𝗥𝗮𝗻𝗰𝗼𝗿

Já havia fumado tanto que nem meu café seria tão preto quanto meu pulmão. 

As palavras pareciam se embaralhar na minha cabeça e por momentos eu acreditei ter perdido a capacidade de pensar. Estava sendo um caos naquele lugar. Todas as paredes estavam me deixando zonzo

ㅡ Kiyoko está morta. ㅡ sussurrei pra mim mesmo. 

Aquelas palavras me doíam, sem rumo algum, eu não sabia como reagir naquela situação. A notícia me pegou de surpresa e estar naquela sala com todos aqueles que partilhavam do mesmo silêncio fazia tudo ir por água abaixo. Um deles poderia ser o culpado da morte e simplesmente dependeria de um detetive solucionar o caso. Aquele pesadelo deveria chegar ao fim. 

Aquele lugar tinha um ar pesado e  conseguia ser horrível escutar a respiração de todos.

Não tive tanto tempo para pensar, desde que escutei meu irmão falar que Kiyoko estava morta e ir direto para um interrogatório não me permitiu ter uma breve abertura para pensar. Encostei minha cabeça na parede e então fechei os olhos tentando me lembrar das minhas últimas lembranças com Kiyoko. Uma montanha russa de sentimentos girou minha cabeça me fazendo apertar as coxas com os dedos. 

Era tudo irreal. 

Parecia uma loucura tentar me lembrar dos últimos momentos em que minha memória fraca ainda se guardava.

(...)

Estava sendo dias de guerra na empresa, muitos tentavam subir de cargo. Eu era um desses. Se contasse quem ali estava aparentemente consciente, seria uma perda de tempo. Meu corpo estava sendo automático para quase tudo, tinha projetos em mente, gerei problemas de visão pela forte luz da tela de computador. 

Eu claramente estava visivelmente magro e isso estava me afetando quanto a minha aparência. Mais fraco que antes, minha mente funcionava apenas para lembrar que eu tinha projetos e um sonho que eu deveria conseguir. Apenas eu e Kiyoko estávamos tentando o cargo. 

Kiyoko estava na empresa fazia pouco tempo. Fazia a sala estar mais tranquila e organizada com a questão até de cores que usava em suas roupas. Mais calma dentre todo aquele caos, e era uma forte concorrente. Muito inteligente e invejada, de fato, ela era como um cérebro possível de usar toda a sua capacidade. 

ㅡ Atsumu você conseguiu dormir? ㅡ ouvir a voz dela ecoar pela sala enquanto eu estava de olhos fechados mapeando minhas palavras mentalmente para estarem em harmonia quando eu apresentasse. 

ㅡ Não muito, dormi aos retalhos e fiquei muito tempo apenas de olhos fechados. Você dormiu bem? ㅡ perguntei com um riso fraco. 

ㅡ Tomei alguns chás para que meu corpo relaxasse e consegui. ㅡ ela coçou os olhos e me olhou assim que afastou as mãos. ㅡ Como se sente sabendo que irá subir de cargo daqui alguns minutos? 

ㅡ Irei estar chorando trancado no banheiro. 

ㅡ Isso é a sua cara. 

ㅡ Definitivamente é! Você pode ser a escolhida. 

ㅡ Quem sabe?! O melhor irá ganhar.

ㅡ Então a vitória é minha.

Dei uma piscada para a morena que acabou rindo. Eu realmente sou bom no que faço, estou há anos no ramo e realmente acredito que essa vaga vai ser minha após tanto esforço e eu me esforcei muito para impressionar. 

Muitos ali reconheciam minha capacidade dentro da empresa e o quanto eu fiz parte de projetos. Desde reuniões fora até mesmo viagens, meu sonho estava prestes a se realizar e não consigo me imaginar longe dessa vaga.

Estava ficando eufórico, minha ansiedade me consumia e meu orgulho gritava em meu peito. Talvez, já estava como um louco extremamente exausto e com traços de cansaço pelos roxos; havia manchas roxas pelo meus braços e coxas que tive que esconder com roupas sociais mais escuras enquanto me entupi de remédio como um descontrolado. 

Faltava alguns minutos para tudo começar e estar naquela sala com Kiyoko que relia alguns papéis. Possivelmente o barulho da sola do meu sapato batendo contra o chão poderia ser escutado de forma que incomodasse, porém, minha mente estava muito longe para conseguir parar. 

O chefe adentrou naquela sala e então avisou que iria começar as apresentações. Nada mais era que projetos futuros para a empresa, como eu tenho um passaporte carimbado de vários países eu tentei englobar os conhecimentos e fazer algo mais expansivo para aumentar a qualidades usando técnicas que poderiam ser aplicadas e melhorias na imagem visual. 

Havia ficado uma apresentação impecável e extremamente detalhada, não me deixei no minimalismo tendo um projeto impecável em mãos. 

Passaram-se longos minutos até eu poder apresentar e sinceramente não prestei atenção no de Kiyoko, o máximo que posso lembrar vagamente é de algumas imagens de prédios maiores que nem sequer me dei o trabalho de prestar atenção para entender. Minha cabeça estava turbinada e então escutei a voz do diabo rir quando foi anunciado que era a minha vez. 

ㅡ Bom dia a todos. Sou Miya Atsumu. 

Foram minhas palavras para todos que estavam na sala, comecei a apresentar uma extensa variedade de informações vindo de empresas maiores e no fim juntei uma tese sobre melhorias possíveis para estarem sendo feitas e que alavancaram muitas empresas. Recebi muitos elogios e aplausos sobre meu projeto estar realmente bem explicado e com provas concretas. 

Eles saíram da sala deixando apenas eu e Kiyoko esperando enquanto estavam debatendo sobre quem receberia a promoção. Aquele silêncio absurdo tomou conta da sala, podendo escutar as respirações minha e de Shimizu. 

De repente todos entrarem na sala e nos colocamos de pé esperando uma resposta, todos muito elogiados e posso dizer que pareciam muitos felizes com o meu. 

ㅡ Ambos os trabalhos são apresentados de formas impecáveis. ㅡ o chefe disse ㅡ Sua ideia de expandir usando técnicas que são possíveis para a nossa empresa realmente foi de alta inteligência e conhecimento da empresa. 

Foi o último elogio que recebi vendo o pai de Shimizu entrar na sala, de fato a família era bem importante, só não imaginei que ele iria comparecer à reunião. 

ㅡ É com muito orgulho que anuncio o novo gerente, Shimizu Kiyoko. 

Meu mundo desabou. 

O que ela fez de melhor? Nada. 

Agradeci e saí da sala indo até o banheiro do andar de baixo, me tranquei no banheiro e desabei em lágrimas. Eu literalmente perdi a vaga por dinheiro? Era só isso que eu precisava para conseguir a vaga? 

Fiquei muito tempo estando trancado naquele pequeno sanitário deixando que as lágrimas de tristeza se misturassem com raiva por tanto esforço se afundando numa correnteza que não voltaria mais e seria obrigado a conviver com esse fardo. Cheguei ao ponto de apagar por um bom tempo, estava triste, sem condições de permanecer em pé, me afoguei nas minhas mágoas que se misturaram com raiva. Não queria olhar para ela, não merecia a minha vaga.

Eu perdi tudo para alguém novo e que tinha dinheiro, sinceramente eu estava criando ódio. 

(...)

Voltei ao meu pensamento quando me dei conta de que já estava com o detetive em minha frente. 

ㅡ Olá, detetive. ㅡ disse assim que pareceu ser a melhor hora depois de um breve silêncio naquela sala. 

ㅡ Olá, Miya. ㅡ a voz ecoou na sala e eu pude sentir os olhos verdes que me fitavam sem expressão alguma ㅡ Você esteve presente na festa, correto? Pode me informar como foi a noite com os seus  acontecimentos? 

ㅡ Para ser sincero, eu mal estive presente. ㅡ respondi me aconchegando na poltrona e tentando encontrar as melhores palavras ㅡ Eu estava muito exausto, foram dias estando sob efeito de café e pouca comida. Mal me aguentava em pé, estava fraco e todos os sons me incomodavam. 

ㅡ O que aconteceu para você se submeter a ficar nessas condições? 

ㅡ Projeto para tentar uma vaga na empresa, eu tinha que me esforçar. 

ㅡ E qual foi o resultado?

ㅡ Não consegui a vaga, Shimizu conseguiu. Então eu estava meio destruído com tudo, por isso fui embora estava tomando remédios para dormir. 

ㅡ Qual medicamento você usou? 

ㅡ Zolpidem. Dormi minutos após chegar em casa. 

ㅡ Então está me dizendo que você perdeu a vaga dos sonhos para a vítima? Está satisfeito com o fato de a vaga agora ser sua? 

ㅡ Se for para ter algo que seja de forma justa. Mesmo eu não conseguindo, não sou capaz de ver a felicidade na morte de alguém e o que posso te afirmar é que eu estava dormindo. ㅡ disse me arrumando na poltrona ㅡ Me perdoe pelo modo de falar mas eu passei dias sendo uma múmia, tal qual como um desgraçado miserável, não estive tão presente ao ponto de nem se quer comer na festa. 

ㅡ Teve alguma intenção com alguém ou até a própria Kiyoko? 

ㅡ Ela me abraçou quando cheguei, disse que estava feliz por eu estar lá. Lembro de ter visto Tsukishima com ela e depois disso não interagi, como eu disse antes, eu estava exausto minha presença foi vaga e fui embora pois havia tomado meus medicamentos para conseguir dormir. 

Eu estava realmente cansado e precisava tirar toda a minha frustração após tantos dias, aquele detetive tinha olhos sem sentimentos algum. Eu só queria que todo esse inferno acabasse. 

ㅡ Isso me foi o suficiente, Miya Atsumu. 

ㅡ Obrigado, detetive. 

Saí da sala em seguida sem me virar para olhar nenhum daqueles. Eu tinha sim tristeza afundando em meu peito e muitos me olhavam como se eu fosse o culpado. Eu precisava de um descanso, não via alívio em saber que uma amiga estava morta e o assassino simplesmente estava no nosso meio. 

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top