⩩ : 𝙩𝙬𝙤 , αppαrǝntıαǝ

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Amelie colocava as alças do vestido em seus ombros e fechava os botões da lateral, ficando exatamente igual a quando entrou dentro do cômodo: impecável.

Todos os seus movimentos eram capturados por Levi, que mesmo depois de quatro meses repletos de encontros furtivos como este, ainda não tinha conseguido achar uma maneira de não admirar aquele corpo. Era quase um ritual para ele; sempre que terminavam de satisfazer seus desejos um com o outro, o Capitão assistia a mulher se vestir e voltar a pose de esposa perfeita.

Porém, havia algo que Levi não poderia ignorar mais uma vez.

Marcas.

ㅡ Quem fez isso com você? ㅡ a voz grossa do moreno alcançou Amelie, que por um segundo deixou de organizar seus fios para encará-lo.

ㅡ Não importa.

ㅡ Quem fez isso com você, Amelie? ㅡ ele repetiu a pergunta com o tom mais impetuoso.

ㅡ Vamos, temos que voltar para o baile ㅡ ignorando-o, a mulher se dirigiu a saída da pequena sala.

Antes que pudesse alcançar a porta, Levi a parou, encurralando-a com seus braços nas laterais dos ombros. O homem a encarava intensamente enquanto esperava a resposta para sua pergunta que, definitivamente, Amelie não pretendia dar. A nobre sequer tinha ousado olhá-lo, até porque, no fundo, ela sabia que não precisaria dizer absolutamente nada para que o Capitão soubesse exatamente o que havia acontecido.

O que sempre acontecia.

Não adiantaria contar, argumentar ou se lamentar por isso, nada iria mudar aquela situação, muito menos o homem à sua frente. Levi era sua válvula de escape para o pesadelo que vivia diariamente com seu marido, ela não iria perder os únicos momentos que poderia considerar minimamente felizes dividindo as angústias que se acostumou a carregar sozinha nos últimos três anos.

Então, tudo o que lhe restava era negar e torcer para que ele acreditasse em suas desculpas. . . Torcer para que ele não saísse daquela sala e nunca mais entrasse em contato consigo através de cartas e sinais que só ambos entendiam quando estavam em eventos como este.

Por favor, Levi ㅡ Amelie suplicou quase sem voz.

ㅡ Foi ele, não foi? ㅡ o moreno insistiu ainda a encarando.

ㅡ Não faz diferença ㅡ houve uma pequena pausa em sua fala, ela engoliu seco e sussurrou: ㅡ Ninguém pode fazer nada.

Não era como se o Capitão do Esquadrão de Operações Especiais nunca tivesse notado alguns hematomas pouco visíveis no corpo da nobre, eram detalhes quase imperceptíveis que aquele homem só conseguia captar por sempre analisar minuciosamente o corpo de Amelie. Porém, dessa vez, eram mais do que visíveis.

Eram recentes.

Levi não sabia o que se passava na vida da mulher à sua frente. Todo e qualquer momento que compartilhavam, não tinha sequer um resquício de preocupação sobre outros assuntos; quando estavam juntos eram somente eles. A vida como o Soldado Mais Forte da Humanidade era colocada completamente de lado, assim como a de nobre da mulher.

ㅡ Eu preciso voltar... Se Christian perceber que sumi por muito tempo não vai ser nada bom ㅡ ela o avisou, com um leve temor na voz que fez com que o moreno saísse dos seus devaneios.

O homem se afastou do seu corpo, dando espaço para que saísse e até mesmo chegasse ao salão antes dele, com intuito de que ninguém ousasse desconfiar de algo, e assim Amelie fez. Virou na direção contrária e alcançou o trinco da porta, onde logo o abriu, pondo seus pés para fora, mas antes que deixasse a companhia de Levi, a nobre o encarou por cima do ombro.

ㅡ Volte vivo, Capitão ㅡ e com essas palavras, ela partiu.

A pouca luz que habita o cômodo abraça o homem em uma penumbra desconfortável. Gotas de um futuro temporal começam a chicotear as janelas de vidro do local, criam uma fina camada de névoa borrifada ao redor do palecete, unindo o som abafado dos violinos no andar debaixo com a melodia desarmônica da tempestade.

Um relâmpago corta o céu monótono e cinzento, enquanto Levi finalmente sai do transe que o pedido de Amelie o causou e se dirige até o salão principal, onde quase ninguém havia percebido o seu sumiço. Assim que o moreno passa pela entrada lateral, próxima ao bar onde ele e a mulher haviam combinado seu encontro furtivo há uma hora e meia, o Comandante da Tropa de Exploração se põe à sua frente.

A expressão impassível e serena de Erwin Smith o deixa confuso. Era comum que Levi não participasse das conversas entre os convidados de todo e qualquer encontro, tanto que sua presença só era meramente requisitada pela forma como as pessoas ficavam encantadas em estarem ao lado do soldado mais forte da humanidade. Então, por que ele o olhava como se tentasse desvendar segredos insondáveis?

ㅡ Já estamos partindo ㅡ diz à voz profissional, acima dos ruídos da tempestade e da música ㅡ Você vem conosco?

ㅡ Por que não iria?

ㅡ Só você pode me dizer isso... ou outra pessoa também poderia me responder?

A chuva torrencial estrondeia no lado de fora, entre os chiados volumosos das gotas, Erwin caminha em direção a saída do local em completo silêncio, enquanto o homem o acompanha lentamente em um conflito interno com aquelas palavras. Desde quando ele tinha percebido o que acontecia entre Levi e Amelie? Alguém mais sabia? Em que momento eles foram descuidados a esse ponto?

Os questionamentos invadiam o Capitão do Esquadrão de Operações Especiais como um tsunami; engolindo-o e o sufocando. A expressão indecifrável e sempre serena escondia todas as preocupações que o mesmo possuía, mas ainda sim, estavam lá. Ele, como alguém já habituado, mas pouco participativo na alta classe de Wall Sina, sabia melhor do que ninguém o que a descoberta daquela relação faria.

Por isso, julgou que esperar a intervenção de Erwin, se algo acontecesse, seria a melhor escolha; até porque, até o momento, nada havia acontecido.

Com isso em mente, Levi acompanhou os passos do Comandante já fora do local onde o baile ainda ocorria, sendo encharcado da cabeça aos pés em poucos instantes pelo temporal que dominava a noite. Ele vê o loiro entrando na carruagem e assim que põe seus passos no apoio para entrar no transporte, um pequeno gemido, seguido por uma súplica pela voz que ele tanto conhece, chama sua atenção.

Christian, por favor ㅡ a voz chorosa de Amelie se faz presente há poucos metros de onde o moreno se encontra ㅡ M-Me perdoe, eu não queria ter feito isso.

O corpo frágil é arrastado às pressas e com brutalidade pela gramado banhado pela tempestade; a mão que circunda o braço da mulher pertence ao seu marido, o qual mantém uma expressão fechada, as veias do pescoço se distendem por toda sua extensão, deixando a mostra o quão suas emoções estavam à flor da pele.

A frequência cardíaca de Levi dispara. Um conflito lento e tóxico cresce em sua cabeça. Envia uma descarga de adrenalina pelo corpo, descompassa seus pulmões e quase o faz agir pela impulsividade de intervir na cena deprimente a sua frente quando presencia um tapa ser desferido no rosto da mulher que a poucos minutos o fazia companhia.

Nesse momento, quando faz jus a se mover até onde o casal se encontra, seus olhares se cruzam. As pupilas de Amelie estão dilatadas; a maquiagem manchada pelas lágrimas, a roupa torta e o rosto esbelto dominado pela mais pura expressão de pavor. Ela maneia a cabeça em sua direção; é um pedido claro para que ele não interfira, que o mesmo quase ignora. Porém, assim que mais um pedido de desculpas escapa pelos lábios trêmulos da nobre, ele entende o que está acontecendo.

Me desculpa... Eu sei que só devo responder quando você fala comigo... ㅡ um soluço corta sua fala ㅡ E-Eu pensei que como ele era seu irmão...

ㅡ Você não pensa nada, sua vadia inútil ㅡ Christian Yomozuki vocifera, agarrando os cabelos da mulher e a levando até a carruagem que lhe pertencia ㅡ Parece que você não aprende... Quantas vezes eu vou te meter uma surra para você virar uma mulher descente?

Um calafrio se instala em sua espinha, crispa os músculos e o deixa ofegante. Levi estala os ossos da nuca, desconfortável. A repulsa e nojo contaminam sua garganta, corpo e alma. A intensidade em que suas emoções o dominam não permite que seja racional na ação de interromper aquela cena, mesmo que não faça aquilo que realmente quer; desfigurar aquele homem por completo.

ㅡ Boa noite ㅡ a voz fria e monótona do Capitão se faz presente e os movimentos do comerciante cessam no mesmo instante ㅡ Há algum problema aqui?

Os olhos ferozes do outro se lançam na direção de Levi, que os recebe com uma indiferença desmedida. Assim que Christian vê de quem se trata por debaixo das gotas densas, o frio enraíza em seus ossos e sua postura muda abruptamente. Um sorriso nasce nos lábios que há pouco proferiram ameaças a própria esposa; a mão, que ainda segurava os cabelos da mesma brutalmente, desce para sua cintura e a pose do casal perfeito volta à tona.

ㅡ Boa noite, Capitão ㅡ a voz receptiva do homem faz Levi sentir um amargor na própria boca ㅡ Não há problema algum, só uma pequena discussão de marido e mulher. Não se preocupe.

Os olhos do mesmo vagueiam até a loira que se encontra nos braços do comerciante; às palavras usadas pelo homem de quase 40 anos o fazem hesitar. É quase uma lembrança que a relação entre aqueles dois não existisse, já que aos olhos dos demais, realmente não existia. Por isso, ele se mantém calado diante da explicação ridícula que lhe foi dada, pensando que em algum momento, Amelie diria o que estava acontecendo e pediria ajuda.

Mas ela também se mantém calada. Na verdade, sequer olha em sua direção.

ㅡ Obrigada pela preocupação, Capitão. Eu e minha esposa temos que ir para casa, ela está cansada ㅡ sorriu amigável ㅡ Espero que os suprimentos que enviei para Survey Corps os ajudem na expedição de amanhã. Boa sorte e boa noite.

Com essas palavras, ele caminha até sua carruagem junto com Amelie e parte.

Nenhum contato visual foi feito e nada foi dito.

Levi permanece ali. Quieto e perdido. A camisa social ensopada, quase transparente na pele morena, o blazer aberto, os fios molhados, os lábios arroxeados, as bochechas pálidas e a mente a mil.

Por que deixá-la ir estava lhe causando tanta angústia?










( . . . )









Amelie lembra de cada detalhe e acontecimento que ocorreu no dia em que Christian a bateu pela primeira vez.

Na época, fazia cerca de dois meses que estavam juntos, como um acordo feito pelo mais importante conselheiro do rei e o chefe dos mercadores, Amelie e o homem se conheceram no dia do casamento, no altar. A nobre nunca havia se relacionado com ninguém antes do marido, nunca havia sequer sido tocada por alguém. Era uma aquisição perfeita para qualquer um.

Aquele acordo vantajoso para ambos os lados, resultou em uma união rápida entre a única filha da família Yomozuki e o único que poderia apaziguar as reclamações mercadores da Wall Rose, ocasionada pela crise que se alastrava pelas Muralhas desde o rompimento do portão Shiganshina. Porém, esse casamento foi a porta de entrada para um pesadelo interminável na vida de Amelie.

Durante uma discussão sobre a importância das expedições feitas pela Tropa de Exploração, Christian não aceitou que mulher possuísse uma opinião que pudesse divergir das suas, muito menos aceitava o quão talentosa a mesma era para o mundo negócios, deixando-o para trás em qualquer aspecto daquele assunto.

Foi nesse dia que o homem a agrediu pela primeira vez.

Seu relacionamento só piorou com o passar do tempo, principalmente pelo fato de Amelie nunca ter gerado sequer um herdeiro, o que aos olhos do marido, era um absurdo. O que Christian não sabia era que a esposa contava com a ajuda de Ana, uma das empregadas da mansão em que moravam e a única que a mesma confiava, para conseguir ervas, especiarias e tudo o que fosse necessário para chás abortivos.

A garantia não era completa. Mas enquanto ela pudesse evitar, faria o que fosse necessário para não ter nenhuma ligação maior do que um pedaço de papel com aquele homem. E novamente, após um longo caminho até a residência do casal, Christian cuspia ofensas a mulher sobre o assunto; agredindo a mesma a cada palavra proferida.

Até quando ela aguentaria? Essa era uma pergunta feita frequentemente por si mesma. Até quando suportaria tudo isso? Ela não sabia. Ninguém sabia. Até porque, não poderia contar com ajuda de outras pessoas para sair daquela situação, nem mesmo sua família, que quando alertada sobre o que acontecia entre os dois, fechou os olhos e pediu para que nenhum tipo de alarde fosse feito.

Ninguém pode fazer nada.

Aquele lixo do subterrâneo... ㅡ Christian resmungou depois de atravessar a entrada da mansão, arrastando Amelie pelos corredores da mesma ㅡ Quem ele pensa que é para falar comigo daquele jeito?

O lugar onde moravam era mais que luxuoso. Os portões altos e dourados davam a entrada a enorme residência composta por estátuas, fontes e um amplo jardim. Às colunas, assim como o restante do local, se resumia a tons claros e neutros; elegantes. Todas as portas da casa eram feitas de vidros, que permaneciam abertas durante todo o dia.

Só algumas das dezenas de empregadas que chegavam às cinco da manhã e partiam pouco antes da meia noite, dormiam ali. Ana era uma delas. A garota de cabelos longos e vermelhos, era a única esperança de Amelie em noites como essa, onde Christian simplesmente a jogava em um pequeno quarto no sótão como castigo pela sua insolência.

O rosto inchado pelo choro, com as marcas dos dedos do marido pelas bochechas e braços, o couro cabeludo dolorido pelos puxões bruscos e a voz rouca por todas súplicas ditas e ignoradas pelo homem; tudo isso fazia parte da rotina de Amelie, e era assim que ela se encontrava nesse momento.

Tudo o que a Yomozuki podia sentir agora era o mais puro sentimento de alívio pelo marido ter a jogado ali sem machucá-la ainda mais.

Da última vez que Christian perdeu o controle e a agrediu, há uma semana atrás, não tinha feito tal ato com suas próprias mãos e sim, com uma barra de ferro. Por isso, as marcas não conseguiram ser escondidas nem com as várias camadas de maquiagem que uma das suas empregadas havia passado antes que a nobre pudesse sair para o baile desta noite.

ㅡ Sra. Yomozuki? ㅡ a voz de Ana fez Amelie sair de seus próprios devaneios ㅡ Eu ouvi os gritos do Sr. Yomozuki, vim conferir se ele tinha a trancada aqui.

A ruiva caminhou até a mulher já com um pequeno recipiente com água, alguns algodões, curativos e remédios em suas mãos para tratar qualquer tipo de ferimento que a mesma tivesse. Seus joelhos tocaram o chão e com bastante cuidado, Ana afastou o tecido das alças do vestido para conferir os estragos feitis no braço da mulher, encontrando algumas marcas já um pouco escuras.

Os cuidados foram imediatos, com uma delicadeza desmedida para que Amelie não fizesse sequer um ruído que pudesse ser ouvido por Christian, evitando que a ajuda que a garota dava a nobre fosse descoberta e consequentemente, prejudicando a mesma. Ana tratava a mulher diferente dos demais empregados desde que chegou àquela casa, sendo a única amiga que a mesma possuía ali.

Por isso, sem nada ser dito por nenhuma das duas, a ruiva levou-a até o quarto onde dormia, acomodando-a em sua cama, enquanto se dirigia até o um pequeno sofá que jazia no cômodo precário. É claro que aquilo não se comparava ao conforto do quarto que pertencia a Yomozuki, mas com toda a certeza, era melhor que o chão duro e frio do sótão onde o comerciante havia jogado a esposa.

Poucas horas depois, Ana já começava o seu dia organizando os corredores da entrada da casa. Haviam jarros, flores, quadros e alguns cacos de vidro espalhados pelo chão, deixando claro o tamanho da turbulência do caminho que Amelie percorreu com o marido até o sótão. Logo, outros empregados também iniciavam seu trabalho, um para cada função específica da casa.

ㅡ Onde está Amelie? ㅡ o tom grosseiro e autoritário de Christian fez a ruiva prender a respiração por meros segundos enquanto parava de pôr os objetos quebrando no lixo ㅡ Eu não a encontro.

ㅡ Bom dia, Sr. Yomozuki ㅡ Ana se curvou antes de continuar ㅡ Eu não a vi hoje.

ㅡ Onde aquela-

ㅡ Aqui, amor ㅡ a mulher interrompeu sua fala, surgindo atrás do homem já devidamente vestida e com um sorriso estampado em seu rosto, como se nada tivesse acontecido ㅡ Estava me procurando?

Christian a analisou por completo, sorriu para a imagem impecável da esposa e logo depois, a beijou carinhosamente.

ㅡ Faça suas malas, vamos para a Rose.

ㅡ Posso perguntar o porquê? ㅡ indagou receosa.

Houve uma pausa e um longo suspiro escapou pelos lábios do homem, antes que ele dissesse o que mudaria não só o destino do casal, mas o de toda a humanidade.

ㅡ O portão de Trost foi rompido logo depois que a Tropa de Exploração partiu ㅡ declarou, esfregando as têmporas para aliviar a dor de cabeça que sentia ㅡ Um garoto se transformou em titã. Vamos para o julgamento dele.











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hi sunshines ! o que acharam do capítulo?

ele não teve o que eu tava planejando porque decidi esperar um pouco mais para abordar os assuntos
mais pesados da fic. porém, eu surtei horrores
escrevendo a cena da chuva, af af...

*cof cof, não sei como Christian conseguiu entrar na carruagem com um chifre daquele tamanho*

bom, espero que tenham gostado e até a próxima !
um beijão <3

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