𝗜𝗻𝘀𝗶𝘀𝘁𝗲̂𝗻𝗰𝗶𝗮


Sorri completamente satisfeito com a minha aparência ao levar um último olhar ao enorme espelho, que decorava uma das paredes do meu closet. Estava completamente impecável para a grande festa que atenderia daqui alguns minutos e tudo estava convergindo para que as coisas voltassem a funcionar da maneira correta, ou seja, do meu jeito.

Estava vestido de maneira extremamente apropriada, com o terno feito sob medida acomodando o meu corpo com maestria, os sapatos lustrados e alguns anéis de ouro para complementar, além do meu próprio cabelo, arrumado de maneira que nenhum fio estivesse fora do lugar, estava próximo do que a perfeição deveria significar. Podem me chamar do que quiserem, como egocêntrico ou até mesmo arrogante, mas eu sei o meu valor, sei quem eu sou, e ainda mais, sei muito bem como devo me portar como o herdeiro da família Kageyama, algo de que me orgulho profundamente.

Sorri triunfante ao sair de um dos carros de luxo da minha família, observando com atenção a enorme mansão, a qual é cercada pelas mais diversas árvores. Um dos funcionários logo nos cumprimentou e nos guiou até o hall de entrada, de maneira que demorasse tanto para que chegássemos na espécie de salão em que acontecia a tal esperada celebração. Passei os olhos e já notei alguns conhecidos, inclusive pessoas extremamente importantes para o nosso país, a demonstração mais pura do nível de pessoas com quem convivo.

A atenção de parte da festa já estava em nós e não poderia estar mais do que acostumado com isso, afinal, a família Kageyama é única, cheia dos mais diversos contatos e ligações dentro do ciclo social da alta sociedade, sempre sendo muito influente. A nossa presença aqui com certeza já teria espaço em pelo menos uma coluna em quase todos os tabloides de fofocas da alta sociedade, afinal, a curiosidade perante a um ciclo social tão abastado sempre é enorme.

Ajeitei minha postura e fingir arrumar a minha gravata uma última vez, mesmo sabendo que ela está impecável, não poderia estar de uma outra forma, mas eu tenho que fazer uma cena, um teatro, afinal, a minha vida sempre foi recheada das mais diversas artimanhas paras sempre conseguir o que eu quero. Agora, o meu sogro, na verdade ex-sogro, mas isso é só um pequeno detalhe e que não vai demorar para ser consertado, andava até mim, acompanhado de sua esposa e filhos, com os braços apertos e demonstrando satisfação completa por me ver aqui.

ㅡ Tobio! É excelente poder revê-lo.

ㅡ Digo o mesmo, senhor. Sempre é incrível comparecer aos eventos de sua família.

ㅡ Sinto a sua falta, inclusive ㅡ me confidenciou ㅡ As noites de poker nunca mais foram as mesmas.

ㅡ Nem comente... Outro dia adquiri uma garrafa de um lote exclusivo de um vinho espanhol e logo pensei no senhor e na possibilidade de uma pequena reunião para degustá-lo, como nos velhos tempos, antes de certas decisões ruins serem tomadas.

ㅡ Nós devemos marcar tal encontro. Kiyoko tem que acabar com essa fantasia de relacionamento fajuta com aquele lá ㅡ o mais velho levou o olhar à filha, que não tinha ousado me olhar até agora ㅡ Nem gosto de mencionar o nome do ser.

ㅡ Nem devemos, as más línguas dizem que não podemos ficar citando nomes malignos, se não eles nos assombram.

A minha última fala foi sussurrada, de maneira que somente ele pudesse ouvir, o que nos fez trocar risadas cúmplices e não poderia estar mais do que satisfeito por conseguir arrancar uma reação dessas, afinal, um certo alguém nunca poderia fazer algo assim e isso enchia o meu peito de satisfação. Terminei de cumprimentar o resto da família e sorri de canto ao parar de frente para Kiyoko, notando a minha família sair acompanhada dos pais da mesma para uma área mais exclusiva e reservada da festa.

ㅡ Não vai falar comigo? ㅡ perguntei, com um claro tom de provocação na voz, não deixando de a olhar dos pés à cabeça.

ㅡ Não tenho nada para conversar com você, Tobio.

ㅡ Não? ㅡ inclinei a minha cabeça suavemente para o lado, não deixando de passar a oportunidade de mexer com uma mecha de cabelo da mesma.

Sorri ao ver como o corpo dela estava rígido e tenso pela minha aproximação, nossa, com certeza ela deve me detestar com todas as forças, mas não recuou um passo sequer ou algo do tipo, afinal, sabia que o pai dela estava nos olhando com olhos de águia.

ㅡ Não! E deixei isso bem claro quando terminamos.

ㅡ Águas passadas, linda. 

ㅡ Águas passadas? ㅡ o tom irritado dela estava ali e com muita concentração segurei a vontade de revirar os olhos, qualquer um que passasse por ali perto demais notaria como não estávamos tendo a melhor conversa do mundo.

ㅡ Sim, não me faça começar a achar que você virou um papagaio, Kiyoko ㅡ fui um pouco mais ríspido, colocando a mecha de cabelo, que antes estava entre o meu indicador e meu polegar, atrás da orelha esquerda ㅡ O passado está no passado, não precisa ser tão amargurada assim.

ㅡ Eu não sou amargurada, Tobio. Na verdade, sou bem sensata, porque uma coisa que eu faço questão de te dizer é que ter me traído diz muito sobre quem você verdadeiramente é.

ㅡ E você ficar presa a uma situação tão pequena como essa só mostra como você é limitada, Kiyoko.

ㅡ Yachi era a minha melhor amiga! ㅡ ela quase gritou, mas os olhos gritavam a raiva que ela sentia de mim e não pude deixar de contemplar a expressão.

ㅡ Como eu disse, águas passadas, não aja como se não fôssemos voltar.

ㅡ Agora quem está falando asneiras é você.

ㅡ Eu? Não me faça rir, linda ㅡ me inclinei, deixando a nossa distância menor e certamente perigosa ㅡ Não ande por aí achando que o seu pai vai deixar que esse seu relacionamento de segunda categoria vá continuar por muito mais tempo.

ㅡ Você age como se fosse melhor do que ele.

ㅡ E eu sou, Kiyoko, você sabe muito bem que eu sou.

Um sorriso apareceu nos meus lábios pelo silêncio dela e ousei me aproximar ao ponto de deixar um beijo em sua têmpora, antes de colocar as mãos nos bolsos da calça social e deixar a pequena "boneca de porcelana" para trás. Tão fácil a desconcertar e a jogar contra a parede, simplesmente fácil demais saber que ela voltaria a ser mim, nem que tivesse que jogar ainda mais sujo para conseguir tal proeza. Não é uma questão de que não a superei ou algo do tipo, mesmo que no fundo de mim saiba que é sim por isso, mas nada pode ficar no meu caminho.

Absolutamente nada.

Inclusive um certo loiro que parecia andar em minha direção como um touro em um daqueles festivais da Espanha, juro, que falta de decência ou mínima educação. Depois ele fica reclamando que não o respeitam na alta sociedade. Se não sabe nem se portar em uma festa que dirá na rotina corporativa? Tenho pena daqueles que acabam sendo obrigados a lidar com ele diariamente, inclusive a própria Kiyoko.

ㅡ O que você pensa que está fazendo, Kageyama?!

ㅡ Definitivamente sendo alguém melhor do que você, mas não acho que isso seja algo plausível de questionamento, Tsukishima.

Um sorriso satisfeito tomava o meu rosto, porque genuinamente irritar alguém como ele melhorava o meu dia com louvor. Não é como se nos encontrássemos sempre também, tive o desprazer de saber da existência dele por causa do péssimo gosto que Kiyoko adquiriu depois que ela achou que tinha colocado um fim no nosso relacionamento. Então, acaba sendo meu divertimento pessoal o colocar até o último fio da insanidade, porque ele sabe, oh como sabe, que em uma disputa entre nós, eu sairia vencendo sem deixar cair uma única gota de suor.

ㅡ Tudo é plausível de questionamento, principalmente você e a palavra "melhor" na mesma frase.

ㅡ Não fique tanto na fase de negação, Tsuki ㅡ fiz questão de usar o apelido ㅡ Aceitar de uma vez vai ser melhor pra você, aceite esse conselho.

ㅡ Em que mundo eu aceitaria algo vindo de você, Kageyama? Alguém que não se deu a decência de ser fiel! 

O tom da conversa já estava aumentando, incrível como esse cara não consegue se portar, não sei nem como meu sogro deixou que ele entrasse na festa, uma lástima para uma celebração tão bonita.

ㅡ Sério? ㅡ suspirei, mostrando meu desinteresse ㅡ Troque o disco, Tsukishima.

ㅡ É bom quando pisam no seu calo, não é?

ㅡ Você realmente acha que eu me importo com isso? ㅡ inclinei a minha cabeça levemente para o lado ㅡ Nada disso vai influenciar no que a família da sua futura ex-namorada pensa sobre mim. Sabe... Eu posso fazer o que eu quiser com qualquer um deles, inclusive com a princesinha de porcelana, que nada vai acontecer comigo. Além de que, no final do dia, você bem sabe que Kiyoko escolheria a mim, a família dela, em relação a você sem nem pensar duas vezes.

Um sorriso triunfante surgiu em meu rosto mais uma vez quando senti as mãos de Tsukishima me segurando pelo colarinho do terno, agora, uma boa quantidade de pessoas estavam nos encarando e agora parte do meu plano estava ficando cada vez mais concreto. Afinal, demonstrar a verdadeira natureza desse cara sempre foi meu maior objetivo.

Podem me chamar de manipulador ou qualquer dos sinônimos que essa palavra possa ter, mas eu sempre tenho o que eu quero, incluindo a minha posição na família de Kiyoko e tudo que isso pode me trazer, como o fato de que seria herdeiro não só da minha herança, mas a dela também.

ㅡ Está vendo? ㅡ provoquei, de forma que ele percebesse as minhas verdadeiras intenções ㅡ Eu nem preciso fazer muito para que ela veja o ser desprezível que você é. Partir pra violência, Tsuki?

Foi um blefe achar que Kiyoko estava nos observando, mas a expressão dele disse com louvor que meu palpite estava certo, de maneira que visse a surpresa e a vergonha se misturarem bem ali na minha frente. Quando ele me soltou, arrumei meu terno com a maior paciência e calma do mundo e olhei uma última vez para o futuro "ex-casal" antes de me afastar e encontrar o meu sogro, que já andava em nossa direção.

Com certeza tinha acabado de enterrar em uma cova bem funda a reputação de Tsukishima.

A festa estava passando a passos lentos, assim, já tinha jogado conversa fora com pelo menos umas trinta pessoas, a maioria nem sabia os nomes direito, mas já estava cansado de tanta socialização. Pedi licença para a pequena roda de conversa em que estava, dando um aperto no ombro em meu sogro, e me afastei, precisava ir ao banheiro e colocar uma água no rosto.

O caminho foi recheado dos mais diversos comprimentos, muitas pessoas gostariam de ser associados ao meu sobrenome, nem que seja de forma social, então deixei que conversassem e falassem sobre seus negócios e família, teve até alguém que me ofereceu a filha para um casamento.

Porém, eu já tinha em mente quem eu quero e que com certeza vou conseguir de volta, nem que seja a última coisa que eu faça.

Respirei aliviado quando me vi sozinho pela primeira vez em minutos, não demorando a voltar a trilhar o caminho até o banheiro do salão, que era até que próximo do escritório da casa, um lugar que já tinha ido várias vezes em reuniões e até alguns momentos com Kiyoko, boas lembranças.

Falando nela... Não demorei a sentir os olhos de Tsukishima sobre mim,a raiva e o ódio queimaram por detrás das lentes do óculos, o que me fez sorrir convencido na direção do mesmo, antes de me virar completamente.

Afinal, ele é só um inseto no meu caminho e como qualquer ser insignificante e frágil, é fácil esmagá-lo e despedaçá-lo, como uma boneca da mais fina porcelana.

(...)

ㅡ Olha, com todo o respeito, detetive Akaashi, mas acho que o senhor está perdendo tempo me interrogando.

Fui sincero, me ajeitando um pouco melhor na poltrona e levando o meu olhar até o homem, que não parecia ser tão mais velho do que eu ou algo do tipo, o que já impressiona por estar em um cargo tão importante assim na polícia.

ㅡ Por que diz isso, senhor Kageyama?

ㅡ Primeiro, pode me chamar de Tobio, não precisamos de tantas formalidades entre nós ㅡ sorri, mostrando minha simpatia ㅡ Bem, não precisa deduzir muito para saber quem está por trás de um crime tão bárbaro, tem que ser alguém capaz de realizar tal coisa.

ㅡ E parece que tem alguém em mente.

ㅡ Mas é claro! ㅡ mexia nos meus anéis com calma, analisando por um tempo as decorações das paredes, como se refletisse minha tese ㅡ Sabe, não sei se chegou aos seus ouvidos, mas pode considerar que me envolvi em uma briga no início da festa com uma pessoa que com certeza possui traços que com certeza o senhor deve estar procurando.

ㅡ Prossiga.

ㅡ Inclusive, já até mesmo o interrogou, estou falando de Tsukishima Kei, simplesmente um zero à esquerda aqui.

ㅡ Por que diz isso?

ㅡ Ele não tem compostura, detetive! Até mesmo não conseguiu lidar com uma simples conversa e já estava partindo pra cima de mim, que dirá que ele poderia fazer com a Kiyoko!

ㅡ Por que ele partiu pra cima de você?

ㅡ Por causa da Kyo, detetive... ㅡ suspirei, levando por alguns instantes o meu olhar até o teto ㅡ Sabe, fomos namorados, mas terminamos a alguns meses.

Admitir tal coisa em voz alta com a situação em que estamos é difícil, ela sempre esteve aqui, de certa forma me apeguei a ela mais do que deveria. Mesmo que fosse uma espécie de conquista, acabou sempre sendo muito mais do que isso, realmente tivemos muitos momentos bons, como viagens e passeios. 

Não quero me colocar em uma posição de sequer pensar que não poderia mais olhar para aquele belo rosto, ou até mesmo arrancar expressões irritadas ou palavras de ressentimento.

Infelizmente, Kiyoko não estava mais aqui para voltar a ser minha.

ㅡ E qual foi o motivo do término?

ㅡ Algumas desavenças acerca das prioridades nas nossas vidas como um casal, nada muito sério.

ㅡ Se não era sério, por que terminaram?

ㅡ Kiyoko conseguia ser sensível até demais dependendo do assunto, sempre foi muito protegida pelos pais, sabe? Acabava não sabendo muito bem lidar com todas as confusões da vida e por mim, Tsukishima se aproveitava disso.

ㅡ Elabore.

ㅡ Ele não é aceito aqui, detetive, não é muito difícil de perceber tal situação. A pressão já estava o dominando, não é todo mundo que consegue sustentar o nosso estilo de vida e ele com certeza não tinha calibre para ficar com ela.

ㅡ Defina "calibre".

ㅡ Realmente a forma de se portar, ele nunca se encaixou na família de Kiyoko, questione qualquer familiar dela sobre ele e veja como ninguém o suporta, não sei nem como uma boneca de porcelana como ela poderia sequer pensar em ficar com ele. E sabe, detetive, não sei o que o senhor já está teorizando ou algo do tipo, mas vai que Tsukishima pensou que se ele não pode tê-la, ninguém mais poderá?

ㅡ Essa é uma acusação direta, senhor Kageyama?

ㅡ Somente suposições, apenas leves suposições...

ㅡ Agora, nos afastando de suas suposições, conte o seu itinerário desde a chegada da festa.

ㅡ Bem, cheguei aqui na mansão já com uma hora de festa acontecendo, minha mãe conseguiu se atrasar de forma esplêndida, e logo fomos recepcionados pelos próprios pais de Kiyoko. Entramos na festa, linda e bem organizada como sempre, e tive uma conversa breve com a própria Kiyoko antes de ser abruptamente abordado por Tsukishima.

ㅡ Foi relatado em um outro depoimento que o senhor foi visto perto do local do crime, isso é verídico?

ㅡ O escritório? Só passei perto porque é caminho para o banheiro, precisava molhar o rosto e tomar um pouco de ar, muitas conversas importantes sobrecarregam qualquer um, o senhor deve saber muito bem disso, imagino.

Não sabia o que detetive estava acanhado de mim, o que estava me frustrando no mínimo um pouco, afinal, cresci lendo as pessoas para conseguir o que eu quero. Não demorava muito para eu entender as verdadeiras intenções das pessoas, tudo não passa de um jogo no final das contas, mas esse cara parecia uma pedra.

Um mistério por si só.

ㅡ Vai precisar de mim para mais alguma coisa, detetive? Não quero que perca tempo comigo enquanto busca pelo verdadeiro culpado.

Estava cansado disso, tinha que admitir, principalmente com Akaashi me encarando como se pudesse me virar do avesso e descobrir qualquer mínima coisa de errado que tinha feito na vida, o que não foram poucas, se quer que eu seja verdadeiro. Girei mais uma vez o anel que decorava o meu dedão, enquanto esperava por uma resposta, que me foi entregue com um curto aceno de cabeça.

ㅡ Por favor, chame o próximo suspeito.

ㅡ Como quiser, senhor detetive.

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