidas do meu coração.

Em breve a morte de Hyujin completaria onze meses. Em algum momento dos dias que se passaram, eu me convenci de que não era errado me apaixonar. O respeito pelo marido que me dera cinco anos inesquecíveis, existiria para sempre e eu jamais me esqueceria daquele sorriso, daqueles olhos, daquele homem que ele foi.

Eu havia entregado o melhor de mim ao Kim e por tê-lo feito feliz em vida, eu me sentia realizada e livre de culpas. O amei da minha forma, o consolei, sorri e o fiz sorrir também, e quando ele esteve doente, eu jamais cogitei abandoná-lo.

Talvez a sociedade lá fora não aceitasse a minha relação com o irmão do meu falecido esposo, mas o preconceito e os comentários maldosos jamais caberiam em nossas vidas. Porque quem ama não têm medo de enfrentar os espinhos venenosos, pois sabe que no final da jornada, estará ileso e pronto para colher as rosas mais vívidas do paraíso que o espera.

ㅡ Mamãe enviou-me uma carta. - Tae falou, fazendo eu me ajeitar em seu colo e o encarar. ㅡ Duas folhas preenchidas por sermões, mas no fim, abençoou a nossa relação.

ㅡ Sua mãe é uma mulher extraordinária!

ㅡ Ela também avisou que virá semana que vem para passar alguns dias conosco.

ㅡ Será bom recebê-la!

ㅡ Areum, eu-

Taehyung parou de falar assim que Charlotte nos interrompeu. Seu semblante era de alguém preocupada, então também me preocupei.

ㅡ Chegou esta carta para o senhor Taehyung. - entregou um envelope para o rapaz. ㅡ A mesma veio diretamente da Coréia do Sul.

Tae rompeu o selo da carta e a abriu com pressa, esquecendo o envelope ao seu lado. Engoli a seco quando vi o simbolo do exército coreano estampado no papel. E naquele instante eu soube o que estava por vir.

Sai do seu colo e sentei-me ao seu lado. Lágrimas já faziam um percurso por minhas bochechas e meus dedos, trêmulos, agarraram o tecido do meu próprio vestido. Um fungar alto fizera Taehyung me encarar. Sua mão acariciou a minha e foi quando eu solucei alto, incapaz de segurar o choro.

O abracei com todas as minhas forças.

፨☀️፨

Dois anos haviam ficado para trás e a ansiedade me deixava ainda mais inquieta. Só percebi o quanto eu tremia quando fui colocar o prendedor em meu cabelo, o mesmo que ganhara de quem se tornara um sol em minha vida.

Calcei os meus sapatos e abandonei o quarto. Desci os lances de escadas e avistei Charlotte terminando de colocar os bolos e doces na mesa de jantar.

ㅡ Como estou, Charlotte? - rodopiei, sem me conter de tanta felicidade.

ㅡ Está maravilhosa, senhora! - ela sorriu.

ㅡ Não acha que ele já deveria ter chegado? - tomei uma feição apreensiva, o que a fez dar uma breve risada.

ㅡ Não seja tão ansiosa, minha senhora! Ainda faltam alguns minutos para o horários marcado chegar. veja! - apontou para o relógio e eu mordi meus próprios lábios.

ㅡ Perdoe-me, querida!

Fui ao céu e voltei quando a sineta anunciara a chegada de alguém. Antes de Charlotte se aproximar, eu mesma fui até a porta e a abri abruptamente. E a escuridão que antes assolava os meus dias, tivera cada centímetro preenchida por uma luz que eu jamais deixaria apagar.

ㅡ Areum, meu amor! - ele veio em minha direção e tomou-me em um abraço saudoso, daqueles que a gente não quer jamais ser liberto.

O exército havia o tido por dois anos, mas eu o teria por vários e vários outros anos.

Nos afastamos um pouco apenas para um olhar no olho do outro e dizer eu te amo. Nossos lábios se uniram em um beijo carregado de saudade e certezas.

E depois de matarmos um pouco da saudade, comemoramos o seu retorno com um almoço maravilhoso. Ao final da tarde, fizemos amor. E quando a noite chegou, fizemos amor novamente.

Haviam milhares de formas do amor aparecer em minha vida. Mas quando Taehyung surgiu, eu soube que o amor nasce na simplicidade da vida. Ele nasce sob as estrelas, num simples sussurrar e quando mergulhamos no mel que habita os lábios de quem nos faz bem.

Permitindo a mim mesma de enxergar o que havia ao meu redor, eu pude velejar nos mares mais distantes, enfrentar as tempestades mais tenebrosas e os desertos mais solitários, mas no final de tudo, eu encontrei um paraiso onde o sol reinava e as nuvens pintavam o céu em toda a sua extensão.

Quando o outono chegou na Inglaterra, naquele mesmo ano em que Taehyung retornara para os meus braços, eis que em uma daquelas manhãs, onde as folhas alaranjadas eram brutalmente arrancadas dos galhos com o soprar do vento daquele aspérrimo outono, eu fui surpreendida por um pedido.

Eu jamais me esquecerei do momento em que Taehyung se ajoelhou diante de mim e m sorriu, antes de perguntar:

ㅡ Você aceita ser a minha esposa, Areum?

E eu também sorri. Sorri porque eu jamais diria não ao homem que prometera cuidar de mim e que jamais havia descumprido tal promessa.

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