01 | O Inicio do Furacão.

NARRADOR

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Ainda há de nascer homem mais atraente e sedutor do que Nikolai Gogol. Isso era algo que todos da sociedade, alta e baixa, tinham como mantra.

Não era segredo algum para a sociedade de são Petersburgo, a fama que Nikolai tinha por onde passava. Ele era um garoto de ouro, seus pais tinham uma boa fortuna, não chegavam a ser os denominados ricos, mas eram realmente bens de vida. Na mesa de Nikolai nunca faltou nada, ele tinha tudo na vida para ter um futuro brilhante.

Ele tinha a influência, ele tinha os romances, ele tinha o dinheiro e tinha a beleza. Para os que observavam sua vida por fora diriam que ele tinha tudo que todos desejariam ter e que qualquer reclamação vinda dele seria meramente ingratidão.
O único deslize que todos comentam sobre Nikolai era a fama que ele tinha de conquistar mulheres – e homens – por onde quer que passava, alguns diziam que sempre era a intenção dele seduzir quem pudesse e diverti-se com isso, outros diziam que era algo inconsciente, que ele encantava quem quer que fosse sem se dar conta, mas no fundo, ele gostava de receber a atenção das pessoas.

Ele nunca estava fora dos holofotes, frequenta-se onde for, sempre tinham olhos nele em busca de uma migalha da atenção que Nikolai pudesse dar. O único período que ele passou longe de tudo e todos foi aos 15 anos de idade quando uma suposta namorada da época, uma russa de longos cabelos loiros chamada Natasha se suicidou e deixou uma carta para trás afirmando que não conseguiria viver sem ser amada por Nikolai. Que sem Nikolai e seu amor, ela preferia a morte.

Aparentemente, aquilo foi o necessário para abalar as estruturas do garoto que na época tinha apenas 15 anos e estava no auge de sua popularidade na alta sociedade. Mas o suposto luto durou cerca de 2 semanas, antes que ele voltasse mais brilhante do que nunca. Desde o primeiro caso, foi relatado que mais 5 pessoas – 2 garotas e 3 garotos – optaram por se suicidar após serem rejeitados por Nikolai, a realidade desses fatos nunca foi confirmado por ninguém, mas eram o que as más línguas comentavam.

Nikolai era um furacão. Isso era um fato inegável. Agora, no auge dos seus 17 anos, ele continuava a ofuscar o brilho de garotas e garotos da alta sociedade.
Mas infelizmente, ninguém que tentasse ter uma chance com ele conseguiria pois diziam por aí que o coração do garoto enfim havia sido capturado.

A pessoa em questão era Polina Gromov, uma moça vinda de outra cidade do interior, mas ela era uma beleza notável. Todos comentavam como o casal era deslumbrante, feitos um para outros, e todas as fofocas comentavam que o relacionamento era sério e o casal já planejava um casório assim que Nikolai completasse os 18 anos.

Os comentadores de vida alheia da época desacreditavam desse boato sobre casamento, afinal, Nikolai era uma beleza e tanto e gostava de ter os holofotes, casar seria como abrir mão dos holofotes e focar-se em uma pessoa apenas: sua esposa. Mas a realidade veio a tona quando semanas antes de seu aniversário, Nikolai veio a público em um dos bailes dançantes e confirmou que se casaria na mesma data de seu décimo oitavo aniversário.

Foi como se um balde de água fria tivesse sido despejado sobre a cabeça de toda a sociedade. Nikolai Gogol, enfim, se aposentadoria dos holofotes e dos boatos de romances para ter uma vida pacata como marido?
Para uma pequena parcela das pessoas aquilo era motivo de comemoração, e essa pequena parcela a qual me refiro são os pais de Nikolai que já estavam preocupados com a reputação que o filho levava, Polina que era uma namorada –, agora, noiva –  exemplar e extremamente apaixonada por Nikolai, os pais de Polina que achavam de bom tom casar a filha com um rapaz tão belo e bem de vida como o Gogol, e é claro, as invejosas que tinham seus brilhos ofuscados por Nikolai, que enfim, encontraram a oportunidade de brilhar sem ter ele como concorrência.

A cada dia que se aproximava do décimo oitavo aniversário de Nikolai, a contagem regressiva se torna apreensiva para toda a sociedade de São Petersburgo. Todos contavam os minutos para presenciarem o casamento de Nikolai que, com certeza, renderia uma coluna extensa no jornal para os recém-casados.
Mas entre planejamentos e fofocas, estava Nikolai e uma emblemática situação: a dúvida.

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NIKOLAI GOGOL
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O relógio da cidade já deveria marcar 13:30 da tarde enquanto eu caminhava a passos apressados na calçada, eu estava tentando o máximo possível passar despercebido por todos ali, mas vez ou outra algum amigo me reconhecia e dava-se á me comprimentar. Só me senti aliviado quando me vi, enfim, no destino que estava indo: A casa de Madame Ozaki, uma vidente bem conhecida da região.
Muitos duvidavam da capacidade da mulher já que todos a chamavam de Charlatã, mas eu sempre fui cético em relação ao assunto e gostava de ouvir o que a madame tinha a dizer. Todas as vezes que a procurei nunca houve decepção. E agora, que estou a beira de me casar, eu preciso ter certeza de que a dúvida que assombra meu coração não é apenas uma paranóia de minha parte.

Bati três vezes na porta da casa antes de ouvir a voz da mulher permitir a entrada da parte de dentro, abri a porta e entrei apressado olhando tudo em volta com curiosidade. Enquanto a madame já estava sentada na mesa.

——— Em que posso ajudá-lo, Nikolai? — A mulher perguntou analisando-me de cima a baixo.

——— Preciso que as cartas me tirem uma dúvida. — Respondi imediamente me sentando á sua frente.

——— Sabe que não faço trabalho de graça, certo? O que trouxe de pagamento?

Revirei os olhos assentindo antes de tirar um punhado de notas do bolso e colocar sobre a mesa, a mulher sorriu pegando o dinheiro e guardando-o antes de pegar as cartas.

——— O que precisa saber? — Ela questionou.

——— Se devo me casar, se Polina é realmente a garota certa.

——— Dúvidas dias antes do casamento? — Ela perguntou interessada no assunto e confirmei suspirando.

A mulher assentiu pegando as cartas e passando a interpreta-las, conforme mais cartas se abriam, sua testa franziu e suas feições ficaram interrogativas. Imediatamente minhas suspeitas passaram a aumentar.

——— Hum... Aqui diz que há realmente alguém que você vai amar profundamente.

——— E é Polina? — Perguntei de imediato.

A mulher pareceu pensativa conforme interpretava as cartas.

——— Que fato engraçado, mostra aqui que você terá que passar por uma situação em um dia de grande tempestade. Você será uma cinderela e sua madrasta será a própria vida. Mas que após isso... Encontrará quem está destinado a você.

——— Então... Não é Polina?

A mulher de imediato me olhou risonha e negou com a cabeça, meus ombros caíram e foi como se eu tivesse o peso da realidade caindo sobre meus ombros. Como devo agir ao saber que a mulher com quem pretendo me casar não é de fato meu amor destinado?

——— Duvido muito até que seja alguém de sexo feminino, meu caro. — A mulher ditou e eu fiquei abismado.

Pouquíssimos, realmente poucos, sabiam de fato de meu interesse por pessoas do mesmo sexo que o meu. A sociedade não via a homossexualidade com bons olhos, e o fato de ser uma pessoa que gostava de ambos os gêneros seria uma confusão ainda maior para as pessoas.
Minha reputação já não estava lá aquelas coisas, ter minha orientação sexual exposta seria motivo de mais cochicho. E isso era algo que cabia apenas a mim e mais ninguém.

——— Madame, mas se não é Polina, quem mais pode ser? Que situação é essa que devo desafiar para encontrar o amor?

A mulher pareceu pensativa enquanto observava as cartas atentamente, ela tinha o cenho franzido e as mãos em seus lábios. Parecia tentar organizar o que diria em sua própria mente.

——— As cartas não mostram, mas ele está próximo. O futuro me é mostrado até um certo ponto de sua vida, em seguida se torna uma grande fumaça como se ainda não estivesse escrito...

Eu suspirei pesadamente enquanto ouvia suas palavras. Meu futuro ainda é incerto e não sei dizer se me agradava saber disso.

——— Como posso saber que é a pessoa certa? Como saber quando a encontrar?

——— Como eu lhe disse, menino Gogol, você será um cinderela. Perderá um sapato, mas fique calmo, ele sempre arranjará uma forma de voltar para você. E quando isso acontecer, você saberá quem é seu príncipe encantado.

A mulher disse sorrindo em seguida e eu assenti mentalizando todas as informações recebidas. Agora bastava a mim saber o que faria com elas, meu casamento se aproximava cada dia mais e a incerteza se tornou uma fiel companheira.

E depois dessa consulta, eu tenho certeza de que minhas noites de sono serão interrompidas para tomar uma decisão a qual futuramente não posso me arrepender. Meu futuro ainda é incerto e eu mesmo devo escrevê-lo. Então, qual decisão será a melhor de tomar?

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