𝐟𝐨𝐮𝐫𝐭𝐞𝐞𝐧, invisible barriers


Oi gente! Como estão?

Antes do capítulo eu TENHO que mostrar algo para vocês!!

OLHEM AS FANARTS QUE A GABI FEZ!!!!

A DA CENA DO CAPÍTULO ANTERIOR 😭😭😭

EU ME ENCONTRO COMPLETAMENTE APAIXONADA E JURO QUE CHOREI QUANDO A GABI ME MANDOU, SÉRIO, SIMPLESMENTE AS MAIORES PERFEIÇÕES DO MUNDO!!!

Gabi, sua maravilhosa e perfeita, já te agradeci no Insta, mas preciso fazer isso aqui também!

MUITO OBRIGADAAAAAA ❤️❤️❤️

Sério, gente, só olhem essas perfeições!!

Enfim, não esqueçam de votar no capítulo (sério, essa estrelinha ajuda MUITO) e desejo para vocês uma boa leitura! ♥︎















🔥




Às vezes, tem certos momentos que somos completamente invadidos pelas mais diversas sensações, as quais nem sabemos distinguir se são reais ou não. Uma confusão própria, a mente contra a verdade estrita das coisas, mas, de alguma maneira, existe algum sentido por trás de tudo.

Mikey não sabia o que estava sentindo e muito menos conseguiria descrever, caso lhe perguntassem.

Ele encarava, praticamente estático no lugar, o placar final, que brilhava forte nos telões do estádio.

44 x 20.

Eles tinham ganhado o jogo.

Começaram a temporada com uma vitória esmagadora e ainda de virada. Ao todo, foram seis touchdowns que o time fez, três de Kazutora, um de Baji, um de Brandon e o último por Dylan, que tinha entrado nos minutos finais para ter uma primeira experiência em um campeonato de nível universitário, o que fechou a noite com chave de ouro.

Realmente, depois do choque de realidade que foi o touchdown de Kazutora, algo tinha sido ligado dentro do capitão, o forçando a continuar firme, confiando naqueles que chamava com orgulho de companheiros de time. Muitos notaram como o comportamento dele tinha mudado, estava mais ofensivo, um pouco do antigo Mikey ainda estava ali, tentando voltar ao que ele era antes, e isso bastou.

O cansaço corporal estava muito maior do que ele estava habituado, uma espécie de fadiga começava a dominar a mente e o corpo, mas ele tinha que se forçar a ficar firme para comemorar. O estádio estava em festa, o mar azul e amarelo se propagava por todas as fileiras em que olhava e um sorriso aliviado estampava o rosto do capitão, que só foi recobrar a consciência, do que realmente estava acontecendo ao seu redor, quando sentiu o impacto de uma enorme quantidade de corpos se chocando contra o dele.

O abraço do time tinha sido uma das experiências mais caóticas que já tinha presenciado na vida, não conseguia identificar ninguém ali, só conseguia sentir e ouvir os gritos de comemoração.

Todos estavam em um completo estado de euforia.

— Pelo amor de Deus, eu preciso respirar! — a voz de Kazutora se fez presente no meio de tantas pessoas e gritos — Eu amo vocês, mas quero ar fresco!

Gargalhadas acompanharam a declaração do vice-capitão, que respirou aliviado quando conseguiu espaço e tirou o capacete, finalmente recebendo um pouco de vento no rosto. Entre todas as pessoas que estavam presentes no estádio, até mesmo os jogadores e torcedores do time adversário, existia um consenso, o fato de que Kazutora foi o melhor jogador da partida.

É claro que muitos já sabiam o tanto que ele é bom, afinal, ele faz parte do "Trio de Ouro", mas a performance no jogo de hoje tinha sido em um nível completamente diferente e absurdo. Além disso, se perguntassem para o moreno o porquê dele ter continuado jogando na universidade, a resposta vai ser, com certeza, que é por causa dos amigos dele, a rotina que foi estabelecida desde criança. Porém, depois do jogo de hoje, algo estava queimando dentro de Kazutora.

Por alguma razão, que ele ainda não sabe qual, ele quer tentar fazer de novo um touchdown de 80 jardas. Na verdade, tentar aumentar ainda mais a distância, se desafiar ainda mais, simplesmente sentia a necessidade de querer fazer isso, ultrapassar os próprios limites em relação ao esporte.

Não muito diferente dele, Mikey também sentia coisas novas dentro de si, principalmente uma sensação de alívio pela vitória, mas também algo parecido com dever cumprido. Ele não imaginava que conseguiria finalizar o jogo dessa maneira, completamente sóbrio e ainda vencendo, jurava que iria sentir mais dos sintomas que o perseguiam dia e noite. Hoje foi com certeza um dos dias mais importantes da vida do loiro, em todos os sentidos possíveis.

Enfrentou Izana.

Jogou sóbrio.

Teve o seu time confiando nele, mesmo não estando em sua melhor forma.

E conseguiu, finalmente, a figura de Senju na vida dele.

Espera...

Senju.

A mente de Mikey deu um estalo quando a figura da platinada apareceu em seus pensamentos e foi automático começar a tirar o capacete e procurar com os olhos a figura da líder de torcida. O capitão percebia que alguns integrantes do time falavam com ele, até mesmo alguns repórteres já começavam a entrar no campo, mas o que importava pra ele era achá-la.

Não demorou mais que poucos segundos para que a encontrasse, metros afastada, e com um sorriso lindo no rosto. Afinal, ele não era o único que queria receber um beijo.

Senju não pensou duas vezes em avançar pelo campo de futebol e a cada passo percorrido, ela ficava mais rápida, quando viu, já tinha começado a correr.

Mikey se encontrava um pouco estático e surpreso, ela realmente estava indo atrás dele, o querendo de verdade, mostrando que tudo aquilo que ele sentia é recíproco. Por muito tempo, o capitão gostou de Senju. Na verdade, tinha ficado interessado por ela ainda no ensino médio, o velho clichê da garota novata que rouba a atenção da escola.

Porém, eles só foram ficar na faculdade, mais especificamente na primeira festa universitária que tiveram, estavam tão bêbados que ignoraram qualquer rivalidade e irritação, somente se importando em se beijarem. O fato daquela noite ter sido tão boa fez com que essas situações começassem a se repetir, levando até o presente momento, no último ano.

Mesmo sendo considerado um sonhador, Mikey nunca realmente acreditou na possibilidade de que teria algo sério com Senju, ainda que quisesse, afinal, ela nunca dava abertura. Nos dias seguintes, ele acordava sozinho na cama todas as vezes, e isso mostrava como tudo aquilo não parecia ser algo que estava sendo levado a sério, ou pelo menos era a mensagem que transmitia. Entretanto, Senju correndo na direção dele é uma cena real.

Os sentimentos dela por ele são, e sempre foram, reais.

Ele também começou a correr na direção dela, de forma que se encontrassem praticamente no meio do campo e Mikey não tardou a pegar pela cintura e a girar no ar.

A risada de Senju preencheu cada milímetro de Mikey, como se fosse uma espécie de calor no meio de uma noite congelante de inverno, derretendo qualquer coisa que ainda o estivesse impedindo de tentar encarar o mundo de frente. Quando ele parou de girar, ainda mantendo Senju erguida no ar, sentiu a testa dela ser encostada contra a própria e fechou os olhos, com as batidas do coração ressoando dentro de si.

Ele não era o único que estava com o coração acelerado.

Senju tinha praticamente certeza de que ele simplesmente sairia pela boca, as mãos trêmulas, que seguravam as laterais do rosto de Mikey, denunciavam a situação de pura ansiedade, ela só conseguia sentir. Não sabia se estava pronta pra isso, simplesmente assumir tudo aquilo, entrar em um relacionamento sério depois de tanto tempo do último, o qual, inclusive, tinha sido um fiasco completo.

Porém, algo dentro dela gritava que daria certo e que ela não deveria se preocupar.

— Adoro o fato de você sempre cumprir o que promete — Mikey falou, abrindo os olhos, e Senju riu fraco, sentindo os braços dele a apertarem ainda mais.

— Você é impossível.

— Você que fica me motivando com coisas assim!

Senju riu ainda mais alto, o que fez com que Mikey sorrisse de verdade, completamente inebriado com a sensação de a ter nos braços e não se preocupar se alguém estava vendo. Na verdade, milhares de pessoas estavam os vendo e eles nem percebiam, não ligavam mais.

— Eu gosto de verdade de você, princesa — confessou e Senju sentiu o seu peito aquecer, quase como se fosse uma pequena explosão solar.

— Eu também gosto de verdade de você, Manjiro.

Essa resposta foi absolutamente tudo o que ele precisava.

Colocou Senju de volta no chão e praticamente colou os corpos, com uma das mãos firmes no quadril da platinada e a outra apoiada na bochecha dela.

Ele estava preso no caleidoscópio dos olhos dela e ela praticamente hipnotizada no sorriso que estampava o rosto dele, um dos mais lindos do mundo.

Os segundos que os dois passaram se encarando pareceu como uma eternidade, uma lentidão eterna até o momento que tanto queriam.

Mikey se inclinou na direção de Senju, que automaticamente ficou na ponta dos pés, e entre todas as vezes que tinham se beijado, essa tinha sido a melhor de todas.

Quando os lábios se encontraram, foi como se um show de fogos de artifício acontecesse no peito de ambos e, por uma coincidência, o céu também estava repleto de cores, principalmente azul e amarelo por causa da vitória do time. Simplesmente o cenário perfeito para aceitar, finalmente, os sentimentos que estavam guardados.

Mikey se sentia nas nuvens, como se estivesse em um sonho, talvez tudo isso fosse uma alucinação, mas é real.

Senju em seus braços é real.

O beijo é real.

O gosto de morango do gloss dela é real.

Tudo é real e ele não poderia se sentir mais feliz.

— Cara, parece que estou naqueles finais de comédia romântica — Baji comentou e Kazutora riu, observando junto do amigo o casal, que estava a uma certa distância.

— Fico feliz por eles — comentou, sorrindo de leve — Estava demorando para isso acontecer.

— Logo você falando isso?

— Não ouse começar outro assunto.

— Você que é contraditório nas próprias coisas que fala.

— É diferente... — resmungou e Baji praticamente gargalhou.

— O fato da [Nome] namorar não impede de você dizer que gosta dela.

— Como que não impede?!

— Não impedindo — Baji deu de ombros — Ela retribuir os seus sentimentos é uma coisa e você parar de ser um frouxo e se declarar é outra.

— Vai tomar no cu.

— Você me xingar assim deixa a situação ainda mais engraçada.

Kazutora não tinha entendido de primeira, mas poucos segundos depois Baji levou um soco no ombro como resposta, o que o fez rir com gosto, até mesmo sentindo a barriga doer.

— Por que você é assim?! — o Hanemiya perguntou, completamente irritado.

— Porque te irritar é o meu passatempo favorito.

— Eu te odeio.

— A nossa amizade é simplesmente maravilhosa.

Kazutora sentiu a sua paciência sumir, mostrando o dedo do meio para Baji e revirando os olhos, em seguida. Não admitiria, mas gostava desses momentos de pura descontração, mesmo que significasse ser provocado de tal maneira. No meio de tantas coisas que estavam acontecendo, situações como essa, ouvir as piadas idiotas de Baji, significavam tudo e mais um pouco.

O moreno, então, começou a observar o estádio, com alguns torcedores já começando a ir embora e os dois times espalhados pelo gramado. Entrevistas já estavam acontecendo na beirada do campo, com os mais diversos jogadores e até mesmo os técnicos, já que o jogo é considerado um clássico no futebol universitário. Logo, Kazutora e Baji sabiam muito bem que eles eram os próximos alvos.

Na verdade, eles dois e Mikey quase sempre são os principais focos dos jornalistas, mas o loiro tinha simplesmente ido resolver a vida amorosa, enquanto os outros dois se afastaram o máximo que conseguiram, usando o próprio time como uma espécie de escudo. Aproveitaram a comemoração completamente caótica da primeira vitória da temporada com maestria.

Eles sabiam que não conseguiriam fugir por muito tempo, mas estavam tentando evitar que tal situação acontecesse, afinal, não é mais um segredo que o treinador dos Los Angeles Rams tinha vindo assistir o jogo, ele inclusive estava dando uma entrevista no exato momento, a um pouco mais de vinte metros de distância dos meninos. O problema disso tudo, mesmo com o resultado tão incrível do jogo, é que, diferente de Mikey, Baji e Kazutora nunca planejaram jogar futebol profissionalmente.

Mikey sempre quis isso, é o sonho dele desde criança, mas os outros integrantes do trio possuem um outro objetivo, abrir um pet shop juntos. Nunca passou pela cabeça deles que teriam a oportunidade de jogar futebol profissionalmente, eles se esforçaram pelo time, por saberem que seus companheiros precisavam deles e também porque é divertido. Entretanto, ser um jogador profissional não é algo que estava nos planos de ambos.

Muitas coisas mudaram no dia de hoje, o próprio Kazutora se via surpreso por se sentir tentado a começar a pensar sobre uma possível proposta de entrar no Los Angeles Rams. Tudo estava confuso na cabeça dos dois, decisões importantes teriam que ser feitas durante os próximos meses, mas eles sabiam que teriam perguntas difíceis para responder nos próximos minutos, já que a equipe de um importante canal esportivo, acompanhada pelo próprio Scott, estava se aproximando.

— Não achem que não percebi a pequena fuga de vocês — Scott sussurrou para os dois.

— E você parece esquecer que simplesmente soltou uma bomba pra cima da gente umas horas atrás.

— Nem começa, Kazutora.

— A gente mal teve tempo de pensar! — o Hanemiya insistiu e o treinador suspirou, somente apoiando a mão no ombro do mais novo.

— Nenhum de vocês dois precisa responder agora, nem é uma proposta oficial ainda. Podem ficar tranquilos, só controlem a boca e diminuam os palavrões.

— Dá até vontade de soltar uns em rede nacional.

— Faça isso, Baji, que eu coloco mais quinze voltas pra você no treino de segunda.

— Não existe boca mais limpa que a minha, treinador!

Scott simplesmente balançou a cabeça em negação, contendo a vontade de rir, e indicou com a mão para a equipe se aproximar de vez.

— Enquanto vocês começam, vou chamar o Mikey.

Os dois concordaram com a cabeça e se entreolharam antes de voltarem suas atenções para os jornalistas, que os olhavam com expectativa.

— Vamos começar? — o repórter perguntou.

— Claro — Baji tomou a iniciativa, sabendo muito bem como Kazutora gostaria de acabar com aquilo o mais rápido possível.

— Voltamos ao vivo do famoso Rose Bowl! — falou para a câmera, mas logo virou o corpo na direção dos meninos — Depois de uma vitória espetacular, o UCLA Bruins começou a temporada com o pé direito e, para comentar ainda mais sobre o jogo, estou com duas das estrelas do time, os números 18 e 24, Kazutora Hanemiya e Keisuke Baji! Para começar, tenho que primeiro parabenizá-los pela vitória.

— Obrigado — Baji respondeu, com um sorriso estampado no rosto — Treinamos para isso e ficamos extremamente satisfeitos por conseguirmos esse resultado.

— Pretendem refazer o que fizeram no ano passado? Com certeza foi uma campanha incrível.

— Na verdade, a nossa intenção é sermos melhores do que o ano passado. Superar e quebrar as nossas próprias metas.

— Um pouco ambicioso?

— Talvez — Baji riu, entrando completamente no clima, Kazutora até mesmo invejava um pouco como o amigo conseguia lidar tão bem com esse tipo de situação — Mas se não formos ambiciosos, como poderemos melhorar?

— Realmente... — o repórter comentou, pensativo — Essa é uma visão diferente de ser ver as coisas.

— E é a que o time estabeleceu para esse ano. Estamos ambiciosos e focados para os nossos próximos passos.

— Isso é bom, posso garantir que milhares de pessoas estão ansiosas para ver isso acontecendo. Inclusive, mudando um pouco de assunto, mas continuando nessa ideia de ambição, Kazutora, tenho que ser sincero, você simplesmente me deixou eufórico na beira do campo! E olha que nem vou comentar a situação dos narradores.

O Hanemiya conseguiu rir fraco e arrumou a postura corporal, para aguentar a entrevista.

— Com certeza vou olhar a gravação mais tarde.

— Simplesmente foi um momento único, nem duvido que seja considerado, mais pra frente, um dos melhores lances da temporada. Porém, tenho que te perguntar o que te motivou a fazer isso. Não era arriscado demais?

— Um pouco — Kazutora teve que admitir — Sei que existiam outras possibilidades, mas aquela foi a que encontrei para a situação.

— Então foi você que montou a jogada? — a pergunta o pegou de surpresa, percebendo o que tinha acabado de falar.

Kazutora conteve a vontade de suspirar, mas se xingou mentalmente. É função do quarterback determinar as jogadas e os posicionamentos dos jogadores, mas hoje não foi um dia em que Mikey pode fazer essa função de forma completa e o moreno queria de todas as maneiras possíveis que a entrevista não fosse para um rumo extremamente específico.

Porém, essa não é uma decisão completamente dele.

— Foi ele sim — uma voz mais atrás do grupo ecoou — Na hora que ele deu a ideia, tive que aceitar. Ao mesmo tempo que era um pouco absurda, também era perfeita.

Mikey tinha aparecido e deu de ombros para o olhar repreensivo que recebeu de Kazutora. O capitão sabia que o amigo provavelmente inventaria alguma mentira ou até mesmo daria todo o crédito para ele, o que não era certo. Não ligava muito para as consequências do que falaria ali, afinal, entre os dois, Kazutora sempre foi o que mais ligou para as opiniões dos outros.

— Já estávamos pensando que não conseguiríamos uma entrevista com você, Mikey.

O capitão riu fraco, se colocando entre os dois melhores amigos e vendo, pelo canto do olho, Senju já ir em direção a saída do campo, acompanhada por Scott e levando o capacete dele consigo.

— Tive que cumprir uma promessa antes — sorriu de canto e o repórter riu, não havia uma pessoa no estádio que não tivesse visto aquele beijo.

— Bem, aproveitando que está aqui, temos que falar sobre o maior touchdown do jogo, e talvez da temporada. Foi uma decisão de última hora ou já tinham algo assim guardado?

— Não posso revelar muito, se não a preparação para a temporada é perdida — Mikey brincou — Mas foi uma decisão do momento, Kazutora quis fazer e confiei nele.

— Não me dê todo o crédito porque não é qualquer um que consegue fazer um lançamento tão bom.

— Adoro quando você infla o meu ego.

Kazutora empurrou Mikey de leve, mas um sorriso prevalecia no rosto dele. Não tinha como não se sentir bem ao ver o capitão dessa maneira, com certeza bem melhor do que antes. A situação não tinha passado por completo, ficar limpo é um processo demorado que pode demorar meses e que ainda é cheio de altos e baixos, mas, pelo menos, Mikey estava se mantendo firme.

— A confiança entre vocês com certeza foi um dos fatores que determinou a jogada — repórter comentou e o capitão sorriu.

— Sem sombra de dúvidas. Sabe, eu confio no meu time e nos meus jogadores e isso é a base para qualquer vitória.

— Até parece que é um fofinho falando desse jeito — Baji provocou e Mikey somente riu.

— Nós três jogamos juntos há mais de uma década e nos conhecemos por muito mais tempo. Confio a minha vida a esses dois, mesmo que não seja lá uma decisão muito sábia.

— Fã ou hater? — Kazutora perguntou, tentando controlar a vontade de rir.

— Acho que um pouco dos dois.

Mesmo que estivessem no meio de uma entrevista, parecia muito mais que o trio estava em um outro lugar, somente sendo eles mesmos, sem se preocuparem com quem veria ou ouviria. O próprio Kazutora sentia parte do peso das preocupações que carregava simplesmente indo embora, afinal, o melhor amigo dele estava bem e eles tinham ganhado o jogo. Por aqueles minutos, ele poderia esquecer tudo o que estava acontecendo e simplesmente ser um cara de 22 anos que joga futebol com os amigos.

— Poder ver que a amizade de vocês vai além do campo é algo simplesmente incrível — o repórter falou, conseguindo a atenção dos três novamente — Inclusive, pelo o que está circulando, talvez essa formação dure além da faculdade, certo?

— Ainda são especulações — Mikey tomou a frente da situação — Acho que todos nós temos que esperar a temporada acontecer.

— Com toda a certeza, mas já se cria uma certa expectativa. Sei que já é algo que está no imaginário de alguns fãs, a questão de vocês poderem se separar.

— Como o Mikey disse, tudo ainda está no ramo da especulação. Não podemos nem afirmar ou muito menos negar que existe algo decidido.

— É aquele velho ditado de que a esperança é a última que morre — o repórter disse, esperançoso.

Os três riram fraco e a entrevista não durou mais tempo, o que o trio agradeceu profundamente. Mesmo Mikey, que gostava um pouco desse tipo de contexto, já não estava muito afim de ficar ali, só queria poder tomar um banho e voltar para universidade. O corpo dele já demonstrava os sinais de cansaço e ele sabia que a resistência dele estava menor do que antes, mas ainda tentaria pelo menos curtir um pouco da festa que fariam na fraternidade.

— Então... — Baji começou, enquanto os três andavam em direção ao vestiário — Estou vivenciando o milagre de ver logo o Mikey comprometido?

O capitão riu, sabendo que mais cedo ou mais tarde isso seria assunto entre eles.

— Sabe, é ela. Vale a pena de todas as maneiras possíveis.

— Vou começar a vomitar arco-íris — Kazutora provocou.

— Com certeza um milagre bem maior vai ser quando você entender que não tem moral quando se trata desse assunto.

— Você é um saco, Baji.

— Eu só falo verdades, meu caro amigo.

O Hanemiya somente revirou os olhos, agora, liderando o grupo pelos corredores, enquanto ouvia as provocações de seus melhores amigos. Boa parte da equipe de organização do próprio estádio estava ali, de forma que receberam vários "Parabéns pela vitória!" durante o caminho. A sensação de dever cumprido é com certeza uma das melhores do mundo, principalmente quando se consegue estabilizar um time e dar a volta por cima.

O trio logo conseguiu chegar nos vestiários, mas se deparou com um grupo muito específico de pessoas ali os esperando.

Baji não tardou em avançar na direção de Chifuyu e o abraçar, mesmo que os protestos constantes do loiro ecoassem, principalmente a reclamação de que o moreno estava suado, sendo esse principal motivo para negar um beijo do moreno. O grupo inteiro riu da cena, mas logo um clima de parabenização se instalou, não tinha uma pessoa naquele espaço que não estava sorrindo e, com certeza, você era uma delas.

— Aquele foi o touchdown mais o lindo que eu já vi na vida — você comentou com Kazutora, ao se aproximar dele, que tinha se afastado um pouco, depois do abraço em grupo.

— Nem vem com esse papo, a gente literalmente acompanha as temporadas dos Rams e dos Patriots há anos.

— Não tem como você aceitar um elogio meu? — perguntou, tentando conter a risada, já que a expressão emburrada de Kazutora era a coisa mais fofa do mundo.

— Não em relação a isso.

— Então, quais são os meus elogios que você aceita?

A pergunta fez com que Kazutora quase travasse, te encarando por longos segundos, os quais você passou sentindo a sua barriga revirar de leve, parecia que tinha algo no seu estômago. Os olhos dourados do mais alto estavam vidrados no seu rosto e vocês, mais uma vez, estavam na pequena bolha, isolados em um mundinho particular.

— Isso não é pergunta que se faça — o moreno finalmente conseguiu responder e você riu.

— Não é? — o irritou mais um pouco — Mas olha, eu falei sério. O touchdown foi incrível, você foi incrível. Na verdade, você é incrível sempre, não só no jogo...

Você já começava a se embolar nas escolhas de palavras e agora era Kazutora quem estava se divertindo.

— Você entendeu o que eu quis dizer — disse, totalmente envergonhada pela própria confusão.

— Entendi sim, baixinha.

Kazutora sorria de canto, focado em perceber como as suas bochechas coradas te deixavam ainda mais linda e ainda tentando absorver o que você tinha dito. Ele se sentia, às vezes, meio louco em perceber cada detalhe seu, mas, na verdade, essa é uma das linguagens de amor dele, o de prestar atenção em tudo, além dos clássicos gestos de serviço.

Você sentiu o seu coração errar uma batida quando ele se aproximou, deixando um beijo no topo da sua cabeça, uma cena que é normal acontecendo entre vocês dois, mas o diferencial foi quando sentiu a mão dele se perder no meio de seus fios de cabelo. Se levantasse um pouco mais o rosto, poderia até beijá-lo.

Foi esse pensamento que te acordou do transe, o que fez com que se afastasse do toque de Kazutora, quase como se o empurrasse.

— Acho melhor já ir pro vestiário — sorriu fraco — Se não você se atrasa pra festa.

Estranho.

A palavra que determinou o clima entre vocês dois, por segundos ainda mais eternos do que a própria eternidade. "O que tinha acontecido de errado?" — era o que Kazutora se perguntava ao te encarar, mas você também não queria descobrir a resposta pra isso. Não conseguia entender de onde veio o pensamento, e até mesmo a vontade, de querer beijar o seu melhor amigo.

Não fazia sentido, ou pelo menos não deveria fazer.

Essa dúvida começaria te rondar ainda mais com o passar do tempo, principalmente com o fato de que parecia que o universo estava querendo te dizer algo, mas você só não queria acreditar que era verdade. Afinal, você gosta do seu melhor amigo? Por que estava se questionando sobre isso? Você ama outra pessoa.

Observou, completamente perdida, Kazutora, junto com Baji e Mikey, entrar no vestiário, não conseguindo sustentar o último olhar que o seu melhor amigo lhe direcionou antes de passar pela porta metálica.

— Aconteceu alguma coisa? — escutou a voz de Senju e levantou o rosto, encontrando a sua melhor amiga já ao seu lado.

A platinada ainda estava com o uniforme de líder de torcida, mas a mochila já estava nas costas, pronta para voltar para o dormitório e se arrumar o mais rápido possível para a festa da vitória, a qual o resto do pessoal tinha ido preparar e arrumar os últimos detalhes na Toman. Inclusive, é por isso que ali no corredor só tinha você, Emma, Chifuyu e algumas outras pessoas, como namorados e namoradas de outros jogadores.

— Não, está tudo bem.

— Mesmo?

— Precisa se preocupar não.

— Você falar isso só me deixa mais preocupada — você riu da afirmação da sua amiga e respirou fundo.

— É sério, só algumas confusões na minha própria cabeça.

— Sabe que pode falar comigo.

— Sei e sou grata demais por isso — respondeu, sincera — Inclusive, acho que a senhorita tem que me contar algumas coisas.

Você sorriu ao ver as bochechas da sua melhor amiga corarem e como ela tentou desviar o olhar.

— Aquele foi um momento que saiu direto de uma fanfic — Chifuyu entrou na conversa e você o chamou pela mão, para que se aproximasse mais.

— A ideia foi do Mikey?

— Mais ou menos, tem parte minha e parte dele.

— Como assim?! — Senju praticamente gargalhava pela sua expressão e a do Matsuno, que a olhavam completamente em choque.

— Eu juro, podem perguntar pra ele.

— Você dando ideia de simplesmente beijar ele no meio do campo?!

— A ideia do beijo de comemoração foi minha, mas no meio do campo foi ele.

— E você concordou?! — você já tinha a mão passando pela testa da platinada, para conferir se ela estava com febre e possivelmente alucinando.

— É sério! — Senju riu ainda mais, afastando a sua mão no processo — Sabe, estou meio que seguindo o seu conselho. Como eu vou saber se vai dar errado, se não tentar?

— Você ouvindo os meus conselhos?! Hoje realmente está sendo um dia repleto de milagres. Agora ninguém pode dizer que Deus não existe.

— Isso é sério?! — Senju reclamou, mas também começou a rir junto com você.

— Estou feliz demais por vocês, de verdade mesmo.

— Ouso até dizer que vocês demoraram demais — Chifuyu opinou e Senju teve que concordar.

— Se fosse pelo Mikey, a gente já estaria junto há um tempinho, mas eu só não estava pronta pra isso.

— Compreensível — o loiro concordou — Aconteceu uma situação parecida comigo e com o Baji, principalmente quando ele ainda estava se assumindo. Cada um tem um ritmo próprio e não tem porquê simplesmente não respeitar isso.

— Chifuyu sempre sendo o sensato do grupo — você falou, o que fez que recebesse um abraço de lado do loiro.

— Acho que você está confundindo os papéis, já que pra mim você que é a sensata.

— Na real, ela tá mais pra mãe do grupo.

— Nossa, sim! E com certeza o Kazutora é o pai.

— Simplesmente uma família destinada ao caos.

Você simplesmente ria dos seus amigos, que agora começavam a conversar sobre os possíveis papéis de cada um dentro daquele enorme grupo de amigos. Não ficaram ali, na frente do vestiário, por muito tempo, afinal, tinham que voltar para a universidade para se arrumarem pra festa.

Porém, no meio do caminho para o estacionamento, onde o carro de Chifuyu estava estacionado, algo começou a insistir, mais uma vez, na sua cabeça: por que quase sempre você e Kazutora eram colocados juntos nesses tipos de situação, no caso sendo os pais do grupo? Assim, vocês dois sempre foram uma dupla, isso é algo que acontece desde crianças, nas brincadeiras e até trabalhos na escola. Não é uma novidade ou algo do tipo, mas por que só agora isso estava te incomodando?

Na verdade, por que só agora foi começar a reparar nesses pequenos, mas cruciais detalhes? A vontade que sentia era a de tacar a própria cabeça na parede e ver se finalmente conseguia parar de pensar em Kazutora, o que estava parecendo ser algo quase que impossível.

Dentro do vestiário, a situação do próprio Kazutora não estava muito diferente.

O moreno, ao sentir a água da ducha bater contra o próprio corpo, refletia cada mínima atitude que tinha tomado, tentando entender em que ponto poderia ter feito algo de errado. Isso o martelava, e até mesmo o assustava, a possibilidade de te magoar com certeza é uma das coisas que ele mais tem medo.

Não sabia como interpretar o que tinha acabado de acontecer, você nunca tinha o afastado, então o que tinha acontecido de diferente?

Praticamente por todos os minutos do banho, ficou refletindo sobre isso, mal prestava atenção na algazarra que estava no vestiário, com todos felizes pela vitória e animados para a festa, que aconteceria daqui mais ou menos uma hora e meia. Ele até se sentia animado com tudo isso, mas existiam coisas na mente dele que estavam se sobressaindo, principalmente os que envolviam a própria família.

Kazutora não conseguiria simplesmente parar de pensar nos problemas que rondam sua mente dia e noite, mas conseguia, pelo menos, fingir por uma certa quantidade de tempo que eles não existem. Então, durante o jogo, a comemoração e até na própria entrevista, focou a sua atenção no futebol, algo que ele genuinamente gosta e tem interesse. Porém, é muito difícil enganar a própria mente, principalmente uma como a dele, que amadureceu cedo demais.

O moreno suspirou ao andar até as próprias coisas, guardando o kit de banho e terminando de se vestir. Como boa parte do time, tinha levado para o estádio as roupas que usaria na festa e o fato do vestiário possuir uma estrutura enorme contribuiu para que não demorasse muito para que todos já estivessem se preparando e até mesmo quase prontos. Além disso, Scott tinha feito um pequeno discurso, parabenizando o time pela vitória, mas a conversa mais séria e a análise das jogadas ficaria para segunda-feira, mais especificamente na hora do treino.

Assim, Kazutora se viu vestindo mais uma de suas calças rasgadas, sendo essa de uma lavagem mais escura, de forma que combinasse com a camiseta social preta que resolveu usar, a deixando para fora da calça, com os dois primeiros botões abertos, e dobrando as mangas na altura dos cotovelos. Nos pés, calçou o Air Force branco, colocou também, no pescoço, uma corrente fina prateada, que acabou ficando mais para dentro da blusa, e o clássico brinco de guizo, que voltou a ser pendurado na orelha esquerda, afinal é o presente de aniversário que Mikey tinha o dado quando completou treze anos.

Até hoje se lembrava da surra que levou por ter aparecido em casa com a orelha furada, mas com certeza não se arrependia de ter ido com Mikey naquele estúdio de tatuagem e body piercing, tinha sido o primeiro ato de "rebeldia" que tinha feito na vida. Ao longo dos anos, muitos outros iriam acontecer, principalmente com Kazutora ficando cada vez mais parecido com o pai no sentido físico, como altura e força.

Ninguém realmente consegue aguentar tudo em silêncio.

— Um dólar pelos seus pensamentos — Kazutora escutou a voz de Mikey e levantou o olhar, encontrando o capitão em pé na sua frente.

O moreno estava sentado ao lado da mochila, em um dos bancos de metal que decorava o ambiente, sendo este mais ao fundo e afastado, além de ter uma toalha enrolada na cabeça, com a intenção de fazer o cabelo secar mais rápido. Ele ainda encarava o celular desbloqueado em mãos, com o aparelho aberto no aplicativo de mensagens, já que queria responder as mensagens da família o parabenizando pelo jogo, mas tinha simplesmente travado no meio do processo.

— É nada.

— Você é um péssimo mentiroso.

— Sério?

— Muito sério — Mikey simplesmente se sentou ao lado de Kazutora, encostando as costas na parede e cruzando os braços na altura do peito.

O loiro não estava muito diferente do melhor amigo, já praticamente pronto para a festa. Camiseta branca, calça preta e os clássicos coturnos também pretos, uma escolha de peças extremamente a cara de Mikey e que até mesmo fez Kazutora sorrir fraco, estavam quase como o oposto um do outro.

— Estou esperando você abrir a boca.

— Realmente quer falar sobre isso aqui?

— Então você realmente está disposto a conversar sobre algo que acontece com você?! — Mikey fingiu surpresa, o que fez com que Kazutora revirasse os olhos — Brincadeiras à parte, mas sim. Quero ter essa conversa aqui, porque se não você foge e nunca mais vou ter essa oportunidade.

— Eu não fujo desse tipo de conversa.

— Não? Quer que eu realmente comece a listar a quantidade de vezes que tentei?

— Você sabe que é um hipócrita falando isso logo pra mim, né?

— Sei, mas eu não sou o assunto da vez — Mikey sorriu, triunfante, e Kazutora sentiu uma vontade genuína de querer tirar aquele sorriso do rosto do amigo na base do soco.

— Eu ainda não sei como sou seu amigo.

— Você sabe que consegue realmente machucar meus sentimentos?

— Sim, e me divirto demais com isso.

— Depois eu que não presto.

Kazutora acabou rindo e Mikey se sentiu feliz em finalmente conseguir ver o amigo um pouco mais leve, nem que seja por míseros segundos. Já tem uma certa quantidade de tempo que o loiro vem percebendo como parecia que algo consumia o moreno, ele só não sabia o que poderia ser e muito menos como introduzir o assunto. Ambos são muito fechados sobre o que verdadeiramente os atormenta, são extremamente parecidos nesse ponto, mas a preocupação permanecia.

— Eu estou falando sério sobre querer ter essa conversa — Mikey voltou a falar, até mesmo em um tom de voz mais baixo — Você sempre esteve me ajudando, inclusive tá fazendo isso agora, e eu também quero pode fazer isso.

Kazutora suspirou, guardando o celular no bolso da calça, e esfregou a toalha na cabeça, deixando que os cabelos úmidos caíssem pelos ombros. Ele não imaginava que estava tão aparente assim como estava preocupado com certas coisas, sempre tentou, durante praticamente toda a vida, não deixar que as pessoas vissem o que realmente acontecia com ele. Porém, a intimidade acaba se tornando um empecilho, já que ela acaba com as nossas barreiras invisíveis, criadas de forma quase que instintiva e baseadas na ideia intrínseca do ser humano de proteção.

— Você sabe o que acontece mês que vem?

— O seu aniversário no dia 16 — Mikey respondeu, confuso, principalmente pela expressão que estampava o rosto do amigo.

O barulho do vestiário praticamente abafava a conversa dos dois, com quarenta pessoas animadas falando sobre os mais diversos assuntos, mas mesmo assim, Kazutora sentia o estômago revirar por estar realmente cogitando a ideia de falar sobre isso em voz alta.

— Além disso.

— Como assim?

— O que aconteceu uma semana antes do meu aniversário de 18 anos?

A pergunta pegou o loiro desprevenido, mas então os flashes de memória o invadiram e sentiu um gosto ruim na boca, por já começar a imaginar o possível rumo da conversa.

— O seu pai foi preso.

— Isso... — Kazutora suspirou — Vai fazer cinco anos.

— Sim, mas o que isso tem haver?

— Por inúmeros motivos, que eu realmente não quero falar sobre, ele conseguiu o direito a uma visita da Maddy e eu vou levá-la. A minha mãe me avisou ontem que marcaram a data, vai ser na sexta, dia 8.

Pensar sobre isso já estava o consumindo aos poucos, mas o ato de falar parece até pior, ele ainda não tinha te contado sobre isso, por simplesmente não querer encarar que é verdade, o fato de que essa visita iria acontecer. Colocou todos os pensamentos no jogo e no próprio Mikey, que o encarava com uma expressão impassível, tentaria ignorar que veria o pai de novo até o último minuto.

Além disso, já tinha uns dias que Kazutora tinha percebido que às vezes o corpo do capitão tremia, até mesmo foi falar com você sobre, mas é algo normal de se acontecer em casos do processo de abstinência, principalmente pelo fato do corpo estar se acostumando a não ter uma substância que inibe certas funções do metabolismo. Porém, ao encarar as mãos do amigo, soube que aquele leve tremor não era por causa das drogas, e sim de raiva.

— Não tem muito o que se possa fazer — tentou falar, mas a voz saiu mais baixa do que gostaria.

— E eu também não sei o que te dizer.

— Não precisa dizer nada — riu fraco, sentindo uma espécie de ardência na garganta — É uma situação que está fora de qualquer controle.

Mikey estava frustrado e com raiva, simplesmente indignado em como algo assim poderia até ser permitido, mas ele não entendia o sistema judicial e muito menos queria entender, já tinha se irritado demais com tais coisas no divórcio dos pais e com a morte de Shinichiro, não foi fácil descobrir que o irmão tinha feito um testamento escondido da família. Assim, não parecia ser justo isso acontecer logo com Kazutora, alguém que não deveria ter passado por tudo aquilo, até hoje o capitão se lembrava do dia que tinha visto as cicatrizes nas costas do melhor amigo pela primeira vez.

Doía também no loiro perceber como Kazutora estava se mantendo "firme" em relação a tudo na base do ódio pelo pai, algo que não é nada bom, e é óbvio como estava o corroendo de dentro pra fora.

— Tem algo que eu possa fazer?

— Não sei — Kazutora suspirou de novo, esfregando o rosto nas mãos — Mas não se preocupa, tá tudo...

— Não complete essa frase — Mikey o interrompeu — Não ouse dizer que "está tudo bem".

— Mikey...

— Não finja pra mim que está "tudo bem".

A frase doeu em Kazutora mais do que ele poderia sequer imaginar, principalmente por todos os anos que passou encobrindo tudo o que acontecia na própria casa. Mesmo tanto tempo depois, ainda é algo quase automático, dizer que está tudo bem e fingir que nada estava acontecendo, uma resposta de comportamento que o marcou por praticamente toda a vida.

— Eu estou irritado com tudo isso. Simplesmente saber que ele ainda tem a merda de uma influência na vida da minha família, que ele vai ver a Maddy, que eu vou ter que encarar a cara dele de novo e ainda ter a certeza de que quando aparecermos lá, ele vai se sentir um filho da puta vitorioso já que conseguiu, mais uma vez, o que quer.

Kazutora tinha falado tudo tão rápido, com as palavras atropelando umas às outras e uma frustração dolorida na voz, que Mikey quase não entendeu.

Conteve a vontade de suspirar ao ver o próprio melhor amigo colocar os cotovelos nas coxas e apoiar a cabeça nas mãos em frustração, mas se permitiu se aproximar mais um pouco e apoiar uma das mãos nas costas do moreno, começando uma espécie de carinho, com a mais pura intenção de demonstrar conforto.

Ele sabia que não precisava falar nada, o próprio Kazutora tinha dito isso pra ele, afinal, atitudes sempre transmitem mais do que palavras. Além disso, ele sabe muito bem como tudo que envolve a figura do pai do moreno é algo que deve ser tratado com cuidado.

— Obrigado — foi a única palavra que Kazutora disse, depois de um minuto de completo silêncio.

— Pelo o que?

— Por ter me feito falar — sussurrou — Não gosto de falar sobre mim e das merdas que passam pela minha cabeça, mas hoje em dia eu tenho a noção de que é necessário.

— É bem frustrante, né? — Mikey tentou descontrair, o que fez que um vislumbre de sorriso aparecesse no rosto do moreno.

— Pra caralho.

Os dois melhores amigos riram fraco e Kazutora voltou a erguer o corpo, aproveitando para apoiar a cabeça no ombro de Mikey, que encostou a própria sobre a do amigo.

— A mesma coisa serve pra você — o Hanemiya disse, enquanto os olhos dourados passeavam pelo vestiário, sabia que alguns de seus companheiros de time tinham percebido que tinha acontecido uma conversa mais séria entre os dois — Sei que também tem muita coisa guardada.

— Anotado, fã número 1.

Kazutora revirou os olhos pelo "apelido", mas se permitiu relaxar ali, pelos próximos minutos que passaram. Nenhum dos dois amigos ousou sair daquela posição ou até mesmo falar alguma coisa entre eles, acabou que alguns companheiros de time se aproximaram e puxaram uma conversa sobre um assunto que nenhum dos dois realmente prestou atenção, mas pelo menos foi o suficiente para que dessem algumas risadas.

Não demorou também para que logo terminassem de se arrumar e saíssem do vestiário, todos prontos e indo em direção ao ônibus para voltar para a Universidade, algo que Kazutora realmente queria. Não sabia mais se estava em pleno clima de festa, mas tinha a certeza de que, no mínimo, beberia ao ponto de não lembrar que tem um pai, não queria mais pensar nesse assunto.

Porém, mesmo que isso seja o que mais o está consumindo, ainda existe o dilema que está acontecendo com você, afinal, sentimentos, e ainda um tão forte como o amor, não somem em um passo de mágica e muito menos são fáceis de lidar. Tal situação é frustrante, principalmente quando Kazutora se lembra que talvez tudo poderia ser diferente se ele não fosse um "frouxo", como Baji cismava em o chamar.

Afinal, existe uma dúvida cruel que o incomoda há anos e que, atualmente, parecia fazer muito mais sentido: se ele tivesse se declarado mais cedo, antes de você sequer começar a ficar com Blake, será que, agora, estariam juntos?






Oi de novo!

Um capítulo cheio de altos e baixos em KKKKKK

Eu quis muito mostrar como o Kazutora está lidando com as coisas em relação a família dele, além de também contar um pouco mais como a amizade dele com o Mikey funciona. Inclusive, estou doidinha pra falar mais de como eles eram na adolescência!

Além disso, assim, não vou dar muito spoiler, mas já garanto pra vocês que essa festa vai dar o que falar 👀

Bem, espero de verdade que tenham gostado! Não esqueçam de votar e de comentar (AMO ler o feedback de vocês)!

Até a próxima! ♥︎

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top