𝗧𝗘𝗠𝗣𝗢𝗥𝗔𝗥𝗬

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BOKUTO

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VOCÊ TEM QUE DEIXAR IR o que já foi embora há muito tempo.

Eu repetia em minha mente pela segunda, terceira, quarta vez? Eu nem me lembrava mais.

Meus olhos continuaram fixos no colar com uma pedra da lua já gasto pelo tempo guardado, tanto no bolso de um short, calça ou na pequena caixa de madeira acima da escrivaninha do meu quarto.

Fazia dois anos que eu o tinha. Dois anos guardado comigo, e dois anos que eu não a via.  E sim, eu sei que dois anos pode ser poucos para alguns, eu sabia disso, mas dois anos para mim era o mesmo que duas décadas.

Dois anos se passaram e todo domingo era sempre quando uma exata questão martelava em minha cabeça.

Você pensa em mim da mesma forma que eu penso em você?

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EU ME LEMBRAVA DE TUDO. Absolutamente de tudo quando a garota desconhecida com roupas escuras, a pele bronzeada, bonita e brasileira chegou na Universidade.

Ela se sentava sozinha próximo do campus, ou até mesmo não saía de sua sala. E eu sabia que não era por querer e sim por ser a única opção que ela tinha, pois ninguém falava com ela.

Ninguém.

Era como se as pessoas tivessem receio de chegar nela já que não era daqui, e sim de um país com uma cultura totalmente... Diferente. Tendo em vista que alguns cochichavam sobre ela ser do estilo gótica, quieta e que te apontaria uma arma quando se sentasse ao lado dela. Outros diziam que somente com um olhar você ficaria petrificado, ou então ganharia um ano de azar, ou uma semana se você tivesse sorte.

Muitas coisas eram ditas sobre a garota desconhecida, a garota de outro país, a garota de outra cultura, a pessoa esquisita, a pessoa diferente de todos, etc.

Não para mim.

[Nome] não estava nem mesmo perto de ser uma garota que é digna de merecer a solidão, e sim as pessoas que deviam ser gratas por ter ela ao seu lado.

Acredito que ela não gostava tanto assim de mim no começo. E acredito que já pensou em me estrangular dezenas de vezes, das quais eu fiquei rodeando ela e fazendo perguntas sobre como era o Brasil.

No início ela me olhava de rabo de olho, testa franzida e me dava curtas respostas, já que ela nunca puxava assunto. Então para mim, eu não descansaria até ouvir uma risada genuína , ou ver um sorriso largo em seu rosto.

Eu precisava ver isso.

Meu coração disparou em segundos quando uma folha foi colocada na minha frente, e ao ver a mão que estava em cima dela segurando contra a mesa, eu já soube quem era só de olhar para a coloração preta do esmalte.

─ Olá! – abri um sorriso pequeno, mas tendo meus dentes amostra.

─ Leia isso.

Antes mesmo que eu falasse algo a mais, ela empurrou a folha novamente enquanto olhava fixamente em meus olhos, assim engoli seco ainda sorrindo ao mesmo tempo que minhas mãos deixaram a bola de vôlei em meu colo, e foi de encontro para aquele papel.

Rolei a vista por cada letra e eu pude sentir a inquietação dela ali parada em minha frente conforme eu lia. E no momento em que chegou no parágrafo dizendo que o maior conservatório de música do Brasil tinha visto os talentos dela com o violino, sua postura e sua excelente forma de evoluir rapidamente, eu já soube.

Ela iria embora.

─ Não é demais?

[Nome] era incrível tocando aquele instrumento, qual era muito difícil de se aprender e sair uma nota de forma tão perfeita e leve. Mas ela fazia isso com uma facilidade impressionante.

Ela disse uma vez que da mesma forma que eu a admirava tocando violino, comentou também que adorava me ver jogando vôlei .

Aquilo me fez pular alto sorrindo.

─ Nossa. – liberei um riso sem muito ânimo.

─ Eu não estou acreditando até agora, e esse e-mail chegou para mim ontem de tarde.

Olhei para ela e a vi ter os olhos ainda pregados em mim, mãos paradas ao lado do corpo e a boca dela estava de uma forma belíssima entre aberta.

─ Te mandaram isso ontem? – pisquei minhas pálpebras rapidamente ao ajeitar minha postura no assento.

─ Sim. E você é a primeira pessoa que sabe disso. – percebi que engoliu um acúmulo de saliva.

Eu não queria parecer um idiota aos olhos dela, mas acho que era tarde para pensar assim porque eu já estava me levantando e erguendo os braços pro alto com um sorriso de orelha a orelha. No mesmo passo que a olhava nos olhos e via suas pálpebras levemente arregaladas.

─ Você vai ser famosa! – gritei, nem mesmo me importando se as pessoas estavam nos olhando.

─ Bokuto-

─ [Nome] finalmente. – contornei a mesa segurando nos ombros dela. ─ Eu te disse. Sua música é um paraíso na terra, e iriam descobrir isso.

Consegui gravar o momento em minha cabeça que ela correu as íris por cada canto de meu rosto, mas depois que percebeu que eu vi isso, pegou a folha da minha mão dando as costas para mim em seguida.

Minha única reação foi colocar as mãos no quadril e rir alto.

A partir de então me dei conta que não tinha mais tempo, e que eu iria começar a correr contra ele. Na esperança de que isso iria fazer ela me ver, como eu a via.

Peguei meu celular no bolso, com a outra mão agarrei bola que estava no chão, e com um aceno de mão, me despedi de Kuroo, Akaashi e os demais do time.

─ Aonde você vai?!

Ouvi outros fazer a mesma pergunta enquanto comecei a caminhar  de forma acelerada até minha camionete estacionada na calçada ao lado de uma árvore. Chegando lá já abrindo a porta, me arrastando pelo banco do motorista.

Ao chegar em casa acabei correndo escada acima e nem prestei muita atenção no que minha mãe disse. Só havia entendido direito algo como cedo e hoje.

Liguei o computador, e quando apareceu o papel de parede da coruja com uma paisagem na neve eu abri um sorriso pequeno, pois eu sempre tive a impressão que não era só uma foto e ela estava ali olhando diretamente para mim.

Entrei na internet e pesquisei sobre o conservatório, dessa forma vendo que tinha inscrições abertas e começava... No próximo mês.

─ Tenho tempo! – fechei os olhos erguendo os braços para cima sorrindo largo, juntamente de tombar a cabeça para trás.

─ Tempo pra quê?! – a voz da minha mãe perguntou ao longe.

─ Nada mãe! – respondi.

Tenho tempo para fazer bastante coisa.

Na verdade, eu ainda não sabia ao certo o que faria com ela pois [Nome] era um tanto difícil de aceitar sair para algum lugar. Contudo, eu iria tentar e acho que era isso que ela não gostava tanto em mim, ou seja – minha insistência nas coisas, e também pessoas.

Lembro-me de quando eu estava treinando com os reservas do time, mas no instante que eu falei para todos nós corrermos até o topo do morro, eles simplesmente me deixaram sozinho. Então eu continuei subindo. Sozinho.

Mas eu fiquei bem, eu acho, e ela não ficou a pessoa mais satisfeita ao saber que eu continuei os chamando para correr junto ou até mesmo treinar, mesmo depois que aquilo aconteceu. m̶e̶s̶m̶o̶ ̶d̶e̶p̶o̶i̶s̶ ̶d̶e̶ ̶e̶u̶ ̶o̶s̶ ̶o̶u̶v̶i̶r̶ ̶s̶u̶s̶s̶u̶r̶r̶a̶n̶d̶o̶ ̶s̶o̶b̶r̶e̶ ̶m̶i̶m̶

Depois do banho eu me vesti e antes de andar para a porta eu agarrei a jaqueta jeans escura antes de sair.

Ao lado de fora eu entrei mais uma vez no meu carro, e quando liguei o motor ele acabou roncando. Após, saí da calçada e depois de passar três casas eu virei a esquerda dessa forma entrando na rua dela.

Não esqueço do dia em que ela se mudou para a rua de trás. E não me esqueço até hoje de quando ela saiu do carro com o rosto amassado de sono e mesmo sendo nove da manhã ela vestia roupas com cor de paleta escura.

Em frente sua casa dei três buzinadas, esta sendo a forma que eu insinuava estar ali.

Demorou... Quatro segundos para ela abrir a cortina da janela da sala, e mesmo de longe eu consegui notar ela com o arco do violino na mão.

Ela estava praticando. Eu preciso ver isso

Abri um sorriso ao mesmo tempo que minhas sobrancelhas se ergueram, mas logo a cortina foi fechada então agora meu sorriso foi de contente para confuso.

Desço do carro já seguindo o caminho até a porta, parando de andar e erguendo minha mão para dar os toques na madeira, só que quando eu iria fazer isto eu ouvi o clique da tranca sendo desfeita. Em seguida o rosto dela ficou visível, sendo assim estufei o peito comprimindo meus lábios.

─ [Nome]-

─ Está querendo me levar aonde dessa vez? – ela nem mesmo me esperou dizer, e já cortou o ar com sua voz.

─ No Palácio Imperial. – anunciei, sem rodeios.

─ Ãn? Espera, como assim?

─ É. Vamos lá? – deixei meus dentes visíveis.

─ Está mesmo querendo ir em um castelo? Tipo... É um castelo, Koutaro. – tombou a cabeça para o lado me estudando com os olhos.

─ Eu sei, eu sei. Mas eu queria ir lá. Parece ser um lugar legal, sabe?

Ficamos parados ali por um longo tempo, tão lento que eu me senti desconfortável com o silêncio então minhas mãos ficaram inquietas, mas quando a vi piscar duas vezes e entrar em casa eu havia entendido que iria se vestir.

Assim fez, estando com os cabelos solto. E eu adorava o seu cabelo. Vestindo a maior parte das roupas com a cor preta, mas por algum milagre ela tinha uma pulseira colorida. Portanto, em seus pés continha um coturno de couro preto fosco.

Inspirei e em seguida entrei no carro, não passando mais de dois segundos para ela seguir atrás de mim.

─ São uns trinta minutos daqui até lá? Eu nunca fui naquele lugar, então eu juro que não faço ideia de quanto tempo vai levar. – me olhou com uma sobrancelha levantada. ─ Já passou por perto de lá?

─ Nem. – soltei uma risada meio nervosa.

Ligo o motor e já entramos na estrada seguindo caminho até o Palácio. Estando metade do caminho torcendo para que ela não olhasse para trás, tendo em mente que eu havia comprado algo para ela, mas nunca tive coragem de entregar, e temo que não dê isso à tempo.

No caminho eu fiquei fazendo perguntas que tinham relação no e-mail que recebera. No entanto, eu sentia que ela estava fugindo do assunto toda vez em que eu tocava e foi meio que impossível não pensar no motivo de estar agindo assim.

Eu parei no estacionamento vazio, e por conta do horário somente meu carro junto de outros dois estava ali. Entendia também por não ter tantas pessoas na rua, pois estava começando a ficar tarde. Logo, também era  possível notar que o tempo frio estava próximo.

─ Esse lugar está vazio, Bokuto. Eu duvido que vamos conseguir entrar. – estalou a língua.

─ Sendo sincero... Eu também duvido muito. – encolhi os ombros abrindo um sorriso simples.

Com isso recebi os olhos dela em mim, em uma resposta de reprovação e de que definitivamente estava me estrangulado com os olhos, e eu não pude deixar de soltar uma série de risadas com isso. Já que ela preferia muito mais ficar em casa do que praticamente sair dela, em vão.

─ Espere. Esperré. – dei meia volta ainda rindo baixinho.

─ Você me tirou do meio de meu ensaio para virmos aqui, e fazer absolutamente nada? E não é assim que se fala. – a olhei e pude receber a graça de a ver com um sorriso mínimo. ─ Se diz, espera. – consegui distinguir a língua nativa dela.

─ Ah, poxa. – fechei os olhos fazendo um bico cedendo meus ombros para baixo.  ─ Eu podia jurar que agora eu tinha conseguido falar certo.

─ Pensou errado. – disse, por cima de uma risada abafada.

Aquilo havia valido um sorriso pequeno e uma risada, então mesmo que eu tinha ficado chateado comigo mesmo por não ter conseguido falar outra palavra do país dela, eu também estava feliz por já ter conseguido tirar duas coisas dela.

Continuei mexendo no banco para ver se conseguia achar o que estava procurando. Parecendo não estar em lugar algum, assim soltei um choramingo.

─ O que foi dessa vez?

─ É... Nada. – minto.

─ E essa é outra das piores mentiras que você inventa.

─ Ei. Eu prefiro ser um péssimo mentiroso, do que ser bom nisso. – cerrei levemente os olhos.

Depois disso, consegui achar o que eu tanto procurava. Então segurei em minhas mãos, mas antes de erguer meu busto eu espiei por cima do teto do veículo para ver se ela estava olhando na minha direção, e por bom sinal, ela estava ocupada demais encarando uma palmeira.

Fiquei parado ali a olhando, puxando e soltando o ar pelo nariz. Abri a boca assim tendo resultado de uma fumaça sair.

Eu tinha certeza que a ponta do meu nariz estava ficando vermelha.

Dei um passo à frente, segurando mais firme a pelúcia na minha mão para ver se aquilo ajudasse meu coração se acalmar um pouco.

Eu nunca tinha dado nada para ela, e não fazia ideia de como iria reagir. Minto. Eu tinha um pequeno vislumbre de uma reação na minha mente, mas não queria pensar muito nela, pois era dela rindo da minha cara e com isso eu iria querer me afundar no chão.

─ Eu-

─ Semana que vem é meu vôo.

Hoje era sexta.

Pisco os olhos uma, duas, três, quatro vezes. Pensando que não era o que eu estava imaginando, e̶r̶a̶ ̶o̶ ̶q̶u̶e̶ ̶e̶u̶ ̶e̶s̶t̶a̶v̶a̶ ̶p̶e̶n̶s̶a̶n̶d̶o̶ 

─ Que dia? – suspirei.

Sua cabeça se abaixou na direção do chão, e fiquei me questionando que cara eu estava fazendo agora. Meu corpo preso no lugar e o vento frio batendo no meu rosto como um chicote, não estava ajudando muito.

─ Domingo que vem. – notei uma rouquidão breve na sua voz.

─ Entendi.

Quando eu achei que não iria conseguir segurar mais a pelúcia, foi quando ela se virou. Visto isso, puxei o ar pela boca com força esticando o que eu tinha comprado para ela, então sua atenção foi para minhas mãos.

Ela ergueu as sobrancelhas assim me fazendo encolher os ombros já esperando para o que ela diria. Só que o que eu menos esperava aconteceu.

[Nome] segurou a pelúcia com um sorriso enorme, e tão lindo. Eu cheguei a ver seus olhos brilhar, depois um arrepio subiu por meus braços ao sentir a ponta dos dedos dela tocar minhas mãos para conseguir pegar a pelúcia, então a soltei.

─ Seu idiota. Obrigada. – uma risada melodiosa e baixa saiu dela. ─ Eu gostei. – ela abraçou a pelúcia contra o peito.

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São várias sensações. Acho que primeiro você sente a paixão, como dizem.

Você sente atração pela pessoa, fica ansioso e inseguro por fazer algo que ela não goste. Seu coração acelera, e a adrenalina é enorme, junto de sentir aquele famoso frio no estômago.

Uma curiosidade sobre mim. Eu gostava demais de sentir isso. Principalmente quando era antes de uma partida começar, sabe? Aquilo me deixava ainda mais empolgado para começar logo.

Continuei olhando para ela, depois rindo um pouco, mas voltando a ficar com o sorriso costumeiro em minha boca. Já ela mantinha os olhos no chão segurando com força a coruja de pelúcia, parecendo até que se segurasse daquele jeito ela não voaria para longe.

Gastar de alguém era incrível. Você sente que aquela pessoa é perfeita, ignorando totalmente seus traços negativos pois ao seus olhos ela é incrível, e não tem nenhum defeito. A maior parte das vezes você perde o apetite e o sono, pois está ocupado demais pensando nela.

Eu poderia estar errado sobre pensar essas  coisas, mas era o meu ponto de vista. Era o jeito que eu, Bokuto Koutaro, pensava e via a forma de estar gostando de alguém.

─ Você sorriu. – tombei a cabeça levemente para o lado.

─ Tudo bem. – piscou os olhos, erguendo o rosto deixando o sorriso pequeno me encarando. ─ Eu quero que você me veja sorrir.
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TEMPO É A DURAÇÃO DE FATOS. É usado para juntarmos momentos, em dias, horas, minutos e segundos.

Em um dia você pode passar várias horas treinando aquela melodia que você escolheu para tocar no dia da sua apresentação. Nos minutos seguintes você tira uma pequena pausa, pois seu vizinho está outra vez fazendo uma das mil perguntas sobre algum feriado de seu país, ou qualquer outra coisa.

Esse processo se repetindo por mais 6 dias.

─ Carnaval.

Bokuto não parava de falar sobre esse feriado, e sempre que ele tinha a oportunidade de comentar desse assunto, ele já estava falando.

─ Eu já entendi. Você ama o Carnaval, mesmo nunca tendo aproveitado um. – revirei os olhos me sentando no Puff que estava no centro da sala.

─ É um feriado de quatro dias [Nome]. Você tem ideia do que isso significa? - virou uma página da revista que ele tinha comprado na internet de uma brasileira que morava neste país.

─ Pode apostar. Eu tenho. – gesticulei com o arco do violino. ─ Um calor insuportável, assim seja, um sol quente fritando sua cabeça. Mais de uma centena de pessoas reunidas em um só lugar, sem contar a sensação e o cheiro do suor. E... Muitas mais coisas, que eu tenho pavor só de lembrar. – olhei para o garoto, em seguida abrindo um sorriso sarcástico.

─ Nossa.

Deixo sair um resmungo no passo que pego o instrumento, levando o mesmo na altura do ombro. Respirando fundo fechando meus olhos, erguendo o arco que estava na mão direita.

─ Mas as fantasias são incríveis! Olha essa daqui. É uma garota vestida como um girassol. – era nítido a empolgação em sua voz, sem deixar de lado os risos que soltava. ─ Caramba, eu quero tanto comemorar isso. – suspirou.

─ Eu preciso de silêncio agora. – um sorriso largo tomou conta do meu rosto conforme eu o olhava.

─ Ah, claro. Me desculpa. – Bokuto me olhou, ajeitando a postura no sofá.

Fiz um aceno de negação com a cabeça  logo voltando a fechar os olhos soltando o ar lentamente pela boca. Em seguida, começo a deslizar o indicador pelo arco, e eu sempre fazia aquilo como um gesto de concentração antes de começar cada melodia.

Após contar dois minutos inteiro na minha cabeça, inicio com a primeira nota.

Quando a voz por trás da melodia veio em minha mente, acabei me levantando ainda mexendo meu braço mas deixando meus pés parados no chão.

O refrão da canção Video Games estava próximo. Sendo assim, prendo o ar em minha garganta tendo meus olhos se abrindo aos poucos e para não me perder, continuo olhando para o carpete.

A nota mais longa havia chegado, por isso, nessa hora levei meus olhos até Koutaro.

Meu coração errou uma batida porque o jeito que ele estava me olhando, complemente concentrado em mim, foi o motivo para eu piscar os olhos e fechar mais uma vez.

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NO FINAL DAQUELE DIA eu pude jurar que ele iria me abraçar ao ir embora. E eu tive certeza que ele percebeu que eu queria aquilo, mas mesmo assim não o fez.

No lugar ele tinha dito.

Até amanhã.

Queria ter o poder de o levar comigo. De ler seus pensamentos, e ver o que pensa de mim. Porque em meu ponto de vista, ele era o melhor.

Na manhã de domingo, eu passei o resto das minhas horas terminando de organizar minhas malas, e checar tudo mais uma vez para ter certeza de que não esqueceria de nada.

Já que eu não fazia ideia de quando voltaria para cá.

Coloquei a tarraxa do brinco, depois passando o perfume enquanto descia as escadas já que segundo minha mãe, estávamos em cima da hora.

  ─ [Nome], entra no carro. E já viu se pegou tudo? – minha mãe passou por mim segurando uma caixa de papelão enquanto tinha o celular no ouvido, que estava sendo segurado por seu ombro.

─ Peguei. – suspirei.

Eu não queria ir logo. Eu ainda não tinha visto Bokuto, e temia não conseguir ver ele antes de entrar naquele carro.

Havia mandado mensagem para ele de manhã, mas não tinha recebido uma resposta e nem mesmo a verificação de leitura.

Vai ver ele não gosta de despedidas. Pensei.

─ Vamos, [Nome].

Puxei o ar fortemente pelo nariz à medida que meus olhos visualiza a casa uma última vez.

Eu não vivi muito tempo ali. Tão pouco para me adaptar complemente, pois até hoje eu ainda não tinha me acostumado com algumas mínimas coisas do país.

Ainda assim, quis passar mais tempo. Criar mais memórias, e tornar aquele espaço, definitivamente em um lugar que eu me lembrasse todas as vezes de quando quisesse paz, ou então, me tirar um sorriso.

Virei meu rosto para frente, abrindo a porta do carro e antes de me sentar no banco do passageiro, vi a pelúcia da coruja no banco de trás ao lado da minha mochila.

Comprimi minha boca apertando meus dedos na porta. Depois, fechei os olhos me sentando no banco da frente fechando a porta.

Era isso. Eu não o veria mais.


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BOKUTO

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CORRA. CONTINUE CORRENDO. Até suas pernas não aguentarem mais. Até chegar o ponto de parecer que iriam rasgar, mas de qualquer forma, não pare.

Mesmo eu tendo sinalizado, pulado e gritado, ela não tinha me visto.

Tinha acabado de passar pela terceira quadra, e ela ainda não tinha visto um cara que parecia um maluco correndo atrás de um carro. E óbvio que esse maluco tinha que ser eu.

─ Anda! – gritei, para mim mesmo.

Por algum motivo divino, um dos semáforos tinha ficado vermelho, então consegui ver o carro desacelerando. Assim, foi minha chance de ir ficando cada vez mais perto do veículo.

─ [Nome]! – indaguei, batendo minha mão esquerda no teto do carro.

─ Bokuto?! – a vi colocar a cabeça para fora da janela.

O sinal abriu, assim me fazendo erguer a cabeça pra cima para ver, mas o carro não andou. Pelo contrário, ele continuou parado e eu pude ouvir uma conversa abafada, só que antes que eu conseguisse ouvir algo, a porta do passageiro foi aberta.

─ Meu Deus. Bokuto, você está...

Pisquei os olhos engolindo em seco para ver se aquilo fazia minha garganta umedecer, e quando ela notou isto acabou se esticando dentro do carro e voltando com uma garrafinha.

Não neguei. Já virei a mesma e fiz aquilo com tanta rapidez que uma linha de água escorreu por minha boca, então afastei a garrafa e passei o dorso da mão na região.

─ Obrigado. – molhei minha boca sentindo meu peito subindo e descendo pesadamente.

─ Você está bem?

Ao ouvir ergui meu rosto, dessa maneira a olhando melhor. Chegando ao ponto de... Me tirar um suspiro.

─ Achei que não ia conseguir falar com você. – dei um passo para o lado.

─ Eu também achei que não. – entortou a boca. ─ É verdade. – arregalou levemente os olhos, assim me fazendo franzir breve a testa. ─ Aqui. – colocou a mão no bolso, e tirou de lá... Um cordão.

─ Um cordão? – virei a cabeça um pouco para o lado, estudando-o.

─ É uma pedra da lua. – deixei a boca meio aberta enquanto minhas sobrancelhas quase tocavam meu cabelo.

Bem que eu me lembrava. Ela quase sempre estava usando esse cordão. E essa pedra que ela disse, chegava a brilhar quando se batia um mínimo raio de luz.

─ Eu acho esse cordão bonito. – ajeitei a postura voltando minha visão para ela.

─ Agora é seu. – estendeu as mãos para mim sorrindo fino.

─ Ãn? – minha expressão agora ficou confusa, em consequência tirando uma risada anasalada dela.

─ Pega. Você me deu algo, então... Eu quis te dar uma lembrança também.

Abri e fechei minha boca umas três vezes e nada saiu. Parecendo semelhante em ficar sem voz.

Era algo dela, que agora seria meu.

Soltei um riso sem som, esticando minha mão livre e pegando o cordão, agora, conseguindo ver melhor de perto.

─ Vai me fazer lembrar mais de você.

Encolhi os ombros, deixando um sorriso largo bater em minha boca, porém sem amostrar os dentes, no mesmo tempo que meu peito se estufou.

─ Essa é a intenção. – [Nome] falou simples, erguendo uma sobrancelha.

Ficamos ali nos encarando por um longo tempo, e eu podia ter certeza que o semáforo já tinha fechado no máximo umas três vezes.

O sorriso dela tinha sumido, e o meu foi junto, pois eu já estava me acostumando a ver ela sorrir. Só que eu notei algo em seus olhos que parecia ser... Receio, ou hesitação.

No que ela poderia estar se segurando?

Pisquei os olhos, sentindo meu coração agora calmo em meu peito, sendo assim me forcei a curvar meus lábios para cima.

─ Você tem um vôo, futura famosa. - comentei, com a voz calma.

─ Eu sei.

Ela piscou seus olhos rapidamente. Me doeu ver o que eu vi em um vislumbre muito rápido.

O brilho em seus olhos, mas a culpa foi pela  as lágrimas.

─  Desculpe por isso. – murmurei.

Dei dois passos para frente, e antes de qualquer coisa que ela pudesse falar, ou então fazer. Eu passei meus braços por seu dorso agora a prendendo contra mim.

Ela não hesitou agora. Seus punhos se fecharam em torno da minha cintura, mas depois agarrou o tecido da minha camisa meio úmida pelo suor, mas [Nome] nem mesmo ligava para isso.

Achei que estava preparado para isso. M̶a̶s̶ ̶e̶u̶ ̶e̶s̶t̶a̶v̶a̶ ̶m̶e̶s̶m̶o̶ ̶e̶r̶a̶ ̶m̶e̶ ̶e̶n̶g̶a̶n̶a̶n̶d̶o̶ Acreditei que seria até um pouco razoável o que eu iria sentir, mas isso que eu estava sentindo agora era insuportável.

─ [Nome]. Precisamos ir. – ouvi a voz de sua mãe, e o que ela fez foi me apertar ainda mais.

Ouvi um arfar sair dela, e depois... Um passo para trás então fiz o mesmo. Passei a destra por minha nuca subindo os olhos pelo corpo dela até parar em suas íris, que já estavam fixas em mim.

─ Adeus, Koutaro. – ela sorriu da maneira mais bela que já pude imaginar existir.

─ Adeus, [Nome].

Segurei a pedra do cordão na palma da minha mão durante o tempo em que ela entrava mais uma vez no carro.

Não olhe para trás, não olhe para trás. Se fizer isso, irá doer mais.

Ela não olhou, nem mesmo pelo retrovisor, e tudo bem. Eu preferia assim.

Caminhei para a calçada, virando minhas costas para a direção que o carro seguiu. Jogando a garrafa de plástico na lata de lixo que passou ao meu lado, descendo meus olhos até o cordão em minha palma.

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A palavra adeus é uma das consideradas mais fortes. Em razão de que normalmente era usada para demonstrar que ambas pessoas jamais se encontrarão.

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